Estados Unidos incorporam de maneira mais ostensiva o papel de império moderno.
Marcos De Benedicto, Editor
George
W. Bush completa, em janeiro, dois anos à frente da Casa Branca. O que parecia a
princípio um presidente hesitante em busca de legitimidade ganhou o perfil de
estadista determinado diante do quadro de insegurança nacional e instabilidade
global. Com seu estilo texano, Bush incorporou e tomou mais explícita a vocação
imperialista de Washington. Quer que seu país dê as cartas na "nova ordem mundial",
conceito defendido por seu pai, George Bush, quando ocupou a Casa Branca há dez
anos.
Uma amostra do estilo Bush foi
vista em setembro, quando o presidente divulgou a nova "Estratégia de Segurança
Nacional dos Estados Unidos". No documento de 33 páginas, submetido ao Congresso por
exigência legal, Bush reafirma sua doutrina militar agressiva.
O centro do documento é que o pais
deve abandonar a estratégia anterior de defesa e dissuasão, e adotar uma política
preventiva. Ou seja, os Estados Unidos devem identificar e atacar os países e grupos
suspeitos, mesmo sem provas. "Não podemos deixar nossos inimigos atacar primeiro",
Bush escreveu. Assessorado por republicanos da linha dura, o presidente cultiva a
idéia fixa de que novas formas de agressão precisam de novos métodos de combate.
Bush defende que os Estados Unidos
mantenham uma superioridade militar incontestável. Ele atribui ao seu país um papel
quase messiânico em tomar o mundo "não apenas mais seguro, mas melhor". Reconhecendo
o poder e a influência sem paralelos do país, o presidente vê também
responsabilidades e oportunidades únicas. Os Estados Unidos devem usar sua força
para favorecer a liberdade e proteger os interesses nacionais. Esse papel mundial,
diz Bush, ficou ainda mais claro com os atentados. Se o mundo quiser seguir
Washington em sua luta contra o "eixo do mal", 0K; se não, a águia americana agirá
sozinha. Isso tem gerado questionamentos quanto à política futura da superpotência
americana.
Os críticos da política americana,
como o escritor Gore Vidal, vêm há décadas acusando o pais de praticar o
imperialismo. Agora até mesmo americanófilos passaram a debater sua postura
imperial. Recentemente, o colunista conservador Charles Krauthammer disse que as
pessoas estão saindo do armário em relação à palavra império". Para ele, os
americanos devem reconhecer que a sua nação é a única superpotência da atualidade e
que o país deve assumir seu papel de mestre mundial. Tom Wolfe escreveu que os
Estados Unidos são hoje um poder "tão onipotente como... Roma sob Júlio César".
Segundo Jonathan Freedland, do jomal inglês The Guardian, a idéia de que os
Estados Unidos são a "Roma do século 21" está ganhando espaço na consciência
americana.
No sentido estrito e tradicional do
termo, é claro que os Estados Unidos não são um império. Mas, numa perspectiva mais
ampla, é razoável dizer que são. O país exerce um imperialismo militar, econômico e
cultural tolerado ou mesmo desejado por outros países. As comparações com o Império
Romano estão aumentando.
Paralelos - As semelhanças
entre a antiga Roma e a moderna Washington são notáveis. É claro que, ao estabelecer
paralelos entre as duas superpotências, o jornalista corre o risco de ser seletivo,
procurando o que interessa e esquecendo as diferenças. Mas não dá para evitar a
tentação de comparar as duas Romas. Vejamos dez paralelos:
1. Expansão territorial.
O colonialismo de Roma tornou-se
colossal. Para construir um império, Roma dominou o Mediterrâneo. Os vastos
territórios conquistados representavam vantagens estratégicas, militares e
econômicas. As legiões do império chegaram ao Egito, à Grécia, à Espanha, à Britânia,
à Gália, à Síria, à Mauritânia e aos confins do mundo. Júlio César gabava-se de ter
matado um milhão de gauleses.
Paul Kennedy autor de The Rise
and Fall of the Great Powers (Ascensão e Queda das Grandes Potências), diz que
os pioneiros americanos também tinham um espírito conquistador. Eles chegaram da
Inglaterra à Virgínia e avançaram para o Oeste. Combateram os Cherokee, os Iroquois
e os Sioux, entre outros. Apesar de muitos pioneiros estarem fugindo das restrições
do imperialismo britânico, o novo pais adotou um programa de expansão imperialista.
