Reflexões de um Ex-Ancião da IASD - Primeira Parte

O QUE ME FEZ REFLETIR SOBRE UM ASSUNTO QUE QUASE TODOS TÊM DÚVIDAS, MAS NÃO OUSAM QUESTIONAR.

 

A Administração dos Recursos pela Organização.

Primeiro quero falar da liderança, pois creio que ser líder é também saber a hora de se retirar de cena. Percebi e ainda percebo que muitos “líderes” deveriam fazer uma avaliação da sua conduta espiritual e se necessário se retirar de cena para que a consciência não os acuse e para que sua conduta não impeça o derramamento do Espírito Santo de Deus na igreja.

Por motivos óbvios, ao aprofundar-me nas pesquisas, descobri irregularidades que me deixaram preocupado. Pesquisei a fundo as orientações sobre dízimos e ofertas, primeiramente na Palavra de Deus, depois nos escritos de Ellen G. White e tomei conhecimento de livros e arquivos que são desconhecidos pela grande maioria dos irmãos adventistas.

Muito antes de ter acesso a todo o material pesquisado, já havia em meu coração certa tristeza com relação ao destino dos dízimos e ofertas. Muitos irmãos contestam o uso dos dízimos enviados às Associações, porém infelizmente nem todos têm a coragem de demonstrar a sua insatisfação.

É notória a má utilização dos dízimos e ofertas pela Administração da Igreja. E para mostrar que não estou sendo injusto, quero relatar alguns dados que podem ser facilmente comprovados, como os amplos benefícios obtidos pelos líderes, pastores e obreiros:

-Aluguéis nos melhores bairros da cidade,

-Apartamentos amplos e confortáveis,

-Garantia de escolas pagas até a universidade para os filhos,

-Emprego garantido para as esposas dos pastores,

-Automóveis do ano.

-Garantia de um bom Plano de Saúde para toda a família,

-Seguros de vida, automóvel, viagens e muito mais.

Sem falar do “nepotismo” que impera nas instituições hospitalares, escolares e administrativas. Tudo isso favorecido com os dízimos enviados pelos humildes e sinceros irmãos que pensam não serão agraciados por Deus se não devolverem seus dízimos para elite prestigiada da Associação.

Fui colportor da Iasd RJ durante um ano. Financiei com recursos próprios toda essa temporada, pois sempre desejei ter a experiência da colportagem. Só não permaneci na obra porque pude presenciar muitas irregularidades que não são abonadas pela Palavra de Deus. Como a vida de sacrifício que estão sujeitos a maioria dos colportores e seus familiares, que passam por precária situação financeira. Posso afirmar isto, pois dormi muitas vezes em colchonetes nas diversas “campanhas” que participei, onde não havia nem mesmo uma alimentação decente para aqueles que passam um dia inteiro de sacrificante trabalho. Logicamente alguns têm sucesso nas vendas por terem o dom natural. Porém muitos que entram com a cara e a coragem nesta aventura sacrificam-se tanto a ponto de passarem até fome para “pregar o Evangelho”. Não têm estabilidade no trabalho nem os respectivos direitos garantidos por lei, sem a carteira assinada, não têm ajuda de custo para manutenção das suas despesas diárias, como, passagem, almoço, uniforme, andam quilômetros debaixo de sol e chuva para aventurar-se na esperança de uma venda. Nem mesmo o direito a um Plano de Saúde.  Se ficarem doentes têm que se sujeitar aos precários hospitais públicos. Mesmo assim, o dízimo de cada colportor é descontado direto da fonte, que serão utilizados, também, para custear a saúde das famílias privilegiadas de adventistas da elite dominante.

A IASD faz com que os irmãos pensem que estão fazendo a parte deles enviando seus dízimos para a Associação e que Deus de alguma forma irá recompensá-los por isso, independentemente ou não de saberem da corrupção que impera no meio da sua “líderança”. Acredito que, se conheço os erros de uma pessoa ou instituição e fico calado, passo a ser cúmplice dos seus erros. Pior ainda é ajudá-los financiando-os.

Se separarmos um dia para visitar as igrejas nas redondezas dos distritos pastorais, veremos a cruel realidade. Igrejas mal construídas, sem espaço e conforto para receber seus visitantes. Um fundo de caixa insuficiente para pagar as despesas básicas da igreja local. Salas de aulas para as crianças da escola sabatina, mal ventiladas, mal iluminadas e mal mobiliadas. Igrejas em processo de reforma a mais de 10 anos. Irmãos passando por precária situação financeira, outros doentes sem nunca ter recebido uma visita pastoral e ainda assim se sacrificando e enviando os seus dízimos para uma associação que está pouco se importando com a vida dessas pessoas. Se fizermos uma rápida visita às casas dos irmãos, veremos que muitos têm uma vida sofrida, carente de alimentos, conforto e até de afeto e solidariedade. Eu mesmo posso comprovar isto que alego. Estou afastado dos trabalhos missionários da minha igreja há quase dois anos (tenho sérios motivos para isso) e nunca recebi uma visita do pastor ou anciãos para saber o que está acontecendo comigo. Mesmo tendo sido um membro que sempre foi atuante na congregação.

