Organização Reinventa o Serviço Cerimonial na IASD

Em artigo incluído na edição de Novembro de 2001 da Revista Adventista, a liderança da IASD pode estar começando a reconstruir o raciocínio que lhe permitiria continuar com a cobrança de dízimos, tendo para isso uma suposta base bíblica.

Conforme já foi demonstrado aqui, desde que o serviço cerimonial levítico perdeu seu valor típico pela ação salvadora de Nosso Senhor Jesus Cristo, não existe mais base bíblica para a imposição da obrigatoriedade do pagamento de dízimos aos que se dizem "levitas" modernos. Em outras palavras, os dízimos faziam parte daquilo que chamamos "lei cerimonial" e foram abolidos na cruz.

Diante disso, a Organização Adventista parece começar a urdir uma nova argumentação em defesa dos dízimos que a sustentam. E o primeiro passo seria fazer de seus pastores sacerdotes do novo concerto, encarregados de oficiar "cerimônias representativas e comunicadoras do processo de salvação do ser humano". 

Uma vez implantada essa aberração doutrinária, estaria mais uma vez justificada a continuidade da cobrança de dízimos dos membros da igreja.

O autor do artigo a que estamos citando é identificado apenas como pastor distrital em Salvador, BA, mas, muito provavelmente, seu texto expressa informações recebidas em concílios e cursos de pós-graduação. E o texto é antecedido na Revista Adventista pela retranca "TEOLOGIA", o que lhe confere maior peso que uma matéria classificada simplesmente como "OPINIÃO" ou "REFLEXÕES". 

A argumentação inicial do pastor Marcelo Torres pode ser resumida da seguinte forma:

  1. No contexto do grande conflito, a salvação é a conscientização do ser humano quanto ao direito divino de soberania.
  2. Como parte do processo de conscientização do ser humano, Deus dá muito valor às cerimônias 
  3. A participação de cerimônias instituídas por Deus equivale a aceitação da soberania de Deus. 

Observe que, se a salvação é a aceitação da soberania divina, a participação dessas cerimônias equivale à salvação!

Detalhe: O articulista alerta que a não submissão a essas cerimônias, que ele entende como "processos de conscientização, motivação e adoração" pode acarretar conseqüências funestas.

Mesmo depois da revelação máxima do caráter de Deus, através da vida e morte de Seu Filho Jesus Cristo, o distrital de Salvador afirma que: "No novo concerto, Deus continua a Se valer de cerimônias representativas das realidades espirituais. As principais são: o batismo, a Santa Ceia e o lava-pés. Cada uma carregando o ônus da submissão à soberania divina e aceitação da solução divina para o pecado."

Note que ele não está se referindo a essas cerimônias como meros símbolos. Para Marcelo Torres, o batismo, por exemplo, "remove a culpa do pecador, posto que o pecador é sepultado nas águas e 'quem morreu está justificado do pecado'."

Além dessa idéia absurda de salvação pela morte do pecador nas águas do batismo, que nega a suficiência da morte de Jesus Cristo como nosso substituto, Torres reduz o novo nascimento ao rebatismo, equiparado por ele a uma nova oferta pelo pecado. 

Para entender a gravidade do que estamos denunciando, leia com atenção o que o autor afirma acerca da santa ceia, lançando mão de argumentos supostamente bíblicos:

"Rejeitar deliberadamente a participação de uma cerimônia assim, implica em demonstrar o desejo em não pactuar com o Rei, mas em apresentar 'os membros do seu corpo ao pecado, como instrumentos de iniquidade' (Rom. 6:13). Isso quer dizer não ter fé no significado da cerimônia. Por isso Paulo adverte o crente a não participar sem se examinar para ver se discerne nos símbolos o próprio Cristo (1 Cor. 11:28 e 29)."

Nem o Papa defenderia o sacrifício da missa com tanta ênfase! 

Sobre o lava-pés, escreve:

"A água representa a purificação dos pecados cometidos em meio à luta contra o mal, pecados cometidos após o batismo, enquanto se processa a santificação. A não submissão deliberada e rebelde a essa cerimônia é uma declaração de falta de fé nos processos de justificação e santificação que Deus faz pelos homens e nos homens."

