Adventistas.Com: A Voz dos Lazarentos!

Igreja do UNASP campus 2, Engenheiro Coelho – SP. Sábado, 10/01/2009.

Músicas acompanhadas por instrumentos – sem playback - e o som regulado com bom senso. Na hora da congregação cantar, o regente baixa o microfone e junta sua voz ao auditório. No intervalo entre o culto e a Escola Sabatina, violinos e violoncelo. (Hoje, na maioria das igrejas o responsável pelo cântico “canta um solo”, com o volume do amplificador ao máximo, quase não se ouvem as vozes da congregação. O “rapaz que cuida do som” em geral é meio surdo e fica fascinado com aquele monte de botões coloridos que lhe deram para pilotar.) (É fato que a verdade é progressiva. E o barulho também.)

Tive o privilégio de adorar a Deus, com minha família, em um ambiente assim. Além de músicas inspiradoras, muita reverência. A igreja estava cheia de crianças. Mas não havia barulho. E não precisava nenhum “monitor” exigir silêncio. O “clima” era de respeito e adoração, não havia estímulo para ninguém conversar ou fazer ruído.

Estive ali pensando assistir um sermão do prof. José Carlos Ramos, ou algum dos grandes professores de teologia. Mas o pregador era um pastor bem jovem, e seu nome é importante neste artigo, veremos adiante.

Bem no início, ele contou que seu pai era um pastor recentemente jubilado (aposentado). E, com este sermão, ele dava seqüência ao ministério do pai. Sua voz ficou embargada, estava emocionado. Seus pais estavam presentes no auditório. Imaginei a emoção do experiente pastor, sentindo-se feliz e orgulhoso (no bom sentido) ao ver o filho “pegar o bastão” e continuar a corrida para o alvo. Fiquei emocionado também e acho que todos na igreja ficaram. A partir daí minha frustração por não ouvir um doutor teólogo acabou.

O tema do sermão foi baseado na cura dos dez leprosos

(Lucas 17: 11 - 19). Ele pediu licença para dar o título ao sermão de “Os três milagres”.

Jesus estava caminhando entre Samaria e Galiléia, e dez leprosos surgem e pedem para serem curados. O jovem pregador faz então várias considerações ao redor desta “região fronteiriça”. Ali era uma “terra de ninguém”, lugar pouco povoado e não visto com bons olhos.

Ele descreve então a formação do “paralelo 38”, a “terra de ninguém” entre a Coréia do Norte e a Coréia do Sul. Mais de 50 anos após o fim da guerra, ali ainda existe uma região de quatro quilômetros de largura – dois para cada Coréia – cercada por exércitos e ódio de ambos os lados. E foi em um ambiente parecido, em uma “terra de ninguém”, que Jesus foi abordado pelos 10 leprosos.

O primeiro milagre, segundo o pregador, é o “milagre da miséria”. Dentre os dez leprosos, um era samaritano. E os dois povos se odiavam. O pastor cita alguns escritos antigos que mostram o desprezo intenso dos judeus pelo “povinho” de Samaria. Um verso do Eclesiástico, livro apócrifo. Não anotei, mas após voltar para casa, procurei e creio que foi este o que ele utilizou: “Há duas nações que minha alma detesta e a terceira nem é nação: Os habitantes da montanha de Seir, os filisteus e o povo tolo que habita em Siquém.” (Eclesiástico 50: 25-26). O “povo tolo de Siquém” são os samaritanos. Outras versões da Bíblia Católica que pude consultar trazem “ povo idiota” e “ povo estúpido”. Assim os judeus consideravam os samaritanos. Mas o “milagre da miséria” os uniu. O pregador fez então algumas considerações e citou exemplos de como a miséria e o pecado são capazes de unir pessoas que se detestam.

O segundo milagre foi o “milagre da religião”. Jesus não se abaixou para pegar barro e passar neles, não os tocou, nem os examinou.  Simplesmente, de longe, ordenou que fossem se apresentar ao sacerdote. Só isso. Cumprir o rito religioso.

E eles foram, e no caminho, ficaram curados. É o milagre da religião.

O terceiro milagre foi o “milagre da salvação”. Dos dez leprosos que foram curados, apenas um voltou para agradecer. E era justamente o samaritano. E só a este, Jesus diz, “a tua fé te salvou”. Dez foram curados, mas apenas um foi salvo. Dez estavam unidos pelo “milagre da miséria”, dez foram curados pelo “milagre da religião”, mas apenas um foi salvo.

Perto do final do sermão o jovem pregador conta uma experiência pessoal. Ele precisava fazer um serviço religioso em outra cidade, e sonhou que o ônibus sofria um acidente grave com muitas mortes. Falou isso para sua mãe, que desaconselhou a viagem. Mas ele foi, embora com medo. E orava o tempo todo. Mas o ônibus sofreu mesmo um terrível acidente, com vítimas, e ele escapou ileso.

Após outras considerações pertinentes, ele vai para a conclusão. Todos os argumentos formaram um conjunto inteligente e agradável de se ouvir.

Embora impressionado pela beleza da mensagem, me assustei quando ao final, ele fez um apelo. Já assisti centenas de apelos. Li sobre isso e vi pastores estudando as técnicas para o apelo. Vi muitos “apelos que apelam”, e os adventistas mais antigos criam uma certa reserva para este método. Não se pode brincar com o Espírito Santo. E o moço inexperiente, em início de carreira, resolve arriscar justo ali, na presença dos mestres, doutores, professores e alunos de teologia.