Mais tarde, após tomar um grande território do México, incluindo o Texas, os
americanos abandonaram a conquista territorial. Mas as intervenções em outros paises
continuaram.
Hoje, as bases militares americanas
estão em cerca de 40 paises do mundo. De algum modo, essas bases exercem o papel das
colônias do passado. Segundo o Pentágono, há uma presença militar americana, grande
ou pequena, em 132 dos 190 membros das Nações Unidas.
2. Mitologização do destino.
Roma tinha toda uma mitologia a
respeito do seu passado e do seu futuro. Sempre cultuando uma história de glórias e
heróis, promovendo o patriotismo e a grandeza, os romanos viam-se como um povo
especial. Eram, por determinação dos deuses, os guardiões da civilização mundial.
Não eram fruto do acaso, mas do destino. Augusto se declarou o filho de um deus e
ergueu uma estátua para seu pai adotivo, Júlio Cesar, num pódio junto com Marte e
Vênus.
Os americanos também têm a mania de
mitologizar seu passado e seu futuro. Talvez inconscientemente, criaram uma galeria
especial de heróis nacionais. Os pais fundadores da nação, como Washington e
Jefferson, e os grandes presidentes, como Abraham Lincoln, são reverenciados como
verdadeiros mitos. Para muitos americanos, os Estados Unidos receberam uma missão
divina de proteger a civilização e governar o mundo. A idéia de que o pais é
abençoado por Deus está enraizada na psiquê americana. O dólar estampa a mensagem "ln
God We Trust" (nós confiamos em Deus), e muitos discursos políticos terminam com a
frase: "God bless America!" (Deus abençoe os Estados Unidos).
A política americana é influenciada
por idéias religiosas e proféticas. Israel, por exemplo, é apoiado, entre outros
motivos, porque muitos líderes evangélicos americanos influentes acreditam no
dispensacionalismo, um sistema que interpreta as profecias bíblicas por um prisma
futurista e literalista radical, colocando a Terra Santa como o epicentro dos
eventos que precederão o retomo do Messias.
3. Força militar.
Roma tinha a máquina da guerra mais
poderosa da época, algo que e mundo nunca tinha visto. Seus soldados possuíam os
melhores equipamentos e eram os mais bem treinados. Nenhuma outra potência chegava
perto. Se a Grécia de Alexandre Magno dominou a Média-Pérsia de Ciro, que havia
conquistado a Babilônia de Nabucodonosor, a Roma de Júlio César simplesmente
subjugou a Grécia.
Os Estados Unidos também
conseguiram uma superioridade militar incontestável no mundo. O presidente americano
controla o maior arsenal bélico do planeta, com cerca de mil mísseis nucleares
(sendo 500 intercontinentais), 1.600 caças e 1,4 milhão de militares na ativa.
Antes dos atentados terroristas, o
governo Bush propôs um orçamento da defesa para 2003 de US$ 396 bilhões, um aumento
de US$ 48 bilhões em relação a 2002. Isso é mais do que o orçamento de dezenas de
países somados. O exército americano pode mostrar sua força em quase qualquer parte
do planeta num curto espaço de tempo.
4. Poder econômico.
Para manter suas legiões e os luxos
da corte, Roma precisava de uma montanha de dinheiro. Assim, o império planejou
meios de conseguir fundos, especialmente através de impostos e taxas. A riqueza de
Roma, em seus melhores momentos, tornou-se gigantesca.
Os Estados Unidos também
conseguiram um destaque inigualável na arena econômica. Seu PIB (total de riquezas
produzidas), de mais de US$ 10 trilhões (cinco vezes o da América Latina e o
equivalente à soma dos PIBs de Japão, Alemanha, Inglaterra e França), representa 32%
do PIB mundial. O país produz 30% das patentes mundiais, 25% dos automóveis e 50%
dos lançamentos de satélites; e consome 33% da produção do planeta, um terço das
importações e 25% da energia gerada no mundo.
5. Desenvolvimento tecnológico.
Com o seu pragmatismo, Roma
valorizava as inovações da engenharia. Para manter suas conquistas, um império
precisa de tecnologia de ponta. Entre as conquistas mais conhecidas de Roma no campo
da engenharia, figuram com destaque as estradas. Na época de Diocleciano (284-305),
Roma tinha construído 85 mil quilômetros de estradas. Projetadas para o trânsito
rápido do exército, as estradas tiveram um impacto positivo na economia do império.
