Resposta à Resenha Publicada por Alberto Timm Contra o Livro do Pr. Zurcher Sobre a Natureza de Cristo

 

A humanidade do Filho de Deus é tudo para nós. É a corrente dourada que liga as nossas almas a Cristo, e por meio de Cristo a Deus. Isto deve constituir nosso estudo. ... Quando abordamos estes assuntos, bem faremos em tomar a peito as palavras dirigidas por Cristo a Moisés, junto à sarça ardente: “Tira as sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é terra santa”. – Mensagens Escolhidas, livro 1, pág. 244.

 

O Prof. Alberto R. Timm, diretor do Centro White divulgou recentemente uma resenha crítica ao livro Tocado por Nossos Sentimentos, que apóia a visão pós-lapsariana (Jesus diferente de Adão). Abaixo, fazemos alguns comentários sobre o que é dito nessa resenha, que se encontra em: http://www.centrowhite.org.br/resenhas.html. O livro é vendido a preço de custo para todo o Brasil. Informações pelo e-mail do editor do livro (Olvide Zanella): farpolito@ar-net.com.br.

 

1. “No seu capítulo sobre a Cristologia de Ellen White (págs. 35-47) Zurcher... evita qualquer menção de outras declarações que enfatizam as diferenças entre a natureza de Cristo e a nossa. ... 

Zurcher deixa de considerar como Ellen White apresenta uma tensão entre as semelhanças e as diferenças entre a natureza de Cristo e a nossa. ... Deixa de reconhecer que na carta a Baker ela se opõe categoricamente a uma completa semelhança entre Cristo e os seres humanos pecaminosos, mesmo na maneira em que Ele foi tentado. ...

Deixa de mostrar como a humanidade de Cristo é o padrão verdadeiro e não adulterado pelo qual nós devemos ser medidos.”

Quase a metade deste capítulo é utilizada para mostrar as diferenças entre a divindade e perfeição de Cristo em contraste com os outros seres humanos, pecadores. Nas páginas 41-44, Zurcher mostra claramente que não podemos considerar a Cristo “integralmente humano”, pois nunca houve nEle “uma mancha, inclinação ou corrupção”. Enquanto “Cristo manteve Sua pureza” e revelou “um perfeito ódio contra o pecado”, o mesmo não pode ser dito dos outros homens. Ao longo de todo o livro a vida sem pecado de Cristo é considerada o grande referencial que inspira motivação e poder para que o ser humano também possa vencer. Somente pela graça de Deus é possível que Cristo seja, além de Salvador e Substituto, o nosso perfeito Modelo, para que sejamos “participantes da natureza divina” (págs. 43-44). Também é enfatizado que “a vitória é possível através de Jesus Cristo” (págs. 62-64) e podemos ser transformados pelo “Espírito de Cristo” (págs. 228-231).

Ele não era como os outros seres humanos também no sentido de ser “humano  e divino”, visto que velou “Sua divindade com a humanidade”. Somente pelo fato de Cristo ter sido divino e humano (portanto, um ser único), os homens podem ser “participantes da natureza divina”. Como antítipo da escada de Jacó,  “por Sua divindade, firma-Se ao trono do Céu, ao passo que, pela Sua humanidade, Se liga a nós”. Dizer que Zurcher não apresentou as “diferenças entre a natureza de Cristo e a nossa” não cabe pois desde o início do capítulo ele mostra a divindade de Cristo e a Sua vida sem pecado como homem. O aspecto da divindade de Cristo também é enfatizado nas páginas 18-27 de maneira a não dar uma impressão errônea sobre o leitor.

 

2. “Zurcher discute o conteúdo e as implicações dessa carta algumas vezes em outros lugares ao longo do livro, mas nunca de forma clara e sistemática. ...

Zurcher não apenas evita uma exposição clara da carta a Baker, mas também a cita de forma distorcida e fora do contexto.”

Realmente Zurcher deveria ter realizado um estudo mais detalhado da carta a Baker, embora tenha feito comentários nas páginas 120-122 e 224-225. Para compensar este descuido, a edição brasileira traz, às páginas 241-250, uma acurada análise feita por Robert J. Wieland e transcrita do seu livro The Golden Chain, págs. 67-76. O mesmo autor também faz excelentes considerações sobre a referida carta em Introducción al Mensaje de 1888, págs. 27-29 (formato PDF).

Em Cristologia, editado por Raoul Dederen e utilizado nos seminários teológicos até pouco tempo, um ex-aluno da Universidade Andrews faz um estudo pré-lapsariano a respeito da carta a Baker. Como ele mesmo afirma, os seus comentários não consideram o que Ellen White registrou em outros materiais. Devido a este grave erro, a análise se baseia em pressuposições e conjecturas do autor, de maneira que é um estudo “claro e sistemático”, mas com pouca base.

 

3. “Ele cita a carta a Baker, deixando de incluir uma sentença na qual Ellen White conecta as tentações de Cristo no deserto com as de Adão no Éden.”

