Revista Ministério Publica Resposta Oficial sobre a Trindade
O
artigo diz que a Trindade foi uma revelação gradual até para os anjos,
responsabiliza a Deus pelo surgimento do pecado no coração de Lúcifer, contraria
revelações dadas à Sra. White e pode
justificar até a aceitação de famílias homossexuais.
A última edição da
revista Ministério (março/abril de 2003) traz extenso artigo em
defesa da Trindade. Embora considere pessoalmente o autor como um amigo, de
bom coração e honesto, pois o conheci no tempo em que trabalhei na CPB,
concluo após a primeira leitura do texto (farei outras!) que:
(1) fundamenta-se na
imaginação de teólogos contemporâneos, em lugar da Bíblia, que é citada em
passagens dissociadas do tema proposto; (2) contradiz a revelação dada à irmã
White em relação ao início do Grande Conflito; pois (3) apresenta a Trindade
como uma revelação gradual até para os anjos, (4) supondo ainda que este fato
teria sido a razão para o descontentamento inicial de Lúcifer. Ou seja:
A) Atribui a origem do
pecado à omissão divina de não revelar inicialmente aos anjos a existência da
Trindade. Lúcifer teria se rebelado por causa do convite feito por Deus ao
arcanjo Miguel, sem saber (ele e os anjos) que Miguel era, de fato, Deus
Filho, disfarçado de anjo, e convivendo com eles como se fosse criatura. Diz
ele:
"E aqui está o âmago da
questão: os anjos não sabiam que o arcanjo Miguel, que eles tinham na conta
de um companheiro, de um anjo como tantos outros, era na verdade o Criador
deles, o Filho Unigênito de Deus, a segunda Pessoa da Trindade, o Verbo
Divino, através do qual todas as coisas haviam sido criadas. Até aquele
momento eles não sabiam que Deus era uma Trindade, e que uma das Pessoas da
Trindade, a Segunda, habitava entre eles na forma de um anjo!" (Pág. 18.)
Sobre encontrar explicações
para a origem do pecado, convém relembrar o que escreveu a Sra. White:
"É impossível explicar a
origem do pecado de maneira a dar a razão de sua existência. Todavia,
bastante se pode compreender em relação à origem, bem como à disposição
final do pecado, para que se faça amplamente manifesta a justiça e
benevolência de Deus em todo o Seu trato com o mal. Nada é mais claramente
ensinado nas Escrituras do que o fato de não haver sido Deus de maneira
alguma responsável pela manifestação do pecado; e de não ter havido qualquer
retirada arbitrária da graça divina, nem deficiência no governo divino, para
que dessem motivo ao irrompimento da rebelião. O pecado é um intruso, por
cuja presença nenhuma razão se pode dar. É misterioso, inexplicável;
desculpá-lo corresponde a defendê-lo. Se para ele se pudesse encontrar
desculpa, ou mostrar-se causa para a sua existência, deixaria de ser
pecado." O Grande Conflito, págs. 492-493.
B) Apresenta um conceito
de Mediação estranho à Biblia, pois supõe que mesmo antes do surgimento do
pecado no Céu ou em outros mundos em que o pecado não tenha ocorrido, haveria
necessidade da intercessão de Jesus Cristo, que intermediaria o contato
dos seres criados com Deus, em função da desigualdade entre criaturas e o
Criador. Para o autor, Jesus era o Mediador entre os anjos e Deus sem que
estes soubessem. Assim, já não é o pecado que faz separação entre o homem e
Deus, mas simplesmente a sua condição de criatura.
"Os anjos ficaram
assombrados com a revelação de que o arcanjo Miguel era o Filho de Deus e
'alegremente reconheceram a supremacia de Cristo, e, prostrando-se diante
dEle, extravasaram seu amor e adoração'.12 Mas o que estava Cristo fazendo
entre eles, como anjo? Antes que o Verbo Se manifestasse na carne e
habitasse entre os homens, Ele adotou a aparência de anjo e habitou entre os
anjos, assumindo pela primeira vez o Seu papel de mediador.
"É preciso ter em mente que não só os seres caídos, mas também os não caídos
têm necessidade de um mediador entre eles e Deus, pois 'há misteriosos
abismos a serem atravessados, mesmo onde o pecado não perpetrou a sua obra
de ruptura nas mentes criadas! Obviamente, um enorme ato de mediação é
necessário, a fim de cobrir as infinitas distâncias que inevitavelmente
existem entre o Criador e Suas criaturas'.13" (Pág. 19.)
A primeira frase entre aspas
foi retirado de seu contexto no livro Patriarcas e Profetas, pág. 36
para dar a impressão de que estaria de acordo com as revelações recebidas por
ela em visão. Você confirá isto ao ler o item D desta seqüência.
Já o segundo trecho entre aspas não foi
extraído de algum texto inédito da Sra. White como alguns poderão supor. É de
uma apostila de Carsten Johnssen, da Andrews University, intitulada "Como
Poderia Lúcifer Conceber a Idéia de Rivalizar-se com Jesus Cristo?". Como se
vê, a obra pretende encontrar explicações lógicas para a origem do pecado.
C) Compara a divindade a
uma família desestruturada, distorcendo o claro ensino bíblico de que
Deus, quando decidiu criar o homem à Sua imagem e semelhança moldou no barro
apenas um exemplar da nova espécie de seres e, deste primeiro homem, retirou sua
companheira. Soprou Seu espírito (ruach), fôlego de vida, energia vital, nas
narinas de Adão, e Eva já surgiu com o mesmo espírito, poder para viver, não
sendo necessário que Deus o soprasse novamente em suas narinas. Eva já existia
em Adão.
Do mesmo modo, o Filho
possui idêntico espírito ao Pai e esse espírito não é uma terceira pessoa.
Pois, quando a divindade quis representar-se através de criatura, providenciou
apenas dois seres, sendo que Eva estava contida em Adão, do mesmo modo que o
Filho desde a eternidade esteve contido no Pai e não foi criado, mas
gerado por Ele em algum momento a partir de Sua própria substância.
