Bush: Com Deus ao Seu Lado

Por Garry Wills, para o "The New York Times"
  
“Senhor nosso Deus, ajude-nos a transformar os soldados deles em fragmentos ensangüentados com nossas bombas; ajude-nos a cobrir seus campos alegres com as formas pálidas de patriotas mortos; ajude-nos a abafar o trovão de suas armas com o som de seus feridos, retorcendo-se de dor; ajude-nos a devastar suas casas humildes com uma tempestade de fogo; (...) ajude-nos a deixá-los sem lar com seus filhos perambulando pelos dissabores de sua terra desolada. Pedimos isso, no espírito do amor, Dele Que é a Fonte de Amor”.


Durante reunião, o presidente dos EUA, George W. Bush, reza entre Donald Rumsfeld e Colin Powell

A religião na América se assemelha muito à Natureza na famosa frase de Horácio: “Natureza, afaste-se dela como puder, ela sempre volta a você, superando a hesitação que você tem por ela”. Da mesma maneira, não importa o quanto Jefferson e Madison tenham tentado afastar a religião das ações governamentais oficiais, ela continuou a se infiltrar, impedindo as tentativas de contê-la.

Madison dizia que a religião “não está dentro do conhecimento do governo civil”. Ele nem queria que ministros de religião listassem sua profissão no recenseamento do governo, já que “o governo geral é proibido de interferir, de qualquer maneira, em questões referentes à religião, e pode haver a possibilidade de fazer isso ao se averiguar quem é ou não ministro de religião”.

Madison ficaria surpreso em ver o quanto a religião é “conhecida” em, digamos, Karl Rove. A mansão executiva da nação atualmente está cheia de grupos de oração e de estudos bíblicos, como se fosse um monastério.

Um comentário sarcástico ali seria “senti sua falta no estudo bíblico”, como David Frum contou em “The Right Man” com um “estremecimento”, já que “o estudo bíblico, se era não compulsório, também não deixava de sê-lo” quando ele estava na Casa Branca de Bush. Os amigos que iam a jantares íntimos com os Bush deveriam estar preparados para fazer a oração antes da refeição.

A resposta a Madison implicitamente foi esta: uma nação sem conhecimento de religião não tem conhecimento de Deus, e sem o reconhecimento nacional desta autoridade, a nação não pode ser protegida por ele. Não é uma vantagem que um país não tenha sua proteção, especialmente em tempos de perigo. Não é patriótico expor a nação aos seus inimigos sem tomar todas as medidas possíveis para garantir a benção divina.

Na mente dos devotos é, portanto, um ato politicamente perigoso ensinar a evolução “herege” em nossas escolas em vez do “criacionismo” bíblico. É uma provocação da ira divina permitir que um “massacre dos inocentes” aconteça em clínicas de aborto.

A pornografia ofende a Deus e assim negligencia sua benevolência. Também não podemos estar protegidos contra terroristas a menos que vejamos que um “país abençoado” (para usar as palavras do presidente) deve estender a vontade de liberdade de Deus a outros países, à força se necessário.

Os efeitos de guerras

Esses impulsos são mais fortes em tempos de perigo ou incerteza. Foi durante a Guerra do Golfo que o pai do atual presidente reuniu a nação para rezar, dizendo em 31 de janeiro de 1991:

Soldados americanos oram durante a Guerra dos EUA contra o Iraque (Março-Abril de 2003)“Por toda a nação as igrejas, as sinagogas, as mesquitas estão lotadas – com uma freqüência recorde em cerimônias. Na verdade, na noite em que a guerra começou, o Dr. Graham estava na Casa Branca. E ele falou conosco sobre a importância de nos voltarmos a Deus como um povo de fé, de nos voltarmos a ele com esperanças. E então na manhã seguinte, o Dr. Graham foi a Fort Myer, onde tivemos uma agradável cerimônia guiando nossa nação em uma bela oração, com ênfase especial nas tropas que estão no exterior (...)”.

“Não se pode ser presidente do nosso país sem ter fé em Deus – e sem saber com certeza que somos uma nação sob Deus (...). Deus é a nossa proteção e salvação, e precisamos confiar e manter a fé nele (...). Hoje, estou pedindo e anunciando que domingo, 3 de fevereiro, será um dia nacional da oração”.