Facilitaram o transporte, o comércio e a comunicação. O sistema postal imperial
dependia das estradas para levar notícias e correspondência. Usando diferentes
cavalos, um mensageiro podia viajar até 160 quilômetros num dia, se houvesse
urgência. As vias principais possuíam estábulos e alojamentos a espaços regulares e
constavam nos mapas e guias. As estradas eram símbolos de poder e soberania,
mostrando quem controlava o território.
Os Estados Unidos, igualmente,
lideram as façanhas científicas e tecnológicas do planeta, detendo um predomínio
absoluto no número de patentes mundiais e na conquista de prêmios Nobel. A "superestrada"
da informação, a Internet, também idealizada originalmente como ferramenta militar,
já figura no centro do comércio americano. As conquistas científicas e tecnológicas
americanas também servem de símbolos ideológicos e políticos. São importantes porque
afetam a maneira como as pessoas percebem as relações de poder no mundo.
6. Influência cultural.
Todo império, além de conquistar,
precisa manter o que conquistou. Isso se consegue pela força ou pela arte de fazer
os conquistados quererem o que o conquistador quer. Roma às vezes mantinha suas
legiões nas regiões conquistadas, mas também sabia seduzir os povos com a sua
ideologia, a sua cultura e os seus luxos. Roma assimilava a cultura dos povos
dominados, reciclava-a, mesclava-a com os seus valores e a vendia de volta. Tácito
observou na Britânia que os nativos pareciam gostar de togas, banhos aquecimento
central, nunca percebendo que esses eram os símbolos de sua "escravização". Os
historiadores calculam que, por volta do ano 170 d.C., a população do império
chegava a 65 milhões. Havia uma mistura de nacionalidades, sendo os cidadãos romanos
os mais valorizados. Ainda hoje admirado, o direito romano regulava a vida do
império.
De modo parecido, os Estados Unidos
exercem uma influencia cultural avassaladora. O imperialismo cultural americano
ocorre através de Hollywood, da Disney dos jogos, da mídia da música e de produtos
como McDonald e Coca-Cola. O politeísmo de ontem virou o multiculturalismo de hoje.
O inglês de hoje, falado por mais de um quinto da população do planeta, é o latim de
ontem. O dólar, como as moedas romanas, é a moeda mundial. A população americana
também é uma mistura de etnias, sendo os cidadãos americanos os mais privilegiados.
Não por acaso, o governo dos
Estados Unidos pressionou o Tribunal Penal Internacional, que começou a funcionar em
julho na Europa, para conceder imunidade aos cidadãos americanos. A sociedade
americana também valoriza um elaborado sistema jurídico, o que pode ser comprovado
pela fixação de Hollywood em filmes envolvendo tribunais e advogados.
7. Hostilidade no Oriente Médio.
O Império Romano teve sérios
problemas com a Palestina, especialmente com os "zelotes", grupo extremista judeu.
Espécie de precursores dos extremistas islâmicos de hoje, os zelotes rejeitavam
qualquer afinidade com a Pax Romana. Para eles, o sincretismo religioso promovido
por Roma era abominável. Na vanguarda da resistência judaica, mas sem ostentar uma
unidade político-militar, os zelotes incluíam facções ultra-radicais e cruéis, como
a dos sicários. Eles banharam o solo da Palestina com o sangue de quase meio milhão
de vidas, incluindo romanos e judeus colaboradores de Roma. Inspirados no movimento
de Judas Macabeu, que, dois séculos antes, libertara os judeus do domínio sírio de
Antíoco Epifânio, os zelotes lideraram uma revolta contra Roma, que terminou com a
destruição e a profanação de Jerusalém pelas legiões romanas, no ano 70 d.C.
Refugiados na fortaleza de Masada, num platô às margens do Mar Morto, os quase 900
zelotes/sicários remanescentes, liderados por Eliezer Ben Yair, desafiaram o cerco
romano, até decidirem pelo suicídio coletivo, no ano 73, para não caírem nas mãos de
Roma.
De modo semelhante, o Oriente Médio
representa um problema hoje para a Pax Americana. Há mesmo quem acredite que a
política externa dos Estados Unidos só irá funcionar quando for resolvida a crise do
Oriente Médio. A crise atual envolvendo o Iraque é apenas mais um capítulo na
tumultuada relação do país com a região. O interessante é que, assim como
ex-protegidos de Roma se voltavam contra o império, ou por ódio ideológico ou por
quererem suas regalias, também ex-protegidos de Washington (como Saddam Hussein) têm
se rebelado contra o império americano.
