O Que a CPB e a Igreja Têm em Comum?

(Este foi o primeiro sermão pregado pelo editor desta homepage depois de assumir o trabalho como redator na Casa Publicadora Brasileira em janeiro de 1986. Estava com 24 anos de idade e acabara de concluir com menção honrosa o curso teológico no IAE, em São Paulo. Quem conhece o clima entre os funcionários e obreiros de qualquer instituição adventista, deve imaginar que nem todos os ouvintes apreciaram a mensagem.)

 

Introdução

Estou preparado para pregar e acredito que todos os irmãos estejam preparados para ouvir. 

Não foi difícil encontrar uma mensagem apropriada a pessoas que, em sua maioria, são membros da Igreja Adventista do Sétimo Dia, mas estão aqui reunidas como funcionários e funcionárias da Casa Publicadora Brasileira. Porque a Igreja Adventista e a Casa Publicadora Brasileira estão intimamente relacionadas e há vários pontos em comum entre ambas.

Falarei brevemente sobre quatro semelhanças existentes entre a CPB e a Igreja:

 

I - Tanto na Igreja quanto na Casa Publicadora Brasileira todos somos igualmente importantes.

Em sua primeira carta aos Coríntios, capítulo 12, versos 12 a 27, o apóstolo Paulo compara os membros da igreja aos diversos órgãos do corpo humano. Ele faz isso para mostrar a igualdade de importância de todos e enfatizar a necessidade de trabalharem unidos, valorizando-se mutuamente.

Esse texto foi intitulado "A Unidade Orgânica da Igreja" na versão Almeida Revista e Atualizada. Vejamos como a Bíblia na Linguagem de Hoje o traduz:

12 Cristo é como um corpo, o qual tem muitas partes. E todas as partes, mesmo sendo muitas, formam um só corpo.
13 Assim, também, todos nós, judeus e não-judeus, escravos e livres, fomos batizados pelo mesmo Espírito para formarmos um só corpo. E a todos nós foi dado de beber do mesmo Espírito.
14 Pois o corpo não é feito de uma só parte, mas de muitas.
15 Se o pé disser: "Já que não sou mão, não sou do corpo", nem por isso deixa de ser do corpo.
16 Se o ouvido disser: "Já que não sou olho, não sou do corpo", nem por isso deixa de ser do corpo.
17 Se o corpo todo fosse olho, como poderíamos ouvir? E, se o corpo todo fosse ouvido, como poderíamos cheirar?
18 Assim Deus colocou cada parte diferente do corpo conforme ele quis.
19 Se o corpo todo fosse uma parte só, não existiria corpo.
20 De fato, existem muitas partes, mas um só corpo.
21 Portanto, o olho não pode dizer para a mão: "Eu não preciso de você." E a cabeça não pode dizer para os pés: "Não preciso de vocês."
22 O fato é que as partes do corpo que parecem ser as mais fracas são as mais necessárias,
23 e aquelas que achamos menos honrosas são as que tratamos com mais honra. E as partes que parecem ser feias recebem um cuidado especial,
24 que as outras mais bonitas não precisam. Foi assim que Deus fez o corpo, dando mais honra às partes menos honrosas.
25 Desse modo não existe divisão no corpo, mas todas as suas partes têm o mesmo interesse umas pelas outras.
26 Se uma parte do corpo sofre, todas as outras sofrem com ela. Se uma é elogiada, todas as outras se alegram com ela.
27 Pois bem, vocês são o corpo de Cristo, e cada um é uma parte desse corpo.

Todos somos igualmente importantes na Igreja:

Ninguém pode ser menosprezado ou desprezado como se fosse inútil, ou inferior. Embora possuam diferentes habilidades, todos têm uma parcela de contribuição a dar e são igualmente úteis, pois o produto final -- a evangelização do mundo e a edificação da igreja -- é obtido pela soma dos esforços de todos.

Todos somos igualmente importantes também na Publicadora:

A Administração não é mais importante que o Almoxarifado, nem o Almoxarifado é mais importante que a Redação.

A Redação não é mais importante que a Cozinha, nem a Cozinha é mais importante que Departamento de Arte.

O Departamento de Arte não é mais importante que a Expedição, nem a Expedição é mais importante que a Fotocomposição.

