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18/04/04


Perguntas e Respostas Sobre a Mensagem de 1888

 

A história e o conteúdo da mensagem de 1888 possui um extraordinário interesse para cada adventista no mundo inteiro. E. White disse em repetidas ocasiões que o fracasso em compreender e aceitar esta mensagem atrasou grandemente o progresso da igreja, e tem demorado o triunfo da mensagem do "evangelho eterno".

Em nossos dias, as deserções, a apostasia, o fanatismo, as interpretações proféticas contrapostas e as incursões do que se conhece como "nova teologia" significam uma praga para a igreja. Como resultado, a perda de leigos e pastores foi notável. Esses problemas estão relacionados à confusão e desconhecimento da história e a mensagem de 1888.

Os que acreditam no Novo Testamento, compreendem que os judeus rejeitaram e crucificaram ao seu Messias. Se a nação judaica deseja ficar em paz com Deus, não seria uma excelente idéia que compreendessem a sua rejeição e se arrependessem dela?

Se queremos nos reconciliar com o Senhor, não seria acaso sábio que compreendêssemos nossa história e aceitássemos o Seu dom do arrependimento? "Nada temos a temer quanto ao futuro, exceto que nos esqueçamos da maneira pela qual o Senhor nos conduziu, e Seu ensino em nossa história passada" (Life Sketches, p. 196). Naturalmente, se deduz que temos tudo a temer, se esquecermos nosso passado e ignoramos "Seu ensino em nossa história passada".

É animador recordar que Jesus prometeu: "conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará" [João 8:32]. À medida que nos aproximamos do fim do tempo, sairá à luz mais e mais verdade, já que Jesus disse, "é-Me dado todo o poder no céu e na terra" [Mat. 28:18]. Todo aquele que procura a verdade, pode achar consolo em Sua promessa de que ao Lhe pedir pão, não nos dará uma pedra.

Em especial relação à comovedora mensagem de 1888, um número crescente de milhares de adventistas do sétimo dia em muitos países, estão descobrindo hoje que o se trata verdadeiramente do que E. White descreveu como uma "preciosa" mensagem. Vibram com as boas novas que contém. Renovou sua confiança na condução do Senhor e no triunfo final de Sua obra. Vêem a condução do Senhor na história de nossa igreja, e se animam na confiança de que Ele levará a bom porto a embarcação do povo de Deus. Muitos dão testemunho de que esta mensagem lhes livrou de abandonar a igreja em completo desânimo.

A mensagem de 1888 é, sobretudo, gloriosas boas novas de salvação, somente por fé; uma mensagem de libertação do poder controlador do pecado, uma mensagem de esperança espiritual. É uma melhor compreensão do "evangelho eterno", em sua relação com a purificação do santuário. Trata-se de uma verdade que foi confiada a nós adventistas "Esta é a mensagem que Deus manda proclamar ao mundo. " (Testemunhos para ministros, pág. 92).

Poderão os poderes das trevas impedir que essa mensagem chegue até o último da terra, como o Senhor ordenou que acontecesse? A resposta é: 'Não'. Entretanto, há interrogações, perplexidades e objeções que assaltam às almas sinceras. A eles dedicamos este trabalho.

Por que o evangelho é tão importante?

Uma verdadeira compreensão do evangelho é precisamente o que necessita de forma desesperada este mundo amaldiçoado pelo pecado. Depois da pretensão da cristandade de ter proclamado o evangelho durante dois mil anos, a agonia e o mal no mundo parecem ir de mal para pior. Milhões que deveriam acreditar em Deus, sentem-se forçados a duvidar que Ele exista, ou que Se preocupe com eles. Poderia isso significar que o evangelho não foi ainda pregado em sua pureza?

Por surpreendente que pareça, há mais de um evangelho: (a) a pura verdade que pregaram Paulo e os apóstolos –"a graça de Cristo"–, e (b) a falsificação do evangelho, a que Paulo chama "outro evangelho". "O qual não é outro", mas se trata na realidade de uma perversão do "evangelho de Cristo". De acordo com as fortes palavras do Paulo, qualquer outro evangelho diferente do de Cristo, tem que ser "anátema" - condenado (Gál. 1:6-9).

A razão pela qual o inimigo de Cristo se especializa em perverter o evangelho, é porque sabe que o verdadeiro evangelho "é o poder de Deus para salvação" da alma (Rom. 1:16), da mesma forma que o bom alimento o é para a saúde do corpo. Mas uma pequena dose de arsênico mesclada nele, resultaria letal. No juízo final todos verão que a contínua agonia do mundo foi o resultado direto da perversão do evangelho que "Babilônia" proporcionou aos homens (Apoc. 18:24).

 

Temos nós adventistas algo especial a fazer, na recuperação desse evangelho em sua pureza?

Muitos de nós têm assumimos levianamente que as igrejas evangélicas populares estão proclamando o evangelho ao mundo, e que nosso encargo especial é pregar a lei. A hipótese implica que se nós acrescentarmos ao seu "evangelho" nossa singular compreensão dos dez mandamentos –incluindo o sábado–, obtemos o "mensagem do terceiro anjo". Em outras palavras, a Igreja Adventista não é mais que uma igreja entre muitas outras, sem nenhuma contribuição especial a realizar,  senão fazer uma lista de coisas que as pessoas devem aprender a fazer, se desejam ser salvas.

Mas a verdade é que o Senhor nos deu uma mensagem especial de Boas Novas em que as pessoas têm que aprender a crer. O Senhor não suscitou jamais aos adventistas para que pregassem ao mundo o legalismo. Nossa comissão específica é recuperar e proclamar justamente as Boas Novas que já são "a salvação de Deus" [Luc. 3:6], e que preparam um povo para a segunda vinda de Cristo. De fato, a mensagem dos três anjos de Apocalipse 14:6-12 é em um sentido singular "o evangelho eterno" para os últimos dias. Tem que tratar-se das melhores novas que o mundo já ouviu.

 

Como se encaixa a mensagem de 1888 em nossa obra especial?

" Em Sua grande misericórdia, enviou o Senhor " esta mensagem, "o começo" do alto clamor descrito em Apocalipse 18:1-4 (Testemunhos para os ministros, pág. 91-93; Review and Herald, 22 novembro 1892). E. White a reconheceu freqüentemente em sua verdadeira identidade (ver Carta B2A, 1892; Ms. 15, 1888, etc). Ela nunca disse que consistia em enfatizar o que os pioneiros haviam sustentado, nem tampouco o que ensinam as igrejas protestantes evangélicas.

Identificou deste modo a mensagem de 1888 como "aguaceiros celestiais da chuva serôdia" (Special Testemunhe, Serie A, Não 6, pág. 19). Anteriormente, tinha declarado que a chuva serôdia viria, ou como uma preparação para o alto clamor, ou simultaneamente com ele (Primeiros Escritos, p. 271; MS. 15, 1888). Jamais identificou alguma outra mensagem, em qualquer outra ocasião, com a chuva serôdia. Não poderia dizer que o alto clamor começou com a mensagem de 1888, a menos que a chuva serôdia a tivesse acompanhado.

A chuva serôdia e o alto clamor representam hoje para a igreja o que o nascimento do Messias em Belém representou para os judeus. Durante décadas estivemos orando ao Senhor para que nos concedesse o dom da chuva serôdia, como oravam os judeus pela chegada do Messias. Tinham que encontrar nEle o cumprimento de Seu destino. Entretanto, "não O receberam" (João 1:11). Da mesma maneira, nossa igreja espera o cumprimento de seu destino nessa chuva serôdia e no alto clamor que já começaram há mais de cem anos.

 

O que se entende por "alto clamor" e "chuva serôdia"?

Os três anjos de Apocalipse 14:6-12 proclamam uma mensagem mundial, mas o original grego dá a idéia de que seu "voar pelo meio do céu" consiste algo parecido ao vôo de um helicóptero sobre as copas das árvores. Os 150 anos de história passada indicam ao observador sincero que a mensagem desfrutou até aqui de uma difusão mundial muito limitada.

Mas o quarto anjo de Apocalipse 18 desce do céu "grande poder; e a terra foi iluminada com a sua glória". Esse anjo irrompe como uma grande espaçonave, cuja luz envolve toda a Terra. Clama "com fortaleça em alta voz". Aqui temos, por fim, a difusão maciça e final da mensagem.

Visto que Deus é amor, e visto que é imparcial, a mensagem das Suas Boas Novas deve estender-se a todo os lugares antes que Cristo possa retornar. Um mensageiro inspirado nos diz que " O sinal da besta será apresentado nalguma forma a toda instituição e a todo indivíduo. …" (Mensagens Escolhidas, vol. III, p. 396). De acordo com o justo caráter de Deus, todos devem ter igual oportunidade de ouvir a mensagem de advertência.