8. Decadência interna.
Antes de sua queda, Roma sofreu um
processo de declínio moral. Durante séculos, seu alvo era helenizar ou romanizar as
outras populações, ou seja, transmitir a cultura e os ideais da civilização
greco-romana para o mundo. Mas, com o tempo, voltou-se para o luxo, a
artificialidade, o misticismo, a superstição e a militarização. O grande historiador
de Roma Michael Rostovtzeff (1870-1952) observou que, com a implantação da cultura
de massa no Império Romano, houve uma simplificação dos conceitos e dos processos da
vida política, social, econômica e intelectual. Roma sofreu uma "barbarização"
interna.
Hoje, vem-se falando também da
decadência interna americana. Morris Berman, autor de The Twilight of American
Culture (O Crepúsculo da Cultura Americana), compara a situação atual dos
Estados Unidos à de Roma no seu período de declínio. Pintando um quadro do
"barbarismo interno" americano, Berman cita, entre outras coisas, um abismo
crescente entre ricos e pobres, gastos astronômicos com segurança, queda no nível
cultural e "morte espiritual" (apatia, cinismo, corrupção, perda do espírito
público).
Um indício de que os Estados Unidos
são movidos hoje mais por interesses políticos, econômicos e militares do que por
ideais culturais e espirituais, diz Berman, é o fato de os terroristas terem
escolhido como alvos de seus ataques símbolos como o World Trade Center e o
Pentágono. Seria notável, até bizarro, ele observa, se os terroristas tivessem
alvejado o Memorial Jefferson ou a Universidade de Colúmbia.
9. Ameaça externa.
Os bárbaros representaram o desafio
final para o Império Romano. O termo "bárbaro" tem origem grega. Segundo uma versão
anedótica, os gregos deram esse nome aos antigos povos da Europa (como vândalos,
alamanos, suevos, anglos e saxões, entre outros) porque eles não falavam grego e a
sua fala soava como "bar-bar-bar", ou seja, um blá-blá-blá inintelígivel. O nome
veio a significar "estrangeiro, nômade", "iletrado", "incivilizado" e "violento".
Embora poucos bárbaros pudessem ler e escrever, a história mostra que esse
estereótipo negativo era injusto. Roma ignorou a civilização dos bárbaros,
desafiou-a e pagou caro. Durante quatro séculos, os bárbaros pressionaram as
fronteiras do Império Romano. Em 378, os godos conseguiram uma vitória decisiva, em
Adrianópolis. Essa batalha expôs a fragilidade do império e encorajou novos ataques.
Roma não era invencível.
Finalmente, em 476, os bárbaros
depuseram o último imperador romano e colocaram o líder germânico Odoacro no trono,
tornando-o rei do Império Ocidental. Os Estados Unidos têm os seus próprios
bárbaros. O império americano ignora a cultura e o mundo dos "bárbaros" modernos.
Para os americanos, o terrorismo islâmico é completamente irracional.
Em sua mentalidade, a única
civilização que conta é a ocidental, representada pelos Estados Unidos. Os valores
corretos são os valores americanos; o estilo de vida americano é o único jeito
"razoável" de viver. Talvez os americanos nunca tenham levado a sério a ameaça e o
poder dos novos bárbaros, até 11 de setembro de 2001. A queda do World Trade Center
expôs a vulnerabilidade do império. Isso mostra que, do ponto de vista estratégico
imediato, Bush não esta errado em querer atirar primeiro. A questão é se essa é uma
opção aceitável para uma democracia.
10. Papel profético. Roma
entrou na profecia bíblica através da figura de um "animal terrível e espantoso"
(para saber mais, acompanhe as colunas do Dr. José Carlos Ramos na Sinais). O
profeta Daniel (2, 7, 8) indica que o Império Romano teria uma fase política,
seguida por uma fase mais religiosa, até ser fragmentado e prosseguir como uma
mistura de força (ferro) e fragilidade (barro). Em seus piores momentos, seria um
império brutal e perseguidor. Sob esse império pragmático, Jesus seria crucificado e
milhares de cristãos perseguidos. Mais tarde, por interesse político, o império iria
adquirir características religiosas cristas e assumir papéis ou prerrogativas de
Deus. Se nornalmente Roma era tolerante em matéria de religião, assimilando os
deuses locais e usando a religião como um meio de integrar os conquistados à
sociedade romana, ela se tomava intolerante e opressiva sempre que alguma expressão
religiosa era percebida como uma ameaça à segurança do império.
