Dízimo: O Tesouro de Deus na Lata de Lixo da Paulistana

Queridos irmãos, estou enviando em anexo o Balanço Patrimonial da Associação Paulistana do primeiro trimestre de 1999, para que seja divulgado entre os irmãos da igreja.

Analisando este balanço, cheguei à triste conclusão que o tesouro de Deus está sendo jogado no lixo.

Neste balanço, podemos constatar como são mal administrados os recursos de Deus, que são fielmente devolvidos pelos irmãos da Igreja.

Não sou economista, mas qualquer um que faça uma análise mesmo superficial constata alguns absurdos na aplicação dos recursos que deveriam ser canalizados para a pregação do evangelho.

Abaixo segue uma singela análise sobre o balanço que foi fornecido à mesa administrativa da Associação Paulistana referente ao primeiro trimestre de 1999. A cópia dos documentos originais está anexa em arquivo compactado e pode ser visualizado, após a descompactação, com o programa Acrobat Reader, da Adobe.

Em um trimestre (Janeiro a Março) temos o quadro abaixo:

Total de Receitas

R$ 2.438.369,40

Dízimos,ofertas,doações,outras

 

 

 

Total de Despesas

R$ 2.278.970,66

/////////////////////////////////////////

 

      1.134.510,12

Despesas com pessoal

 

          220.414,09

Despesas administrativas e Gerais

 

            60.290,36

Departamentos internos

 

            60.945,00

Evangelismo

 

          238.606,65

Outorgamentos

 

           564.202,51

% do Dízimo enviado órgão superior

 

                     0,00

Assistência Social

(Este demonstrativo se encontra na pág. 2 do Balanço Denominacional Interno)

Analisando as despesas verificamos que o maior percentual do dízimo é gasto com pessoal.

Neste período foi gasto com pessoal R$ 1.134.510,12.

Vejamos como foi gasto este montante. Para facilitar a análise, agrupei as despesas por grupos.

Grupo 1

 Salários

R$ 107.184,00

13º salário

R$   12.407,84       

Diferença de Salário Família

R$     2.711,09

Férias

R$     8.094,03

Abono de Férias

R$     2.504,38

Indenizações

R$     9.706,92

FGTS

R$   18.214,27

PIS

R$    2.278,62

INSS Cota Patronal

R$    63.332,00

Reembolso de Salários

R$    1.560,28  (-)

Reembolso de encargos sociais

R$    1.174,00 (-)

 

 

Total

R$ 235.253,87

Grupo 2

Gratificações

R$ 3685,67

Bônus regional

R$ 179,03

Gratificação anual

R$ 24.671,65

Descanso anual

R$ 8.385,50

Bônus Regional

R$ 5.095,00

Total

R$ 42.016,85

Grupo 3

Auxílio despesas locativas

R$ 55.515,45

Utilidade IRRF Despesas Locativas

R$ 11.088,16   

Auxílio aquisição da casa própria

R$ 27.437,52

Auxílio reinstalação

R$ 18.700,00

Auxílio despesas locativas

R$ 224.284,96

Auxilio IRRF Despesas locativas

R$ 57.359,47

Auxílio Manutenção

R$ 237.194,15

Reembolso auxílio manutenção

R$ 139.231,84(-)

Ajuda de custo mudança

R$ 5.345,00

Reembolso de ajuda de custo

R$ 19.108,89  (-)

Total

R$ 478.583,98

Grupo 4

Auxílio despesas médicas

R$ 5.936,88

Convênio saúde

R$ 2.850,00

Proasa Obreiros

R$ 43.312,50

Auxílio despesas médicas

R$ 24.479,05

Total

R$ 76.578,43

Grupo 5                                             

Utilidade bolsa de estudos – Obreiro

R$ 3.358,04

Utilidade Educacional – Filhos

R$ 4.624,13

Auxílio Bolsa de Estudos obreiro

R$ 7.011,86

Auxílio bolsa educacional – Filhos

R$ 19.435,01

Total

R$ 34.429,04

Grupo 6

Utilidade manutenção veículo

R$ 2.031,17

Auxílio manutenção veículo

R$ 20.155,77

Ajuda de custo Veículo

R$ 81.662,45

Garantia de Carros Obreiros

R$ 20.328,00

Total

R$ 124.177,39

Grupo 7

Diárias

R$ 2.223,10

Darias

R$ 9.703,10

Ajuda de custo viagens

R$ 18.735,30

Total

R$ 30.661,50

Grupo 8

Vale refeição

R$ 26.137,54

Cesta básica

R$ 845,00

Total

R$ 26.982,54

Grupo 9

Auxílio reembolso INSS

R$ 8.002,67

Contribuição IAJA

R$ 17.356,64

Contribuição IAJA – Fundo de Jubilação

R$ 36.048,39

Total

R$ 61.407,70

Grupo 10

Ajuda de custo equipamento profissional

R$ 7.214,26

Total

R$ 7.214,26

Grupo 11

Quota PAI

R$ 17.182,88

Total

R$ 17.182,88

Esta discriminação de despesas está na página 14 do Balanço Denominacional Interno.

