Articulista Recomenda Check-Up e Remedinhos para a Memória do Pr. Lessa

Vida de obreiro não é mole não. Além do trabalho em si, existe a pressão dos superiores, a concorrência dos colegas. E a cobrança dos membros, que só sabem ficar criticando e fazendo enquetes no “orkut” perguntando se é justo os pastores ganharem tanto enquanto os membros passam fome.

Algum tempo atrás, era um alívio para eles poder acessar (escondido) o “adventistas.com” e ver os debates teológicos. Assim como o Flamengo precisa do Vasco e o Grêmio precisa do Internacional, não há debate se não houver oposição. Embora os membros da igreja sejam mantidos alienados sobre o que acontece, os pastores, administradores e teólogos acessam os sites da oposição. Não quer dizer que o façam por que concordam. De onde sairiam artigos coléricos na R.A. como os do prof. José Carlos Ramos e Dr. Alberto Timm se não conhecessem o que criticam?

Mas até este refrigério na vida do obreiro acabou. O assunto da “oposição” passou a ser chifres de bodes e Antíoco Epifânio. O “adventistas.com”, tão animado na época dos estudos trinitarianos, ficou um bom tempo sem debates teológicos quentes.

O Pastor Lessa, editor da Revista Adventista começa o editorial deste mês dizendo que recebeu uma carta com um desafio. Imagino que não deva ter recebido só esta. Vida de editor da R.A. também não deve ser fácil. É pressão de todos os lados. Um monte de gente querendo aparecer, há instituições que inauguram uma maçaneta nova em uma porta e já querem ser notícia. Cantores querendo vender seus CDs. Candidatos a escritor querendo que publiquem seus artigos.

Mas agora, ele pode ter sido pressionado para reativar o “adventistas.com”. Como assim? Ora, os obreiros reclamaram: pastor, publique alguma coisa aí para ver se “o pessoal de lá” responde. Está tudo muito parado! Pararam de falar na Trindade...

 

Ele teria ligado para o Robson Ramos, já que trabalharam juntos na “CASA”:

 - E aí, meu chapa, como vão as coisas?

 - Olá meu amigo, que honra receber sua ligação. Muito trabalho por aí?

 - Bastante. Feliz é você, professor universitário, vida mansa.

 - Vida mansa? Não sou mais obreiro não... mas então, o que o senhor manda?

 - É que o pessoal anda reclamando que está faltando assunto... tudo muito parado... querem que eu escreva algo provocativo. Mas não seria melhor vocês começarem? Já falam mal do seu site de qualquer jeito, mesmo...

 - Vou fazer de conta que não entendi esta última parte. Acontece que o pessoal que colabora comigo não é igual aí na “CASA”, onde são obreiros. Meus colaboradores são imprevisíveis, aparecem quando querem, somem sem avisar, isto quando não saem falando mal de mim em sites da dissidência da dissidência.

- Ah, tá vendo como é bom ser vidraça?

(Neste momento, um avião que havia se chocado com um jatinho caiu sobre a linha telefônica, interrompendo a ligação. Como cada um pensou que fosse o outro que desligou, não voltaram a se falar.)

 

Bom. Aí, surge o editorial da Revista Adventista deste mês. Provocante. O pastor Lessa não costuma fazer uso de ironia em seus escritos. Mas começa perguntando se o “cavalheiro recebeu uma revelação do Espírito Santo ou foi iluminado por uma ‘energia’divina”.

Pronto. Agora é só esperar a revista circular e ver o que os malditos oposicionistas responderão.

O “arquivo X” já respondeu. Uma resposta educada.

 

Seria injusto com o pastor Lessa ficar a resposta em um artigo apenas. Artigos do prof. José Carlos Ramos costumam receber várias respostas, e reverberar por muito tempo. E o editorial da Revista Adventista é importante. O pastor Lessa não fala apenas em seu nome, mas de toda a igreja. (Por isso, já saiu outro!)

Pois então. Em respeito ao pastor Lessa e a todos os que não assumem que não crêem na mais na Trindade porque tem um bom emprego na igreja adventista, vamos ler com atenção o seu editorial.