A "chuva serôdia" é o derramamento final do Espírito Santo. Investirá de poder ao povo de Deus, para que seja Sua testemunha no conflito final. Embora a "chuva temporã" do Pentecostes tenha sido gloriosa, nos é assegurado que o derramamento final do Espírito Santo terá proporções ainda maiores [O Desejado de Todas as Nações, pág. 827; Testemunhos Seletos, vol. 3, pág. 211 etc.].

 

Qual é o tema mais importante da mensagem de 1888?

Consiste primariamente em revelação da justiça de Cristo, o Redentor que perdoa os pecados" (Review and Herald, 22 novembro 1892; Mensagens Escolhidas, vol. 1, pág. 363). " Apresentava a justificação pela fé no Fiador … a justiça de Cristo" (Testemunhos para os ministros, págs. 91,92).

Ao ler as centenas de declarações de apoio de E. White à mensagem, desde 1888 até 1896 (ver Apêndice), uma pessoa se sente impressionada pela assustadora convicção de que foi "o começo" da revelação final do evangelho da justiça pela fé. Tinha que ser mais claro e poderoso do que o nosso povo (e o mundo) tivesse ouvido com antecedência, pelo menos desde os dias de Paulo.

Em efeito, uma declaração vai tão longe a ponto de afirmar que foi o começo de uma luz que não se compreendeu desde os dias do Paulo, ou melhor, desde o Pentecostes (Review and Herald, 3 de junho de 1890). Em outras palavras, até o próprio Paulo teria coisas a aprender da "mensagem do terceiro anjo, em verdade".

Houve outros aspectos que derivam da mensagem, tais como a reforma de saúde, a reforma na educação e na organização, etc. Mas o que alegrou repetidamente o coração de E. White foi a graça superabundante da justiça pela fé. É facilmente reconhecível o entusiasmo que traduzem as centenas de declarações de apoio, relacionadas a esse aspecto fundamental da mensagem.

 

Foi a mensagem de 1888 uma mera re-enfatização da pregação de Lutero, Calvino, Wesley, e os evangelistas populares do século XIX, tais como Dwight L. Moody e Charles Spurgeon?

O estudo do real conteúdo da mensagem revela diferenças marcantes com os reformadores protestantes do século XVI, e dos evangélicos do XIX, ou dos nossos dias.

E. White reconheceu tais diferenças. Disse que a mensagem da justificação pela fé apresentado em 1888 era "a mensagem do terceiro anjo, em verdade" (Review and Herald, 1 abril 1890; Mensagens Escolhidas, vol. 1, pág. 372). Isso representa um problema para alguns (dentre nós), visto que é uma idéia muito estendida que não há mais que um tipo de justificação pela fé, que é a que ensinam os evangélicos.

Mas uma só pergunta desmascara o problema: Proclamaram Lutero, Calvino, Wesley e os guardadores do domingo daqueles dias "a mensagem do terceiro anjo, em verdade"? Se a resposta for afirmativa, então carecemos de fundamento denominacional e não há razão para a existência de nossa igreja. De forma lógica, a postura generalizada da "re-enfatização" assim o pretende, e propiciou a confusão que levou pastores e leigos a abandonarem a igreja. Se os evangélicos pregarem o verdadeiro evangelho da justiça pela fé, por que não unir-se a eles?

Até onde sabemos, E. White não descreveu jamais a mensagem como uma re-enfatização do evangelho ensinado anteriormente. De fato, afirmou que era "a primeira vez que ouvia de lábios humanos a apresentação clara desse tema" que ela jamais havia escutado em uma pregação pública (Ms. 5, 1889).

Sem dúvida havia certos aspectos menores da mensagem que outros tinham proclamado com antecedência; mas ela reconheceu uma perspectiva nova e distinta que nunca antes se viu claramente. Como uma imagem que se enfoca com maior nitidez, "Grandes verdades que não foram ouvidas e contempladas desde o dia de Pentecoste resplandecerão da Palavra de Deus em sua pureza original" (Fundamentos da Educação Cristã, p. 473). Essa é a razão pela qual identificou a mensagem como "o começo" da chuva serôdia e do alto clamor, luz que não tinha iluminado até então a Terra com sua glória.

 

Se aceitarmos a mensagem da justificação pela fé das igrejas populares guardadoras do domingo ("cristianismo evangélico"), não bastará isso, como substituto da mensagem de 1888?

Se a mensagem de 1888 é "a mensagem do terceiro anjo, em verdade", é evidente a impossibilidade de que os conceitos evangélicos possam substituí-lo, já que as igrejas populares guardadoras do domingo não estão proclamando a mensagem do selo de Deus e da marca da besta, a não ser a falsificação da mesma. De fato, a mensagem da genuína justificação pela fé de 1888, "se manifesta na obediência a todos os mandamentos de Deus" (Testemunhos para  Ministros, pág. 92). Isso deve incluir a observância do quarto mandamento! Entretanto, as igrejas evangélicas se têm oposto categoricamente às verdades do sábado e do santuário, durante toda a existência da Igreja Adventista. Em alguma parte há algo que não encaixa.

Há verdades fundamentais da expiação, a cruz, o significado do amor e da fé genuínos, a motivação à obediência, que na "justificação pela fé" dos evangélicos estão, ou ausentes, ou seriamente distorcidas. As mentes mais capazes e profundas entre os evangélicos, estão atualmente ocupadas no estudo do real problema da expiação. Por que aconteceram 2000 anos de história desde que teve lugar o grande acontecimento da cruz, que segundo a compreensão deles era a vitória final? Fora do predeterminismo calvinista, são incapazes de dar resposta àqueles que desejam uma razão para a prolongada demora.

O antigo Israel foi tentado e seduzido continuamente pelas falsas doutrinas de seus vizinhos. Aquelas idéias pagãs eram aparentemente similares. Uma delas consistia na adoração de Baal. Se o Senhor tem confiado a mensagem do terceiro anjo aos Adventistas do Sétimo Dia, temos que esperar que haja tentações similares para confundir-nos com uma falsificação da mesma. De alguma forma, tem que emergir uma verdade mais clara a partir da cruz de Cristo, do que apresentam as igrejas guardadoras do domingo.

 

Estivemos ouvindo pregações sobre a justificação pela fé em nossas igrejas, congressos e assembléias. No quê difere a mensagem de 1888 do que estivemos ouvindo em todos estes anos passados?

Há nela muitas verdades maravilhosas e refrescantes que em geral não são hoje compreendidas. Por exemplo:

(1) A revelação da proximidade do Salvador. É o que E. White se referiu como "a mensagem da justiça de Cristo". "Justiça" não é o mesmo que "santidade". Em Lucas 1:35 lemos que Ele seria "o Santo, que de ti há de nascer". Mas à medida que cresceu como homem e chegou finalmente até a cruz, desenvolveu um caráter "justo". A santidade denota o caráter de alguém que é santo em uma natureza impecável. Assim, lemos a respeito de "anjos santos". Nunca a respeito de "anjos justos". [Nota: Na condição de sua natureza anterior à queda, não falamos tampouco de Adão e Eva como "justos", mas sim como "santos".]

A justiça denota o caráter daquele que, tendo tomado a natureza humana pecaminosa, resistiu e venceu o pecado. Assim, a frase "Cristo, nossa justiça", significa que Cristo "venceu" e "condenou" ao pecado na mesma natureza caída e pecaminosa que nós temos. Veio tão próximo de nós há 2000 anos, e para sempre a partir de então, que "condenou ao pecado na carne" (Apoc. 3:21; Rom. 8:3). Sendo que o Pai e o Filho são Um, e que o Pai estava em Cristo em Sua encarnação, apresenta-se também ao Pai como "justo" (II Cor. 5:18,19; Rom. 3:26).

Cristo fez do pecado algo obsoleto. Não há já mais desculpa para ele. Fez-se na verdade um de nós, 100% Deus, e entretanto, também 100% homem. "Tomou sobre Sua natureza sem pecado a nossa pecaminosa natureza" (Medicina e Salvação, pág. 181), e assim pode salvar a cada um de nós de nossos pecados, não neles. Ele conhece nossas tentações, sendo que, "como nós, em tudo foi  tentado, mas sem pecado" (Heb. 4:15).

Essas Boas Novas comovem o coração humano. Aí está a raiz da verdade que explica os 2000 anos transcorridos sem que Cristo tenha vindo, algo que as igrejas populares não podem explicar.

