Você Sabe a Diferença entre o Perdão Adventista e o Perdão Evangélico?

 

Comentários Adicionais da Lição 1, de 5 de abril de 2003

Os nossos comentários não têm intenção alguma de substituir a Lição da Escola Sabatina, que é muito boa e proveitosa, e nós a recomendamos encarecidamente. Nosso propósito é contribuir com os aspectos singulares a respeito do perdão de Deus como apresentado na mensagem da justiça de Cristo, de 1888. Algumas vezes, estas verdades que Ellen White qualificou como "preciosa mensagem", não possuem destaque nas lições.

Ao começar o trimestre, é bom que prestemos atenção aos ensinos bíblicos relacionados com o perdão:

(1) O divino perdão dos pecados não é uma mera forma de desculpá-los, não é simplesmente um alívio de nossos dolorosos sentimentos de culpa. É mais que um remédio psicológico. O perdão de Deus tira efetivamente o pecado do coração, de forma que a partir de então nós o aborrecemos ("inimizade porei entre sua semente e a semente dela..."). O autêntico perdão produz aversão pelo próprio pecado.

Este é o significado da palavra grega traduzida como "perdão" (aphesis). Ela é composta de duas partículas: "a", que é a negação ou ausência de algo, e "phesis" (ou "phero"), que significa "levar". É parecido com despachar ou despedir. Transmite a idéia de remissão, livramento. Não se trata meramente de esquecer ou passar por cima, mas de eliminar algo, de libertar alguém de alguma coisa. É muito importante compreender isso!

Freqüentemente, achamos que o objetivo de Deus ao perdoar os pecados é uma mera desculpa por parte dEle, o livramento do castigo, algo como é feito pelo bondoso vovô, quando o seu neto comete alguma travessura. Erroneamente imaginamos Deus dizendo: "Na verdade pecado não é tão mau assim. Eu lhe perdôo. Sei que era inevitável que você pecasse, então pode ficar tranqüilo. Da próxima vez que pecar, simplesmente lembre-se que tem que vir de novo, e será perdoado outra vez. Mantenha a sua conta em dia confessando-se sempre antes de dormir e procurando o perdão. Dessa forma, se morrer, você tem o céu garantido..."

Essa é a forma em que a maior parte dos membros de uma igreja popular compreende o perdão de Deus. Para eles, perdão não significa tirar, remover o pecado. Entretanto, o perdão de Deus é muito mais abrangente do que isso. Precisamos compreender o imenso poder do perdão. O seu limitado conceito está baseado na idéia errada de que é Deus quem nos condena. Segundo ela, basta com uma mudança na atitude de Deus diante de nós (quando temos fé), para esquecer da nossa condenação. Não é assim, porque não é Deus quem nos condena. Deus nunca nos condenou; Ele é quem nos justifica! Deus não nos condena mas sim condena o nosso pecado. Portanto, só podemos ficar livres da condenação ao ficar livres do pecado que nos condenava. Deus nos livra da condenação, não mudando a Sua atitude para conosco (Ele não necessita disso: a Sua atitude sempre foi de amor perdoador). O que Ele faz é produzir uma mudança em nós.

(2) Deus concedeu aos adventistas do sétimo dia uma idéia totalmente diferente a respeito do Seu perdão. Significa o livramento do próprio pecado. O perdão não significa retirar a natureza pecaminosa com a que nascemos, visto que o próprio Jesus a tomou sobre Si, e "condenou ao pecado na carne" (Romanos 8:3). Somente quando Ele retornar nas nuvens dos céus que o povo de Deus irá experimentar a eliminação da natureza pecaminosa, e passa a ter uma carne impecável. O que o perdão de Deus retira é o nosso ceder aos desejos da carne. Vencemos como Cristo venceu: "Ao que vencer lhe concederei que se assente comigo no Meu trono; assim como Eu venci, e Me assentei com Meu Pai no Seu trono" (Apocalipse 3:21). Isso significa que condenaremos o pecado em nossa carne, que é semelhante à carne que Ele mesmo tomou (Romanos 8:3).

Isso não tem nada a ver com o que é rotulado de modo negativo como "perfeccionismo". A idéia de vencer completamente o pecado muitas vezes é referida como impossível, desnecessária e fanática. O que as pessoas que pensam assim estão fazendo é mergulhar na confusão dos conceitos atuais próprios dos evangélicos guardadores do domingo (a respeito do perdão). O que Deus quer realizar agora mesmo, é indicado pelo versículo: "Para que a justiça da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito" (Romanos 8:4). É um engano ver isso como um programa de obras legalistas baseadas no medo.

Tito 2:11 e 12 descreve o seu resultado prático: "A graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens, ensinando-nos que, renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas, vivamos neste presente século sóbria, justa e piamente". Isso é "condenar o pecado na carne"!

Desde 1844 estamos vivendo no cósmico Dia da Expiação. Isso é o que a própria expressão indica: um tempo de completa reconciliação, de completa comunhão ou unidade com Deus, através do sangue derramado de Cristo. A verdadeira doutrina do perdão dos pecados está incluída na grande verdade da purificação do santuário, verdade que é exclusiva da justificação pela fé, a "mensagem do terceiro anjo em verdade".

