Nova Resposta ao Artigo da Revista Adventista Sobre I Coríntios 2:10-16
Leia também: Ao Sr. Paulo Roberto Pinheiro, Editor Associado da Revista Adventista... Para entender esse texto, seria importante ler todo o seu contexto. Os capítulos 1 e 2 de I Cor. vêm mostrando a oposição entre a sabedoria humana e a sabedoria divina (cap. 1:18-25,30; 2:1-9). As “palavras ensinadas pela sabedoria humana” são limitadas pelo “espírito (pneuma) do mundo” naqueles que são movidos ou recebem este espírito (cap. 2: 12 e 13), o qual restringe o entendimento às coisas mundanas, impedindo o discernimento das coisas espirituais (v. 14). Ao passo que os que recebem “o Espírito (pneuma) que vem de Deus” passam a conhecer “o que por Deus nos foi dado gratuitamente” (v. 12). Paulo rejeita a “linguagem persuasiva de sabedoria” e resolve apresentar uma pregação que antes consiste “em demonstração do Espírito e de poder” para que a fé dos crentes coríntios “não se apoiasse em sabedoria humana e sim no poder de Deus”. (2:4 e 5) Assim é que Paulo afirma que “expomos sabedoria entre os experimentados; não, porém, a sabedoria deste século, ... mas falamos a sabedoria de Deus em mistério, outrora oculta, a qual Deus preordenou desde a eternidade para a nossa glória; sabedoria essa que nenhum dos poderosos deste século conheceu; porque, se a tivessem conhecido, jamais teriam crucificado o Senhor da glória;” (2: 6-8). Que “sabedoria de Deus em mistério” é esta que esteve “outrora oculta”? Deixemos que a Bíblia nos responda: Romanos 16:25 Ora, àquele que é poderoso para vos confirmar segundo o meu evangelho e a pregação de Jesus Cristo, conforme a revelação do mistério guardado em silêncio nos tempos eternos, Efésios 3:3-5 e 9 pois, segundo uma revelação, me foi dado conhecer o mistério, conforme escrevi há pouco, resumidamente; pelo que, quando ledes, podeis compreender o meu discernimento do mistério de Cristo,, 5 o qual, em outras gerações, não foi dado a conhecer aos filhos dos homens, como, agora, foi revelado aos seus santos apóstolos e profetas, no Espírito, ... e manifestar qual seja a dispensação do mistério, desde os séculos, oculto em Deus, que criou todas as coisas, Colossenses 1:26-27 o mistério que estivera oculto dos séculos e das gerações; agora, todavia, se manifestou aos seus santos; aos quais Deus quis dar a conhecer qual seja a riqueza da glória deste mistério entre os gentios, isto é, Cristo em vós, a esperança da glória; Colossenses 2:2 para que o coração deles seja confortado e vinculado juntamente em amor, e eles tenham toda a riqueza da forte convicção do entendimento, para compreenderem plenamente o mistério de Deus, Cristo, 1 Timóteo 3:16 Evidentemente, grande é o mistério da piedade: Aquele que foi manifestado na carne foi justificado em espírito, contemplado por anjos, pregado entre os gentios, crido no mundo, recebido na glória. Ver também Col. 4:3, Efés. 1:9 e 6:19. Os versos seguintes do capítulo 2 de Cor. corroboram esta idéia: “Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por sua própria sabedoria, aprouve a Deus salvar os que crêem pela loucura da pregação. Porque tanto os judeus pedem sinais, como os gregos buscam sabedoria; mas nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios; mas para os que foram chamados, tanto judeus como gregos, pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus. ...”... “ Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual se nos tornou, da parte de Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção,” (1 Coríntios 1:21-24,30 RA) Por isso Paulo podia dizer: “. 2 Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado.” (2:2). O evangelho, o poder de Deus, é uma pessoa – Cristo, e Este crucificado –e tudo que está relacionado com Seu reino de graça e glória. São essas as boas-novas maravilhosas que “nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que O amam” (2:9). Contudo, essas verdades são “escândalo para os judeus e loucura para os gentios” (v. 1:23). Daí o texto da pergunta: “ Porque qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o seu próprio espírito (pneuma), que nele está? Assim, também as coisas de Deus, ninguém as conhece, senão o Espírito (pneuma) de Deus.” (1 Coríntios 2:11 RA) O que o contexto está dizendo é que o homem natural não aceita a verdade do evangelho, ele não pode alcançar estas revelações maravilhosas por si mesmo, pois seu espírito só conhece as profundezas humanas. Estas verdades são “as coisas do Espírito de Deus” (2:14), são verdades divinas profundas, espirituais, e Deus no-las revela pelo Seu Espírito que nos é concedido (2:10 e 12). O homem, para discerni-las, precisa receber aquele espírito (pneuma) que conhece as profundezas de Deus, o Espírito de Deus. Todo conhecimento que Deus outorga de Si mesmo é por meio da dotação de Seu Espírito. É assim que ”o homem espiritual” (2:15), que recebe “o Espírito que vem de Deus” (2:12), “julga todas as coisas”, ou seja, passa a ter discernimento espiritual, pois ele passa a ter “a mente de Cristo” (2: 15-16), pela habitação de Seu Espírito no homem interior.