(2) O ministério de Cristo no santuário, na expiação final. Aqui é onde a verdade sobre a natureza de Cristo brilha em seu esplendor, e transcende a estéril argumentação teológica. O livro de Apocalipse nos mostra um povo que por fim constitui "primícias" do sacrifício de Cristo, constituída por "irrepreensíveis" perante o Seu trono (14:4-12). A chave de sua vitória está em vencer como Ele venceu (3:21).

Brilha aqui por si mesma a verdade da natureza de Cristo. O ministério sumo-sacerdotal no lugar santíssimo do santuário celestial, desde 1844, é uma grande verdade que tem ainda que iluminar a Terra com sua glória, e concentrar a atenção sobre os temas do fim do grande conflito (Evangelismo, págs. 222 e 223). A identidade de nossa Igreja Adventista depende do fundamento dessa verdade do santuário. Entretanto, é bem conhecido o seu virtual desaparecimento das pregações em nossos dias. E nossos irmãos evangélicos não ensinam nada que se pareça com esse ministério do Dia da Expiação.

(3) A mensagem de 1888 une a justificação pela fé com essa obra especial da expiação final. É por isso que E. White viu nela de forma singular e única "a mensagem do terceiro anjo, em verdade". Alegrou-se em reconhecer a tão longamente esperada conexão entre ambos.

Nos primeiros meses de 1890, escreveu uma série de artigos na Review and Herald, que demonstraram de que forma esta mensagem é a essência da verdade da purificação do santuário (de 21 de janeiro até 3 de junho).

(4) A mensagem não consiste em uma ordem severa de "preparai-vos, do contrário…", mas de gloriosas boas novas de como preparar-se. Transforma os imperativos adventistas em habilitações evangélicas. Revela o Salvador como o divino Médico da alma, que está "próximo, à mão", Aquele que cura toda ferida causada pelo pecado na mente do homem. É o grande Originador de todo bálsamo que cura, o elaborador do único programa eficaz para confrontar a desesperada necessidade dos viciados em qualquer coisa, do alcoólico, até o comprador compulsivo. É também a única esperança para o vício dos santos da Laodicéia de mornidão e mundanismo.

Era a intenção do céu que os viciados da classe que fosse, achassem salvação "entre os sobreviventes" - ou "remanescentes" (Joel 2:32), mais do que nos programas do mundo. Nós, adventistas do sétimo dia, fomos chamados para sermos os "primeiros" a exaltar o autêntico Salvador que foi tentado em todas as coisas, como é tentado todo viciado sobre a Terra, mas sem pecado. É assim que pode salvar até o pior dos que por Ele se chegam a Deus.

(5) A segurança da salvação é algo que deriva da verdade da justificação pela fé apresentada em 1888. O calvinismo afirma que Cristo morreu somente pelos eleitos. O arminianismo protesta, e assinala que morreu por "todos os homens", mas por sua vez especifica que fez somente algo "provisional", e assim, é possível que "todos os homens" sejam justificados se tomarem a iniciativa de fazerem alguma coisa correta. Se o pecador não aproveitar a oferta, então a morte de Cristo não significou nem significará nenhum bem para ele. Tal é a idéia geral que o nosso povo vêm sustentando.

Os mensageiros de 1888 viram que a cruz significou muito mais que uma mera provisão, na espera da iniciativa do pecador. Cristo fez algo por cada ser humano! "Todos os homens" devem sua vida atual ao sacrifício de Cristo. A salvação do homem depende da iniciativa de Deus, e a condenação depende da iniciativa do homem. Quando o pecador ouve as boas novas e as crê, responde à iniciativa de Deus, e experimenta assim a justificação pela fé.

Aqui é onde o conceito de 1888 da justificação pela fé põe em evidência um tipo sutil de legalismo não reconhecido anteriormente. Na pura justificação pela fé que o Novo Testamento apresenta, "a jactância… é excluída" (Rom. 3:27), mas segundo o ponto de vista popular, o fator chave é a iniciativa do pecador. Pode dizer: [eu] aproveitei a oferta, [eu] aceitei a provisão, [eu] fiz a decisão que me levará a céu. O sacrifício de Cristo não me fez nenhum bem, até que [eu] tomei alguma determinação a respeito. Assim, subjaz um pensamento egocêntrico, e um resíduo de legalismo subliminar.

Essa idéia suporta uma trágica carência. Cristo sofreu realmente da segunda morte "por todos", e fez propiciação pelos pecados "de todo o mundo" (Heb. 2:9; I João 2:2). Os pecados de "todos os homens" Lhe foram legalmente imputados em Sua morte, de forma que ninguém até agora teve que suportar a plena carga de sua culpabilidade (Rom. 5:16-18; II Cor. 5:19).

O resultado é que "todos os homens" vivem porque Ele morreu por eles, creia nisto ou não (II Cor. 5:14,15). A cruz do Calvário acha-se "estampada" em cada pão. Isso significa que tanto santos quanto pecadores comem seu alimento diário sendo nutridos pelo sacrifício de Cristo (O Desejado, p. 660). Ele "trouxe à luz a vida e a incorrupção pelo evangelho" (II Tim. 1:10). A vida a "todos os homens". A imortalidade, além disso, aos que crêem.

Sendo que todos os homens vivem devido a que suas transgressões foram imputadas Àquele que morreu em seu lugar, é correto dizer que teve lugar uma justificação de tipo legal, em favor de todos os homens (alguns preferem chamar de "justificação corporativa", ou "justificação temporária universal"; são términos que se referem à mesma verdade). Sendo que "todos os homens" estão sob "condenação" legal "em Adão", por nascimento, Cristo deve ser feito o "último Adão", em quem toda a raça humana é legalmente absolvida (I Cor. 15:22; Rom. 5:16-18).  Tal é o conceito neotestamentário que encerra a repetida expressão "em Cristo".

Isso não significa que todos os homens serão salvos contra a sua vontade. É possível desprezar e rejeitar o dom que Cristo deu a "todos os homens". Ele não vai forçar a ninguém. Mas os mensageiros de 1888 explicaram que quando o pecador ouve e crê nessas boas novas, sua experiência da justificação pela fé lhe faz então "obediente a todos os mandamentos de Deus", incluindo o sábado do quarto mandamento. Tal é o único resultado possível, quando um pecador se aferra na justiça de Cristo mediante uma fé inteligente, esclarecida. Não é maravilha que E. White se alegrasse tanto ao ouvir a mensagem pela primeira vez.

Assim, a mensagem de 1888 reconhece a parcela da verdade que há no calvinismo e no arminianismo, mas vai mais além de qualquer um deles. Como bem discerne o calvinismo, a salvação do pecador se deve inteiramente à iniciativa de Deus. De acordo com o arminianismo, todos os homens têm igual possibilidade de salvação. Mas o que nenhum dos dois discerne é que Cristo levou os pecados de "todos os homens", e morreu a segunda morte por "todos os homens". Tomou a iniciativa de salvar a todos os homens. A única razão pela qual um pecador pode se perder é porque toma a iniciativa de desprezar e rejeitar a justificação que já lhe foi dada, e que se tem posto em suas mãos (ver João 3:16-19; 12:48).

Assim, a mensagem de 1888 vê o pecado em uma luz muito mais séria do que é comum entre muitos adventistas. Não é um passivo "não fazer nada". O pecado é tão terrível que significa a resistência e rejeição contínua da graça salvífica de Deus. [Nota: "Deus fará a cada um a pergunta: O que tens feito com Meu Filho Unigênito?… Serão obrigados a dizer: Aborrecemos a Jesus e O lançamos fora. Clamamos: Crucifica-O! Crucifica-O! Em Seu lugar, escolhemos a Barrabás" (E. G. W. Comentário Bíblico Adventista, vol. V, P. 1081,1082)] O pecador não se dá conta do que está fazendo, e necessita que lhe façam tomar consciência disso. É nessa luz que pode apreciar o arrependimento em suas verdadeiras dimensões.

(6) O Espírito Santo é muito mais poderoso do que havíamos imaginado. Quando uma pessoa compreende e crê quão boas são as boas novas, se dá conta de que é fácil ser salvo, e difícil se perder.

A salvação não depende de que procuremos e encontremos a Deus (que é o elemento comum a toda religião pagã no mundo), mas sim de que creiamos que Ele está nos procurando e nos encontrou. O Espírito Santo é mais forte que a carne (Gál. 5:16,17), e a graça superabundou muito mais do que possa abundar o pecado (Rom. 5:20).

(7) Em outras palavras, a mensagem de 1888 eleva o amor de Deus como Salvador, muito acima da categoria de algo meramente provisional. Não o apresenta perante o pecador como uma oferta casual de "é pegar ou largar", "se não aproveitas a oportunidade, pior para ti". Não. Cristo Se apresenta como o Bom Pastor que está procurando ativamente a cada ovelha perdida "até que venha a achá-la" (Luc. 15:4). É preciso fazer o pecador ouvir boas novas tão boas como essas.

