Adventistas do 7º Dia ou da 7ª Noite? – Parte 2
Gostaria de agradecer aos irmãos que escreveram e deram sua contribuição à questão que levantei relativa ao tempo de início e fim do dia de sábado. Quero aproveitar esta oportunidade para dizer que este assunto não foi sugerido por mim, mas tem sido a pregação de uma denominação chamada ‘International Congregation of Yahweh’ que tem entre suas doutrinas a rejeição do dogma da trindade, a guarda do sábado definido da maneira como apresentei no estudo em questão, o ensino de que o ato de dizimar não se aplica a dinheiro, mas somente a produtos agro-pecuários, entre outras doutrinas. A quem se interessar, sem querer fazer nenhuma apologia a essa denominação, o endereço contendo a pregação dela encontra-se em http://www.icyahweh.org. O convite para contribuir com mais argumentos bíblicos ainda está estendido a todos e também àqueles que ainda não enviaram asserções relativas ao assunto. Com isto, estaremos confirmados naquilo em que realmente cremos. O importante a se deixar claro aqui, não é a questão legalista de cumprir a lei no espírito egoísta dos fariseus de antigamente, o que era uma prática explicitamente condenada por Jesus, mas sim, definir uma razão clara e estabelecida à luz das Escrituras sobre como deve ser a nossa adoração no sétimo dia. Este assunto, como qualquer outra questão bíblica, nunca poderá ser esgotado. Sempre existirão gemas do saber a serem descobertas ao pesquisador que não se contenta com somente um exame superficial. Tal comportamento nos confirma como indivíduos na posição adventista do sétimo dia estabelecida pelos pioneiros.
Sobre a questão da tarde e manhã: Deus criou a luz e fez a separação entre a luz e as trevas. E Deus chamou à luz Dia e às trevas Noite. Mas, segundo o relato em Gênesis, é dito a seguir que “houve tarde e manhã - o primeiro dia” Gen. 1:5. Logicamente, se o primeiro dia compreendesse somente a parte clara do dia, o relato deveria conter a seguinte ordem na cronologia dos eventos: e houve manhã e tarde - o primeiro dia. Mas como é colocada a ordem inversa dos eventos, a pergunta que surge é: o relato “houve tarde e manhã – o primeiro dia” é importante no entendimento daquilo que Deus já havia definido como sendo Dia no mesmo versículo? Ou, qual é o ensinamento que é encerrado nas palavras tarde e manhã? O termo tarde, conforme lido em Deut. 16:3, “... ali sacrificarás a tua páscoa à tarde, ao pôr do sol, ao tempo determinado da tua saída do Egito”, é claramente identificado nesta passagem com o evento do pôr do sol. Deste modo, a tarde ocorre no pôr do sol e marca o início do período chamado Noite. Da mesma forma, também a manhã (amanhecer) marca o início do período chamado Dia. A Noite e o Dia, juntos e nesta ordem, comporiam então o período de tempo de 24 horas (tempo em que a Terra completa uma volta em torno de seu próprio eixo), que, segundo um entendimento geral, seria denominado também pela palavra dia. No relato bíblico a palavra dia é qualificada (ou quantificada) por um numeral ordinal dando a idéia de elementos em uma seqüência - primeiro dia, segundo dia, etc... Ambos os períodos (Noite e Dia) fazem assim parte da semana e formam juntos os “dias” da semana (sendo o sábado o sétimo deles). Mas, neste entendimento, não estaríamos reunindo aquilo que Deus explicitamente separou? Pois também é relatado “... e viu Deus que a luz era boa, e fez separação entre a luz e as trevas”. Noutra ocasião, o apóstolo Paulo também declarou: “Não vos prendais a um jugo desigual com os incrédulos; pois que sociedade tem a justiça com a injustiça? ou que comunhão tem a luz com as trevas? Que harmonia há entre Cristo e Belial? ou que parte tem o crente com o incrédulo?” 2 Cor 6:14 e 15. É certo que as profecias que dizem respeito à morte do Messias (Setenta semanas), à purificação do Santuário (2300 tardes e manhãs), entre outras que fixam períodos de tempo, não poderiam ser entendidas dissociadas da contextualização noite e dia (tarde e manhã) perfazendo 24 horas. Mas no contexto dessas profecias, esta noção não é negligenciada. Esta noção traz em si mesma a idéia da continuidade dos eventos Noite e Dia - depois de cada noite (com 12 horas em média) vem o dia (com 12 horas em média) perfazendo 24 horas.