A afirmação acima contraria completamente o que diz o Capítulo 13 do Evangelho de João, quanto ao significado atribuído por Jesus Cristo ao lavapés dos discípulos. 

12 Depois de lhes ter lavado os pés, tomou as vestes e, voltando à mesa, perguntou-lhes: Compreendeis o que vos fiz?
13 Vós me chamais o Mestre e o Senhor e dizeis bem; porque eu o sou.
14 Ora, se eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros.
15 Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também.
16 Em verdade, em verdade vos digo que o servo não é maior do que seu senhor, nem o enviado, maior do que aquele que o enviou.
17 Ora, se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as praticardes.

O respeito à mensagem bíblica original não parece preocupar o distrital de Salvador, enquanto defende a sacramentalização adventista de ritos meramente simbólicos, sem nenhum valor salvífico. Veja como nem Jesus Cristo escapa da argumentação atravessada, que tenta impor ao leitor:

"O rebatismo é rejeitado por alguns por entenderem que seria uma ofensa ou uma profanação de algo sagrado. E como se Deus não aceitasse esse segundo batismo (segundo, não em tipo, mas em ocorrência). Se isso é verdade, então, Jesus estaria profanando o batismo de João, para arrependimento dos pecados (Atos 19:4), uma vez que Jesus não tinha nenhum pecado do qual necessitasse arrepender-Se."

Expressões evidenciadoras da manipulação católica da mentalidade teológica adventista podem ser observadas ainda na diferença que tenta fazer entre "pão e vinho consagrados e pão e vinho comuns" e no pedido de "reverência para com os símbolos sagrados". Mas sua ousadia máxima é concluir todo o arrazoado, afirmando que essas cerimônias "conferem à igreja de Deus a autoridade de 'guardiã' dos emblemas da soberania e misericórdia divinas". -- Robson Ramos


Leia o artigo publicado pela Revista Adventista:

TEOLOGIA
As Cerimônias Bíblicas no Contexto do Grande Conflito 

A questão do grande conflito entre o bem e o mal envolve a aceitação ou rejeição da soberania de Deus, do reconhecimento do direito divino ao governo. O pecado começa quando Lúcifer rejeita essa soberania, achando melhor "ser rei no inferno do que escravo no Céu" (Milton). O fim desse conflito cósmico, portanto, envolve a vindicação do caráter de Deus, de Sua lei e, por conseguinte, de Sua soberania.

O campo de batalha desse conflito cósmico não é o Universo, mas o terreno da mente e do coração de cada criatura de Deus, principalmente no planeta Terra. Daí a grande preocupação divina com a conscientização do ser humano quanto ao caráter e a lei de Deus.

No Velho Testamento - Como parte do processo de conscientização do ser humano, Deus dá muito valor às cerimônias. Como exemplo, imaginemos quão terrível foi para Adão oferecer os sacrifícios de animais. Foi algo profundamente dramático que visava à conscientização da malignidade do pecado e de sua terrível conseqüência - a morte. Da mesma forma, as festas judaicas e todo o serviço do Santuário tinham sua parcela de contribuição na conscientização do ser humano quanto a seu posicionamento no grande conflito.

Ao mesmo tempo em que trabalham os conceitos do ser humano, essas cerimônias apelam para a aceitação da soberania de Deus, enquanto o adorador se submete a cumpri-las. A Bíblia relata conseqüências nefastas sempre que o pecador não se submete a esses processos de conscientização, motivação e adoração, como nos casos de Caim, Saul, na ocasião da décima praga no Egito, e mesmo no caso de Naamã, que ficaria leproso se não se submetesse ao processo divino.

No novo concerto, Deus continua a Se valer de cerimônias representativas das realidades espirituais. As principais são: o batismo, a Santa Ceia e o lava-pés. Cada uma carregando o ônus da submissão à soberania divina e aceitação da solução divina para o pecado.

O batismo, por exemplo, é uma representação da morte que o pecador merece por causa do seu pecado. Assim como o sacrifício pelo pecado, no Antigo Testamento, e o rito da circuncisão, o batismo é a ocasião em que Deus separa os Seus do resto que não aceita Sua soberania e remove a culpa do pecador, posto que o pecador é sepultado nas águas e "quem morreu está justificado do pecado" (Rom. 6:7).