Há muitos precedentes para tal religiosidade oficial em tempos de guerra. Foi no período da guerra fria com o que o presidente Truman sempre chamou de “comunismo herege” que a expressão “sob Deus” foi acrescentada ao Juramento de Lealdade. Foi na Segunda Guerra Mundial que “God Bless America” se tornou o hino não-oficial do país.

Quanto à Primeira Guerra Mundial, o presidente Wilson disse que ela mostrou à América a caminhada às alturas “onde não há nada além da luz pura da justiça de Deus”, refletindo o “vislumbre de luz que veio ao calvário, naquele primeiro amanhecer que veio com a era cristã”. Foi na Guerra Civil que “The Battle Hymn of the Republic” foi composto, com citações de Isaías 63:3 e Revelação 14:20: “Ele pisa no lagar do vinho onde estão as uvas da ira”.

Foi na guerra de 1812 que Francis Scott Key escreveu a letra do hino americano: “Louvado seja o Poder que nos tornou e preservou uma nação. Então conquistar devemos quando nossa causa for justa”.

Foi durante o conflito de New England com os nativos americanos, culminando na guerra do rei Philip, que a lamúria se tornou uma forma popular de sermão. Os sofrimentos dos colonos eram vistos como uma punição pelos pecados, então os fiéis tinham que se levantar como Jeremias para repreender as pessoas por se afastarem de Deus.

A lamúria era um recurso muito forte, com uma longa vida à sua frente. Ela estava no Segundo Discurso Inaugural de Lincoln. A nação como um todo foi cúmplice no pecado da escravatura, então Deus está aplicando um castigo por esse pecado, causando um derramamento de sangue pelas baionetas dos soldados em compensação pelo sangue derramado pelos chicotes dos donos de escravos. Uma solidariedade no pecado tornou o castigo conjunto, unindo a nação nos sofrimentos que ela proporcionou a si mesma.

Lincoln fechou a declaração citando o Salmo 19: “Os julgamentos do Senhor são certos e justos”. Lincoln não deu o próximo passo lógico, dizendo que a solidariedade em ofender a Deus só poderia ser contestada pela solidariedade em cultuá-lo, mas outros foram rápidos e resolutos em tomar esta atitude.

A dinâmica da lamúria se transformou de repreensão em reforma, de mácula conjunta em purificação conjunta. Os primeiros mestres da lamúria diziam que a pureza do culto a Deus tinha sido perdido. A participação em igrejas tinha diminuído, e aqueles que participavam tinham se tornado indiferentes. O único remédio era o recrutamento de novos participantes (por meio das orações e dos exemplos) e um zelo maior por aqueles que já participavam.

O pedido de pureza da lamúria representava uma dificuldade especial para as congregações do século 17. Por um lado, para ser pura, uma congregação tinha que admitir somente os justos, aqueles que tinham sido salvos por uma experiência particular de conversão. Por outro lado, se a comunidade como um todo era responsável pelo pecado e tinha que voltar a Deus, alguém tinha que tratar a sociedade em geral como a comunidade relevante.

 

A sociedade e a religião

A única maneira de purificar essa sociedade do pecado seria expulsar da cidade aqueles que não foram salvos, não se arrependeram e nem se converteram. A força entre essas duas posições está na raiz das nossas tradições religiosas, a comunitária e a individualista.

Os puritanos tiraram das escrituras hebraicas o conceito de “povo de Deus”, uma entidade protegida como um todo, que devia pagar seus pecados como um todo. Já o protestantismo radical dos puritanos dizia que a salvação era uma questão individual resolvida por cada alma com o Espírito. As pessoas tinham que sair da vastidão do seu eu para encontrar Deus em uma conversão indelegável e radicalmente transformadora. Só assim essas pessoas poderiam ir à igreja e apresentar evidências de terem sido salvas, revelando os sinais adequados disso aos conhecedores do ato, pessoas que poderiam julgar por já terem passado por isso.

Já que ninguém poderia passar pela experiência de salvação por outra pessoa, os filhos dos membros das igrejas não estavam incluídos na congregação somente pelo fato de seus pais terem sido salvos. Até suas próprias conversões, eles não podiam se tornar parte do “pacto” que reunia os membros salvos.