Se Eva pudesse ser comparada
a um clone de Adão, pois estivera contida nele na criação, tendo, portanto, a
mesma idade e procedência, formando literalmente com ele uma só carne, o Filho
igualmente poderia ser apontado, em linguagem humana e imperfeita, como o
Perfeito Clone do Pai. Como escreveu o apóstolo:
"Este é a
imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; pois,
nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e
as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer
potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele. Ele é antes de
todas as coisas. Nele, tudo subsiste. Ele é a cabeça do corpo, da
igreja. Ele é o princípio, o primogênito de entre os mortos, para em todas
as coisas ter a primazia, porque aprouve a Deus que, nele, residisse toda a
plenitude e que, havendo feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele,
reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, quer sobre a terra, quer nos
céus." Colossenses 1:15-20.
"Havendo
Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos
profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem
constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o
universo. Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do
seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder,
depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da
Majestade, nas alturas, tendo-se tornado tão superior aos anjos quanto
herdou mais excelente nome do que eles. Pois a qual dos anjos disse
jamais: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei? E outra vez: Eu lhe
serei Pai, e ele me será Filho?" Hebreus 1:1-5.
"Quero, entretanto, que
saibais ser Cristo o cabeça de todo homem, e o homem, o cabeça da mulher,
e Deus, o cabeça de Cristo. ...Porque, na verdade,
o homem não deve cobrir a cabeça, por ser ele imagem e glória de Deus,
mas a mulher é glória do homem. Porque o homem não foi feito da
mulher, e sim a mulher, do homem." 1 Coríntios 11:3, 7-8.
"...Porque o marido é
o cabeça da mulher, como também Cristo é o cabeça da igreja, sendo
este mesmo o salvador do corpo." Efésios 5:23.
A amorosa submissão do Filho ao Pai e o amor
incondicional do Pai para com o Filho, deveria servir de exemplo para cada casal
humano. Mas a Trindade não se parece com um casal. Pelo contrário, pode
representar, no mínimo, uma família complicada, moderna, em que o Filho não foi gerado
pelo Pai, mas por um terceiro, o Espírito. E se os três são iguais em tudo, como
irmãos gêmeos, o Filho termina sobrinho de Si mesmo e o Pai, tio do Filho.
A comparação infeliz não termina por aí.
"Essa família Trinitária serve de
modelo para a família humana, pois Gênesis 2:24 diz que o homem se
une à sua mulher, tornando-se “uma só carne”. Ora, marido e mulher são
duas pessoas, mas o amor substancia essa união, fazendo com que dois
sejam um. Assim também é o amor que une a Trindade." (Pág.
17.)
"Israel estava cercado por nações
politeístas. Assim, a insistência do Antigo Testamento em dizer que Deus é um
só tinha por objetivo combater a idéia desses deuses pagãos.
[Que absurdo insinuar que a singularidade do Deus
de Israel era apenas força de expressão!] Deus não queria que o Seu povo acreditasse que Ele fosse igual a esses
supostos deuses, geralmente constituídos por um deus superior,
masculino, sua esposa e filho e mais uma porção de deuses menores."
(Pág. 20.)
Segundo o texto temos na Trindade uma "família
divina", modelo, que se opõe às famílias divinas dos pagãos, que eram compostas
de pai, mãe e filho. Neste caso, que tipo de família seria a Trindade? Não tenha
medo de concluir! Seria exatamente o modelo de família que os homossexuais hoje
buscam, composta de dois integrantes de um mesmo gênero e seu filho. Note, um é
chamado Pai, mas foi o outro que gerou o Filho! E para completar, a palavra
"espírito" em hebraico (ruach) é feminina e no grego (pneuma)
pertence ao gênero "neutro".
Desculpe-me, leitor, a irreverência, mas, se a Igreja insistir
nesse posicionamento errôneo acerca de Deus, a próxima edição do Hinário
Adventista poderia conter, sem nenhum constrangimento teológico, a letra daquele
"hino", gravado na década de 80: "Ser um homem feminino / Não
fere o meu lado masculino / Se Deus é menina e menino / Sou masculino e
feminino..."
D) Estas citações da Sra. White também
contradizem o principal argumento do artigo, de que a Trindade foi uma revelação
gradual até para os anjos:
"O Soberano do Universo não estava só em Sua obra de
beneficência. Tinha um companheiro - um cooperador que poderia
apreciar Seus propósitos, e participar de Sua alegria ao dar felicidade aos
seres criados. "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo
era Deus. Ele estava no princípio com Deus." João 1:1 e 2. Cristo, o Verbo, o
Unigênito de Deus, era um com o eterno Pai - um em natureza, caráter,
propósito - o único ser que poderia penetrar em todos os conselhos e
propósitos de Deus." Patriarcas e Profetas, pág. 34.
"Não tinha havido mudança alguma na
posição ou autoridade de Cristo. A inveja e falsa representação de
Lúcifer, bem como sua pretensão à igualdade com Cristo, tornaram necessária
uma declaração a respeito da verdadeira posição do Filho de Deus; mas esta
havia sido a mesma desde o princípio." Patriarcas e Profetas,
pág. 38.
"Cristo era reconhecido como o soberano do Céu; Seu poder e
autoridade eram os mesmos de Deus." História da Redenção, pág. 14.
"Antes da manifestação do mal, havia paz e alegria por todo o
Universo. Tudo estava em perfeita harmonia com a vontade do Criador. O amor a
Deus era supremo; imparcial, o amor de uns para com outros. Cristo, o Verbo, o
Unigênito de Deus, era um com o eterno Pai - um na natureza, no caráter e no
propósito - o único Ser em todo o Universo que poderia entrar nos
conselhos e propósitos de Deus. Por Cristo, o Pai efetuou a criação de todos
os seres celestiais. "NEle foram criadas todas as coisas que há nos céus ...
sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades (Col.