Podemos verificar uma série de gastos que não condizem com um orçamento administrativo, que deveria estar comprometido com o objetivo de promover a pregação do evangelho.

Uma grande parcela destes recursos é gasta para manter uma casta eclesiástica com uma série de benefícios que não condizem com a realidade do mundo em que os irmãos leigos vivem e trabalham  para suster a obra e promover através da pregação do evangelho a breve volta de Cristo.

Somos tratados como ovelhas que são tosquiadas mensalmente de seus recursos para manter uma elite religiosa que vive do tesouro de Deus, e utiliza de seus privilégios religiosos para favorecimento próprio,esquecendo-se que diariamente muitos irmãos passam por privações para obter seu sustento diário, do qual dizima fielmente o seu parco ganho ,acreditando que o mesmo será empregado criteriosamente na causa de Deus.

Voltando à análise do balanço observamos o seguinte :

  • No Grupo 1 da nossa análise observamos os gastos comuns com salários e encargos que todas as empresas e entidades apresentam no seu balanço.

Foi gasto um total de R$ 235.253,87. 

  • No Grupo 2 – Gratificações,Bônus Regional,Gratificação anual, descanso anual.

Gasto Total de R$ 42.016,85

Por que distribuir gratificações se numa entidade religiosa que não gera lucros por incentivos monetários?

  • Grupo 3

Gasto Total de R$ 478.583,98

Este é um dos maiores absurdos que podemos encontrar neste balanço, trimestralmente é gasto este montante com despesas de locação, imposto de renda sobre despesas locativas, aquisição de casa própria,auxílios com despesas locativas,reinstalação,ajuda de custo de mudanças,etc.

Se fizermos uma projeção anual destes gastos teremos uma despesa anual de R$ 1.914.335,92.

Quantos prédios, condomínios fechados ou igrejas poderiam ser construídos anualmente com esses valores.

Somos ensinados e ensinamos outros que o dízimo não deve ser utilizado na construção e manutenção de igrejas, mas por este balanço o dízimo pode ser desperdiçado em aluguéis que vão para o bolso dos proprietários de imóveis que nem mesmo são cristãos ou então vão para o bolso de obreiros e pastores que cobram aluguéis para morarem em suas próprias casas,que foram compradas com recursos de empréstimos tomados á própria associação Paulistana, como vemos nas páginas 8 e 9 do Balanço Denominacional Interno.

Um agravante nesta situação é que estes gastos são realizados por anos a fio lesando a Igreja e a privando de recursos que deveriam ser canalizados para o evangelismo e crescimento de igrejas e grupos em nossa região. 

  • Grupo 4

Neste item observamos gastos com despesas médicas.

Pelo que se deduz foram gastos R$ 30.415,93 com auxílios médicos, então porque pagar R$ 46.162,50 em convênios saúde e Proasa.

O dízimo é para esta finalidade?

  • Grupo 5

Gastos com bolsas de estudo R$ 34.429,04

O dízimo pode ser utilizado para este fim?

  • Grupo 6

Observamos gastos com manutenção de veículos,auxílio manutenção de veículos,ajuda de custo de veículo ,seguros para carros de obreiros.Gastos de R$ 103.849,39. Este é o destino apropriado do dízimo?

A maioria dos gastos realizados pela instituição não têm sentido na atual conjuntura econômica, os benefícios oferecidos a obreiros, pastores e funcionários consomem recursos que deveriam ser aplicados nas igrejas, onde efetivamente é pregado o evangelho.

A Obra deveria se adequar aos modelos de administração que se ajustem a realidade e conjuntura econômica do país e da maioria dos membros que  compõe a igreja.

Não sou contra pastores, obreiros e funcionários terem uma boa condição financeira, sou contra o desperdício e a falta de critério na aplicação dos recursos colocados nas mãos das pessoas que foram eleitas para administrar os bens de Deus.

Da maneira que estão, as associações se tornaram grandes elefantes brancos que consomem uma grande quantidade de recursos, tornando o custo-benefício extremamente alto para Igreja.

Acredito que os leigos deveriam influenciar mais as decisões que envolvem a administração dos recursos financeiros.

Infelizmente não temos na igreja nem um instrumento administrativo que possamos utilizar para influenciar as decisões que são tomadas pelos dirigentes das associações.

As mesas administrativas que são realizadas são verdadeiros teatros onde todas as decisões já vêm prontas para serem aprovadas, o membro leigo não têm representatividade alguma nessas sessões administrativas.

Mesmo a prestação de contas que deveria ser feita para as igrejas nunca é realizada pelas associações.Nas igrejas somos orientados a prestar contas , junto ao membro,para que tudo seja transparente quanto ao destino dos recursos doados. Por que as associações não fazem o mesmo.