O amor de Deus fica imensamente clarificado nos conceitos bíblicos da mensagem de 1888. O único resultado possível é a substituição das obras mortas por um fervoroso serviço de fé, uma devoção que não conhece limites. A mornidão se torna impossível para aquele que compreende e crê no evangelho em sua pureza.

(8) A verdade sobre os dois concertos, com seu poder para mudar os corações. Esse conceito singular de 1888 não é bem compreendido hoje na igreja, nem entre os cristãos evangélicos. Foi mostrado a E. White que o Senhor tinha dado aos mensageiros de 1888 a correta compreensão sobre os dois concertos. [Nota: "Desde que fiz a declaração, no sábado passado, de que a posição sobre os concertos, tal como foi apresentada pelo irmão Waggoner, era verdadeira, parece que muitas mentes têm se sentido aliviadas… Levei tempo tomar esta posição, e estou alegre porque o Senhor me persuadiu a dar o testemunho que dei" (Carta 30, 1890; The EGW 1888 Materiais, pág. 623). "A noite retrasada me foi mostrado que a evidência em relação aos concertos era clara e convincente. Tumesmo [Uriah Smith], o irmão Dan Jones, o irmão Porter e outros estão desperdiçando seus poderes investigadores em vão, procurando defender uma posição sobre os concertos que é diferente da que o irmão Waggoner apresentou " (Carta S59, 1890; Idem, pág. 604, também pág. 596,597).]

Novamente, não se trata de um quebra-cabeças teológico, mas sim de piedade prática. Paulo diz que uma incorreta compreensão dos pactos, engendra "servidão" (Gál. 4:24). Sem saber o que estávamos fazendo, instruímos no antigo concerto a nossos jovens e meninos durante décadas. O resultado foi a perda espiritual de muitos deles. Ao comparar a posição da mensagem de 1888 sobre os dois concertos, com a posição geralmente sustentada entre nós, não deveria nos surpreender que 70% de nossos jovens tenha uma compreensão deficiente do evangelho (conforme a pesquisa Valuegenesis), e que percamos tantos deles.

Da mesma forma que acontece com uma compreensão errônea da justificação, a posição sobre os dois concertos que se opõe à apresentada em 1888, abre a porta a um tipo de motivação egocêntrica, que é a essência do legalismo. Não somos salvos fazendo promessas a Deus, mas crendo nas promessas que Ele nos faz . (A redescoberta da idéia de 1888 sobre os dois concertos foi a faísca que acendeu o reavivamento atual do interesse por esta mensagem). [Nota: Para uma exposição dos dois pactos, ver As Boas Novas, Estudos em Gálatas (Waggoner), cap. 3 e 4.]

(9) A motivação correta para servir a Cristo constitui a dinâmica da autêntica justificação pela fé. A justificação legal foi efetuada na cruz por "todos os homens"; é algo objetivo.  Motiva o crente a uma completa devoção a Cristo, experimentando assim a justificação pela fé, que é algo subjetivo. [Nota: Por contraposição a subjetivo. Objetivo significa que tem existência por si mesmo, à margem do pecador. É independente dele, está afastado dele no tempo e o espaço. É incondicional e anterior à fé, ao conhecimento, ou qualquer outra resposta do homem.] A motivação centrada no eu implica o legalismo. Estar "debaixo da graça" é reconhecer a motivação superior imposta por uma apreciação sincera e fervorosa da graça de Cristo. Isso livra da motivação inferior que consiste no temor do castigo ou no desejo de recompensa (Rom. 6:14,15; Heb. 2:15; O Desejado, p. 480).

Embora seja certo que a mensagem de 1888 constitui gloriosas boas novas para os que apreciam a cruz de Cristo, abre a possibilidade de muito más novas para aqueles que preferem seguir inconscientes de sua verdadeira condição espiritual. Estar "debaixo da lei" é o oposto de estar "debaixo da graça". É por isso que o legalismo é a verdadeira essência de toda motivação imposta pelo medo de perder-se ou pelo desejo de recompensa. Mas há um remédio: "No amor [ágape] não há temor" (I João 4:18).

Por contraste, a preocupação superficial por nossa segurança de salvação, fica em evidência como algo pueril. O conceito da graça de 1888 torna possível a libertação dessa profunda raiz de egoísmo. Capacita o crente para que compartilhe uma estreita proximidade com Cristo, para que deixe ser incorporado nele, estando seu ego "com Cristo… crucificado". Paulo se refere freqüentemente aos crentes como estando em Cristo. "Fomos plantados juntamente com Ele na semelhança da Sua morte" (Rom. 6:5). [Nota: Ver II Cor. 5:17. Também João 15:4; I João 2:6, etc. Outras versões da Bíblia, em lugar de "plantados", traduzem "enxertados", "unidos", "incorporados", etc.]

Tudo que deixe de alcançar esse ideal, constitui um tipo imaturo de justificação pela fé, apropriado somente para essa menina que no casamento se encarrega de levar o buquê de flores da noiva (enquanto pensa no bolo da festa). A verdadeira noiva tem uma motivação superior: a honra e a vindicação de seu Marido, já que finalmente está se "unido", ou incorporando a Ele.

(10) Portanto, a noção de 1888 da "perfeição", não consiste em um desejo de segurança motivado pelo temor, mas em uma preocupação centralizada em Cristo, no sentido de cooperar em que Ele receba Sua recompensa. A vitória [sobre o pecado] deixa então de estar degradada ao nível da elucubração teológica, um campo suscetível para forçar as palavras de E. White, até terminar na contradição.

A verdadeira motivação que deriva de estar "debaixo da graça", seria impossível para o ser humano pecaminoso, a não ser pela revelação do sacrifício de Cristo. Mas o "glorificar-se na cruz" é uma experiência ao alcance de todo pecador que a contemple e aceite. Haverá um povo preparado para a vinda de Cristo!

 

Podemos reclamar para Jones e Waggoner a "inspiração verbal", ou pretender a perfeita exatidão de cada uma de suas palavras?

Não, nem tampouco o podemos fazer com as palavras da Bíblia, ou dos escritos do Espírito de Profecia.  O valor de uma mensagem se encontra na luz que contém, nos conceitos que iluminam as verdades do evangelho eterno, que tanto se perdeu de vista. Ninguém pretende reclamar para Jones ou Waggoner o que o mesmo E. White jamais reclamou para si. Ela afirmou que eram "mensageiros delegados do Senhor", e que tinham "credenciais do céu" (Ver Apêndice).

A mensagem dada por Jones e Waggoner, tal como encontramos em seus livros e artigos, contém suas próprias credenciais. Comove hoje às almas, porque seus conceitos básicos são tão diferentes e refrescantes, que continuam sendo "nova luz". E isso que foram somente "o começo" do "alto clamor" que tem que estender-se finalmente a todos os lugares.

Hoje necessitamos provisão fresca do "pão da vida". Precisamos recordar que quando Jesus alimentou aos cinco mil, disse a Seus discípulos, "Recolhei os pedaços que sobejaram, para que nada se perca" (João 6:12). Se o Senhor "enviou" a mensagem de 1888, devemos recolher cada "pedaço" que sua providência nos concedeu, "para que nada se perca". Com certeza, já é tempo de que o povo de Deus em todo o mundo reflita seriamente. Não constitui uma irreverência que peçamos ao Senhor nova luz, enquanto que criticamos e rejeitemos a que Ele já nos enviou?

 

A mensagem de 1888 foi dirigida a uma cultura diferente da nossa hoje. Como pode essa mensagem de um século atrás satisfazer as necessidades de um mundo secularizado que deixou de acreditar em Deus e na Bíblia?

O homem moderno se confinou em um refúgio subterrâneo com muros seculares de dois metros de espessura. Mas o Espírito Santo tem um míssil capaz de penetrar essas paredes: a mensagem de amor ágape que emana da cruz de Cristo.

Isso não significa que outros aspectos da mensagem adventista tenham perdido a sua validez. Continua certo que a reforma de saúde é "o braço direito da mensagem", e que contribui para vencer os prejuízos. O calor da irmandade da igreja é necessário para aliviar as necessidades sociais das pessoas. A educação que a igreja sustenta, provê (ao menos em considerável medida) um refúgio para os meninos e adolescentes. Nossas 27 crenças fundamentais procuram coesão à nossa filosofia religiosa. Mas persuadir o homem moderno secularizado a aderir ao nosso clube não é o mesmo que iluminar a Terra com a glória do evangelho. É possível que em nosso "clube" prevaleça ainda a mesma orientação para o ego, que fora dele.

O que faz falta são boas novas que iluminem um mundo entrevado por uma compreensão equivocada de Deus, e reconciliar com Ele os corações inimizados e secularizados.