1:16); e tanto para com Cristo, como para com o Pai, todo o Céu mantinha
lealdade." O Grande Conflito, pág. 493.
"As elevadas honras conferidas a Lúcifer não eram apreciadas como
um dom de Deus, e não despertavam gratidão para com o Criador. Ele se gloriava
em seu resplendor e exaltação, e aspirava a ser igual a Deus. Era amado e
reverenciado pela hoste celestial. Anjos deleitavam-se em executar suas
ordens, e, mais que todos eles, estava revestido de sabedoria e glória.
Todavia, o Filho de Deus era o reconhecido Soberano do Céu, igual ao Pai em
poder e autoridade. Em todos os conselhos de Deus, Cristo tomava parte,
enquanto a Lúcifer não era assim permitido entrar em conhecimento dos
propósitos divinos." O Grande Conflito, pág. 495.
E ainda, sobre Lúcifer: "Tudo que era simples ele envolvia em
mistério, e mediante artificiosa perversão lançava dúvida às mais
compreensíveis declarações de Jeová." O Grande Conflito, pág. 497.
Afinal, cremos ou não nas revelações feitas
por Deus a Ellen G. White?
E)
Desde a primeira frase do artigo, o autor usa a
imaginação para colocar a Palavra de Deus em dúvida: "Imaginemos que Deus
fosse apenas uma Pessoa..."
(Pág. 17.) Ele apenas imagina e chega a
conclusões fundamentadas nessa imaginação. Por exemplo: não diz quando os
anjos teriam descoberto que havia uma terceira pessoa divina, invisível, o
Espírito Santo, trabalhando no coração deles, mas afirma que isso aconteceu.
"Nenhuma menção é
feita na Bíblia e nos escritos de Ellen White sobre a obra do Espírito Santo
antes da Criação. Ellen White diz apenas que “o Pai, o Filho e o
Espírito Santo deram-se a Si mesmos ao estabelecerem o plano da redenção”.15
Entretanto, como sabemos pela Palavra de Deus que uma de Suas atribuições é
“convencer o mundo do pecado, da justiça e do juízo” (João 16:8),
podemos imaginar que durante a rebelião de Lúcifer o Espírito Santo
atuou no coração e na mente dos anjos, incluindo o querubim cobridor,
procurando convencê-los, “com gemidos inexprimíveis” (Rom. 8:26), de que
Lúcifer estava enveredando pelo caminho do pecado e que Deus é justo.
"O Espírito de Deus
conseguiu convencer dois terços de anjos, mas um terço, infelizmente, não
Lhe deu ouvidos. Podemos concluir, portanto, que Lúcifer e
seus anjos pecaram contra o Espírito Santo e não puderam mais permanecer na
santa atmosfera do Céu." (Págs. 19-20.)
Os parágrafos acima ilustram
claramente o que acontece nesse e outros artigos preparados em defesa da Trindade.
Usa-se a imaginação para suprir informações que a Bíblia não traz e chega-se a
conclusões absurdamente equivocadas, como essas do meu amigo Rubem Schefell.
-- Robson RamosLeia
também:
Autor Esclarece que Artigo NÃO
Foi "Encomendado" Prezado
Ermelino,
Gostei muito que você tenha publicado na íntegra, em seu site, o meu artigo
sobre a Trindade. Assim os seus leitores poderão confirmar ou não a leitura que
você fez do artigo. Espero que não. Se muitos internautas fizerem as mesmas
interpretações e tirarem as mesmas conclusões, ficarei realmente preocupado.
Mas o que desejo esclarecer nestas
poucas linhas, já no final do expediente, é que meu artigo não foi encomendado
por ninguém. Foi um oferecimento espontâneo de minha parte ao editor da revista
O Ministério. Conseqüentemente, não se trata de uma resposta oficial da
Igreja. Não. Esta Igreja tem porta-vozes muito melhores do que eu, para dar
respostas oficiais.
Repito: este artigo foi uma
iniciativa exclusivamente minha, já que há muitos anos venho guardando material
sobre o assunto. A monografia do Dr. Carsten Johnssen, por exemplo, já a tenho
há uns 20 anos, e depois de muito meditar e orar, achei por bem divulgar uma
parte do seu conteúdo, não para "pôr mais lenha na fogueira", e sim porque
julguei o material valioso demais para ficar engavetado.
Acredito que a obra "The Trinity",
dos autores Woodrow Whidden, Jerry Moon e John Reeve, já traduzida e a ser
publicada brevemente pela Casa, esta sim, poderá ser considerada uma obra
oficial, e de referência, sobre o tema da Trindade.
É bom saber que você continua sendo
meu amigo. Eu não conseguiria imaginá-lo como meu inimigo!
Um grande abraço do Rubem [Scheffel]
Resposta do Editor:
Obrigado por não me ignorar. Já
retirei o adjetivo "encomendado" do texto. Insisto, porém, que seja uma resposta
oficial, porque a revista Ministério se identifica como "Uma Publicação da
Igreja Adventista do Sétimo Dia" e "Uma revista internacional para pastores e
obreiros".
É como se eu houvesse retornado ao
curso teológico e voltasse a lhe escrever, enquanto foi o Redator-chefe da Casa,
para discordar de artigos publicados por você na Revista Adventista. Naquela época, você publicou
longas cartas minhas na íntegra,
embora hoje eu reconheça que não tinha tanta razão quanto imaginava no tempo de
aluno do teológico. Muito obrigado por sua coerência, justiça e amizade.
Ermelino Robson L. Ramos |
Trindade: Uma Revelação Gradual
A obra redentora de
Deus é um trabalho de equipe; o trabalho do Pai, Filho e Espírito Santo,
unidos e interessados em nossa salvação.
