TESTEMUNHO FANTÁSTICO! Rede Globo Exibe Entrevista Exclusiva com Ivanzinho

A professora de música Margarete Ostrowski, mãe de Fernando Ivan Ostrowsky pergunta: "Filho, você ficou só com pijama. Que roupa você quer que eu lhe mande?"

Ivan responde: "Uma coisa que eu estou gostando é que aqui no hospital eu posso ficar só de cueca, é uma coisa que está sendo bem legal."

Agora, tudo é brincadeira. Mas, no início desta semana, os pais do brasileiro Fernando Ivan Ostrowski e ele próprio viveram um pesadelo. 

Universidade Patrice Lumumba, Moscou, capital da Rússia, madrugada de segunda-feira. Um incêndio atingiu o alojamento dos estudantes estrangeiros. O edifício abriga mais de 200 jovens. Muitos não conseguem escapar do prédio. Outros, desesperados, pulam janelas, entre eles um brasileiro: Fernando Ivan Ostrowski, de 18 anos.

Morador de Brasília, Ivan tinha embarcado para Moscou havia apenas 20 dias, para estudar Direito Internacional. Ivan pulou do quinto e último andar do prédio.

Brasília, madrugada de segunda-feira. Os pais de Ivan são acordados por um telefonema de Moscou, e ficam sabendo do incêndio. As notícias ainda eram desencontradas. De início eles se apavoram.

"Foi um momento extremamente dramático, realmente foram os piores momentos da minha vida", conta o pai de Ivan, o advogado Fernando Ostrowski.

Mas logo de manhã recebem um segundo telefonema, e a boa notícia: Ivan tinha conseguido escapar, com ferimentos leves. "Era o único apego, a única segurança, a confiança em Deus", recorda Margarete.

Infelizmente nem todos tiveram a mesma sorte: o incêndio matou 37 jovens e feriu 170, alguns gravemente.

Na última sexta-feira, 28 de novembro. O Fantástico levou a primeira equipe de televisão ao hospital onde Ivan está internado, em Moscou, e localiza uma brasileira que ajudou a salvá-lo, depois que ele pulou do edifício.

Lígia Prestes e seu namorado Pedro, também estudantes, moram no edifício em frente ao que pegou fogo.

"Meu namorado veio diretamente na janela do Ivan para gritar pelo seu nome. Ele gritou e, quando ele olhou pra baixo, o Ivan já estava no chão acenando para ele, para ajudar ele", conta Lígia.

Assim com Ivan, muitos estudantes conseguiram se salvar pulando das janelas. Eles tiveram o impacto amortecido pelo canteiro de terra que fica ao longo de todo o edifício. Mas de todos, Ivan, que saltou de uma altura de 12 metros, foi o que se feriu menos.

No hospital, onde se recupera de fraturas no antebraço esquerdo e em duas vértebras, Ivan conta o que aconteceu no dia da tragédia.

Madrugada de horror

"Gritos, o pessoal correndo no corredor e muitas janelas quebrando. Porque a força da fumaça era tremenda, e começou a quebrar as janelas."

A decisão de pular

"Aí me veio na cabeça: 'Eu vou sobreviver.' É o que eu falo, não vem de mim isso, vem de Deus, porque na minha cabeça foi tudo muito claro. Eu não agi com pavor, fui raciocinando certo. Em nenhum momento eu pulei pensando que eu estou pulando para a morte, mas sim pulando para a vida."

Faltaram extintores

"Que há realmente uma certa negligência da universidade nos prédios, há sim. Porque nos andares não tinha nenhum extintor e eram instalações velhas."
 
Terminar os estudos

"O ensino é forte, os professores são bons e você tem chance de crescer muito no seu curso. Eu pretendo continuar aqui, mas depois do meu curso eu pretendo pegar o primeiro avião e voltar para o Brasil."

Em Brasília, onde moram, os pais de Ivan têm recebido notícias dele por telefone e pela internet, mas já tomaram a decisão: querem passar o Natal com o filho em Moscou.

Enquanto não chega a hora, eles mataram a saudade conversando com o filho, através do Fantástico.

Pai: "E aí, filhão, como é que você está, cara?"

Ivan: "Eu estou muito bem, pai. Eu estou deitado, e cansa. É a primeira vez que eu estou cansado de estar deitado mas eu estou muito bem."

Mãe: "Você não está com saudade da comidinha da mamãe?"

Ivan: "Eu estou com bastante saudade da sua comida, mãe, e, como eu sempre respondo, qualquer coisa eu como."

Pai: "Agora que você está aí paradão, feito uma múmia paralítica, você quer que eu te mande alguma coisa pra você dar uma lida?"

Ivan: "só se for um livro com o sol do Brasil, com as praias do Brasil, aí sim, eu vou querer esse livro."

Mãe: "Ivanzinho, todo mundo está torcendo por você. Tem um recadinho pros amigos?"

Ivan: "Eu estou com bastante saudade de todos vocês, cada um de acordo com a forma que vocês são, e para que cada um corra atrás de seus interesses. Busquem aquilo que vocês querem e nunca deixem de colocar Deus em primeiro lugar."

Pai: "Amigão, beijão pra você. Tchau, cara."

Mãe: "Um beijão para você. Esse beijo vai muito longe."

Fonte: http://fantastico.globo.com/Fantastico/0,19125,TFA0-2142-5525-106682,00.html

O Pulo de Ivan

30/11/2003

Fernando Ivan Ostrowsky, que pesa 64 quilos, caiu de, aproximadamente, 12 metros de altura. A uma velocidade de 15 metros por segundo, ele chegou ao solo com  cerca de 900 quilos, segundo o físico Marco Moriconi. É como o impacto de um carro batendo a 50 quilômetros por hora. 

Moriconi afirma que o brasileiro Ivan provavelmente se salvou por ter pulado e caído em pé: "Ele deve ter caído em pé como um páraquedista, com os joelhos flexionados, de tal maneira a conseguir absorver o impacto durante um intervalo de tempo razoável. Se você pular numa balança e cair fincado você vai ver que o ponteiro vai até um certo valor. Mas se você pular na balança e amortecer o joelho, o ponteiro não vai subir até um valor tão alto."