Ao ser batizado, o pecador precisa estar consciente de que está morrendo para uma vida de pecados voluntários, como se fosse de fato uma morte. Ao sair da água batismal, o crente precisa estar pronto a permitir a santificação de Deus em sua vida.1 Caso isso não ocorra, o seu batismo perde o valor, assim como a circuncisão perdia o significado para o hebreu idólatra, e assim como era necessário que se fizesse o sacrifício pelo pecado novamente. Como disse Pedro, "seu último estado é pior que o primeiro" (II Ped. 2:2). A solução de Jesus é: "Importa-vos nascer de novo" (João 3:7).

A Santa Ceia, por sua vez, é a representação do concerto com Deus, o Novo Concerto,2 que relembra e comemora o pacto dos súditos com seu Rei. Isso está diretamente ligado à aceitação da soberania divina como governante da vida. Rejeitar deliberadamente a participação de uma cerimônia assim, implica em demonstrar o desejo em não pactuar com o Rei, mas em apresentar "os membros do seu corpo ao pecado, como instrumentos de iniquidade" (Rom. 6:13). Isso quer dizer não ter fé no significado da cerimônia. Por isso Paulo adverte o crente a não participar sem se examinar para ver se discerne nos símbolos o próprio Cristo (1 Cor. 11:28 e 29). Ao participar, com contrição, o crente está se submetendo ao processo de Deus para o crescimento da fé e da santificação pessoal.

O lava-pés representa a predisposição do crente em servir a Cristo com a mesma humildade com que Cristo serviu à humanidade. Da mesma forma, cada crente que participa assume o ministério de Cristo em servir ao homem. E como se o homem estivesse em lugar de Cristo servindo a outro homem. A água representa a purificação dos pecados cometidos em meio à luta contra o mal, pecados cometidos após o batismo, enquanto se processa a santificação.3 A não submissão deliberada e rebelde a essa cerimônia é uma declaração de falta de fé nos processos de justificação e santificação que Deus faz pelos homens e nos homens.

Toda a argumentação até aqui baseia-se no contraste entre crente e não crente, pactuante e rebelde. Mas há crentes que se excluem das cerimônias por outros motivos. Veja­mos quais.

Motivos - No tocante às cerimônias representativas e comunicadoras do processo de salvação do ser humano, alguns desvios de significado têm sido detectados em meio ao zelo e ao temor dos membros da igreja.

Santa Ceia - Alguns se recusam a participar da Santa Ceia porque acham que "não estão preparados" para participar de algo "tão santo" Horrorizam-se com a declaração de Paulo em 1 Coríntios 11:27: "... aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor, indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor." Com base em uma interpretação equivocada do que o apóstolo realmente queria dizer, alguns crentes amontoam sobre si e sobre outros um fardo que o Senhor não os mandou carregar. Concluem que só podem participar da cerimônia da renovação do Novo Concerto entre Deus e os homens se não tiverem pecados, se tiver havido um preparo espiritual semelhante ao que o sumo sacerdote deveria ter antes de entrar no Santíssimo. Não é isso que Paulo está querendo dizer.

Paulo está combatendo os desvios dos versos 20-22, onde os coríntios iam para a Ceia para comer e beber até se embriagarem. "Sem discernir" e a linguagem do apóstolo, isto é, não fazer diferença entre aquele pão e vinho consagrados do pão e vinho comuns,4 não faziam "separação entre o santo e o profano" (Ezeq. 44:23), por não entenderem o que significava a cerimônia, e portanto, não entendiam o que Cristo havia feito por eles. Não esqueçamos que nenhum dos apóstolos era "tão santo como alguns irmãos pensam. Em plena mesa da Ceia com Cristo, levantaram disputa sobre quem seria o maior (Luc. 22:24).

Quando Paulo diz: "Pois quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe em juízo para si" (1 Cor. 11:29), não está falando da condenação eterna, mas da condenação do ato repreensível de não reconhecer que aqueles símbolos representam o Senhor, assim como os que crucificaram a Cristo não reconheceram nEle o Senhor.5

Assim, a Ceia é a ocasião perfeita de o crente pecador renovar seus votos com Cristo, reconhecendo-Lhe a soberania na vida. O importante é que o pecador entenda o significado dos símbolos e deles se aproxime com sinceridade de coração e com reverência para com os símbolos sagrados.