Enquanto isso ao visitar os pastores, percebemos que muitos deles vivem em gozo de pleno conforto, muitos no exterior. Se querem conforto, morar em bairros nobres, andar de carro novo, gozar dos benefícios indiretos, deveriam procurar uma empresa multinacional para trabalharem e deixar a igreja para que os humildes de coração a dirijam. Nossos líderes ao estarem com a atenção voltada para a sua escalada profissional esquecem que foram chamados para, se necessário, sacrificar sua vida em prol da saúde física e espiritual da igreja. Que me perdoem os que são realmente sinceros, porém não sei se entendo tanta sinceridade em meio a tanta facilidade.

Agora pensem. Quem prega o evangelho na sua igreja? Quem visita o irmão quando cai hospitalizado? Quem paga as despesas com a manutenção da igreja? Quem gasta dinheiro com combustível, passagens, lanches e até material para evangelismo, como: retro projetores, telas para projeção, slides, vídeo projetores, caixas de som, amplificadores? Quem investe dinheiro no grupo musical da sua igreja? Quem distribui cestas básicas aos irmãos carentes e necessitados? Quem investe dinheiro para ajudar na construção do prédio da igreja? E o seu dízimo, o que é feito dele? E a suas ofertas?

Agora vejam isto, vamos supor que em média as famílias recebam três salários mínimos, que seria aproximadamente R$ 900,00 (vejam que estou sendo o mais conservador possível). Se cada família doar 10% de sua renda para a igreja, isso seria R$ 90,00 (existem muitas igrejas que somente uma família devolve R$ 300,00, 500,00 ou mais em dízimos e ofertas). Cada igreja tem em média 15 famílias, então, 15 X 90 = R$ 1.350,00 mensais. Num distrito com 10 igrejas, teríamos uma arrecadação de R$ 13.500,00 mensais. Isso supondo que só um membro de cada família dizime.

Notem que com essa quantia (R$ 13.500,00) poderíamos contratar seis pastores, quase um para cada igreja, que seria o ideal.

Supondo que o custo da igreja com os salários dos pastores, seja de:

-Salário Bruto:            1.600,00 (mais os benefícios R$ 5.000,00)

-Inss parte empresa:  336,00

-Pis s/ folha:                   16,00

-Depósito no Fgts:       136,00

-Custo p/ a Igreja:    2.088,00

Da arrecadação do distrito sobrariam aproximadamente R$ 11.412,00 que são destinados aos cofres das “Associações” para pagar as despesas de salários dos presidentes, secretárias, pastores departamentais, obreiros, que ficam em suas salas confortáveis, enquanto os pobres dos irmãos que realmente administram a igreja, pregam o evangelho de sol a sol sem receber nada em troca, nem mesmo uma ajuda de custo para despesas de locomoção.

Por isso parei de devolver os dízimos para a “associação” e passei a direcionar para a manutenção das minhas despesas com a pregação do evangelho. Dou cesta básica para irmãos necessitados, compro remédio para os irmãos que não têm condições de comprar, e ao invés de custear com os meus dízimos a faculdade dos filhos dos pastores e a assistência médica da família pastoral, pago a faculdade da minha própria filha e pago um bom plano de saúde para a minha família. Se eu raciocinar como a Administração da IASD, não estaria incorrendo em erro, pois como ancião, sou um ministro do evangelho, ou um sub-pastor, como afirmam nas Assembléias, ou um presbítero, consequentemente, posso utilizar os meus dízimos para custear as minhas despesas com a pregação do evangelho, o que inclui as despesas com a educação e saúde da minha família.

Se o dízimo fosse exclusivamente para a finalidade descrita na Palavra de Deus que é a pregação do Evangelho, com certeza eu estaria enviando ainda os meus dízimos. Mas usar os dízimos para pagamento de planos de saúde, escolas e universidades, construção de associações, aluguéis para moradia dos pastores e outros absurdos mais, não dá para ser tão alienado assim, tendo em vista o sacrifício que todos nós fazemos para ganhar o pão nosso de cada dia.

Eu entendo a sinceridade dos irmãos, porém tenho certeza que se tomassem conhecimento dos artigos e parágrafos do “Livro de Praxes”, que quase ninguém sabe o que é aí veríamos se iam continuar enviando os dízimos da “Casa do Tesouro” para a “Casa dos Pastores”.

Caríssimos, é um direito seu contestar, perguntar, fazer auditoria, dar sugestões, enfim participar de todo este processo de administração das finanças da igreja, pois você é quem sustenta toda essa obra com os dízimos e as ofertas.

Tenho conhecimento de diversas irregularidades ocorridas por esse mundo afora no seio da nossa amada igreja. Ninguém poderá negar o que estou dizendo. Basta você deixar a razão falar mais alto um pouco que a emoção e verá a verdadeira situação.

A Palavra de Deus diz: “Meu povo perece por falta de conhecimento”.

Edson Gomes de Oliveira Sobrinho
Ex-Ancião da Igreja Adventista do Sétimo Dia
Distrito de Jardim Primavera
Igreja de Jardim Primavera, 20 de setembro de 2005.

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