ENTREVISTA: DR. JOSÉ CARLOS RAMOS
O Tempo do Fim

Teólogo analisa acontecimentos atuais à luz das profecias

José Carlos Ramos nasceu em São Caetano do Sul, SP, no ano de 1941. Graduou-se em Teologia em 1965, aceitando em seguida um chamado da então Missão Bahia-Sergipe, para ser evangelista itinerante. Exerceu as funções de distrital, evangelista e diretor de Comunicação, até 1978, quando foi transferido para o Educandário Nordestino Adventista, a fim de lecionar Teologia. Em 1984 concluiu o Doutorado em Ministério, na Andrews University Em junho de 1991 assumiu a direção do Seminário Adventista Latino-Americano, no IAENE, e depois no IAE, em Engenheiro Coelho, SP (hoje UNASP - Campus 2), onde atualmente conduz o programa de pós-graduação do SALT (Mestrado e Doutorado em Teologia Pastoral).

Casado com Elda Martins, tem três filhos: Jarlan, Elmara e Jaider (Jarlan descansa em Cristo desde 11 de fevereiro de 1998).

Por ter uma predileção toda especial por escatologia bíblica, principalmente à luz dos livros de Daniel e Apocalipse, foi convidado a dar esta entrevista a Michelson Borges:

Revista Adventista: Como o senhor vê, no panorama profético, os trágicos acontecimentos envolvendo os Estados Unidos?

Dr. José Carlos Ramos: Sem dúvida, um claro sinal de que a volta de Jesus a este mundo deverá ocorrer muito em breve. As profecias falam de coisas espantosas a terem lugar nos dias finais da História, e os eventos do dia 11 de setembro foram mais que espantosos. As palavras de Lucas 21:26 - "haverá homens que desmaiarão de terror pela expectativa das coisas que sobrevirão ao mundo" - vieram-me à mente naquele dia, com a vívida impressão de estarem sendo literalmente cumpridas.

RA: Existe a possibilidade de unia redução das liberdades individuais nos Estados Unidos. Seria isso uma prévia da intolerância anunciada pelo Apocalipse?

J. C. Ramos: Naturalmente. O Apocalipse, de fato, prevê que a intolerância que assinalou os tempos medievais estará de volta antes do retorno de Jesus, e com intensidade maior. Um dos fatos que certamente concorrerá para isso será a exigência, por força de lei civil, do cumprimento de obrigações religiosas na América, sendo o decreto dominical a maior expressão desse tipo de medida. Entende-se que, partindo dos Estados Unidos, essa iniciativa logo avançará para outros países.

Desde a sua origem, a legislação norte-americana garantiu plena liberdade de consciência em matéria de culto e fé, ficando estabelecida uma decisiva separação entre Igreja e Estado. Mas no momento em que pressões religiosas, principalmente de direita, lograrem sucesso junto ao Congresso, no sentido de se aprovar determinados projetos vinculados a interesses específicos de grupos, essa separação terá sido praticamente desfeita, a Constituição estará fundamentalmente alterada, e a atual liberdade ficará na saudade.

RA: Ellen White menciona, em seus escritos, eventos catastróficos que ocorreriam na cidade de Nova Iorque. O atentado do dia 11 de setembro tem alguma relação com as predições dela?

J. C. Ramos: Acredito que sim, pois Deus pode Se valer das mais estranhas instrumentalidades para cumprir Seus propósitos. Ela insiste que, por causa da pecaminosidade, os grandes centros serão visitados, de diferentes modos, por juízos divinos. Seria até mesmo estranho que os acontecimentos desse dia fossem apenas uma fatalidade provocada pela loucura humana. Acho que Deus permitiu essa tragédia para ensinar algumas lições que os homens dificilmente aprendem em circunstâncias normais. E vale lembrar que o que Ellen G. White previu que viria sobre Nova Iorque e outras cidades norte-americanas, é válido para qualquer centro urbano do mundo, inclusive as metrópoles brasileiras, onde o pecado do desregramento moral, da violência, da idolatria, da opressão, da corrupção, do desrespeito aos princípios mais elementares de justiça, se multiplica a olhos vistos. "Os juízos" diz ela, "serão de acordo com a iniquidade das pessoas e com a luz da verdade que tiveram."

RA: Então os juízos de Deus não são exclusivamente obras sobrenaturais?

J. C. Ramos: Deus é soberano e Ele pode utilizar qualquer meio ou recurso da natureza para o cumprimento de Seus propósitos, inclusive as leis físicas que Ele mesmo estabeleceu. Naturalmente existem momentos em que Seus juízos ocorrem pela atuação direta de Deus, como no incidente de Ananias e Safira (Atos 5). Mas é inegável que um grande número de sinais da volta de Jesus ocorre como fatos naturais: terremotos, pestes, fome, etc.; tão naturais que os homens podem até prevê-los com boa margem de antecedência.