ANÁLISE TEXTUAL Como afirma uma estudiosa em análise textual: “O texto de II Cor. 2 é construído basicamente sobre paralelos (confrontos entre a sabedoria humana, também chamada sabedoria do mundo, e a sabedoria de Deus). Isto é evidenciado através das estruturas adversativas que opõem os dois tipos de sabedoria. Essas estruturas adversativas equivalem também a uma comparação entre argumentos orientados em direções opostas. Observe: § V. 4 – A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder, § V. 5 - para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana, e sim no poder de Deus. § V. 6 e 7- Entretanto, expomos sabedoria entre os experimentados; não, porém, a sabedoria deste século, ... mas falamos a sabedoria de Deus em mistério, ... § V. 12 - Ora, nós não temos recebido o espírito do mundo, e sim o Espírito que vem de Deus, ... § Vs. 14 e 15 - Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, ... Porém o homem espiritual julga todas as coisas, mas ele mesmo não é julgado por ninguém. § V. 16 - Pois quem conheceu a mente do Senhor, que o possa instruir? Nós, porém, temos a mente de Cristo. O verso 11 não destoa de todo o contexto, pois também apresenta uma comparação que objetiva explicar o verso 10, que diz: - “... o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus.” Assim, para que o leitor possa compreender melhor o verso 10, que trata das profundezas de Deus, é estabelecida a comparação em uma esfera conhecida de todo homem, no verso 11: - “Porque qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o seu próprio espírito, que nele está? Assim, também as coisas de Deus, ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus.” A palavra “porque” é uma conjunção que introduz uma explicação. Observe que os termos comparados são os seguintes: Comparado: o Espírito de Deus. Comparante: o espírito do homem, este tomado como base para entender aquele. Isso fica evidente ainda pelo uso do termo “também”, que além de denotar inclusão dentro desta categoria, liga dois argumentos orientados para uma mesma direção. Ou seja, o que ocorre na esfera divina é semelhante ao que ocorre na esfera humana. Este recurso, como disse, é explorado do início ao fim deste capítulo e introduz o capítulo seguinte, no qual o apóstolo Paulo diz que gostaria de poder falar a espirituais ou a experimentados (2:6), mas teve de se contentar em se dirigir a bebês que necessitam de leite na fé (3:2). Eu, porém, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, e sim como a carnais, como a crianças em Cristo. (1 Coríntios 3:1 RA)” Vemos, portanto, que “assim, também” significa “da mesma forma”. A Bíblia de Jerusalém, inclusive, traduz os versos 11 e 12 deste modo: “Quem, pois, dentre os homens conhece o que é do homem, senão o espírito do homem que nele está? Da mesma forma, o que está em Deus, ninguém o conhece senão o Espírito de Deus. Portanto, é a própria Bíblia que faz a comparação. O autor do artigo da RA afirma que “a primeira parte desse verso está falando do espírito do homem em relação ao homem, e a segunda parte está falando do Espírito Santo em relação às ‘profundezas de Deus’.”. Ora, se o conhecimento do espírito do homem está se referindo ao conhecimento das profundezas do homem, certamente o conhecimento do Espírito de Deus está se referindo ao conhecimento das profundezas de Deus, cada um na sua esfera. Evidentemente, o “Espírito de Deus” é santo. Mas isso não é base para se afirmar que não está se referindo ao Espírito do próprio Deus. Muito menos é base para afirmar que se trata de uma Pessoa Divina distinta. Se não pudermos afirmar que o Espírito de Deus é Sua glória, Sua índole, Seu poder, Sua influência, Sua inspiração, a manifestação de Seu caráter ou de Si mesmo, ou Seus pensamentos, Sua mente e Sua vontade tomando o lugar da nossa, muito menos poderemos afirmar que o Espírito de Deus é uma terceira pessoa Distinta dEle mesmo, pois a Bíblia não O apresenta como uma Pessoa tal como apresenta o Pai e o Filho. Ainda que Estes não possuam um corpo físico limitado, quando Se manifestam em visões ou aparições ao homem, é em semelhança com a aparência física humana. Na realidade, fomos nós que fomos criados à imagem e semelhança de Deus, não Eles que assumem a nossa imagem e semelhança quando querem Se manifestar a nós. Fomos criados um pouco menores do que os anjos, com corpo, alma e espírito. Que base há para afirmar que isso não reflete o modelo maior? E ainda mais quando a mesma palavra utilizada para o nosso espírito e espírito de um modo geral, tanto no Antigo Testamento quanto no NT, é a mesma para o Espírito de Deus, sem distinção, mostrando que ambos praticam e sofrem ação, guardadas as proporções, ambos têm emoções, sentimentos, etc. Nas principais cenas bíblicas relacionadas com a redenção humana como a volta de Cristo, o juízo e as glórias e recompensas da Nova Terra, onde o Pai e o Filho são mostrados em atuação conjunta, o Espírito Santo não aparece como pessoa distinta ou simplesmente nem é mencionado. E mesmo em relação à criação, o único texto que menciona a palavra “Espírito” é Gen. 1:2, um texto que até enseja uma tradução diversa da que é comumente encontrada, como a da Bíblia de Jerusalém. Que Deus vos abençoe. -- David Lima Leia também: |
|