Trata-se de uma compreensão do amor de Deus que transcende os conceitos da moderna Babilônia. "A mensagem do terceiro anjo, em verdade" que nos deu em 1888 é o "começo" dessa mensagem. Em essência, é a revelação de um amor que vai além da compreensão habitual. Nada que seja menor que a revelação da plena "largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade" desse amor, pode bastar. O "alto clamor" não vai ser uma aterradora chamada que induza ao medo, mas "uma revelação de Seu caráter de amor" (Parábolas de Jesus, p. 415).

Se esclarecermos a noção do ágape a um ateu evolucionista, por exemplo, e lhe perguntamos de onde pôde surgir uma idéia tão radical, terá que reconhecer que somente pode proceder de certa cruz em uma colina solitária conhecida como o Calvário.

"O incomparável amor de Cristo, mediante a agência do Espírito Santo, trará convicção e conversão ao coração endurecido" (Cristo Our Righteousness, p. 61). Afirma E. White, em uma declaração desconhecida até poucos anos: "Durante anos vi que há um elo quebrado que nos impediu de ganhar os corações, esse elo se restaura ao apresentar o amor e a graça de Deus" (Remarks to Presidents, 3 março 1891; Arquivos da Associação Geral).

Ninguém pode exaltar a cruz como nós, os adventistas, se humilharmos nossos corações para receber a luz que o Senhor nos enviou. Isso é assim porque nenhum outro povo pode compreender, tanto a natureza do homem como a de Cristo, segundo a compreensão que o Senhor quis nos outorgar.

O homem secularizado que vive neste último período da era cristã, necessita da mesma mensagem que o Senhor enviou aos pagãos no primeiro século: Cristo e Este crucificado. Os apóstolos falavam a linguagem de seus dias, nós falaremos a dos nossos. Mas a proclamação dessa mesma Cruz continua desafiando o pensamento do homem moderno, e penetra as defesas nas quais blindou seu coração mundano.

 

O "adventismo histórico" gera temor quanto ao juízo investigativo. Provê a mensagem de 1888 uma solução para esse problema?

É certo que um temor assim escureceu a igreja por décadas. Roger L. Dudley recolhe essa idéia corrente entre jovens estudantes (Why Teenagers Reject Religion, Review and Herald 1978, págs. 9-21). Marvin Mooore, em The Refiner’s Fire (Pacific Press, 1990) reconhece o generalizado problema, e busca sinceramente uma solução.

O apóstolo João afirma que ali onde há temor, há uma ausência de ágape, já que "o perfeito amor lança fora o temor" (I João 4:18). Teria sido impossível que esse temor sobressaltasse a nossos jovens na década de noventa, se tivéssemos aceito o "preciosa mensagem" na era de 1888, e a partir de então. Esse tipo especial de amor, o ágape, é a idéia básica da mensagem.

A solução do problema do temor é revelar o verdadeiro Cristo que veio "em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne". A verdade libertadora é apresentada nestes termos: "Visto como os filhos participam da carne e do sangue, também Ele participou das mesmas coisas, para que pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo; e livrasse todos os que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à servidão" (Heb. 2:14,15).

 

Como a mensagem faz para libertar desse temor?

Em todas suas facetas, está enfocado à realidade do que aconteceu na cruz. Essa "revelação" foi algo como os raios do sol através de uma lupa: o início de uma combustão que teria que varrer dos corações humanos o temor.

Uma contribuição singular do adventismo à mensagem da cruz é que Cristo morreu o equivalente à segunda morte, morte em que renunciou a toda esperança de ressurreição (O Desejado, pág. 753). Quando os corações humanos envolvidos no temor vêem o verdadeiro Cristo nessa "revelação" do ágape, identificam-se com Ele de tal maneira que o eu fica "com Cristo… junto crucificado", e o crente é enxertado nele, como diz Paulo. A união é tão estreita como a de um marido com sua esposa. "De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus" (Fil. 2:5). O crente se faz um com o Senhor crucificado.

Ao compreender a realidade de Sua descida até as profundidades do inferno a fim de salvar nossas almas, ao ver como Se debateu com essa completa aniquilação de toda esperança, como escolheu cair nas trevas eternas, em separação perpétua do rosto de Seu Pai, a fim de nos redimir, essa união com Ele começa a expandir nosso coração encolhido, de forma que podemos começar a compreender o preço que Lhe custou nos salvar. Nunca poderemos copiar o Seu sacrifício, mas podemos apreciá-lo. Contemplamos a grandiosa cruz, onde morreu o Príncipe da glória, e isso afasta o temor do nosso coração.

A razão é simples: Ficando claro que nenhum temor pode superar o temor do inferno (perdição, destruição), se esse temor é vencido ao apreciar o Seu sacrifício, mediante a identificação com Ele em Sua cruz, então, todo temor de ordem inferior tem que ser afastado.

Por exemplo, como poderia o ladrão arrependido sobre a cruz ser atormentado novamente pelo temor? Para qualquer outra pessoa que tenha sido crucificada com Cristo se dará uma libertação similar. Não existe em todo o universo um temor que possa sobreviver à união sincera com Cristo nessa hora de Sua cruz. Entretanto, precisamos repetir uma vez mais que somente à luz do "mensagem do terceiro anjo, em verdade" é possível compreender as plenas dimensões desse sacrifício.

Tal foi o impacto da mensagem de 1888. Recuperou a grande preocupação de Paulo: "O amor [ágape] de Cristo nos constrange, julgando nós assim: que, se um morreu por todos, logo todos morreram" (II Cor. 5:14). Como poderia alguém que sabe estar "morto" voltar a ter medo de alguma coisa? Como poderia alguém que já pisou no inferno (ao estar crucificado com Cristo) estar atemorizado com alguma outra coisa menor que o inferno?

 

Mas não é acaso o medo adventista do juízo investigador precisamente isso, o medo ao inferno?

Sim, desprovido da idéia de 1888, está dominado por esse temor. Mas o "eu" crucificado com Cristo não significa o esforço humano por nos torturarmos a nós mesmos em uma agonizante crucificação auto-infligida. Sempre é "com Cristo". A mensagem da cruz constrange a uma vida de serviço livre de temor, "…para que os que vivem não vivam mais para si, mas para Aquele que por eles morreu e ressuscitou" (v. 15).

Quando Paulo diz "com Cristo estou junto crucificado", não se está gabando do bom cristão que é, como se ele mesmo cravado na cruz, crucificando a si mesmo. O que está dizendo em realidade é:

 

Ao contemplar a excelsa cruz

Onde o Rei da glória sucumbiu,

Tesouros mil que vêem à luz,

Com grande desdém contemplo eu (Isaac Watts, hino nº 91)

 

Diz virtualmente: "Meu 'eu' orgulhoso está crucificado com Cristo". O eu não pode viver e reinar mais: Seu ágape aniquilou o amor ao eu. E sendo que o eu agora está crucificado com Ele, o temor desapareceu, visto que todo temor tem sua origem no amor ao eu.

A mensagem de 1888 colocou a doutrina do juízo investigativo em sua perspectiva correta, introduzindo uma motivação cristocêntrica, em lugar da preocupação por nossa própria salvação pessoal. É por isso que E. White uniu a mensagem da justificação pela fé de 1888 à verdade do juízo investigativo nessa série especial de artigos da Review and Herald, nos primeiros meses de 1890.

 

Mas há uma declaração de E. White que sempre me preocupou, em O Grande Conflito, págs. 477,478. Por que E. White escreveu algo tão terrível?

Possivelmente não tenhamos compreendido bem a citação. Diz assim:

Diz o profeta: "Quem suportará o dia da Sua vinda? E quem subsistirá quando Ele aparecer? Porque Ele será como o fogo dos ourives e como o sabão dos lavandeiros. E assentar-Se-á, afinando e purificando a prata; e purificará os filhos de Levi, e os afinará como ouro e como prata: então ao Senhor trarão ofertas em justiça." Mal. 3:2 e 3. Os que estiverem vivendo sobre a Terra quando a intercessão de Cristo cessar no santuário celestial, deverão, sem mediador, estar em pé na presença do Deus santo. Suas vestes devem estar imaculadas, o caráter liberto de pecado, pelo sangue da aspersão. Mediante a graça de Deus e seu próprio esforço diligente, devem eles ser vencedores na batalha contra o mal. Enquanto o juízo investigativo prosseguir no Céu, enquanto os pecados dos crentes arrependidos estão sendo removidos do santuário, deve haver uma obra especial de purificação, ou de afastamento de pecado, entre o povo de Deus na Terra. Esta obra é mais claramente apresentada nas mensagens do capítulo 14 de Apocalipse.