Desde que foi introduzida essa divisão desconfortável entre pais e filhos, teólogos liberais inventaram um “semipacto”, que permitia que os membros participassem da vida na igreja em graus variáveis. Mas os pastores mais severos ainda insistiam no antigo “pacto completo”, excluindo da comunhão aqueles que não tinham sido salvos. Os partidários dessas duas posições fizeram batalhas cruéis pela alma da igreja.

Ninguém sentia essas contradições mais do que os mais importantes líderes religiosos na história americana, Jonathan Edwards. Ele incorporou todos os grande impulsos religiosos na América, intelectuais e emocionais, e as tentativas mais espetaculares de conciliá-los entre si.

Ele era neto do pastor Solomon Stoddard, conhecido como “o papa da congregação”, que admitia pessoas livremente na comunhão sob o semipacto. Mas ele também era filho do pastor Timothy Edwards, que manteve a regra rígida de admitir somente os puros.

Jonathan assumiu o púlpito de seu avô e não conseguiu mudar rapidamente o regime do homem respeitado, embora ele sentisse uma lealdade aos padrões mais rígidos de seu pai. Ele lutou por muito tempo em grande ansiedade por sua própria conversão e não podia diminuir a experiência para os outros.

Ele resolveu o conflito entre os ideais comunitários e os individualistas. Ele pregou a mãe de todas as lamúrias, o mais famoso sermão da história americana, “Pecadores nas Mãos de um Deus Furioso” (1741), usando o mesmo verso de Isaías que Julia Ward Howe usaria em “The Battle Hymn of the Republic”: “Vou caminhar sobre eles com minha raiva, vou pisar neles com minha fúria, e seu sangue deverá espirrar em minhas vestes, e tingirei minha roupa”.

Edwards convocava não apenas um povo que estava desviado de seu caminho, mas todos os indivíduos que enfrentassem o prospecto da condenação. O resultado foi uma transmissão da energia elétrica de um pólo para o outro da divisão religiosa. Os indivíduos passavam pela conversão em uma experiência conjunta, tão psicologicamente íntima e orientadora quando uma conversão privada mas misturando todo um grupo de fiéis em um momento compartilhado de Iluminação. As pessoas foram salvas reciprocamente de incêndios ardentes.

Este despertar renovou o fervor da primeira restauração de Edwards, de 1735, que ele via não apenas como a solução a um problema da igreja mas como um anúncio da salvação do mundo. As restaurações são momentos caracteristicamente americanos em que se fecha uma lacuna entre o conjunto e o individual na nossa religião.

As profundas raízes desses impulsos basicamente americanos estão na história religiosa dos EUA. Os americanos acreditam, por um lado, que o indivíduo deve salvar a si mesmo. Uma das pessoas no grupo de Karl Rove, por exemplo, sem dúvida disse a ele que ajudar as pessoas a conseguir um lugar para morar “vai contra o conservadorismo misericordioso” porque coloca em questão a “responsabilidade pessoal”. O mesmo vale para programas de ação afirmativa, que incluem pessoas como parte de um grupo social em vez de pelo mérito individual.

Nenhuma igreja de congregação mandou pessoas lutarem por suas almas mais rigidamente do que os conservadores religiosos quando se trata de determinar uma ação para ajudar as pessoas a lidarem com seus problemas. Os problemas são delas, as almas a serem salvas são delas.

Por outro lado, quando se trata de reconhecer a autoridade de Deus, o Estado pode impor padrões uniformes de oração. Ele pode proibir a pornografia, vetar a opção de aborto, decidir a forma como a evolução é ensinada (e se ela deve ser ensinada). Neste ponto, o comunitário se torna autoritário. O povo como um todo deve ser salvo das conseqüências de seus próprios pecados. Ele tem almas que todos nós devemos salvar, homenagear a autoridade de Deus.

O que torna a religião tão importante em tempos de guerra é que ela funciona da forma que as recuperações funcionavam para Edwards – uma faísca pulando de um pólo para outro. Os indivíduos se unem no perigo conjunto e no empenho conjunto de enfrentar uma ameaça iminente. Todos nós estamos na frágil teia de aranha que Edwards dizia que impedia a nós pecadores de cairmos no inferno abaixo de nós. O perigo é capaz de igualar, e só devemos nos recuperar. Devemos salvar uns aos outros, já que o inimigo gostaria de nos destruir um por um.