Rubem M. Scheffel
Editor de
Livros Denominacionais da Casa Publicadora Brasileira
Imaginemos que Deus fosse apenas uma Pessoa. Isso
significaria que Ele estivera, durante milhões e milhões de anos, na imensidão
vazia, antes de ter criado o Universo e os seres vivos. Mas a Bíblia diz que
Deus é amor, e o amor não pode se manifestar em solidão. É preciso ter alguém a
quem amar, caso contrário, o amor não se desenvolve. E não tem chance de ser
correspondido. Fica difícil imaginar um Deus de amor, que permaneceu por uma
eternidade passada sem ter a quem amar.
A tendência de quem é sozinho é desenvolver o egoísmo, o orgulho, não o amor.
Porque o amor precisa ser expresso e partilhado. Se Deus fosse um Ser solitário,
talvez a Bíblia dissesse que Deus é orgulho, ou que Deus é egoísmo. Mas como
Deus é amor, isso por si só já subentende que Ele, desde os tempos da
eternidade, sempre teve a quem amar e por quem ser amado. Assim, através da
revelação, sabemos que Deus o Pai ama o Filho e o Espírito Santo, e é por Eles
amado. Os três constituem a Divindade, sem no entanto serem três deuses.
Se fossem três deuses, eles provavelmente seriam rivais, cada um lutando pela
supremacia no Universo. E como têm poderes iguais, certamente acabariam
dividindo o Universo em três territórios, e cada um seria o soberano absoluto do
seu terço. Então o Universo não seria mais Universo, mas uma espécie de
Multiverso, tendo cada território as suas próprias leis e regulamentos.1
Segundo a Bíblia, Deus é um só, mas em três Pessoas. Essa família Trinitária
serve de modelo para a família humana, pois Gênesis 2:24 diz que o homem se une
à sua mulher, tornando-se “uma só carne”. Ora, marido e mulher são duas pessoas,
mas o amor substancia essa união, fazendo com que dois sejam um. Assim também é
o amor que une a Trindade.
Entretanto, é preciso admitir que a Trindade é um mistério, tal como o
matrimônio também o é (Efés. 5:32). Um mistério revelado, mas não explicado. A
própria Bíblia diz que não podemos penetrar nos mistérios divinos: “Porque os
Meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os Meus
caminhos, diz o Senhor, porque, assim como os céus são mais altos do que a
Terra, assim são os Meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os
Meus pensamentos, mais altos do que os vossos pensamentos.” (Isa. 55:8 e 9).
Se nós ainda não conseguimos compreender bem o átomo, a eletricidade, e muito
menos o Universo, deveríamos negar a Trindade só porque Ela transcende a nossa
limitada compreensão?
Conhecimento progressivo
Quando Adão e Eva foram criados, Deus não lhes deu uma aula completa,
desvendando-lhes todos os segredos do Universo. Eles deveriam aprender aos
poucos: “Enquanto permanecessem fiéis à lei divina, sua capacidade para saber,
vivenciar e amar, cresceria continuamente. Estariam constantemente a adquirir
novos tesouros de saber, a descobrir novas fontes de felicidade, e a obter
concepções cada vez mais claras do incomensurável, infalível amor de Deus.” 2
Quando os remidos chegarem ao Céu, eles não receberão, logo no primeiro dia, uma
dose maciça de informações que os coloque a par de tudo o que se passa no
Universo. Eles estudarão os mistérios do Universo e do amor de Deus pelos
séculos infindos da eternidade. E sempre “surgirão ainda novas alturas a
atingir, novas maravilhas a admirar, novas verdades a compreender, novos
objetivos a aguçar as faculdades do espírito, da alma e do corpo”.3
Ora, o conhecimento é progressivo não apenas para o homem, mas para todos os
seres não caídos também. Eles estão há milênios pesquisando os mistérios do
Universo e do amor de Deus. E estão sempre descobrindo e aprendendo coisas
novas. E assim continuarão por toda a eternidade.
Assim sendo, Deus, em determinado momento da eternidade, criou os anjos e
revelou-lhes de início apenas o que eles precisavam saber para desenvolverem o
seu trabalho no Céu. Deu um nome a cada um, indicou a sua atribuição, e
estabeleceu algumas regras básicas.
A vida transcorria serena, harmoniosa e feliz no lar celestial. Não sabemos
quanto tempo durou essa paz. O fato é que um dia, Lúcifer, o primeiro dos
querubins cobridores, e o mais elevado em poder e glória dentre os habitantes do
Céu, “invejou a Cristo, e gradualmente pretendeu o comando que pertencia
unicamente a Cristo”.4
Como poderia ter acontecido isto? Sendo Lúcifer de uma inteligência
extraordinária, como pôde ele cometer o incrível erro de se comparar com Cristo,
a ponto de considerá-Lo um rival, e a ponto de achar que teria competência para
ocupar a Sua posição? Será que ele não sabia que era um ser criado? Não tinha
ele conhecimento da infinita distância que há entre o Criador e a criatura?
Uma parte da resposta está num dos aspectos mais fantásticos da natureza divina:
Deus Se gloria na humildade. E Ele é humilde porque ama. Não temos dúvida quanto
ao amor com que Deus nos amou. E por causa desse amor infinito, Cristo Se
submeteu a uma infinita humilhação. Cristo disse: “Quem a si mesmo se exaltar
será humilhado; e quem a si mesmo se humilhar será exaltado.” Mat. 23:12.
Estas palavras se cumpriram com o próprio Cristo, conforme nos diz Paulo: “Seja
a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus, que, embora sendo Deus, não
considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-Se; mas
esvaziou-Se a Si mesmo, vindo a ser servo, tornando-Se semelhante aos homens. E,
sendo encontrado em forma humana, humilhou-Se a Si mesmo e foi obediente até a
morte, e morte de cruz! Por isso Deus O exaltou à mais alta posição e Lhe deu o
nome que está acima de todo nome.” (Filip. 2:5-9, NVI).
Após a infinita humilhação de Cristo, na cruz, Ele ressuscitou, ascendeu aos
Céus, e recuperou toda a glória que tinha junto ao Pai antes da criação do
mundo. Ele foi exaltado acima de todos.
