Mário Jorge Lima: "Dizem que Nossa Igreja é a Única que Atira nos Seus Feridos"

Prezado Sr. Robson:

Levado por uma conversa com o meu amigo Flávio Santos, em que ele me falou do debate que tem lugar atualmente em seu site em torno da participação de músicos não-adventistas em um CD de cantora adventista, estou encaminhando esta minha modesta participação, que espero será a única, pois não pretendo fazer tréplica sobre qualquer réplica à mesma. Peço apenas a gentileza de que ela, se for publicada em seu fórum, o seja na íntegra, com todas as pontuações e expressões completas.

Talvez, inicialmente, eu fuja um pouco do assunto principal deste fórum, perdoem-me, mas sinto no coração a vontade de compartilhar com vocês alguns pensamentos e comentários.

Meu nome é Mário Jorge Lima, e talvez alguns dos debatedores me conheçam, pois durante um bom tempo da minha vida atuei com música, dirigindo grupos, quartetos, corais, compondo, e principalmente, escrevendo poemas sobre a experiência cristã, os quais têm sido musicados por alguns dos nossos músicos mais conhecidos, grandes amigos, que com suas melodias têm vestido de modo especial as minhas letras.

No entanto, hoje - e isso já tem uns seis anos - não atuo mais com música. Minha relação com essa arte-dom se limita a cantar em congregação e, eventalmente, ouvir em casa, às sextas-feiras, aquilo que aprecio e me inspira.

Li todas as participações neste debate. Acho a iniciativa muito válida, pois atuo profissionalmente com Internet, e penso que um painel de debates é sempre um local que propicia discussões que podem ser interessantes e elucidativas. No entanto, algo me entristece profundamente nos painéis de debates adventistas: a agressividade latente em cada intervenção. Conheço diversos desses painéis, nunca participei de nenhum, exatamente por esse motivo. Essa é a primeira vez.

Compreendo que ser um em Cristo não implica em todos pensarmos da mesma forma ou termos a mesma opinião a respeito de um determinado assunto, desde que não seja um ponto de doutrina biblicamente indiscutível. Mas daí a usar expressões indelicadas ao comentar qualquer assunto, ou atacarmos as falhas e deficiências que achamos que nosso semelhante apresenta, vai uma grande distância.

Tenho visto alguns sites, teoricamente administrados por membros de nossa igreja, que me fazem muito mal, pela agressividade exposta, pela forma hostil de emitir opiniões e publicar as falhas uns dos outros, arvorando-se em arautos da verdade, trazendo um opróbrio tão grande sobre a igreja, quanto aqueles que eles condenam. Muitas vezes, sob o pretexto de "chamar o pecado pelo nome", cometemos nós mesmos o terrível pecado do desamor. E esse é um pecado, senão o maior, pois não existe essa gradação, pelo menos extremamente significativo, já que o amor é o maior dos dons.

Já fui muito combativo quando mais jovem, hoje tenho uma atitude muito mais expectante e devocional, que o tempo, os erros e o crescimento na graça trouxeram. Transferi o meu combate para o vau do Jaboque, e como Jacó, busco todo o tempo, com a ajuda divina, apossar-me do perdão que aí está, e pela graça de Deus me sinto salvo em Cristo Jesus. E isso pode ser tema para uma bela música. Essa tem sido uma experiência extraordinária, que quero compartilhar com vocês, onde sinto paz. Não há nada hoje que eu deseje mais do que ver Jesus voltar. Isso é extremamente confortante e apaga a ira.

Por isso, ao ver a discussão que se tem instalado, sobre este e tantos outros temas, neste e em outros sites, parece-me tudo muito mais a prática de um evangelho extremamente raivoso, intolerante, distante da postura de Jesus. Como disse o Flávio Santos, de nada adianta saber o que é certo, conhecer a verdade, ter o discernimento de qual é a melhor música para o louvor a Deus, até mesmo fazer milagres e dar a vida por outro, se não houver amor nas minhas atitudes. Isso é coisa muito séria. Precisamos ler mais e orar sobre I Corintios 13. Saibam que, quando fiz o poema, que o Costa Junior tão inspiradamente musicou e a Sonete gravou com o Prisma, chamada A Excelência do Amor, isto mudou a minha vida.

