Como Ellen G. White descreve os sinais de quando o Céu anunciou a queda de Jerusalém

Havia chegado a hora. O templo ainda estava de pé, o altar ainda recebia sacrifícios, mas sinais aterradores já haviam começado a se manifestar sobre Jerusalém, como se o próprio céu gritasse que o juízo estava às portas.

À meia-noite, sacerdotes que serviam no templo foram surpreendidos por um clarão sobrenatural. Uma luz intensa iluminou o santuário e o altar como se fosse pleno dia. O espanto foi geral. Alguns pensaram que fosse uma manifestação divina, outros sentiram apenas um arrepio gelado percorrer o corpo.

Logo depois, o inexplicável: a grande porta oriental do templo, tão pesada que vinte homens precisavam para movê-la, abriu-se sozinha. As barras de ferro que a prendiam estavam intactas. Não havia mãos visíveis. A mensagem parecia clara: a presença divina abandonava o templo.

Mas o que mais aterrorizou a população foram os céus. Ao pôr-do-sol, nuvens se tornaram palco de uma visão assustadora: carros de guerra e tropas armadas desfilavam no firmamento. Não era miragem. Muitos viram. Havia formações militares, cavaleiros, lanças reluzindo.

E então, segundo relatos preservados por Tácito, o que se viu foi ainda mais assustador: exércitos em batalha, hostes se chocando entre as nuvens, armas flamejando como relâmpagos. O céu travava uma guerra invisível, refletida diante dos olhos de uma cidade já sitiada por exércitos humanos.

Dentro do santuário, sacerdotes atônitos ouviram sons misteriosos, como o rumor de uma multidão em marcha. E, entre ecos e tremores, uma voz poderosa retumbou: “Partamos daqui!” Era como se anjos abandonassem a cidade, como se a glória tivesse se retirado para sempre.

Historiadores como Josefo, Tácito e Milman registraram esses presságios; e séculos depois, Ellen White os reuniu em sua obra O Grande Conflito, lembrando que os sinais não eram apenas curiosidades da Antiguidade. Eles apontavam para o cumprimento literal da profecia de Cristo: “Haverá coisas espantosas e grandes sinais aterrorizantes vindos do céu” (Lucas 21:11).

Assim, Jerusalém caiu em ruínas não apenas pela força das legiões de Tito, mas também sob o peso dos presságios celestes. O céu avisou, mas a cidade não ouviu.

O Grande Conflito

Para o leitor adventista do sétimo dia, convém saber que Ellen G. White cita esses sinais registrados por Flávio Josefo e outros historiadores no livro O Grande Conflito, págs. 29-30.

“Todas as predições feitas por Cristo relativas à destruição de Jerusalém cumpriram-se à letra. Os judeus experimentaram a verdade de Suas palavras de advertência: “Com a medida com que tiverdes medido, vos hão de medir a vós.” Mat. 7:2.

“Apareceram sinais e prodígios, prenunciando desastre e condenação. Ao meio da noite, uma luz sobrenatural resplandeceu sobre o templo e o altar. Sobre as nuvens, ao pôr-do-sol, desenhavam-se carros e homens de guerra reunindo-se para a batalha. Os sacerdotes que ministravam à noite no santuário, aterrorizavam-se com sons misteriosos; a terra tremia e ouvia-se multidão de vozes a clamar: “Partamos daqui!” A grande porta oriental, tão pesada que dificilmente podia ser fechada por uns vinte homens, e que se achava segura por imensas barras de ferro fixas profundamente no pavimento de pedra sólida, abriu-se à meia-noite, independente de qualquer agente visível. — História dos Judeus, de Milman, livro 13.

“Durante sete anos um homem esteve a subir e descer as ruas de Jerusalém, declarando as desgraças que deveriam sobrevir à cidade. De dia e de noite cantava ele funebremente: “Uma voz do Oriente, uma voz do Ocidente, uma voz dos quatro ventos! uma voz contra Jerusalém e contra o templo! uma voz contra os noivos e as noivas! uma voz contra o povo!”Ibidem. Este ser estranho foi preso e açoitado, mas nenhuma queixa lhe escapou dos lábios. Aos insultos e maus-tratos respondia somente: “Ai! ai de Jerusalém!” “Ai! ai dos habitantes dela!” Seu clamor de aviso não cessou senão quando foi morto no cerco que havia predito.”

Essa passagem que aparece em Ellen G. White, O Grande Conflito (cap. 1) é um composto de várias fontes históricas — especialmente Josefo, Tácito e a síntese feita por Henry Hart Milman em History of the Jews, Livro XIII.

Vamos esclarecer:

  1. Ellen White cita praticamente em sequência os mesmos sinais que aparecem em Josefo (Guerras VI.5.3) e em Milman:

    • luz sobrenatural sobre o templo e altar (Josefo, VI.5.3);

    • carros e homens de guerra reunindo-se para a batalha sobre as nuvens (Tácito, Histórias V.13; Josefo fala de tropas correndo entre as nuvens, Milman ecoa isso);

    • sons misteriosos no templo, a voz “Saiamos daqui” (Josefo, VI.5.3);

    • a porta oriental abrindo-se sozinha à meia-noite (Josefo, VI.5.3; Milman repete).

    Tudo isso é incorporado por Ellen White com a citação de Milman como fonte de apoio.

  2. O detalhe da “batalha” (e não apenas “carros/tropas”) vem de Tácito, que escreveu:

    “Contending hosts were seen meeting in the skies, arms flashed, and suddenly the temple was illumined with fire from the clouds…” (Histórias V.13).
    Ou seja, ele não fala apenas em movimento militar, mas em choque de exércitos.

  3. Milman no History of the Jews, Livro XIII, faz uma síntese dos relatos de Josefo e Tácito, e Ellen White parece ter se baseado em sua versão. É por isso que na nota de rodapé de O Grande Conflito aparece: “— História dos Judeus, de Milman, livro 13.”

Resumo:

  • Josefo: carros e tropas armadas nas nuvens, portão oriental, voz misteriosa, luz no templo.

  • Tácito: acrescenta o detalhe de batalha nos céus, armas reluzindo.

  • Milman (Livro XIII): compila Josefo e Tácito em uma narrativa fluida.

  • Ellen White: Editores citam Milman como referência inespecífica, mas o texto já incorpora tanto Josefo quanto Tácito. Essa inserção de fonte provável ocorreu no período em que surgiram acusações de plágio contra EGW.

O ponto-chave:

  • O “combate de exércitos no céu” não vem diretamente de Josefo, mas de Tácito (Histórias 5.13).
  • Milman (Livro XIII de History of the Jews) incorporou tanto Josefo quanto Tácito em sua narrativa dos presságios.
  • Ellen White, em O Grande Conflito, cita Milman como fonte, mas o texto dela já traz o detalhe da batalha nos céus, que é típico de Tácito.

Assim, a cadeia é:
Josefo (núcleo)Tácito (detalhe da batalha)Milman (compilação)Ellen White (citação via Milman).

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