Na forma de anjo
Quando Lúcifer saiu a disseminar a sua rebelião entre os anjos, certamente ainda
não havia compreendido que a verdadeira glória está em ser humilde, e não em
exaltar-se. E esta característica divina não surgiu como uma medida de
emergência para salvar o homem. Jesus não Se tornou humilde por causa do
surgimento do pecado. Ele é humilde. Haveria alguma evidência de que a humildade
de Cristo não está ligada apenas à salvação do homem? Sim.
Um dia, o grande Criador convocou para uma reunião especial, do conselho divino,
um dos anjos, o arcanjo Miguel, O qual deveria “trabalhar em união com Ele na
projetada criação da Terra e de cada ser vivente que devia existir sobre ela”.5
Deus estava planejando criar um novo mundo e uma nova ordem de seres. Mas por
que teria Ele convocado o arcanjo Miguel para discutir esses planos com Ele, e
não Lúcifer, “o primeiro dos querubins cobridores, e o mais elevado em poder e
glória dentre os habitantes do Céu”? Não fazia sentido, não tinha lógica para a
mente racional de Lúcifer, que Deus o tivesse ignorado e passado por cima da sua
autoridade, desrespeitando assim a hierarquia celestial que Ele próprio havia
estabelecido.
Então Lúcifer, considerando essa atitude da parte de Deus uma “usurpação dos
seus direitos”6, encheu-se de ciúme e saiu a disseminar o seu descontentamento
por entre os demais habitantes celestiais, procurando demonstrar que Deus não
era justo. Os seus argumentos pareceram tão lógicos que ele conseguiu persuadir
uma terça parte dos anjos.
O Céu agora estava dividido em anjos leais e anjos rebeldes. Estes últimos
estavam dispostos a defender sua posição pela força. Nesse momento dramático,
por amor aos anjos leais, Deus revelou um segredo celestial. Essa revelação não
estava totalmente de acordo com o plano ideal de Deus. Mas não havia outra
alternativa, em face das circunstâncias.7
Antes da grande luta, “todos deveriam ter uma apresentação clara a respeito da
vontade dAquele cuja sabedoria e bondade eram a fonte de toda a sua alegria. O
Rei do Universo convocou os exércitos celestiais perante Ele, para, em Sua
presença, apresentar a verdadeira posição de Seu Filho, e mostrar a relação que
Este mantinha para com todos os seres criados. O Filho de Deus partilhava do
trono do Pai, e a glória do Ser eterno, existente por Si mesmo, rodeava a ambos.
Em redor do trono reuniam-se os santos anjos, em uma multidão vasta,
inumerável”.8
E aqui está o âmago da questão: os anjos não sabiam que o arcanjo Miguel, que
eles tinham na conta de um companheiro, de um anjo como tantos outros, era na
verdade o Criador deles, o Filho Unigênito de Deus, a segunda Pessoa da
Trindade, o Verbo Divino, através do qual todas as coisas haviam sido criadas.
Até aquele momento eles não sabiam que Deus era uma Trindade, e que uma das
Pessoas da Trindade, a Segunda, habitava entre eles na forma de um anjo!
Evidências bíblicas
Em Gên. 32:22-32 temos o relato da luta de Jacó junto ao ribeiro de Jaboque. Ele
lutou a noite inteira com alguém que lhe pareceu ser um homem. Ao alvorecer,
porém, ao ser ferido na coxa, Jacó discerniu o caráter do seu antagonista.
“Soube que estivera em conflito com um mensageiro celestial. ... Era Cristo, o
‘Anjo do Concerto’, que Se havia revelado a Jacó.”9
Êxodo 23:20: “Eis que Eu envio um Anjo adiante de ti, para que te guarde pelo
caminho e te leve ao lugar que tenho preparado.” Comentando este texto, Ellen
White diz: “Durante todas as vagueações de Israel, Cristo, na coluna de nuvem e
fogo, foi o seu dirigente.”10
Malaquias 3:1: “Eis que Eu envio o Meu Mensageiro, que preparará o caminho
diante de Mim; de repente, virá ao Seu templo o Senhor, a quem vós buscais, o
Anjo da aliança, a quem vós desejais.” A palavra anjo significa “mensageiro”. E
Cristo sempre foi o Mensageiro de Deus a Israel.
Judas 9: “Contudo, o arcanjo Miguel, quando contendia com o diabo e disputava a
respeito do corpo de Moisés, não se atreveu a proferir juízo infamatório contra
ele; pelo contrário, disse: O Senhor te repreenda!” Aqui também Ellen White diz:
“Moisés passou pela morte, mas Cristo desceu e lhe deu vida antes que seu corpo
visse a corrupção. Satanás procurou reter o corpo, pretendendo-o como seu; mas
Miguel ressuscitou Moisés e levou-o ao Céu.”11
Apocalipse 12:7: “Houve peleja no Céu. Miguel e os Seus anjos pelejaram contra o
dragão.” Em I Tessalonicenses 4:16 temos a declaração de que os mortos
ressuscitarão quando ouvirem a “voz do arcanjo”. Em João 5:28 lemos que os
mortos ressuscitarão ao ouvirem “a Sua voz”.
O nome Miguel, em hebraico, significa “quem é como Deus?”, e é ao mesmo tempo
uma pergunta e um desafio. Considerando que a rebelião de Satanás era, na
verdade, uma tentativa de instalar-se no trono de Deus e ser “semelhante ao
Altíssimo”, o nome Miguel é muito apropriado para Cristo – o único semelhante ao
Altíssimo, e que assumiu a tarefa de vindicar o caráter de Deus, refutar as
acusações de Satanás e confrontar a ambição deste de ser igual a Deus.
