CIÊNCIA: Risco de um desastre na Terra por impacto de meteorito é grande

O perigo que vem do céu

Mesmo com toda a tecnologia espacial inexiste um programa de proteção do planeta

"O terceiro anjo tocou a trombeta. Caiu então do céu um astro enorme, ardendo como um facho. Precipitou-se sobre a terça parte dos rios e nas fontes de água. O nome do astro é Absinto. E se converteu em absinto a terça parte das águas. Muitos homens morreram das águas que se tornaram amargas. O quarto anjo tocou a trombeta. Foi ferida então a terça parte do sol, da lua e das estrelas, de sorte que escureceram em um terço. O dia e a noite perderam uma terça parte de seu brilho.

O quinto anjo tocou a trombeta. Vi uma estrela que caíra do céu sobre a terra. Foi-lhe dada a chave do poço do abismo. Abriu o poço e do poço subiu uma fumaça como a fumaça de um grande forno. O sol e o ar escureceram por causa da fumaça do poço."


Livro do Apocalipse – São João

Curitiba – Hoje, o maior perigo de uma destruição em massa no planeta está longe dos conflitos internacionais, dos temores dos arsenais bélicos nucleares. Durante a história da humanidade esse risco sempre esteve no céu. Cerca de 6 mil corpos celestes acima de um quilômetro de diâmetro orbitam pelo espaço com chances de colidir com a Terra. Quanto mais os cientistas buscam por esses asteróides, mais evidente fica o realismo das visões atormentadoras de João, o evangelista do Apocalipse.

O mundo esteve a poucas horas de viver, no começo deste ano, um novo anúncio do Apocalipse. Só que desta vez não pelos escritos sagrados, mas dos cientistas que estavam na Conferência de Proteção Planetária. No dia 13 de janeiro, pesquisadores acharam que um objeto de 30 metros, denominado 2004 AS1, tinha uma chance em quatro de atingir o planeta dentro de 36 horas. Um alarme mundial esteve na iminência de ser divulgado.

A informação partiu de quatro dos mais conceituados observatórios astronômicos, entre eles o Instituto do Novo México e o Centro Planetário Minor, de Massachusetts. O dado teve aval do Laboratório de Jato Propulsão, um dos principais órgãos da Nasa. Rapidamente, diversos telescópios apontaram para o local desta detecção. A conclusão foi que o 2004 AS1 era muito maior. Tinha 500 metros de largura e passou a uma distância de 12 milhões de quilômetros da Terra, desta vez sem representar perigo.

Em 2003, outra grave descoberta abala o mundo. Um asteróide gigante, com aproximadamente dois quilômetros, ruma para a Terra e atingiria o planeta em 2014. Ele apareceu nos céus do hemisfério sul, o menos estudado, e foi detectado pelos australianos. Denominado 2003 QQ47, a pedra de 4,5 bilhões de anos teve calculado sua data de colisão: 21 de março de 2014. A força do impacto teria o efeito de 20 milhões de bombas atômicas de Hiroshima. O alerta foi feito pelo Centro Britânico de Informação sobre Objetos Próximos à Terra.

Momentos de angústia e crise no meio astronômico. Depois de diversos cálculos chegou-se a conclusão que o corpo celeste tinha a chance de colidir com a Terra na proporção de um em 909 mil. Uma loteria celestial cujo prêmio é a catástrofe bíblica. Porém, o homem parece se esquecer das profecias e dos sinais constantes que recebe das profundezas do espaço. Com toda tecnologia do segmento espacial, inexiste ferramentas para destruir ou alterar a rota destas rochas.

O chefe do departamento de astrofísica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Alexandre Wuensche, salienta que há um bom monitoramento, principalmente no hemisfério norte, já que os poderosos observatórios da porção sul estão destinados a outras finalidades em termos de pesquisas.

O esforço científico mundial é concluir o mapeamento de todos os corpos com mais de um quilômetro de diâmetro até 2008. "É quase im-possível que um desses bólidos em rota de colisão deixe de ser visto, mas não temos nenhuma defesa para isto", conclui.