A Fotocomposição não é mais importante que o Acabamento, nem o Acabamento é mais importante que o Departamento Fotográfico.

O Departamento Fotográfico não é mais importante que a impressão e a Impressão não é mais importante que a Contabilidade.

A Contabilidade não é mais importante que o Fotolito, nem o Fotolito é mais importante que a Recepção.

Todos somos igualmente importantes na Igreja e na Publicadora:

Para que a nossa missão seja cumprida, há necessidade do trabalho de todos. Por isso, não deve existir inveja, vanglória, timidez, preguiça ou ambição entre nós.

Todos somos igualmente importantes e devemos trabalhar unidos, valorizando-nos mutuamente. (Não apenas trabalhar juntos, trabalhar unidos!)

 

II - Tanto na Igreja como na Casa Publicadora Brasileira, todos somos obreiros de Deus

Esta Editora é tão divina quanto a Igreja, porque a igreja e as casas publicadoras foram idealizadas e fundadas por Deus.

O trabalho de ambas foi ordenado e é superiormente coordenado por Ele. Por isso, tanto os membros da igreja quanto os funcionários da Publicadora, indistintamente, são "obreiros de Deus" .

É verdade que os seres humanos fazem diferença. Na igreja, uns são chamados "oficiais" ; outros, apenas "membros". Uns são chamados "pastores"; outros, "leigos". Uns são mais honrados e outros menos, mas todos são "obreiros de Deus". Na Publicadora, uns têm mais privilégios, outros menos. Uns devem aguardar o sinal para irem ao refeitório, outros já estão no refeitório quanto toca o sinal. Uns são notícia quando começam a trabalhar, outros apenas quando morrem. Mas todos somos obreiros de Deus, e devemos desempenhar nossas funções com isso em mente: Deus é o nosso verdadeiro Patrão, o nosso Chefe.

Devemos nos comportar como "obreiros de Deus", trabalhar para Deus -- não para o nosso chefe de setor, nem para o irmão Hélio Lehr ou o Pastor Borda.

O princípio contido no conselho dado por Paulo aos escravos e senhores de Éfeso ainda é válido em nossos dias e dever ser aplicado, especialmente nas instituições adventistas. A Bíblia Fácil, uma versão católica do Novo Testamento em linguagem moderna, assim traduz Efésios 6: 5-9:

"Empregados, obedeçam a seus patrões com atenção e respeito, com coração sincero, como se obedecessem (pessoalmente) a Cristo. Não façam seus trabalhos para agradar seus patrões, somente quando eles os estão observando. Como servidores de Cristo, façam de boa vontade o serviço marcado, cumprindo assim o desejo de Deus.

"Realizem o trabalho com carinho, como se estivessem fazendo esse trabalho (diretamente) para o Senhor, e não para os homens. Façam isto, com a convicção de que cada um receberá do Senhor a recompensa de todo o bem que praticar, (não importando de que posição social ele seja:) empregado ou patrão.

"E vocês, patrões -- continua Paulo -- tenham também as mesmas atitudes (de apreço, respeito e amizade) para com os empregados. Deixem de lado as ameaças (e injustiças), lembrando-se que no Céu existe o Senhor tanto dos empregados como de vocês, patrões. E Aquele Senhor não faz distinção no tratamento a empregados ou patrões."

Deus nos considera a todos, indistintamente, como Seus obreiros:

Isto, talvez, possa servir de consolo e estímulo aos que estão ressentidos pelo fato de serem classificados apenas como "funcionários".

Deus nos considera a todos, indistintamente, como Seus obreiros:

Isto significa, aos superiores, que devemos ser por eles respeitados, valorizados e tratados como companheiros, "obreiros de Deus" também, não apenas como "empregados da Publicadora".

Deus nos considera a todos, indistintamente, como Seus obreiros:

Para todos nós, isto significa que os interesses divinos devem ter prioridade em tudo o que aqui fizermos. Se somos obreiros de Deus, devemos promover Seus interesses e não os de nossos familiares ou amigos.