Esta sentença não mencionada por Zurcher afirma que Cristo “foi assaltado com tentações no deserto, como Adão foi assaltado com tentações no Éden”. Isto não pode significar que Cristo foi tentado exatamente da mesma forma que Adão pois, em outro trecho da carta, é dito: “Cristo veio para redimir a queda de Adão... mas quando Adão foi assaltado pelo tentador, nenhum destes efeitos do pecado estava sobre ele... Isto não foi assim com Jesus.”

Em outro escrito, Ellen White afirma: “Cristo devia redimir, em nossa humanidade, a falha de Adão. Quando este fora vencido pelo tentador, entretanto, não tinha sobre si nenhum dos efeitos do pecado. Encontrava-se na pujança da perfeita varonilidade, possuindo o pleno vigor da mente e do corpo. Achava-se circundado das glórias do Éden, e em comunicação diária com seres celestiais. Não assim quanto a Jesus, quando penetrou no deserto para medir-Se com Satanás. Por quatro mil anos estivera a raça a decrescer em forças físicas, vigor mental e moral; e Cristo tomou sobre Si as fraquezas da humanidade degenerada.” (O Desejado de Todas as Nações, pág. 117).

O significado das palavras citadas da carta a Baker pode ser compreendido pelas seguintes afirmações: “Para Cristo, como para o santo par no Éden, foi o apetite o terreno da primeira grande tentação. Exatamente onde começara a ruína, deveria começar a obra de nossa redenção. Como, pela condescendência com o apetite, caíra Adão, assim, pela negação do mesmo, devia Cristo vencer” (Idem, ibidem). “Aqui o teste de Cristo era tanto maior do que aquele de Adão e Eva, pois Ele tomou a nossa natureza, decaída mas não corrompida” (Manuscrito 57, 1890). Na carta em questão, Ellen White estava simplesmente afirmando que Adão foi tentado e levou a humanidade a terríveis conseqüências; Cristo trouxe a redenção, também através de tentações. O assunto discutido não é a semelhança entre as tentações, e sim a importância e responsabilidade envolvida em cada uma.

 

4. “A distinção entre ‘propensões herdadas’ e ‘más propensões’ não é apoiada por Ellen White nessa carta. Pelo contrário, ela usa as duas expressões como sinônimas ao argumentar que Cristo não possuía essas propensões.”

O objetivo da carta não era fazer um estudo sistemático a respeito da natureza de Cristo, mas prevenir o pregador a fim de que suas palavras não significassem “mais do que querem dizer”. Na mesma carta, é dito que era necessário que Cristo “pudesse compreender a força de todas as tentações com as quais o homem é atacado.”

O dicionário inglês de Oxford, um dos mais respeitados do mundo, afirma que “propensão” vem do latim propendere, significando “pender ou inclinar-se adiante ou abaixo”. Embora hoje sejam dados vários sentidos diferentes, no original ainda em uso no tempo de Ellen White, indica uma “resposta à gravidade”, uma fraqueza em direção à fonte de atração. Portanto, como é usada na carta a Baker, a palavra “propensão” significa uma real participação no pecado, e não simplesmente o ato de ser tentado. O seguinte trecho da carta é esclarecedor: “Em nenhuma ocasião houve qualquer resposta às suas [de Satanás] múltiplas tentações. Nem por uma única vez Cristo entrou no terreno de Satanás, para conceder-lhe qualquer vantagem. Satanás nada encontrou nEle para encorajar seus avanços.” Diante disto, a autora adverte: “Nunca, de modo algum, deixe a mais leve impressão sobre mentes humanas de que havia em Cristo uma mancha, uma inclinação para o mal, ou que Ele de alguma forma tenha cedido à corrupção.”

Afirmar que “nessa carta” Ellen White não faz “distinção entre ‘propensões herdadas’ e ‘más propensões’” é ignorar o que ela afirmou em outros materiais. Mesmo que na carta a Baker não se faça menção a tendências “hereditárias”, em outros escritos elas são distinguidas das tendências “cultivadas para o mal”. Veja, por exemplo, Conselhos aos Pais, Professores e Estudantes, pág. 20 e Parábolas de Jesus, pág. 330. Cristo, como todo ser humano, possuía “tendências hereditárias”, pois esteve sujeito à “grande lei da hereditariedade” (O Desejado de Todas as Nações, pág. 49); porém nunca as cultivou, mantendo o Seu caráter sem nenhum vestígio de pecado.

Cristo deveria vir “como um homem, para enfrentar e estar sujeito a todas as más tendências das quais o homem é herdeiro" (Carta 303, 1903). Mesmo assim Ele “viveu na Terra uma vida consistente e perfeita, em conformidade com a vontade de Seu Pai celestial” (Ibidem). Assim, Ele conhecia “por experiência... a força de nossas tentações” (Medicina e Salvação, pág. 71) e “a força da paixão da humanidade” (Nos Lugares Celestiais, pág. 155). Zurcher faz uma análise destes conceitos nas páginas 224 e 225 de seu livro. A carta a Baker não faz esta distinção porque o erro do pregador era atribuir a Cristo tendências “cultivadas”, o que implicaria em uma participação e consentimento com o pecado. -- E-mail do colaborador: EvangelhoEterno@aol.com.

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