Às vezes somos criticados porque afirmarmos, por exemplo, que o escurecimento do Sol, em 1780, e a queda das estrelas, em 1833, cumprem a previsão profética de Mateus 24:29. "Foram fenômenos naturais" dizem os críticos. E verdade. Tanto um como outro ocorreram também em outras ocasiões, e sempre por causas naturais. Mas porque são naturais, Deus não pode Se valer deles? E temos que levar em conta um detalhe muito importante aqui. O fenômeno natural se torna um sinal não por causa do fenômeno em si, mas porque ele ocorre numa seqüência de outros cumprimentos proféticos. E precisamente o escurecimento do Sol de 1780 que é aceito, e não o de outra data, porque ele ocorreu junto ao fim do período da supremacia papal, em 1798 - o tempo da tribulação mencionado por Jesus. E a queda das estrelas de 1833 que é aceita, porque ela ocorreu apenas 11 anos antes de 1844. O mesmo pode ser dito dos sinais na forma de desastres, como o terremoto de Lisboa, em 1755. Houve, em ocasiões diferentes, terremotos muito mais destruidores que este, mas é o de Lisboa que é mencionado, face ao contexto de tempo em que ele acontece.

RA: Qual o propósito de Deus em permitir certos tipos de desastres?

J. C. Ramos: Numa hora terrível, como aquela de 11 de setembro, cumpre-nos não esquecer que Deus continua sendo o que sempre foi: amor e compaixão. E a maior prova desse fato é o Calvário. Ali foi pago o preço da nossa redenção, e da erradicação total do pecado com todas as suas implicações. Graças a Jesus, o mundo voltará um dia a ser perfeito, belo, imaculado, e plenamente feliz como antes.

Acontece que os homens, a quem Deus quer ver salvos, continuam amando o fator primordial da dor e da destruição: o pecado. Ele, então, permite o "desastre" para ver se a consciência humana é desperta­da. Seu maior desejo é que o homem compreenda que o mal não compensa, e se valha de Seu glorioso plano de salvação, o único que pode realmente trazer solução a todos os problemas. Não é verdade que quando tudo nos sorri, quando todas as coisas vão bem e estamos muito tranqüilos, a tendência é pelo comodismo e conseqüente esquecimento de Deus? Não é também verdade que o sofrimento nos aproxima dEle? Assim, às vezes Ele tem que dar uma "sacudidela" no homem, e pode até fazê-lo com certa intensidade. Mas enquanto Seus juízos estiverem misturados com misericórdia, que é o que, louvado seja o Seu nome!, ainda acontece, ele propõe levar o homem a evitar o que é infinitamente pior: sua perdição eterna. Às vezes, o "desastre menor" acontece para que o "maior" não ocorra.

RA: De acordo com as profecias de Daniel e Apocalipse, já estamos vivendo o período conhecido como 'tempo do fim" faz mais de 200 anos. O que ainda falta acontecer antes que Cristo volte?

J. C. Ramos: Penso que o mundo está mais que amadurecido para o fim. No que ele poderá piorar? O que falta é a Igreja se levantar, sacudir de vez a mornidão laodiceana, e assumir definitivamente seu papel de porta-voz de Deus nesses dias finalíssimos. O mundo está pronto para o fim. Mas, e a Igreja? Vivemos a verdade na mesma proporção em que o mundo vive o pecado? Quando tal acontecer, não há dúvida de que a obra será concluída. De fato, algumas "últimas" profecias faltam se cumprir, a mais citada entre as quais é a de Mateus 24:14. Mas estas profecias não se cumpriram ainda porque não nos dispusemos para o seu cumprimento. Creio que é muito significativa aqui esta declaração do Espírito de Profecia: "Cristo aguarda com fremente desejo a manifestação de Si mesmo em Sua igreja. Quando o caráter de Cristo se reproduzir perfeitamente em Seu povo, então virá para reclamá-los como Seus... Se todos os que professam Seu nome produzissem fruto para Sua glória, quão depressa não estaria o mundo todo semeado com a semente do evangelho! Rapidamente amadureceria a última grande seara e Cristo viria para recolher o precioso grão." - Parábolas de Jesus, pág. 69.

RA: Qual deve ser a postura da Igreja Adventista do Sétimo Dia hoje e nos tempos (ainda mais) difíceis que virão?

J. C. Ramos: E mais do que a hora de nos apegarmos a Deus como nunca! Consagração diária e comunhão contínua e cada vez mais intensa nos trarão o cumprimento daquilo de que mais carecemos na perspectiva dos dias atuais e do futuro próximo:
a tão aguardada chuva serôdia. Necessidade para hoje porque a obra salvífica de Deus continua inacabada, primeiramente em nós e depois no mundo. De fato, a Igreja só poderá concluir sua missão pelo poder do Alto. E quando lembro que, como um povo, temos as verdadeiras respostas às angustiantes indagações que surgem face aos momentosos acontecimentos de nossos dias, que responsabilidade a nossa! Necessidade também para o futuro próximo, porque só a chuva serôdia nos capacitará a transpor triunfantes o tempo de angústia, quando a graça não mais operará. -- Transcrito da Revista Adventista, edição de novembro de 2001, págs. 5 e 6.

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