Batismo e rebatismo - Alguns não querem ser batizados porque consideram isso uma humilhação pública; outros por entenderem a cerimônia como um constrangimento desnecessário para a salvação; para estes últi­os, o que importa é o seu coração com Deus. Diante de tais pensamentos, evocamos as experiências de Caim e Naamã. Deus recusou a oferta de Caim e ele não foi absolvido. Da mesma forma, Naamã seria condenado a ficar leproso até sua morte, caso não seguisse a cerimônia ordenada por Deus, através de Seu profeta.

Em Sua soberania Deus Se vale de representações que são para sensibilizar e preparar o coração humano para receber a comunicação das bênçãos do Espírito Santo. O homem deve, portanto, despojar-se de todo o eu, aceitar a soberania de Deus e humilde­mente submeter-se ao modelo divino.

O rebatismo é não só rejeitado, mas também combatido por alguns, por entenderem mal a declaração de Paulo em Efésios 4:5: "há um só Senhor, uma só fé, um só batismo". Ora, nesse capítulo Paulo está fazendo um apelo à unidade dos crentes em Éfeso.6 Por isso, no verso anterior, ele diz que "há um só corpo e um só Espírito" O foco aqui não é o número, mas a natureza. Em outras palavras, Paulo está querendo dizer que existe um "tipo" de Espírito Santo, um único tipo" de corpo de Cristo; há apenas um tipo" de Senhor, um único tipo (natureza) de fé; um único tipo (natureza) de batismo.
Não é o fato de que o batismo ocorreu uma única vez que nos une, mas que fomos batizados do mesmo jeito, invocando o mesmo Senhor (em nome de Jesus), recebendo o mesmo Espírito, para fazer parte do mesmo corpo, mantendo a mesma esperança, provida pelo mesmo Deus.

O rebatismo é rejeitado por alguns por entenderem que seria uma ofensa ou uma profanação de algo sagrado. E como se Deus não aceitasse esse segundo batismo (segundo, não em tipo, mas em ocorrência). Se isso é verdade, então, Jesus estaria profanando o batismo de João, para arrependimento dos pecados (Atos 19:4), uma vez que Jesus não tinha nenhum pecado do qual necessitasse arrepender-Se.

O maior argumento, entretanto, a favor de um rebatismo, deve ser a perda da fé. Sim, porque a fé é uma só, segundo Efésios 4:5, assim como o batismo é um. Mas a fé pode ser perdida e, nesse caso, segundo Pedro, seu último estado é pior do que o primeiro (II Ped. 2:20). E se para o primeiro estado de pecador, antes de conhecer a Cristo, a solução é: "Importa-vos nascer de novo" (João 3:7), para um estado posterior e considerado pior, aquele que anula o seu pacto com Cristo deveria passar por um processo menos dramático, com um testemunho público menos ostensivo do que o único batismo que marca a morte para o pecado e a nova vida para com Deus? Se a fé, que é o requisito para o batismo, pode ser perdida, por que o batismo tem que ser eterno?

Conclusão - Devemos, portanto, concluir que, diante de qualquer dúvida, nos cumpre lembrar que as cerimônias instituídas por Deus são uma maneira de conscientizar os que delas participam e os que as testemunham, da disposição divina em perdoar e transformar os homens que com Ele fizerem concerto, reconhecendo a soberania divina em sua vida. E ainda mais, conferem à igreja de Deus a autoridade de "guardiã" dos emblemas da soberania e misericórdia divinas.

Marcelo Torres é distrital em Salvador, Bahia. -- Transcrito da Revista Adventista, edição de novembro de 2001, págs. 16 e 17.

Referências:
1. Nisto Cremos, págs. 255-257.
2. Idem, págs. 271 e 272.
3. Ibidem, págs. 268-270.
4. SDA Bible Commentary in CD-ROM - 1 Coríntios 11
5. Leon Morris, I Coríntios: Introdução e Comentário (São Paulo: Edições Vida Nova, 1986), págs. 131 e 132.
6. Francis Foulk, Efésios: Introdução e Comentário (São Paulo: Edições Vida Nova), págs. 92-94.

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