A estranha euforia da guerra se parece com a confissão alegre de iniqüidade no Grande Despertar. Sentimos medo e alegria. Os itens múltiplos da população são reunidos em um povo, o povo de Deus.

Este senso comum apareceu, mais recentemente, após os ataques de 11 de setembro, quando o presidente declarou guerra ao terrorismo. Sua reação inicial foi chamá-la de cruzada, a guerra cujo lema era “Deus Quer”. O senso de perigo foi aumentado pela perda do Columbia, sugerindo a fragilidade dos nossos esforços nacionais. Assim como o 11 de setembro, esta levou a vigílias de orações e expressões mais fortes de unidade nacional.

Na cerimônia memorial realizada na Catedral Nacional depois do ataque às torres gêmeas, “The Battle Hymn of the Republic” foi cantado no encerramento. Esta canção sempre foi a favorita em tempos de guerra, apesar de sua letra estranha: “Deixe o herói nascido da mulher esmagar a serpente com seu sapato”. A religião pode passar a ter pensamentos sangrentos quando vamos à guerra, com muitas serpentes que devem ser esmagadas.

O impulso de se tornar justo é embriagante. Ele permite que uma pessoa tenha grande desdém pelo manifesto dos pecadores que se opõe à nossa disposição sagrada. Ele se aplica não apenas aos inimigos declarados, mas àqueles (como os franceses) que não se juntam à nossa cruzada e até àqueles que ousam criticá-la.

Rod Dreher, que escreve na National Review, diz que os clérigos que se opõem à guerra estão nos desarmando espiritualmente e que os padres do exército que apóiam a guerra deveriam ser considerados, não “bispos nomeados em tribunais e pastores no conforto suburbano da classe média”. Dreher, convertido ao catolicismo, deve achar que o Papa é um desses bispos que estão no conforte, ao contrário dos padres do exército que sabem o que Deus e o diabo querem.

Deveríamos aprender como “realismo moral” dos padres soldados, que são “guerreiros da justiça”, e não considerar “o sentimentalismo degenerado que se encontra entre tantos clérigos hoje em dia”. Os padres que não reverenciam o Deus da Guerra são, nas palavras de um padre que Dreher cita com aprovação, reforçadores da noção de que “a religião é para os fracos, para os estúpidos”. Isso era chamado “cristianismo poderoso”, e Dreher acha que esta é a única forma autêntica de sua fé:

“Conforme homens e mulheres de fé discutem a moralidade da guerra com o Iraque, é mentira que a maioria deles não tenha tido a perspectiva dos padres do exército, de que obviamente as únicas vozes ouvidas na praça pública estão vindo do lado antiguerra. A divisão entre o sacerdócio militar e civil em relação ao Iraque é filosoficamente muito profunda. Ela vai até o centro da crença de uma pessoa no mal... Alguns dos padres dizem que o fracasso da sociedade americana contemporânea em compreender a verdadeira natureza do mal que enfrentamos significa que o país está espiritualmente despreparado para a guerra e seus sacrifícios”.

Dreher tem uma visão de padres militares como mentores morais que é muito diferente da de Madison, que escreveu: “Observe os exércitos e as marinhas do mundo, e diga se, na nomeação de seus ministros da religião, os interesses espirituais das massas ou os interesses temporais dos pastores estão em vista”.

Madison sabia que a maioria das nações fez um uso instrumental de Deus (como o endossante da política secular) e que isso desonra o Senhor. Isso o recruta para o propósito secular e literalmente “usa o nome do Senhor em vão”. Madison permitiria que homens correndo risco de morte tivessem autoridades de sua religião perto deles se isso fosse promovido por sua religião. Mas isso é diferente de vestir ministros com uniformes do governo, sob a disciplina do governo.

Dreher nos diz, com aprovação, que o exército controla os padres e deve remover todos aqueles que mostrarem dúvidas sobre se a guerra é um perigo para a “moral”. A religião é aproveitada para o propósito político e não é exercida livremente se não serve a essa finalidade. Este é apenas o “conhecimento” de religião que Madison chamou de uma usurpação feita pelo Estado.