Tornar a nossa mente uma com a de Cristo é o resultado do claro ensino sobre a justiça pela fé, verdade que possui o seu fundamento no ensino dos Reformadores do século XVI, mas que vai muito além do que eles foram capazes de compreender em seus gloriosos dias. É uma compreensão inclusive mais clara do que Paulo e os apóstolos puderam ter. É uma verdade que prepara a um povo, não simplesmente para a morte, como aconteceu por séculos desde o martírio de Estêvão, mas prepara para a translação, para nos encontrarmos com Cristo sem passar pela morte. Nós somos aqueles que ficarão "vivos para a vinda do Senhor", que "seremos arrebatados juntamente" com os ressuscitados e "estaremos [para] sempre com o Senhor" (I Tessalonicenses 4:15-18).

Isso é o que Deus desejava que fosse realizado pela "preciosa mensagem" dada em 1888, e assim o teria ocorrido se não tivesse sido resistida, e "em grande medida" rejeitada, mantido afastada da igreja e do mundo (Mensagens Escolhidas, vol. I, pág. 276). Podemos estar certos de que o inimigo de Deus quer asfixiar essa verdade, pois este é o grande clímax do conflito dos séculos entre Cristo e Satanás. Mas a verdade é mais forte que o engano, e prevalecerá nos nossos dias.

O perdão dos pecados é a "verdade presente" neste tempo do Dia da Expiação, é o cancelamento final dos pecados, um aspecto que não é muito destacado pela Lição da Escola Sabatina. Os pecados são perdoados no momento em que são confessados, e através do Espírito Santo recebemos o dom do arrependimento. Em um sentido objetivo, já fomos perdoados por Cristo na cruz, quando Ele clamou: "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem" (Lucas 23:34); mas em um sentido subjetivo, experimentamos o perdão dos pecados quando os nossos corações recebem o dom que só pode ser concedido por Deus: "Deus com a Sua destra O elevou [Cristo] a Príncipe e Salvador, para dar a Israel o arrependimento e a remissão dos pecados" (Atos 5:31).

E mais ainda: os pecados são apagados no juízo que antecede o fim do tempo da graça. É uma obra descrita em Apocalipse 7:1-4, uma obra de selamento (ver também o cap. 14:1-6). O resultado do selamento é o seguinte: "Eles não se contaminaram com mulheres; porque são virgens. Estes são os que seguem o Cordeiro para onde quer que vá. ... E na sua boca não se achou engano; porque são irrepreensíveis diante do trono de Deus" (cap. 14:4 e 5). Eles se vestiram de "linho fino, puro e resplandecente; porque o linho fino são as justiças dos santos [a justiça comunicada de Cristo]" (cap. 19:8). Significa uma confirmação na verdade, de forma que nada nem ninguém possa nos mover dela. Algumas vezes, recebemos o perdão dos pecados para voltar a acariciar esse pecado em nosso coração. Quando isso acontece, fica demonstrado que nunca o pecado foi realmente perdoado, no sentido de ter sido retirado. No cancelamento dos pecados, estes ficam para sempre condenado na carne. Esse julgamento investigativo é necessário antes que Cristo venha, pois tem que determinar quem:

(a) ressuscitará dos mortos na primeira ressurreição, e

(b) quem, dentre os que estão vivos, serão transladado na vinda de Cristo, tal como aconteceu com Enoque e Elias. Em Lucas 20:35 e 21:36 podemos ver alusões feitas por Cristo a ambas as categorias de santos redimidos; ressuscitados e vivos, respectivamente: "os que forem havidos por dignos de alcançar o mundo vindouro, e a ressurreição dentre os mortos, nem hão de casar, nem ser dados em casamento"; "vigiai, pois, em todo o tempo, orando, para que sejais havidos por dignos de evitar todas estas coisas que hão de acontecer, e de estar em pé diante do Filho do homem".

O cancelamento dos pecados foi sempre uma parte essencial do ensino adventista. Não deveria ser esquecido, precisamente no momento mais importante da sua aplicação. Durante estes 13 sábados, em adição aos maravilhosos textos da Lição da Escola Sabatina, iremos dar ênfase à purificação dos pecados, conforme a obra realizada por nosso grande Sumo Sacerdote desde o ano de 1844. -- Adaptação: Matheus. E-mail: EvangelhoEterno@aol.com.


Comentário do Leitor

Gostei muito do texto: "Você Sabe a Diferença entre o Perdão Adventista e o Perdão Evangélico?"

Só quero fazer um comentário na parte que diz:

"Algumas vezes, recebemos o perdão dos pecados para voltar a acariciar esse pecado em nosso coração. Quando isso acontece, fica demonstrado que nunca o pecado foi realmente perdoado, no sentido de ter sido retirado. No cancelamento dos pecados, estes ficam para sempre condenado na carne."

Concordo em parte.