Sobre a questão de trabalhar à noite: O quarto mandamento nos diz: “Lembra-te do dia de sábado para o santificar. Seis dias trabalharás e farás todo o teu trabalho.”Ex. 20:8 e 9. Entendendo à maneira DIA = LUZ, estaríamos impedidos de trabalhar durante à noite? Deus teria ordenado ao homem somente trabalhar durante os seis dias – períodos de luz – excluindo a noite como um período apropriado para se efetuar qualquer obra? Não vejo como uma proibição do trabalho à noite. Mas entendo como um conselho para realizá-lo durante o dia [minha opinião pessoal]. Mais adiante Deus reserva uma benção somente para o dia de sábado, não para a noite dos outros dias, e proíbe qualquer atividade nas horas do dia do sábado – “... nesse dia não farás trabalho algum... porque em seis dias fez o Senhor o céu e a terra e no sétimo descansou... por isso o Senhor abençoou o dia do sábado, e o santificou” Ex. 20:10 e 11. Ele reservou as horas dos outros dias e não da noite para se realizar o trabalho. As horas da noite foram feitas para o repouso, mas não há nenhuma referência à santificação das horas da Noite ou uma ordem expressa para não realizar trabalho nelas. No entanto, qualquer um que queira ter saúde não pode negligenciar a necessidade do corpo do repouso noturno.
Textos extra-bíblicos que apóiam a tradição DIA = Pôr-do-sol a Pôr-do-sol: Buscando em livros apócrifos e nas obras de Flávio Josefo que apesar de não serem considerados inspirados, são reconhecidamente registros históricos que também podem trazer luz sobre questões bíblicas, verifiquei um fato relevante registrado no livro Guerras Judaicas, capítulo 9:12, escrito por Flávio Josefo, onde é citado de forma bem enfática um costume mantido pelos judeus e que também é confirmado pelo relato apresentado em Neemias 13:19. Este costume acontecia no tempo do próprio Flávio Josefo, que quase foi contemporâneo de Cristo, viveu de 37 d.C a 101 d.C. Segundo o que está lá registrado, existia uma torre erigida sobre o topo da “Pastophoria” [não encontrei uma tradução para esta palavra] em Jerusalém, onde um dos sacerdotes dava o sinal com uma trombeta anunciando o início do sétimo dia, no pôr do sol, para que encerrassem os trabalhos, como também na tarde de sábado, quando o dia já era findo, dando aviso ao povo para o momento em que eles poderiam retornar a trabalhar novamente. Nesse relato, é verificado ser esta uma tradição que vem de uma época muito remota, na pior das hipóteses, imediatamente após o tempo em que Cristo esteve na terra, quando Flávio Josefo escreveu tais palavras.
Conclusão: Quanto à questão do sábado, continuo celebrando à maneira dos pioneiros – de pôr-do-sol a pôr-do-sol. Não quero defender mudanças na observância do sábado, na maneira como foi estabelecida pelos pioneiros e o conselho que eles deram é que não devemos mover um alfinete dos pontos de doutrina estabelecidos à custa de muito estudo e oração. Alguns poderão achar que eu estaria aqui fazendo o papel de advogado do diabo fomentando mudanças em questões já estabelecidas e fechadas há muito tempo. Não seria este o ponto. Quero refutar os argumentos levantados pela denominação supra citada e peço ajuda aos irmãos, dando a sua contribuição a respeito, à luz das Escrituras. Ou será que não temos colocado o fator tradição acima do que as Escrituras realmente nos apresentam? Que esta questão nos motive a buscar mais razões nas Escrituras para justificar nosso proceder. Pois vai chegar o tempo e não está distante, em que teremos de responder sozinhos por nossos atos diante de tribunais, justificando-os apenas à luz da Palavra de Deus, e que muitos aceitarão a verdade ao ouvirem nosso testemunho. Quero ainda testemunhar que melhor do que guardar a verdade somente para si mesmo é compartilhá-la aos nossos semelhantes. Juntos como um povo, dando individualmente o testemunho daquilo que aprendemos nas Escrituras, e nos unindo em torno da Verdade, é que teremos maiores condições de crescer nas riquezas do conhecimento que Deus coloca ao nosso alcance através de sua Palavra. Um grande abraço a todos e que Deus vos abençoe. Paulo, Curitiba, PR. Leia também: |
|