A senhora White tem um texto em que diz que quando a igreja manifestar amor em todas as suas atitudes, e esse dom for a força que nos move como povo, Cristo Jesus voltará. Muito mais que qualquer condição caótica que o mundo então viver, será a condição espiritual do povo de Deus, que determinará a concretização da nossa mais bem-aventurada esperança.

Fiquei muito triste, há algum tempo, quando li um comentário de evangélicos de que nossa igreja é a única de "atira nos seus feridos". Exagero à parte, não devemos permitir que a busca ou a posse de verdades biblicamente incontestáveis, mate o espírito, sobremodo excelente, de amor, misericórdia, perdão e tolerância que devemos manifestar em todas as nossas atitudes. Que as características laodiceanas não obliterem o nosso amor.

Devemos amar os que não são de nossa fé, e que possivelmente nunca serão, pois Deus tem um plano para cada um, e respeita a nossa individualidade, lê o nosso coração, não vê como vê o homem, e sabe que somos pó. E essa é uma bênção maravilhosa. Imaginem se fôssemos julgados pelas pessoas que acusam, criticam, machucam, divulgam nossos erros, ou até por nós mesmos. E em relação aos que não são de nossa fé, leiam com muita atenção o que diz o apóstolo Paulo em Filipenses 1:15-19.

Mais especificamente falando sobre o tema do debate, eu diria que devemos orar pela moça que gravou o CD, a Melissa. Não a conheço, mas não posso crer que o tenha feito por outro motivo que não o de louvar a Deus. Aliás, não tenho o direito de duvidar disso. Ninguém reconhece ou canta que Jesus é Senhor se não for pelo Espírito de Deus. Não vamos criar uma celeuma intempestiva sobre esse detalhe. Se fôssemos estudar a origem e história de todas as músicas sacras que conhecemos, ou mesmo de todas que constam de nossos hinários, talvez ficássemos surpresos com detalhes de muitas delas. Deus tem estranhos caminhos.

Vamos orar por nossas igrejas. Quem sabe, se cada adolescente, jovem promissor, em nossas igrejas, que demonstrasse acentuada tendência para atuar com música, com instrumentos, tocando, compondo, regendo,  tivesse seus estudos custeados no todo ou em parte, ou pelo menos tivesse facilitado o seu acesso à informação e formação musical em nossos colégios, talvez não estivéssemos aqui gastando tanto tempo em argumentação.

Aqueles que conhecem o extraordinário talento de Alexandre Reichert Filho, talvez não saibam que foi o fato de sua igreja, em Londrina-PR, haver-lhe pago alguns cursos de extensão em S.Paulo, quando ainda adolescente, que o levou a optar pela atividade musical, na qual tanto se destacou. Se isso acontecer em larga escala, teremos músicos à mão cheia, para servir e produzir na causa de Deus.

Por favor, aceitem meu texto como uma manifestação sincera de preocupação com o que vejo na Net, e embora esteja afastado do cenário de nossa música, sei o que há por aí, e conheço o poder da música  e seu papel na comunicação do evangelho do amor.

Finalizo, pedindo permissão para lhes contar uma pequena estória, apenas à guisa de ilustração, pois não aprecio muito certas estórias inventadas para ilustrar assuntos espirituais. Mas, conta-se que um homem sábio, de muita cultura, atravessava um rio perigoso, na companhia de um barqueiro, homem rude, iletrado, sem nenhuma cultura.

O homem culto ia perguntando todo o tempo ao barqueiro se ele conhecia Ciências, Astronomia, Matemática, e diversas outras áreas do saber. A cada "não sinhô" do barqueiro, o homem culto dizia: "Puxa, que pena, você não sabe o que está perdendo; você perdeu metade da vida".

Bem no meio do rio o barquinho começou a afundar, e então foi a vez do barqueiro perguntar: "O sinhô sabe nadar, num sabe?". Quando o homem culto disse que não, ele respondeu: "Então o sinhô perdeu a vida toda".

É, nadar era essencial. Amar é essencial. Podemos perder a vida toda, com toda a bagagem de religião e doutrina que tivermos, simplesmente por não sabermos e não conseguirmos amar. O conhecimento não salva; o que salva é a graça de Cristo, manifesta em atitudes de amor e misericórdia. Isso também dá belas músicas.

Tenham todos uma boa semana. Sejam felizes.

Mário Jorge Lima

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