O perdão dos pecados no sentido de purificar a nossa vida destes pecados pode ter existido num determinado momento da vida de uma pessoa. Por exemplo: alguém que facilmente perdia a paciência por tudo e por nada. Em um determinado momento de sua vida, Deus lhe dá o arrependimento genuíno, que é expresso em verdadeira tristeza pelo pecado e abandono do mesmo (foi realmente perdoado). A pessoa em conseqüência do abrangente perdão de Deus, tem removido de sua vida este pecado, ou seja, torna-se uma pessoa paciente e calma.

Enquanto esta pessoa manter-se em contínuo relacionamento de dependência de Cristo, Sua graça o manterá liberto deste pecado (embora a tendência humana ainda exista, ela fica subjugada pelo Espírito de Cristo que nele habita). Agora, a partir do momento que esta pessoa interrompe sua vital ligação com Cristo, a tendência inevitável é de retornar a estaca zero.

Isto não significa que ele nunca foi verdadeiramente perdoado, mas significa que ele, apesar de ter sido verdadeiramente perdoado, deixou de viver a condição única sob a qual o perdão foi concedido, a saber, permitir que a graça de Cristo continue realizando na sua vida aquilo que ele jamais conseguiria por si mesmo.

Um exemplo bíblico clássico é Moisés. Moisés tinha um temperamento violento. Tanto é que quando viu um egípcio agredindo um judeu, o matou. A graça de Deus atuou na vida de Moisés, e em um determinado momento daqueles 40 anos no deserto como pastor de rebanho, Deus lhe concedeu o verdadeiro arrependimento de seu pecado, sendo verdadeiramente perdoado. A conseqüência do perdão concedido por Deus é que ele se tornou uma pessoa muito mansa (o mais manso que havia na terra - Num.12:3).

O tempo se passou. Vamos lá para Núm.20 onde Moisés se depara com mais uma das inúmeras murmurações do povo. O povo estava com sede. Moisés ora a Deus e o Senhor lhe pede que ordene a rocha que dê água. Moisés ao invés de falar à rocha, bate nela por duas vezes, demonstrando naquele momento irritação e impaciência:

"Os dois irmãos foram perante a multidão, indo Moisés com a vara de Deus na mão. Eles eram agora homens idosos. Muito tempo haviam suportado a rebelião e obstinação de Israel; mas agora, finalmente, mesmo a paciência de Moisés vacilou. "Ouvi agora, rebeldes", exclamou ele; "porventura tiraremos água desta rocha para vós?" E, em vez de falar à rocha, como Deus lhe mandara, feriu-a duas vezes com a vara. A água jorrou em abundância, satisfazendo as hostes. Mas uma grande falta fora cometida. Moisés falara com sentimento de irritação; suas palavras eram uma expressão de paixão humana, em vez de santa indignação porque Deus houvesse sido desonrado. "Ouvi agora, rebeldes", disse ele. Esta acusação era verdadeira, mas mesmo a verdade não deve ser falada com paixão nem impaciência. Quando Deus mandara Moisés acusar Israel de rebelião, as palavras lhe foram dolorosas, e difícil lhes era suportarem-nas; contudo Deus o amparara ao transmitir a mensagem. Mas quando tomou sobre si o acusá-los, agravou o Espírito de Deus, e apenas fez mal ao povo. Sua falta de paciência e domínio próprio eram evidentes. Assim foi dada ao povo ocasião para porem em dúvida que sua atuação passada fora sob a direção de Deus, e desculparem seus próprios pecados. Moisés, bem como eles, haviam ofendido a Deus. Sua conduta, disseram, fora desde o princípio passível de crítica e censura. Tinham achado agora o pretexto que desejavam para rejeitarem todas as reprovações que Deus lhes enviara mediante Seu servo." - Patriarcas e Profetas, pág.417.

Moisés, apesar de ter recebido o genuíno perdão de Deus, só poderia manter esse pecado (impaciência) condenado na carne enquanto se mantivesse unido a fonte deste perdão. Quando por um momento se desconectou desta fonte, fracassou e pecou novamente.

O fato de Moisés ter pecado não significa que ele nunca recebeu o verdadeiro perdão, mas demonstra que ele desviou seu olhar do único que pode manter em sujeição os pecados já perdoados.

Os pecados não podem permanecer condenados na carne por tempo superior àquele em que, pela fé em Deus, mantivermos com Ele vital ligação.

O mais animador de tudo isto é o fato do Senhor nunca desistir de nós, estando sempre disposto a dar-nos o genuíno perdão, mesmo que isto signifique algumas vezes voltar a estaca zero.

Não falo isto no sentido de nos conformar com uma vida cristã estilo “montanha russa” (cheia de altos e baixos contínuos). Não! Creio que a graça de Cristo é abundante o suficiente para nos tornar tão vencedores sobre o pecado como Cristo o foi; desde que usemos dos mesmos recursos que Ele sempre utilizou, a saber, contínuo relacionamento de dependência do poder que vem de Deus. -- Cleiton Heredia, São Paulo, SP.

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