As pessoas temem ao escutar o presidente que o papel que os padres militares desempenham na vida de Dreher seja fornecido a Bush por seus conselheiros e consoladores evangélicos. Muitos se perguntaram como o presidente consegue destruir tão prontamente estruturas inteiras de cooperação internacional em um período em que, na luta contra o terrorismo, nós precisamos tanto delas. Sua afirmação tranqüila de que a maior parte do mundo e de sua nação está errada vem da aparente certeza que é difícil de justificar em termos de cálculo geopolítico.

Ajuda saber que Deus está do seu lado quando se deve dar um passo tão grande. Os benefícios psicológicos disso é que fazem alguém em sã consciência se opor àqueles que não estão conosco, e desta forma não estão do lado de Deus. Eles não estão errados, nem entenderam errado, nem foram mal guiados nem mesmo são malevolentes. Eles são o mal. E todos os nossos opositores podem ser combinados sob o rótulo deste mesmo mal, já que o mal é uma oportunidade igual de empregar seus agentes.

Bush foi muito bom em persuadir o povo americano a pensar que Saddam Hussein estava por trás dos ataques ao World Trade Center em Nova York e ao Pentágono em Washington e que ele é um aliado e fornecedor da Al-Qaeda, e por isso eliminá-lo é a melhor maneira de manter o terrorismo longe dos EUA. Sejam quais forem os bons motivos para derrubar Saddam, este não era um deles. A convicção de que podemos nos beneficiar eliminado Saddam não é o mesmo que acreditar que Deus quer assim – exceto na cabeça de George Bush.

Aqueles que se opõem a ele, em sua lógica, não estão apenas cometendo um erro político. Elas estão, como acreditam os padres militares de Ron Dreher, penetrando “no centro da crença de alguém no mal”. Questione a política, e você não acreditará mais no mal – o que é o mesmo, neste contexto, que não acreditar em Deus. É com este teste religioso que o nosso presidente está nos avaliando.

Na declaração de Madison sobre a relação da Igreja com o Estado, o “Memorial e Protesto” de 1785, Madison condenou o uso da “religião como um mecanismo da política civil”. Os resultados desse uso são “o orgulho e indolência no clérigo, a ignorância e o servilismo no laico, na superstição, na inveja e na perseguição”.

Desestabelecer a religião, argumentou ele, não a rebaixa, mas impede que ela seja explorada pela autoridade política, da “perversão não santificada dos meios de salvação”. A separação de Igreja e Estado, embora constantemente seja usada de forma superficial, especialmente em tempos de guerra, tem sido importante para manter a América o país mais religioso na parte desenvolvida do mundo. Como ele disse, “a religião floresce com maior pureza sem a ajuda do governo”.

Madison exerceu uma grande influência, embora a religião sempre recaia novamente sobre nós, especialmente em tempos de guerra. O resultado foi medido por Mark Twain quando Andrew Carnegie citou a afirmação de que a América é um país cristão: “Porque, Carnegie, o mesmo acontece com o inferno... mas não nos vangloriamos disso”.

O tom de Twain aprofundou o amargor enquanto ele via a América travar mais uma de suas guerras preventivas, desta vez nas Filipinas. Ele nos lembrou exatamente do motivo pelo qual estamos rezando quando pedimos a Deus para comandar a guerra e cumprir a destruição do nosso inimigo. Sua “Oração de Guerra”, é mais ou menos assim:

“Senhor nosso Deus, ajude-nos a transformar os soldados deles em fragmentos ensangüentados com nossas bombas; ajude-nos a cobrir seus campos alegres com as formas pálidas de patriotas mortos; ajude-nos a abafar o trovão de suas armas com o som de seus feridos, retorcendo-se de dor; ajude-nos a devastar suas casas humildes com uma tempestade de fogo; (...) ajude-nos a deixá-los sem lar com seus filhos perambulando pelos dissabores de sua terra desolada. Pedimos isso, no espírito do amor, Dele Que é a Fonte de Amor”.

Garry Wills é professor de história na Universidade Northwestern. Seu livro mais recente é “Saint Augustine’s Memory”.

Fonte: http://ultimosegundo.ig.com.br/paginas/cadernoi/materias/089501-090000/89861/89861_1.html

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