Este parágrafo possivelmente causou temor entre muitos adventistas, por não terem discernido as boas novas que contém. Em um esforço para combater esse medo, alguns instrutores e escritores tentaram evitar sua autêntica implicação, rebaixando a norma do que significa estar "sem mancha", ou "desencardidos". Contradizem a declaração, sugerindo que nosso caráter não tem motivo para alcançar essa norma. Segundo eles, tudo que se precisa é a imputação legal de uma justiça externa.

Procura-se fugir do problema afirmando que o Cristo impecável tem que continuar em Seu papel de substituição, nos cobrindo assim em nosso contínuo pecar. Segundo esta idéia, tal mediação deve continuar depois que "afastamento a intercessão de Cristo no santuário celestial". Mas isso não constitui certamente uma explicação válida do parágrafo, mas uma negação do mesmo, que diz exatamente o oposto.

A mensagem de 1888 foi "o começo" da resposta a esse problema:

(a) O sacrifício de Cristo na cruz assegurou a justificação legal para "todos os homens". É então que Se fez nosso substituto. Devido a que "o pecado de todos nós" foi imputado a Ele, a "todos os homens" foram legalmente imputadas as vestimentas imaculadas [o caráter sem mancha] de Cristo. Todos os homens receberam sua vida atual em virtude da morte de Cristo no lugar deles. Assim, todos os homens foram "escolhidos" para a salvação.

Todo medo de se perder é banido por uma apreciação profunda e sincera da obra de Cristo na cruz. Nas horas últimas da história desta Terra, um povo compreenderá por fim o que isso significa. Como Sumo Sacerdote, Cristo cumprirá tudo aquilo para o qual morreu, a fim de que seja algo real, não somente por nós, mas também em nós, se não o impedirmos.

(b) A declaração que consideramos especifica claramente que é Cristo quem "desencardirá aos filhos do Leví, e os afinará como o ouro e a prata". É "pelo sangue da aspersão" que serão purificados. A purificação do santuário não é a obra do homem, mas a obra do Sumo Sacerdote. Deve-se a Sua divina iniciativa. Seu povo tem certamente algo a fazer: cooperar com Ele, permitir que  Ele atue (Fil. 2:5; 3:15; Col. 3:15, etc).

(c) A purificação do santuário é a "expiação final", o fruto de tudo o que Cristo cumpriu em Sua cruz. Ele é o "Salvador do mundo" (João 4:42; I João 4:14). Não somos os salvadores de ninguém, muito menos de nós mesmos.

 

Mas essa declaração diz que é por "seus próprios e diligentes esforços" com que "deverão ser vencedores". Minha falta de "diligentes esforços" é o que me enche de temor.

A frase diz: "Pela graça de Deus e seus próprios e diligentes esforços…" O que aparece em primeiro lugar?

Está clara a idéia de que o Sumo Sacerdote fará essa obra, se não O impedimos. Nossos "próprios e diligentes esforços" são o mesmo que "o amor [ágape] de Cristo nos constrange" que motivava Paulo a viver para Cristo e não para si. "O amor de Cristo" desperta uma nova motivação "debaixo da graça" que substitui à motivação "debaixo da lei" imposta pelo temor. Nossos próprios e diligentes esforços não são nunca a obra de nossa própria iniciativa, mas sempre uma resposta à iniciativa do Espírito Santo, o Consolador que foi enviado para que estivesse conosco sempre.

O pensamento de nossas vestimentas "sem mancha" não deveria nos atemorizar mais do que atemoriza a uma noiva o seu imaculado vestido de casamento, perante o olhar do marido. O que a motiva é somente seu amor, avaliação e respeito a ele, não seu temor de que a rejeite. A razão pela qual Cristo enviou a mensagem de 1888 foi despertar em Seu povo uma preocupação por Cristo como a que caracteriza a uma noiva por seu futuro cônjuge. É uma noção totalmente diferente da habitual preocupação pueril por nossa própria segurança. Em uma união tal "com Cristo", o ego cai na insignificância que em toda justiça lhe pertence.

 

Como é que uma "união" assim nos purifica do pecado?

A libertação da preocupação egocêntrica, mediante a união com Cristo, sempre purifica do pecado. O fruto que a mensagem de 1888 teria produzido, no caso de que não tivesse sido resistida, teria sido o que expõe Apocalipse 19:7,8:

Regozigemo-nos, e alegremo-nos, e demos-Lhe glória; porque vindas são as bodas do Cordeiro, e já a Sua esposa se aprontou. E foi-lhe dado que se vestisse de linho fino, puro e resplandecente; porque o linho fino são as justiças dos santos.

Aí encontramos os vestidos "sem mancha". É o "sangue" que realizou a purificação, já que o Marido é o Cordeiro que foi imolado.

 

Nenhum dos redimidos jamais soube

Quão insondáveis foram as águas que atravessou

Nem quão tenebrosa foi a noite pela qual o Senhor passou

Até encontrar a Sua ovelha perdida

 

Mas finalmente há um povo que aprendeu a apreciar quão profundas foram essas águas que Ele atravessou, e quão densas as trevas desse vale da sombra morte que o Cordeiro conheceu. "O sangue da aspersão" é o elemento chave no –freqüentemente– temido juízo investigativo. Quão trágico é que sua futura algema se esteve resistindo durante mais de um século, opondo-se ao Senhor nessa "obra" descrita pelo E. White em seu artigo de 21 de junho de 1892 (Review and Herald). [Nota: "Estamos no dia da expiação, e devemos obrar em harmonia com a obra de Cristo de purificar o santuário dos pecados do povo. Que ninguém que queira ser achado com as vestimentas de bodas resista a nosso Senhor em Sua obra…"] E quão duplamente trágico que tenhamos estado atemorizados perante o mais bendito ministério que já ocorreu em nosso favor!

Imaginemos um amante verdadeiro, em procura de ganhar o coração de sua ansiada esposa. Mas esta, preocupada continuamente pelas manchas de seu vestido nupcial, resiste e atrasa a cerimônia devido a sua incapacidade de compreender ou apreciar quanto o seu futuro cônjuge a ama.

 

Isso significa que o pecado não tem importância? Quer dizer que não temos uma grande obra a fazer a fim de vencer?

O pecado importa, e muito; e temos uma grande obra a fazer. A mensagem de 1888 diz simplesmente que a verdadeira glória de Deus se revela na excelsa luz da Cruz. O pecado não pode existir nessa luz. "A fé opera pelo amor e purifica a alma".

Não somos nós quem purificamos a alma; é a fé a que realiza esta obra. Uma vez após a outra o Senhor tentou fazer o Seu povo compreender a verdade de que a justiça vem pela fé, não pelas obras. Não é fazendo algo que lavamos nossas vestimentas, mas crendo nesse sangue do Cordeiro.

E isso não é graça barata. É graça terrivelmente cara. Só no fim dos tempos o povo de Deus de uma vez por todas aprenderá  a sentir quanto isto custou realmente. O pecado será então vencido para sempre, porque o amor ao eu se já foi vencido, e o conflito dos séculos finalmente.

Sim, temos uma grande obra a fazer: "A obra de Deus é esta: Que creiais nAquele que Ele enviou" (João 6:29). Nossa "obra" suprema consiste em aprender a crer!

É impossível para a alma que crê, continuar na transgressão da lei de Deus, se tiver um coração que, por mais endurecido e frio que tivesse estado anteriormente, foi enternecido perante a visão deste "sangue" do Cordeiro.

 

Mas como pode alguém aprender a "deleitar-se" na lei de Deus, nos dez mandamentos?

O que nos ensina a dizer "não!" aos desejos da carne, e a todos os vícios compulsivos e perversões às quais o diabo tenta nos levar, não é o temor ao castigo nem a expectativa de recompensa, mas o contemplar esta excelsa Cruz. A graça de Deus já trouxe salvação a todos os homens, e nos ensina a pronunciar essa palavra: "Não" (ver Tito 2:11,12).

Como a feia larva que se transforma em uma bela mariposa, os dez mandamentos deixam de ser dez proibições para converter-se em dez gloriosas promessas. De fato, o Senhor nos diz que se apreciarmos o que Lhe custou realmente nos redimir, como nos tirou da terra do Egito, da casa da escravidão, então nos promete que nunca furtaremos, mentiremos, cometeremos adultério, etc.

 

Ah, Israel, se Me ouvires!

Não haverá entre ti deus alheio,

Nem te prostrarás ante um deus estranho.

Eu sou o Senhor teu Deus,

Que te tirei da terra do Egito

(Sal. 81:8-10)

 

(Ver E.G.W. Comentário Bíblico Adventista, vol. 1, pág. 1119).