O berçário de cometas e meteoróides está a 30 trilhões de quilômetros da Terra, na Nuvem de Oort, fora do sistema solar. Mas grande parte dos bólidos que traz perigo se encontra no Cinturão de Meteoros, que passa por trás do Sol e de Marte. São bilhões de pedras cósmicas numa marcha funesta e caótica, de onde pode sair a qualquer instante uma rocha rumo a novos alvos.

O cientista do Inpe explica que os meteoróides movem-se no espaço com velocidades que podem atingir até centenas de quilômetros por segundo. São corpúsculos cuja massa oscila entre poucos miligramas e, no máximo, alguns quilos. Ao se deslocarem em direção a Terra, chocam-se violentamente com o gás atmosférico. Neste atrito se produz energia suficiente para vaporizá-los.

No entanto, há os que conseguem ultrapassar as camadas atmosféricas mais rarefeitas, penetrando também nas mais densas. A grande maioria dos meteoróides que se aproxima da superfície terrestre desintegra-se entre os 200 e os 100 km de altura. Os corpos de massa elevada conseguem chocar-se nos continentes ou oceanos. Os efeitos são os mais diversos, desde a formação de crateras até provocar ondas gigantes e estragos ambientais.

O risco de impacto é diário. Essa afirmação parece ser a única certeza no mundo caótico dos corpos celestes errantes. Movidos pela Geometria Fractal, cujo conceito mostra existir correlações mesmo em eventos aleatórios e aparentemente distintos, os bólidos estão sujeitos a essa inconstância. Como explica o astrônomo paranaense e membro da Sociedade Astronômica Brasileira, José Manoel Luis da Silva. "Não há uma trajetória precisamente regular, não se pode dizer que um objeto nunca será desviado de sua órbita nominal", afirma. Algo que põe buraco abaixo a ciência clássica, sempre regida por leis determinísticas.

Dificilmente a dinâmica do cosmos conseguiria ser explicada por uma visão meramente temporal e terrestre, como prevê o determinismo. Segundo essa forma de raciocínio, os fenômenos naturais podem ser previstos sempre. Isto transformou a ciência em refém da geometria linear, rígida e inexata quando se trata dos ordenamentos cósmicos. "Nada no universo é de graça, tudo tem uma razão e é gerado por esse imenso caos", explica José Luis.

Seria, então, um erro descartar qualquer asteróide que um dia representou algum risco para a Terra. Pois uma inesperada conjunção de fatores aleatórios pode colocá-lo novamente em rota de colisão. Contudo, o planeta azulado conta com alguns escudos importantíssimos. A Lua, a força gravitacional de Júpiter e a própria atmosfera terrestre são cruciais para minimizar o potencial destrutivo destas rochas. "A gente não vê uma política global para esses corpos impactores", comenta o geólogo do Inpe, Paulo Roberto Martini.

Enquanto os astrônomos se esforçam para mapear os grandes asteróides, os tidos como pequenos, ou seja, com menos de um quilômetro são deixados de lado. Sequer há instrumentação para se observar esses fragmentos. Pelas estatísticas, são eles que atingirão a Terra. Os estudos preliminares mostram que há duas grandes quantidades de pedras, na faixa dos 350 metros e outra por volta dos 200 metros.

As rochas maiores cairiam provavelmente no mar e as menores, nos continentes. Em ambos casos os efeitos sobre o meio ambiente terrestre seriam danosos. Grandes incêndios, agravamento do efeito estufa, prejuízos incalculáveis para a lavoura e até mesmo a formação pontual de nuvens de poeira cósmica impedindo a passagem da luz solar. "A verdade é que não temos projetos sendo desenvolvidos para se evitar os impactos, tudo ainda está na especulação. Não tenho dúvidas que a situação é séria e grave", alerta Martini. --
Júlio Ottoboni

Fonte: http://tudoparana.globo.com/gazetadopovo/componentes/noticia.phtml?mcont=222349

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