A resposta está neste balanço : gastos absurdos com aluguéis e despesas locativas, financiamento de casas, financiamento de carros, pagamento de seguros de automóveis, auxílio educação, assistência médica ( 2 planos) , aposentadorias(2 planos), empréstimos para instituições que deveriam gerar seus próprios recursos,etc.

Agora qual a parcela é aplicada em evangelismo e assistência social?

Na pagina 2 do Demonstrativo  vemos os itens :

A24 – Evangelismo  – R$ 60.945,96

A27 – Assistência Social  - R$ 0,00

Veja alguma coisa não está certa.

Quando aprendemos na igreja que o destino do dízimo é para prover a manutenção do evangelho e vemos este balanço chegamos à conclusão que nossa liderança prega uma coisa e pratica outra, há um desvio daquilo que a doutrina adventista nos ensina.

Talvez os irmãos que lerem esta análise questionem porque divulgar um balanço de 3 anos atrás (1999), mas neste período tive a esperança que nossos líderes tomassem atitudes que mudassem esta situação, mas infelizmente temos constatado uma total indiferença das associações com a situação da maioria das igrejas e acredito que o perfil deste balanço não mudou.

Em algumas igrejas presenciamos cenas lastimáveis de tesoureiros implorando aos irmãos que doem mais de seus recursos para manutenção dos templos. Não existe mais planos de mordomia, hoje se passa cofrinhos em forma de igrejas, nos horários da escola sabatina ou antes dos cultos para que se possam ter recursos para a manutenção da igreja.

Analisando um pouco mais o balanço vemos algumas operações financeiras incompatíveis com o destino que é atribuído ao dízimo.

Na página 8 do Balanço Denominacional Interno  vemos no

item A03 – Contas a receber, um total de R$ 1.235.235,19.

Além das ajudas e auxílios para diversos fins a Associação ainda empresta recursos para os seguintes fins:

Adiantamento para aquisição de casa própria

R$   62.340,00

Adiantamento para aquisição de veículo

R$  11.715,50

Adiantamentos para empregados

R$ 28.731,00

Adiantamentos religiosos

R$ 81.671,93

Para que seria adiantamentos religiosos ?

Concluindo, gostaria de deixar claro que meu intuito é tentar promover uma discussão sobre o poder de decisão, que hoje a classe pastoral e os obreiros têm sobre o destino da igreja, que é absoluto e incontestável, mas será que é o melhor para a igreja?

Nossa igreja é fundada sobre a pedra angular que é Cristo. Em segundo lugar, sobre o conceito de democracia representativa ou seja alguns são eleitos pela maioria para dirigir os rumos da igreja.

Infelizmente este processo dentro da igreja não vem sendo aplicado a muito tempo.Precisamos lembrar que esta igreja nasceu e se tornou o que é hoje devido a dedicação,esforço e amor dos irmãos leigos que fundaram a igreja e formaram a classe pastoral ,que hoje administra as instituições adventistas .Esta classe dirigente tem se distanciado cada vez mais dos ideais e objetivos dos irmãos leigos. Muitos pastores e obreiros , com raras exceções, tornaram-se profissionais da religião. O membro da igreja é tratado hoje como um mero problema administrativo, não existe mais preocupação  pela sua vida espiritual , se tornou apenas um número dentro da igreja. 

Precisamos lembrar que 90% dos irmãos estão nas igrejas e não nas associações .É na igreja que se prega o evangelho,é lá que se recebe o aflito,o carente, o abandonado,o sedento da palavra de Deus . Mas a maioria das igrejas não consegue cuidar de seus membros, não têm recursos porque todos eles são drenados , pelas associações que administram sem critérios e em prol de uma classe.

As igrejas estão em um processo lento de deterioração e estagnação por não terem condições de acolherem novos membros.

O que podemos fazer para mudar esta situação?

Vamos continuar sendo coniventes com o erro , enganando nosso próprio coração com o velho pensamento:“Deus cobrará deles pelo que fizeram de errado” ?

A Bíblia é bem clara quanto a nossa responsabilidade de admoestar nossos irmãos quando estão no erro, ela diz :

Mateus 18

“15 Ora, se teu irmão pecar, vai, e repreende-o entre ti e ele só; se te ouvir, terás ganho teu irmão;

16 mas se não te ouvir, leva ainda contigo um ou dois, para que pela boca de duas ou três testemunhas toda palavra seja confirmada.

17 Se recusar ouvi-los, dize-o à igreja; e, se também recusar ouvir a igreja, considera-o como gentio e publicano.”

Aprendemos que enquanto tivermos condições para resolvermos algum problema Deus nos dá subsídios para tal. Ele só atua quando nos é impossível solucionar tal situação, por isso Ele é chamado o Deus do impossível.

Aos irmãos que receberem estas linhas e o Balanço denominacional anexo (documento PDF) analisem com cuidado e isenção e me enviem seu parecer, muitos de nossos irmãos são especialistas nas áreas econômica, contábil e administrativa , e muito mais qualificados do que eu para opinar sobre esta questão.

Que Deus esteja conosco.

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