Os Estados Unidos também parecem
estar retratados na profecia bíblica. Em Apocalipse 13, João fala de um poder
político-religioso ditatorial que imitaria a "besta ou monstro" do Império Romano.
Na verdade, João primeiro descreve o próprio Império Romano em sua fase dominada
pela política papal; depois, começa a descrever o poder que imitaria e tentaria
reviver o Império Romano.
Na perspectiva de João, são duas
"bestas" e uma mesma agenda. A ideologia, os métodos e os alvos são semelhantes.
Exercendo um poder global, ambas as bestas misturam política com religião, impõem um
tipo de adoração e perseguem o povo de Deus. A Roma moderna pareceria cordeiro, mas
falaria e agiria como dragão. Seu objetivo, numa fase dominada pela religião, é dar
uma nova vida para a antiga Roma, que foi ferida de morte, mas esta recuperando seu
prestígio.
A nova Roma implantará um dia
obrigatório de adoração (o domingo), assim como a Roma de Constantino fez no 4º
século, e o usará como teste de lealdade ao sistema global defendido por ela. Quem
não se submeter à política dominante sofrerá sanções econômicas e punições
(i)legais. Em algum momento, a política de atacar preventivamente grupos suspeitos
será posta em prática contra minorias inocentes.
Segundo a interpretação adventista,
essa segunda "besta" ditatorial, surgida da 'terra" (símbolo de lugar deserto ou
pouco habitado, como a América na época do "descobrimento", em contraste com a
primeira "besta", que surgiu do mar, símbolo de lugar povoado, como o Mediterrâneo e
a Europa da época), é a nação americana. Desde o século 19, quando os Estados Unidos
eram vistos positivamente no imaginário protestante e estavam longe de ser uma
potência mundial, os adventistas vêm defendendo essa interpretação. Em 1851, John N.
Andrews (1829-1883) foi o primeiro adventista a identificar, por escrito, a América
protestante com o poder ditatorial da segunda besta de Apocalipse 13.
Em 1888, no livro O Grande
Conflito, Ellen White (1827-1915) frisou: "A aplicação do símbolo não admite
dúvidas. Uma nação, e apenas uma, satisfaz às especificações desta profecia; esta
aponta insofismavelmente para os Estados Unidos da América do Norte." Até agora, a
história tem mostrado que os pioneiros adventistas estavam certos.
América invencível? -
Ninguém pode negar que os Estados Unidos alcançaram uma posição sem rival à altura.
Ou que têm sido os campões históricos da democracia e da liberdade. Os líderes
americanos sabem disso. Por esse motivo, são tentados a agir sozinhos. Mas é bom
lembrar que mesmo Roma, com todo o seu poderio, finalmente caiu. Joseph Nye, de
Harvard, alertou num artigo em The Economist que, se é errado prever um
colapso a curto prazo dos Estados Unidos, como era quase consenso na década de 1980,
é igualmente perigoso imaginar que a potência americana seja invencível, como diz a
sabedoria convencional atual, especialmente se isso levar a uma política exterior
que combine unilateralismo, arrogância e paroquialismo.
O poder em uma era de comunicação
global, compara Nye, é distribuído entre os países em um padrão que lembra um
complexo jogo de xadrez tridimensional. No topo do tabuleiro, o poder militar é
amplamente unipolar (só dá os Estados Unidos). No meio do tabuleiro, o poder
econômico é multipolar (além dos Estados Unidos, há, por exemplo, a Europa, o Japão
e a emergente China). Na base do tabuleiro, o poder na esfera das relações
transnacionais que fogem ao controle do governo é amplamente disperso (não há como
manter a hegemonia).
Isso significa que os Estados
Unidos podem ser tentados a exercer seu poder hegemônico para reforçar as áreas onde
não têm tanto poder. Hoje, a revolução na informação permite a criação rápida de
comunidades virtuais que cruzam as barreiras nacionais. "O problema para os
americanos no século 21", observa Nye, e que cada vez mais as coisas fogem ao
controle mesmo do mais poderoso Estado." Agir unilateralmente, na tentativa de
querer controlar as ameaças reais ou imaginárias, pode enfraquecer a nova Roma.
Se o Apocalipse realmente estiver
descrevendo os Estados Unidos como a nova Roma, então o fim dessa superpotência
ocorrerá quando uma potência ainda mais poderosa aparecer e dominar o planeta. Essa
potência futura é o reino do próprio Deus, que será estabelecido quando Jesus
retornar à Terra. Diante desse reino de justiça e paz, nenhuma Roma pode
subsistir. |