Isso é assim porque o Espírito Santo Se torna ser uma motivação para crente, mais forte que os impulsos de sua natureza pecaminosa (ver Gál. 5:16-18; Rom. 8:2).

Necessitamos, como igreja, das bênções da mensagem de 1888? "Em sua grande misericórdia o Senhor [nos] enviou" essa mensagem. Não seria uma incrível arrogância pretender que não necessitamos do que o Senhor nos envia? Como pode o céu avaliar nossa negligência a respeito?

 

Como pode o conceito de 1888 da justificação pela fé resolver o problema de tantos adventistas que carecem de "certeza da salvação"?

A verdade da justificação pela fé, segundo a mensagem de 1888, é o ingrediente perdido, tanto no "adventismo histórico" como na "nova teologia". [Nota: "Adventismo histórico" refere-se principalmente aos que se aferram aos valores tradicionais adventistas históricos, caracterizando-se por defender as boas e antigas doutrinas, segundo uma compreensão, em muitos aspectos, anterior à luz de 1888. "Nova teologia" refere-se às correntes favoráveis à introdução de conceitos "importados" das igrejas populares atuais, em oposição às verdades singularmente adventistas.] Ambos seguem em geral conceitos arminianos, que fazem depender a salvação do pecador da sua própria iniciativa.

Isto suscita a dúvida de que se o crente pode realmente ter alguma vez verdadeira certeza da salvação. Pode chegar a estar totalmente seguro de que sua cooperação ou resposta foi suficientemente completa?

Por contraste, tal segurança está implícita na mensagem de 1888. Nela se reconhece que o sacrifício de Cristo comprou realmente a justificação por "todos os homens". O que a raça humana perdeu "em Adão", ficou recuperado no dom à raça humana "em Cristo". "Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o Seu Filho Unigênito" (João 3:16). Ele sofreu a morte por todos os homens (Heb. 2:9). Ele é a propiciação pelos pecados dos que crêem, mas "não somente pelos nossos, mas sim pelos de todo o mundo" (I João 2:2). Ninguém está excluído!

Ele é "o Salvador de todos os homens, principalmente dos fiéis" (I Tim. 4:10). Carregou, e carrega ainda a verdadeira culpa de todos os homens, já que Cristo "morreu por todos" (II Cor. 5:14,15). Se não tivesse sido assim, todos teriam morrido. Trata-se de uma justificação legal ou judicial, efetuada –não meramente oferecida como algo provisório– em favor de "todos os homens".

Assim, é um dom porque se dá "gratuitamente pela Sua graça" (Rom. 3:23,24). Só cabe chamar dom a aquilo que foi efetivamente dado. A vida física de "todos os homens", sua própria respiração, tudo o que têm, desfrutam somente em virtude da graça de Cristo. E isso apesar de que possivelmente não tenham nunca reconheceram a Origem da "graça da vida" que foi dada (I Ped. 3:7). Cristo é tão generoso e magnânimo que faz com que o sol brilhe sobre bons e maus, e envia a chuva a justos e injustos. Da mesma maneira, no incomparável dom de Seu Filho, Deus rodeou o mundo inteiro com uma atmosfera de graça tão real como o ar que respiramos (Caminho a Cristo, p. 68).

Creia nessas boas novas, e sua inimizade com Deus será solucionada. Paulo esclarece que não podemos estar preocupados com a segurança de nossa própria salvação ao olharmos para a cruz: "Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós, como nos não dará também com ele todas as coisas?" (Rom. 8:32).

 

Têm-me dito que desconfie destas boas novas, por que nelas existe o perigo do universalismo.

Longe disso. Os perdidos o serão, não porque Deus os tenha destinado a se perder, mas sim porque escolheram resistir, rejeitar e desprezar a Sua graça; negaram-se a respirá-la. O conceito calvinista da "graça irresistível" não é bíblico. "O pecador pode resistir a este amor, pode recusar ser atraído a Cristo; mas se não resiste, será atraído ao Jesus" (O Caminho a Cristo, p. 27). Agora bem, se resistir, toma finalmente sobre si mesmo a plena condenação da qual Cristo já lhe havia farelo de cereais (João 3:16-18). Portanto, definitivamente a sua condenação se deve somente a sua própria iniciativa (O Conflito, p. 597,598?).

 

O que responder aos que objetam que essa mensagem debilita a obediência e a adesão a uma norma elevada?

Essa é precisamente a objeção mediante a qual muitos de nossos irmãos se opuseram em 1888. Rejeitaram inicialmente este "preciosa mensagem" devido a seu temor de que se o nosso povo apreciasse plenamente a forma em que "superabundou a graça", se menosprezasse a observância da lei.

Mas Paulo poderia ter dissipado os seus temores: "Anulamos, pois, a lei pela fé? De maneira nenhuma, antes estabelecemos a lei" (Rom. 3:31). De fato, não há outra forma de obedecer verdadeiramente, a não ser mediante essa fé genuína. O superficial "crê somente", ou "graça de saldo" do cristianismo popular, não é a fé genuína. Carece absolutamente da poderosa dinamite espiritual contida na verdadeira justificação pela fé.

A razão é que o cristianismo popular crê, em geral, na imortalidade natural da alma. Se tal doutrina for verdadeira, Cristo não pôde ter morrido realmente na cruz do Calvário. Assim, muitos são incapazes de apreciar as magnas dimensões do ágape revelado ali. Como uma fileira de peças de dominó em que cai uma peça e desencadeia a queda sucessiva de todas as demais, há certos resultados que se tornam inevitáveis. Em conseqüência, o seu conceito sobre a fé fica "coxo"; e por sua vez, sua fé desvitalizada resulta ser incapaz de "operar" produzindo plena obediência a todos os mandamentos de Deus. O resultado é mundanismo, orgulho, auto-suficiência, e contínuo desprezo da lei de Deus.

Tal é a razão pela qual muitos declinaram à obediência do quarto mandamento. Isto implica em levar uma cruz, e eles não sabem como aceitar sua própria cruz, visto que não entendem ou apreciam verdadeiramente a Cruz de Cristo.

Na prova final da "marca da besta", toda obediência que for motivada pelo temor de se perder, ou pela expectativa de recompensa pessoal, demonstrará estar centralizada no eu, carecendo de Cristo. "Pelo fogo será descoberta" como "madeira, feno, palha…" (I Cor. 3:12,13). Mudando a metáfora, será como a palha levada pelo vento tempestuoso dos últimos dias. A autêntica "mensagem do terceiro anjo, em verdade" prepara um povo para essa prova de fogo e para essa tormenta.

Mas há muitas pessoas sinceras e honestas em todas as religiões, esperando somente para ouvir a mensagem do terceiro anjo. Quando ouvirem essa mensagem "em verdade", responderão contentes.

 

Alguns me disseram que a mensagem de 1888 ensina que a raça humana pecador foi feita justa sem participação de sua vontade, que até os pagãos e adoradores de Satanás, assassinos e ladrões, todos foram feitos justos. Isto é verdade?

Naturalmente, é uma distorção da mensagem. Não existe algo assim, nem nada parecido. Paulo também teve que se enfrentar com aqueles que distorciam a sua mensagem. A exposição da mensagem feita pelos mensageiros de 1888, e que E. White apoiou, é a seguinte:

Assim como a condenação veio a todos os homens [Rom. 5:18], também a justificação. Cristo sofreu a morte por todos. Deu-Se a Si mesmo por todos, deu-Se a cada um. O dom gratuito veio sobre todos. O fato de que é um dom gratuito é evidência de que não há exceção alguma. Se tivesse vindo somente sobre aqueles que tivessem tido alguma qualificação especial, não teria sido um dom gratuito. Portanto, é um fato claramente estabelecido na Bíblia que o dom da justiça [justificação] e da vida em Cristo, veio sobre todo homem no mundo (E.J. Waggoner, Signs of the Times, 12 março 1896; Carta aos Romanos, p. 101 [56]).

Isso harmoniza com João 3:16,17; Rom. 3:23,24; 5:12-18; I Tim. 2:6; 4:10; II Tim. 1:10; Heb. 2:9; I João 2:2.

Não se trata ainda da justificação pela fé. É uma justificação puramente "legal", "temporária" ou "corporativa". Até que homem não crer e aceitá-la pela fé, não experimenta a justiça. Não torna ninguém em justo, antes de Ter acreditado nela. Esta é a base e o fundamento sobre o qual repousa a justificação pela fé. [Nota: No vocabulário teológico, a primeira é chamada justificação objetiva: O que Deus fez pelo homem. A segunda é a justificação subjetiva (pela fé): o resultado, ou efeito, no que crie, da justificação objetiva exercida já em seu favor.]