Jesus, o eterno mediador
Os anjos ficaram assombrados com a revelação de que o arcanjo Miguel era o Filho
de Deus e “alegremente reconheceram a supremacia de Cristo, e, prostrando-se
diante dEle, extravasaram seu amor e adoração”.12 Mas o que estava Cristo
fazendo entre eles, como anjo? Antes que o Verbo Se manifestasse na carne e
habitasse entre os homens, Ele adotou a aparência de anjo e habitou entre os
anjos, assumindo pela primeira vez o Seu papel de mediador.
É preciso ter em mente que não só os seres caídos, mas também os não caídos têm
necessidade de um mediador entre eles e Deus, pois “há misteriosos abismos a
serem atravessados, mesmo onde o pecado não perpetrou a sua obra de ruptura nas
mentes criadas! Obviamente, um enorme ato de mediação é necessário, a fim de
cobrir as infinitas distâncias que inevitavelmente existem entre o Criador e
Suas criaturas”.13
Nem todos os seres celestiais contemplam a face de Deus, a não ser, talvez, em
ocasiões especiais, como a que já foi mencionada. Nem todos estão ao redor do
trono de Deus. Muitos vivem nos confins do Universo, a milhões de anos-luz de
distância, e precisam, portanto, de um mediador, de alguém que represente o
Criador, que lhes revele o caráter de Deus e lhes dê a conhecer a Sua vontade.
Isso era certamente o que Cristo fazia entre os anjos e outros seres que nunca
pecaram, e também o que veio fazer entre nós, através da encarnação.
Mas por que Deus não deixou isto tudo bem claro desde o início? Não teria Deus
induzido Lúcifer em erro, ao permitir-lhe pensar que a sua autoridade estava
sendo desrespeitada? Não, pois provavelmente este era o teste de lealdade, a que
todos os seres celestiais foram submetidos. O princípio celestial é o do
altruísmo. Portanto, quando o arcanjo Miguel foi convidado para o conselho
divino, Lúcifer devia ter reagido assim: “Que bom que Ele foi honrado, e não
eu.” Mas, infelizmente, Lúcifer falhou em seu teste. Ele permitiu que o egoísmo
tomasse conta dele e o pusesse a perder.
E por que Lúcifer não voltou atrás quando Deus revelou a verdadeira identidade
do arcanjo Miguel a todos os anjos? Diz-nos Ellen White que Lúcifer “quase
chegou à decisão de voltar; mas o orgulho o impediu disto”.14 Cristo lhe deu
oportunidade de voltar atrás, depois que ele se convenceu “de que não tinha
razão”. Mas o orgulho o impediu!
Assim, pois, o conflito entre Cristo e Satanás foi na verdade um conflito entre
o orgulho e a humildade, entre o egoísmo e o altruísmo. Lúcifer ambicionava a
glória de Deus, mas não o Seu caráter. Ele foi excluído da glória suprema,
porque se recusou a se humilhar, pois a glória divina envolve o humilhar-se a
ponto de abandonar o trono de glória e morrer pela criatura!
E o Espírito Santo?
Nenhuma menção é feita na Bíblia e nos escritos de Ellen White sobre a obra do
Espírito Santo antes da Criação. Ellen White diz apenas que “o Pai, o Filho e o
Espírito Santo deram-se a Si mesmos ao estabelecerem o plano da redenção”.15
Entretanto, como sabemos pela Palavra de Deus que uma de Suas atribuições é
“convencer o mundo do pecado, da justiça e do juízo” (João 16:8), podemos
imaginar que durante a rebelião de Lúcifer o Espírito Santo atuou no coração e
na mente dos anjos, incluindo o querubim cobridor, procurando convencê-los, “com
gemidos inexprimíveis” (Rom. 8:26), de que Lúcifer estava enveredando pelo
caminho do pecado e que Deus é justo.
O Espírito de Deus conseguiu convencer dois terços de anjos, mas um terço,
infelizmente, não Lhe deu ouvidos. Podemos concluir, portanto, que Lúcifer e
seus anjos pecaram contra o Espírito Santo e não puderam mais permanecer na
santa atmosfera do Céu.
No Antigo Testamento
O Antigo Testamento dá ênfase ao fato de que há um só Deus: “Ouve, Israel, o
Senhor nosso Deus é o único Senhor.” Deut. 6:4. “Assim diz o Senhor, Rei de
Israel, seu Redentor, o Senhor dos Exércitos: Eu sou o primeiro e Eu sou o
último, e além de Mim não há Deus.” Isaías 44:6.
Israel estava cercado por nações politeístas. Assim, a insistência do Antigo
Testamento em dizer que Deus é um só tinha por objetivo combater a idéia desses
deuses pagãos. Deus não queria que o Seu povo acreditasse que Ele fosse igual a
esses supostos deuses, geralmente constituídos por um deus superior, masculino,
sua esposa e filho e mais uma porção de deuses menores.
Por isso, Deus insistiu na Sua unidade e absoluta soberania sobre toda a
Criação. Mas “embora o Antigo Testamento não ensine explicitamente que Deus é
triúno, ele alude à pluralidade interna da Divindade. Por vezes Deus utiliza
pronomes e verbos no plural, tais como nestas expressões: ‘Façamos o homem à
nossa imagem e semelhança’ (Gên. 1:26); ‘Eis que o homem se tornou como um de
nós’ (Gên. 3:22); ‘Vinde, desçamos e confundamos ali a sua linguagem’ (Gên.
11:7)16.” Com quem Deus está falando? Só pode ser com os outros membros da
Divindade.
Entretanto, em Isaías 48:16 temos uma referência mais explícita à Trindade:
“Agora, o Senhor Deus [o Pai] Me enviou a Mim [o Filho] e o Seu Espírito [o
Espírito Santo]. A Trindade pode ser também inferida em referências separadas,
em vários textos e situações. Enquanto o Pai aparece sentado em Seu trono (Isa.