Já vi pastores sofrendo, no púlpito, repetindo o apelo, usando todas as técnicas emocionais possíveis, repetindo palavras, lembrando os tormentos do inferno, enquanto o auditório segue em frio desprezo. Verdade que muitos destes pastores estão ali apenas “cumprindo um roteiro”, mas devem ser momentos de agonia quando o povo simplesmente não se levanta. Mas o que aconteceria ali? Um auditório cheio de “cobras criadas”, na igreja que em tese reúne a elite da inteligência da IASD no Brasil...

Ele fez o apelo e sentou. Não ficou lá para insistir. Parecia tranqüilo, eu é que me estressava. Pensei, um sermão tão caprichado, sincero, e agora ele pode “se queimar” se o povo não levantar. Não seria justo. E a música continuava... e o povo sentado...

Até que um ancião se levantou, acompanhado de um menino, e foram em direção ao púlpito. Após eles, outro, e outro, e outro... e os corredores se encheram. Foi muito bom.

Louvado seja o Senhor.

Alguém me disse o nome do pastor: Robson.

Pastor Robson.

Mês passado, um irmão de Olinda – PE, https://www.adventistas.com/dezembro2008/secao_cartas_dez2008.htm

fez alguns comentários sobre meu primeiro artigo para este site.

https://www.adventistas.com/setembro2002/5_crimes_adventistas.com.htm

E já se vão quase sete anos. Muitos leram mas nem todos entenderam, e fico grato ao irmão Flávio Ataliba por destacar o ponto principal de meu discurso, que continua atual.

Um Robson pregou no UNASP há poucos dias, sobre a “zona de exclusão”, a “terra de ninguém”. Isso me fez lembrar do outro Robson, editor do “adventistas.com”

No sermão, aconteceu um milagre na “terra de ninguém”. No “paralelo 38”, região desolada entre ódios mortais.

E, com discussão de Trindade ou sem, a grande empresa continua a produzir seus “samaritanos”. A grande máquina continua a despejar seus resíduos humanos no esgoto.

E uma horda horrível de leprosos, revoltados, recalcados, abomináveis, tachados pelo doutor José Carlos Ramos como “Sinagoga de Satanás”, segue cambaleando pela “terra de ninguém”. Muitos cansaram de caminhar entre as Coréias e formaram pequenas igrejas. Ali, voltam a se chamar de “líder”, voltam a participar de comissões, falam em “crescimento da igreja”. Recuperam de certa forma a dignidade que lhes foi arrancada.

 Mas a maioria segue na região dos mortos-vivos. Não podem falar, não podem receber o calor humano. São párias, hereges, demônios da apostasia ômega que colocam “a igreja em perigo”. Alguns nem entendem questões doutrinárias, são os que foram expelidos pela empresa em seus combates internos pela busca do poder. Outros são os que viram as grandes injustiças, e sabem que não há mais a quem recorrer. Muitos são filhos de obreiros que foram aposentados à força ou mesmo excluídos para dar lugar aos sobrinhos do Papa.  Outros, não viram nada, não sabem nada, mas lêem dois ou três artigos aqui no adventistas.com e saem xingando a igreja e os pastores em sites de relacionamento. Como são recebidos sempre com genuíno “amor cristão”, isto é, chamados de cães e diabo, tornam-se cada vez mais críticos, odiados e odientos. Os doutores teólogos escrevem livros e artigos cheios de “ironia erudita” incitando as massas ao ódio, e estas obedecem, perseguindo, xingando e desprezando os “samaritanos”, povo estúpido que habita a “terra de ninguém”.

Depois de sair da igreja, como não vi nem ouvi o prof. José Carlos Ramos, ao menos procurei pelo lugar onde ele teria buscado inspiração para escrever o livro “A Igreja em Perigo”. Pensei, deve ser uma grande pista de cimento liso, muito bonita como tudo por ali, onde são colocados muitos litros de maionese, e ele, de patins, surfa, viaja de lá para cá, enquanto elabora seus argumentos contra os dissidentes. Mas não vi nada assim. O Campus estava pouco habitado, é período de férias.

Fiquei pensando no sermão do pastor Robson, Jesus andando pela “terra de ninguém”.

 Não, de maneira alguma deve o Robson Ramos ou o “adventistas.com” ser comparado o mínimo que seja a Jesus. Já é honra suficiente para este site ser comparado ao diabo e chamado de cão.

Talvez a sua função seja ser a voz dos leprosos. A voz daqueles que, por alguma razão, ainda não decidiram atravessar definitivamente a cerca e ir para a Coréia do Norte. Enquanto isso, o povo da Judéia, em seus sites e revistas oficiais reverbera a sentença contra os samaritanos. Que este povo estúpido continue sendo odiado!

Se a Coréia do Sul representa a igreja, a Coréia do Norte representa a total apostasia, o “não ligo mais”. Estes, que incluem os ateus, os sacerdotes não criticam, pois sabem que possuem a bomba atômica.

Mas é naquela faixa do paralelo 38, nesta zona de penumbra, que se arrastam os lazarentos, estropiados e abomináveis que a igreja rejeita. O que fazer com eles? Quem lhes oferecerá água ou lhes fará curativos nas feridas?

Que procurem a Jesus, dirão os “sul-coreanos”. Mas Jesus, como informa o texto bíblico, saiu da terra de ninguém e foi para Jerusalém, para o UNASP, capital da “Coréia do Sul”, e não sei o que os sacerdotes fizeram com Ele.

E para os que vivem na “zona de exclusão”, é difícil entrar em Jerusalém. Lá, é claro, não existem leprosos. Não existe o “milagre da miséria”, pois não há miseráveis. Mas existe, sem dúvida, o milagre da religião e muitos sacerdotes.

Isso não basta? -- Tales Fonseca

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