 

Está claro que a Bíblia ensina essa maravilhosa verdade, mas está E. White de acordo com ela?

Não podia ser de outra maneira, visto que E. White nunca discordou da Bíblia. Mas algumas vezes lemos seus escritos com um véu de incredulidade sobre nossos olhos, similar ao que levavam os judeus ao ler o Antigo Testamento, e que lhes impediu de discernir ali a justificação pela fé.

E. White reconheceu repetidamente esta verdade. Por exemplo, vejamos em Mensagens Seletas, vol. III, p. 194: "A obra mediadora de Cristo começou com o início da culpa, do sofrimento e da infelicidade humana, logo que o homem se tornou um transgressor". "O homem" significa aqui o mesmo que "todo homem", e a obra de Cristo em nosso favor "começou" antes de que nos arrependêssemos. Consideremos também O Desejado, p. 660:

"Mesmo esta vida terrestre devemos à morte de Cristo. O pão que comemos  [quem, senão "todos os homens"?], é o preço de Seu corpo quebrantado. A água que bebemos é comprada com Seu derramado sangue. Nunca alguém, seja santo ou pecador, toma seu alimento diário, que não seja nutrido pelo corpo e o sangue de Cristo. A cruz do Calvário acha-se estampada em cada pão. Reflete-se em toda fonte de água."

Pouco tempo depois de ter escrito estas célebres palavras, comentou de uma forma possivelmente ainda mais enérgica a realidade da justificação legal universal:

Toda bênção tem que vir através de um Mediador. Todo membro da família humana é colocado inteiramente nas mãos de Cristo, e tudo que possuímos –seja o dom do dinheiro, casas, terras, o poder da razão ou a fortaleza física, os talentos intelectuais– nesta vida e as bênções da vida futura, nos são dados como posse como tesouros de Deus para ser fielmente dedicados em benefício do homem. Todo dom está estampado com a cruz, e leva a imagem e a assinatura de Jesus Cristo. Todas as coisas vêm de Deus. Das mais insignificantes bênçãos até as maiores delas, fluem todas por um Canal: uma mediação sobre-humana aspergida pelo sangue de um valor que não pode ser medido, que foi a vida de Deus em Seu Filho (MS. 36, 1890; The Ellen G. White 1888 Materiais, p. 814).

Vejamos agora Mensagens Seletas, vol. I, p. 402: "Tomou em Sua mão o mundo sobre o qual Satanás pretendia presidir como seu legítimo território, e por Sua maravilhosa obra de dar a vida, restaurou toda a raça humana ao favor de Deus".

Há mais: "Jesus, o Redentor do mundo, interpõe-se entre Satanás e toda alma… Os pecados de cada um que tenha vivido sobre a terra foram postos sobre Cristo, atestando do fato de que ninguém tem por que ser vencido no conflito com Satanás" (Review and Herald, 23 maio 1899). "O sangue propiciatório de Cristo tem livrado o pecador de os receber na medida completa de sua culpa" (O Conflito, p. 629). E. White disse que os que vieram de Jerusalém para Antioquia para opor-se a Paulo, recusavam acreditar que Cristo morreu pelo "mundo inteiro", justificando assim legalmente a "todos os homens" (Sketches From the Life of Paul, p. 121).

"Todos os homens" morreriam em um instante se tivessem que levar a verdadeira culpa de seus pecados. Esta teria sido a sorte de Adão e Eva no jardim do Éden, se não existisse um "Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo" (Apoc. 13:8). Isso é o que Paulo quer dizer ao declarar que "veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida" (Rom. 5:18). E. White acreditava assim.

 

Pode ser alguém justificado sem obediência?

Nenhum pecador pode ser justificado pela fé sem arrependimento, e conseqüente obediência; nem pode tampouco reter a experiência da justificação pela fé sem a constante cooperação com o Espírito Santo, o que significa obediência.

Se o incrédulo escolhe rejeitar o que Cristo já fez por ele e O afasta de si, pede que a plena carga de culpa seja colocada novamente sobre ele; portanto tem que sofrer a segunda morte. Mas isto é totalmente desnecessário, exceto por sua obstinada incredulidade.

Essa é a idéia de 1888 da justificação pela fé. Exalta a lei de Deus como nenhuma outra coisa poderia fazer. Escrevendo sobre a bênção da mensagem de 1888, a serva do Senhor esclareceu o problema das "condições":

Se suscitará a pergunta: "Como acontece isso? É mediante condições que recebemos a salvação?" Jamais vamos a Cristo mediante condições. E se viermos a Cristo, então, qual é a condição? A condição é que mediante uma fé viva nos aferremos inteiramente nos méritos do sangue de um Salvador crucificado e ressuscitado. Quando fazemos isto, realizamos as obras de justiça. Mas quando Deus chama e convida o pecador em nosso mundo, aí não há condição alguma. É atraído pelo convite de Cristo e não consiste em "responder a fim de vir a Deus". O pecador vem, e ao vir e ver Cristo levantado sobre a cruz do Calvário, que Deus impressiona em sua mente, há um amor que vai além de tudo o que já imaginou. E então, o que acontece? Ao contemplar esse amor, Deus lhe diz que o homem é um pecador. Mas então, o que é o pecado? A pessoa tem que chegar finalmente a este ponto, para compreendê-lo. Não há outra definição dada em nosso mundo, exceto que pecado é a transgressão da lei; portanto, o homem descobre o que é o pecado. E há arrependimento para Deus. E o que sucede então? Fé em nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo é o que pode pronunciar perdão sobre o transgressor. Cristo está atraindo a todo aquele que não ultrapassou os limites. O está atraindo hoje a Si mesmo (MS. 9, 1890).

 

Há conflito entre o apóstolo Tiago e Paulo, a respeito da justificação pela fé? Tiago debilita a apresentação do evangelho feita por Paulo?

Certamente, Tiago (cap. 2:17-25) não tem a menor intenção de contradizer a Paulo. Seu ensino consiste em que existem dois tipos de "fé": a fé viva, e a morta. Há igualmente dois tipos de pessoas: os vivos, e os mortos. Estes últimos não realizam nada, assim como tampouco a fé morta.

O tipo de fé que os demônios têm quando "acreditam e tremem", é a fé morta que não aprecia o ágape de Cristo, e que não produz obras de justiça. Paulo fala da fé viva que aprecia a Cruz, e nos motiva à obediência voluntária e alegre (Rom. 13:10; Gál. 5:5,6; II Cor. 5:14-6:1).

Os judeus disseram a Jesus, "O que devemos fazer para pôr em prática as obras de Deus? Respondeu Jesus e lhes disse: Esta é a obra de Deus, que creiais nAquele que Ele enviou" (João 6:28,29). Estas palavras deveriam ser escritas em letras de ouro, e mantidas constantemente perante a vista de todo cristão que batalha. Está resolvida a aparente paradoxo. As obras são necessárias; entretanto a fé é totalmente suficiente, já que a fé realiza as obras…

O problema é que muitas pessoas têm em geral uma falsa concepção da fé… A fé e a desobediência são incompatíveis. Não importa quão grande fé professe o transgressor da lei, o fato de que desobedece a lei demonstra que não tem fé… Que ninguém despreze a fé como algo de pouca importância (E. J. Waggoner, Bible Echo, 1 agosto, 1890).

 

Mas Tiago não diz  que a fé só não pode salvar a homem algum, e que a fé sem obras é morta?

[Waggoner responde]

Examinemos suas palavras. Muitos as perverteram em um legalismo mortal… Se a fé sem as obras é morta, [é porque] a ausência de obras revela a ausência de fé; aquele que está morto não possui existência. Se um homem tiver fé, as obras aparecerão necessariamente… (Idem)

 

Então, o que quer dizer Tiago 2:14, ao afirmar: "Que aproveita se alguém disser que tem fé, e não tiver as obras? Porventura a fé pode salvá-lo?"

[Waggoner responde]

A resposta é, obviamente, que não poderá salvar. Por que não? Porque o homem não possui fé. De que aproveita se um homem diz que tem fé, mas seu mau curso de ação demonstra que não possui nenhuma? Desprezaremos o poder da fé pelo fato de que não faz nada por aquele que faz uma falsa profissão dela?… A fé não tem poder para salvar a um homem que carece dela. (Idem)

Embora Tiago não contradiga Paulo, alguns acham que o faz. Mas a perspectiva, em cada epístola, é diferente. Tiago não centraliza a discussão na Cruz, nem no sangue de Cristo. Necessitamos de toda a Revelação, mas de alguma forma, o Espírito Santo considerou oportuno nos proporcionar 14 cartas de Paulo no Novo Testamento, e somente uma de Tiago.

 Robert J. Wieland
(Extraído do livro Iluminados por Sua Glória.)  


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