Primeiro, observem que ele não contestou que tem um bom emprego na IASD. Estamos de acordo? Ele não contestou. Segundo, o “cavalheiro” que lhe enviou a carta cometeu um erro. Não devia dizer “você não muda de idéia”, mas sim, “você não assumiria publicamente, caso mudasse de idéia”. São coisas diferentes.  Muito diferentes.

O fato de ter um bom emprego não impede a pessoa mudar de idéia (neste tema, Trindade, basta ler a Bíblia e usar um pouco de bom senso) mas com certeza torna difícil assumir publicamente. O que aconteceria com o pastor Lessa se ele admitisse, mesmo em uma roda de amigos, que não crê na Trindade?

Desempregado. Além de sofrer todo um processo de demonização que ele conhece bem. Seus filhos seriam discriminados. Seus parentes, que porventura estejam bem colocados na obra, sofreriam retaliações pois perderam o padrinho. Apareceria alguém para dizer que ele ultimamente não andava falando coisa com coisa, para atribuir sua “heresia” a um tipo de demência senil. Pois o resultado seria catastrófico para a igreja.

Outros obreiros que já não crêem na Trindade também falariam sobre o assunto, seria uma reação em cadeia; os líderes, vendo que a revolta das massas está fora de controle, assumiriam a mesma atitude corajosa de quando houve eleições no Sábado: “Bom, isso é uma questão de consciência de cada um...”

Poderia até acontecer de a crença dos pioneiros voltar a ser predominante. Então, o manual da igreja e o livro “Nisto Cremos” voltaria a se basear na Bíblia. E os membros, em sua grande maioria, passariam a crer como seus instrutores lhes ensinam. E se alguém começasse a defender a Trindade novamente?...  Seria perseguido, humilhado, expulso.

 

Sim, senhores, certas coisas nunca mudam. A maldade no coração humano é uma delas.  Por isso, o Diabo será bastante atormentado no inferno tendo que ouvir intermináveis discussões teológicas de todos estes que usam sua fé para ofender os outros.

Eu não estava falando sério quando disse que o pastor Lessa poderia ser acusado de demência senil para justificar uma mudança doutrinária. Isto porque não acho que ele faça parte do grupo dos que não crêem na Trindade e não tem coragem de assumir. Ele aparenta ser sincero. Mas, quando diz que a Trindade se baseia em “um expressivo número de textos”, e que os que não crêem “tentam se valer de algumas passagens”, somos obrigados a pensar, com todo o respeito, se nosso respeitável editor não estaria precisando de um “check-up”.

Um lado se baseia em um expressivo número de textos. Já a posição contrária, tenta se valer de algumas passagens.

Se basear é algo sólido. Tentar se valer não é sólido. Porque um grupo “se baseia” e o outro apenas “tenta se valer”? Ora, porque o primeiro grupo possui um expressivo número de textos, e em matéria de doutrina bíblica, quanto mais textos a apoiando, melhor. Já o outro grupo, perdedor, apenas “tenta se valer”. Não dá para “se basear”, por que? Porque ao invés de um expressivo número de textos, os coitados possuem apenas “algumas passagens”.

O que deve ser dito ao psiquiatra durante o check-up é que nosso amigo editor parece estar tendo um problema sério de confundir coisa com coisa. Realmente, no debate Tri X  não–tri, um dos grupos possui um enorme arsenal de versos, e o outro grupo, apenas “algumas passagens”, que, se bem contadas, dão um total de duas – sendo uma apócrifa.

 

Recapitulando. Os adventistas que crêem como os pioneiros e fundadores de nossa fé, baseiam sua crença em todos os versos que dizem que só há um Deus, todos os versos que dizem que Deus tem uma “ruach”, todos os versos que chamam Deus de Pai, todos os versos que chamam Jesus de Filho, todos os versos onde,  ao se acrescentar um número a outro, existe soma, não multiplicação (por exemplo: 9 mandamentos mais 1 mandamento = 10 mandamentos. Primeiro dia, segundo dia... a cada dia, muda o número, assim, o sétimo não é mais o primeiro), todos os versos que dizem que Jesus morreu, todos os versos que dizem que devemos basear nossa fé na Palavra de Deus, não nas deduções e construções humanas. Bom, somando tudo, dá uns mil trocentos e tantos versos.