6:1, Ezeq. 1:26-28, Dan. 7:9-10), Jesus é o que muitas vezes aparece em forma
humana. O Senhor apareceu a Abraão, e quando este ergueu os olhos, viu três
homens de pé, em frente dele (Gên. 18:1 e 2). Abraão argumentou com Ele (Gên.
18:20-32), e depois, “fez o Senhor chover enxofre e fogo, da parte do Senhor,
sobre Sodoma e Gomorra” (Gên. 19:24). Jacó lutou com Ele (Gên. 32:22-30), Josué
se encontrou com Ele como “Príncipe do Exército do Senhor” (Jos. 5:13-15) e os
três companheiros de Daniel passearam dentro da fornalha de fogo ardente com Ele
(Dan. 3:25).
No Novo Testamento
A revelação da verdade é progressiva. Assim sendo, é no Novo Testamento que
vamos encontrar as melhores evidências sobre a doutrina da Trindade. Quando o
anjo Gabriel foi enviado a Maria, com o anúncio de que ela daria à luz um filho,
O qual deveria se chamar Jesus, ele mencionou os três membros da Trindade,
dizendo: “Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te envolverá
com a Sua sombra; por isso, também o ente santo que há de nascer será chamado
Filho de Deus.” Lucas 1:35.
Temos outra evidência notória quando Jesus foi batizado, “e o Espírito Santo
desceu sobre Ele em forma corpórea como pomba; e ouviu-se uma voz do céu: Tu és
o Meu Filho amado, em Ti Me comprazo” (Luc.3:22). Há várias outras referências,
como em Mateus 28:19, em que os crentes deveriam ser batizados “em nome do Pai,
e do Filho, e do Espírito Santo”; a bênção apostólica em II Coríntios 13:13, a
saudação de Pedro em sua primeira epístola (1:2), Judas 20 e 21, e vários outros
textos.
“Portanto, o Novo Testamento reconhece o Pai como Deus (João 6:27; Efés. 6:23; I
Ped. 1:2), a Jesus Cristo como Deus (João 1:1 e 18; 20:28; Rom. 9:5; Col. 2:2 e
9; Tito 2:13; Heb. 1:8; I João 5:20), e ao Espírito Santo como Deus (Atos 5:3 e
4; I Cor. 2:10 e 11; I Cor. 3:16).”17
Certa vez os judeus pegaram em pedras para apedrejar a Jesus porque Ele declarou
unidade com Deus (João 10:30-33). Notem que os judeus responderam dizendo: “Não
é por obra boa que Te apedrejamos, e sim por causa da blasfêmia, pois, sendo Tu
homem, Te fazes Deus a Ti mesmo.” Os judeus, portanto, entenderam perfeitamente
as palavras de Jesus, e reagiram à sua moda.
Outros textos que provam a Divindade de Jesus no Novo Testamento, são: João
3:13; 5:21 e 26; 8:23 e 58; 10:30 e 33; 17:5; I João 5:20; Rom. 9:5; Heb. 1:8;
Tito 1:3; 3:4; Col. 2:9; II Ped. 1:1.
O Espírito Santo – uma Pessoa
O Espírito Santo é mencionado na Criação da Terra, pairando sobre as águas (Gên.
1:2), habitando o coração de José (Gên. 41:38) e Josué (Núm. 27:18) e
transformando Saul (I Sam. 10:6). Davi, após o seu pecado, suplicou: “Não... me
retires o Teu Santo Espírito” (Sal. 51:11).18 A crença de que o Espírito Santo é
apenas a “força ativa de Deus” ou uma “influência”, e não uma Pessoa, pode ser
reprovada pelas seguintes evidências bíblicas:
Atos 5:3: Ananias e Safira mentiram ao Espírito Santo. Só se pode
mentir a um ser inteligente, que pode ser enganado e moralmente iludido. E o
verso seguinte deixa claro que o Espírito Santo é Deus.
Atos 13:1 e 2: “Disse o Espírito Santo: Separai-Me, agora, Barnabé e
Saulo para a obra a que os tenho chamado”.
Não costumamos citar palavras de seres impessoais, porque estes não falam. Aqui
é o Espírito Santo que chama, o que designa uma Pessoa detentora de
personalidade própria.
Enumeramos, a seguir, vinte características e qualidades pessoais do Espírito
Santo:
• Tem mente e vontade. Rom. 8:27.
• É tratado pelo pronome pessoal (Ele). João 16:14, Efés. 1:14.
• Citado entre outras pessoas. Atos 15:28: “Pareceu bem ao Espírito Santo e a
nós”.
• Tem conhecimento. I Cor. 2:11.
• Ensina. Luc. 12:12, João 14:26.
• Convence. João 16:8, Gên. 6:3.
• Impede. Atos 16:6 e 7.
• Concede, permite. Atos 2:4.
• Administra, distribui. I Cor. 12:11.
• Fala. Atos 10:19, 13:2, João 16:13.
• Toma decisões. I Cor. 12:11.
• Guia. João 16:13, Gál. 5:18.
• Anuncia. João 16:14 e 15.
• É entristecido. Efés. 4:30.
• Intercede. Rom. 8:26.
• Chama. Apoc. 22:17.
• Procura. I Cor. 2:10.
• Agrada-Se. Atos 15:28.
• É tentado pelo homem. Atos 5:9.
• Pode ser difamado e blasfemado. Mat. 12:31 e 32.19
Uma “força” ou “influência” não poderia ter tais características pessoais. Mas
os que crêem assim argumentam dizendo: Se o Espírito Santo é uma Pessoa, como é
possível que habite dentro de outra pessoa, como nos diz Paulo em I Cor. 6:19?
Ora, ninguém nega que Cristo é uma Pessoa. No entanto, o mesmo apóstolo Paulo
diz, em Efésios. 3:17: “E, assim, habite Cristo no vosso coração, pela fé.” Se
Cristo, sendo uma Pessoa, pode habitar em nosso coração, assim também o Espírito
Santo.