Grande responsabilidade repousa sobre todos nós:

Ellen G. White, comentando este fato, escreveu:

"A obra de Deus é sagrada e requer homens de elevada integridade. Há necessidade de homens cujo senso de justiça, mesmo nas menores questões, não permita que eles façam um registro de seu tempo que não seja minucioso e correto -- homens que compreendam estarem lidando com os meios que pertencem a Deus, e que não se apoderarão injustamente de um centavo sequer para seu próprio uso; homens que sejam tão fiéis e exatos, cuidadosos e diligentes, em seu trabalho, na ausência do empregador como em sua presença, demonstrando por sua fidelidade que não são meramente pessoas que procuram agradar a homens, empregados que só trabalham na presença do patrão, mas trabalhadores conscienciosos e fiéis, que fazem o que é correto, não para receber louvor humano, mas porque amam e preferem o que é direito movidos pelo elevado senso de sua obrigação para com Deus." Testimonies, vol.3 pág. 25.

O conselho dado por Paulo a Timóteo é também aplicável a cada um de nós: "Procura apresentar-te a Deus, aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar." II Timóteo 2:15.

 

III - Tanto na Igreja como na Casa Publicadora Brasileira, todos somos igualmente responsáveis pelo êxito da Obra 

Na Igreja, não são apenas os pastores e oficiais que devem realizar o trabalho. Todos os membros devem participar e todos são responsáveis pelo fracasso ou sucesso da Obra. A todos é dito: "Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que Eu vos tenho ordenado." Mateus 28:19 e 20.

Na Publicadora, todos somos responsáveis pela qualidade da literatura que produzimos. A desatenção ou negligência de um pode desvalorizar o trabalho de todo o grupo e prejudicar o êxito da obra do Senhor. Por isso, parafraseando São Mateus 18:7, poderíamos dizer: "Somos todos imperfeitos e falhos; portanto é natural que existam falhas naquilo que fazemos, mas ai daquele que comete a falha." "Maldito aquele que fizer a obra do Senhor relaxadamente", escreveu o profeta. Jeremias 48:10.

Atendamos, pois, à instrução do sábio: "Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças". Eclesiastes 9:10. "Faça bem qualquer coisa que você tiver de fazer", diz a Bíblia Viva.

 

IV - Tanto na Igreja como na Casa Publicadora Brasileira, todos seremos igualmente recompensados por Deus

Em 1984, quando estagiava como teologando na Igreja de Itapecerica da Serra, ouvi um irmão ilustrar essa idéia de uma maneira tão interessante que jamais a esqueci. Ele comparou a Igreja a tropas de burros-de-carga, que ele conhecera no Nordeste.

"Em cada tropa -- disse ele -- um burro é escolhido para ser o líder, o guia da tropa. Então colocam enfeites coloridos sobre ele, chocalhos ao redor do pescoço... mas nenhuma carga. Ele não faz força. Deve apenas ir à frente."

E fez a aplicação: "Os burros-de-carga somos nós, os leigos. Os burros enfeitados são os pastores, enfeitados por seus títulos e diplomas. Por terem o privilégio de liderar, eles parecem mais importantes, mas o Tropeiro considera úteis a todos. E após terem transportado a carga, cumprido a missão, todos pastam juntos. A recompensa é a mesma."

Atualmente, na igreja, existem diferenças no tratamento e reconhecimento recebidos pelos pastores, em relação aos leigos. Existem diferenças na remuneração, privilégios e capacidade dos funcionários da Casa Publicadora Brasileira. Mas um dia, depois que Cristo voltar, todas essas diferenças deixarão de existir.

As diferenças que hoje fazem distinção entre os homens são passageiras. Na eternidade, as diferenças intelectuais desaparecerão.

No Céu não estarão uns com camisa de mangas curtas e outros de terno e gravata. Todos usaram vestes brancas, idênticas, e terão coroa sobre a cabeça.

Lá todos habitarão em mansões seguras, lugares quietos, de descanso. Sim, seremos todos igualmente recompensados por Deus!

 

Conclusão

Enquanto aguardamos esse tempo, que Deus nos ajude a fixar em nossa mente essas quatro verdades que hoje consideramos:

Tanto na Igreja como na Casa Publicadora:

1) Todos somos igualmente importantes;

2) Todos somos, indistintamente, obreiros de Deus;

3) Todos somos, igualmente, responsáveis pelo êxito da obra;

4) Todos seremos, igualmente, recompensados por Deus.

Amém.

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