Já aqueles que crêem que os pioneiros estavam errados - e os católicos certos, (trinitarianos) possuem apenas dois versos. Um de João e outro de Mateus. O de João só foi inserido na Bíblia uns mil e quatrocentos anos depois da Bíblia terminada. O de Mateus, segundo provou o Dr Rodrigo em suas escavações arqueológicas, foi escrito bem cedo, pena que não deu tempo para os apóstolos o lerem, caso tivessem tomado conhecimento, com certeza batizariam em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, não apenas em nome de Jesus, conforme a Bíblia apresenta.

Concluindo o raciocínio, realmente um dos lados possui um expressivo número de textos, e o outro lado apenas uns poucos, dois, ou melhor, um. O pastor Lessa, entretanto, troca as bolas. Confunde um lado com o outro. Como não é má-fé, pois pastores não mentem, e como ele garante que não é apenas um artifício para manter o bom emprego, a única explicação que resta é que quando a gente vai somando muitos aniversários (e fora da cabeça dos teólogos, a matemática é implacável), chega a idade onde começamos a esquecer as coisas, trocar coisas de lugar... Isto acontece com todo mundo, não é nada anormal ou depreciativo.

Os obreiros possuem um bom plano de saúde, e não há nada de mais em fazer um check-up e tomar uns remedinhos para a memória.

 

Depois, o editor que confunde as coisas, comete uma grande indelicadeza. Ao invés de citar o trabalho de nossos teólogos, cita como referência em teologia trinitariana os gringos autores do livro “A Trindade”. Eu encontrei muito mais sabedoria e pesquisa séria nos artigos dos doutores  José Carlos Ramos e Alberto Timm que nas fantasias dos americanos. Ao invés de “refutar com muita clareza” as objeções anti-trinitárias, eles criaram, sim, muitos problemas para os trinitarianos. Vejam que nenhum teólogo tupiniquim referendou sua fantasia de que o Espírito Santo é o Rio da Vida. E, no capítulo que trata das “objeções lógicas à Trindade” (pág. 128), ao invés de mostrar lógica, criaram o mais idiota de todos os argumentos lógicos da galáxia. Dizer que a prova de que três é igual a um, é que Deus é amor e que só amamos os iguais, portanto Ele precisaria de ser mais de um para amar-se. E que, antes de criar o universo, sem nada para fazer, ficavam os três, sentados de frente um para o outro, se amando, se amando, se amando. Sentados em lugar nenhum, pois o espaço ainda não havia sido criado, e tinham que falar todos ao mesmo tempo, pois o tempo também não havia sido criado, Um não podia falar uma coisa depois do Outro, pois se existisse antes e depois, existiria o tempo. E como dizia o nosso grande prof. Orlando Ritter, em tom levemente irônico, “tempo houve em que tempo não havia”.

Nossos teólogos colocam três Deuses em completo ócio, por milhões e milhões de eras, apenas se amando, para, após tal exercício da imaginação fantástica, fazer o leitor esquecer o que era mesmo que vinha lendo e nem lembrar que os doutores sequer tocaram na questão lógica. Prefiro os teólogos nacionais, pois, embora queiram me fazer acreditar em papai noel, não  me exigem que coloque as meias perto da chaminé.

Sei que a linguagem utilizada no parágrafo acima choca algumas pessoas. Mas não fui eu que inventei a bobagem teológica, foram eles. Não há como mostrar que uma tolice é tolice, sem falar na tolice. Quanto ao pastor Lessa, editor da R.A. não está ficando gagá, nem usou de má-fé, nem defendeu seu emprego. Apenas fez um artigo provocador, pleno de erros lógicos e teológicos, com o nobre propósito de reanimar os debates sobre o assunto. Bom, creio que fiz minha parte. Daqui a pouco, voltaremos a discutir  sobre o que Azazel, o demônio do deserto, fará com o bode que lhe foi gratuitamente enviado. -- Tales Fonseca

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