No adventismo
“A compreensão da doutrina da Trindade, entre os adventistas do sétimo dia,
surgiu após um longo processo de pesquisa, rejeição inicial e posterior
aceitação. Os primeiros adventistas não nutriam dúvidas quanto à eternidade de
Deus o Pai, à divindade de Jesus como Criador, Redentor e Mediador, e à
importância do Espírito Santo. Entretanto, eles não estavam inicialmente
convencidos de que Cristo existia desde os tempos da eternidade, ou que o
Espírito Santo é um Ser pessoal, e por isso rejeitaram a princípio o conceito da
Trindade. ... Outro argumento contrário era a interpretação errônea de que essa
doutrina ensinava a existência de três deuses.”20
Foi só em 1898, com a publicação do livro O Desejado de Todas as Nações, que os
adventistas compreenderam e aceitaram a doutrina da Trindade. Logo no início de
seu livro Ellen White abordou o assunto da preexistência de Cristo, dizendo:
“Desde os dias da eternidade o Senhor Jesus Cristo era um com o Pai.”21
Mas esta declaração não foi suficiente para esclarecer o que a Sra. White
pensava sobre a divindade de Cristo. Mais adiante, no mesmo livro, ao comentar a
ressurreição de Lázaro, ela escreveu uma frase que mudou a teologia
antitrinatariana dos adventistas: “Em Cristo há vida original, não emprestada,
não derivada.”22
Não houve tempo em que o Pai existisse e o Filho não. Como homem na Terra,
Cristo submeteu Sua vontade à vontade do Pai (João 5:19 e 30). Mas como Deus
existente por Si mesmo, Ele tinha poder para dar a Sua vida e poder para tornar
a tomá-la (João 10:18).
Essas afirmações chocaram a liderança teológica da igreja, na época. M. L.
Andreasen, um dos importantes autores e professores da Igreja, disse que o novo
conceito era tão diferente dos anteriores, que alguns líderes duvidaram que
Ellen White tivesse realmente escrito essas palavras. Em 1902 Andreasen fez uma
viagem à residência da Sra. White, na Califórnia, para investigar esse assunto.
E verificou que todas as citações sobre as quais pairavam dúvidas, haviam sido
realmente escritas pelo próprio punho de Ellen White.23
Os novos conceitos providenciados pelo livro O Desejado de Todas as Nações
levaram os adventistas de volta à Bíblia, e através de minuciosa pesquisa, eles
descobriram grande quantidade de informações sobre a Trindade que não haviam
notado antes.
Graças a isso, nós hoje temos a alegria de crer que Deus não é um Ser solitário,
mas uma família, composta por Pai, Filho e Espírito Santo. Uma família feliz,
que serve de modelo para todas as famílias na Terra, porque é unida pelos
sagrados laços do amor.
Finalmente, poderíamos perguntar: Que importância tem a Trindade para a nossa
salvação? Faz alguma diferença se eu acreditar que apenas o Pai é Deus? Essas
perguntas poderiam ser substituídas pela seguinte: É importante ter uma noção
correta de Deus? É óbvio que sim. Se você acreditar, por exemplo, que Deus é um
tirano, cruel, que deixará os pecadores não arrependidos queimando eternamente
no inferno, terá mais dificuldade para amá-Lo, não é verdade?
Assim também, quando você olha para si mesmo, pensa nas suas deficiências, e se
sente inseguro quanto à salvação, a aceitação da Trindade, e especialmente do
fato de que Jesus é Deus e morreu por nós, expulsa para sempre esses temores.
Porque nos assegura que a salvação é obra de Deus, e não nossa.
Em outras palavras, a Trindade nos mostra que Deus não fica sentado em Seu trono
enquanto manda outro, que não é Deus, para se humilhar e morrer em favor do
homem. Não! O próprio Deus Se fez carne, viveu, morreu, e agora vive novamente.
Enquanto Deus o Pai permaneceu em Seu trono para governar o Universo, Deus o
Filho assumiu a forma humana, tendo sido gerado por Deus o Espírito Santo, O
qual agora está presente em todo lugar para nosso benefício.
Isso faz com que a obra redentora de Deus seja um trabalho de equipe, o trabalho
do Pai, Filho e Espírito Santo, unidos e interessados em nossa salvação. E se
aceitamos a salvação gratuita que o Deus triúno oferece, somos recebidos nessa
maravilhosa família; e um dia estaremos para sempre juntos.
Referências:
1 Beatrice S. Neall, “The Trinity – Heaven’s First
Family”, Elder’s Digest, number 10, pág. 9.
2 Patriarcas e Profetas, pág. 51.
3 O Grande Conflito, pág. 677.
4 História da Redenção, pág. 13.
5 Idem, págs. 13 e 14.
6 Patriarcas e Profetas, pág. 40.
7 Carsten Johnssen. How Could Lucifer Conceive the Idea of a Rivalry With Jesus
Christ? Andrews University (sem data), pág. 22.
8 Patriarcas e Profetas, pág. 36.
9 Idem, pág. 197.
10 Idem, pág. 311.
11 Primeiros Escritos, pág. 164.
12 Patriarcas e Profetas, pág. 36.
13 Carsten Johnssen, Op. Cit., págs. 19 e 20.
14 Patriarcas e Profetas, pág. 39.
15 Conselhos Sobre Saúde, pág. 222.
16 Nisto Cremos, pág. 41.
17 Alberto R. Timm, “A Trindade Sem Mistério”, Decisão, agosto de 1985, pág. 24.
18 Beatrice S. Neall, Op. Cit., pág. 10.
19 Arnaldo B. Christianini, Radiografia do Jeovismo, págs. 84 e 85.
20 Jerry Moon, “Heresy or Hopeful Sign?”, Adventist Review, 22/04/99, pág. 9.
21 O Desejado de Todas as Nações, pág. 19.
22 Idem, pág. 530.
23 Jerry Moon, Op. Cit., pág. 11.
Fonte:
http://www.igrejaadventista.org.br/revistaministerio/MA_2003/teologia.asp
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