No vídeo acima, que já utilizamos pela ilustrar essa nova série de artgos, que estamos publicando neste fim-de-semana, por volta de 7m20s do início da narração, o apresentados faz referência a um “fantasma demoníaco de tamanho incrível”, ente os sinais aterrorizantes da proximidade da destruição do templo e de Jerusalém. E uma figura assustadora como essa ajusta-se perfeitamente à tradução de Lucas 21:11: “…Haverá grandes monstros aterrorizantes vindos do Céu.”
Por isso, imediatamente buscamos a fonte dessa aparição descrita como “fantasma demoníaco de tamanho incrível” sobre Jerusalém — e o que os textos antigos realmente dizem.
Onde aparece algo como um “espectro/figura gigantesca”
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Pseudo-Hegesipo (séc. IV, De excidio Hierosolymitano, V, 44)
É a fonte mais explícita com essa linguagem. Na sequência em que reúne os “sinais” antes da queda, ele escreve: “Depois de muitos dias apareceu uma certa figura de tamanho tremendo, que muitos viram… e viram-se repentinamente nas nuvens carros e formações armadas, com as quais as cidades de toda a Judeia foram invadidas.” (tradução inglesa online). Projeto Tertuliano
→ Note que aqui o texto fala em “figura de tamanho tremendo” (a certain figure of tremendous size). A palavra “demoníaco” não aparece no trecho, mas fica implícito tratar-se de uma aparição gigantesca, aterrorizante, que não viria de Deus, embora se manifestasse nos céus. Uma figura demoníaa, portanto.
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Josefo (séc. I), Guerra dos Judeus 6.5.3 (= §§ 296–299 Niese)
Ele é a principal testemunha antiga dos sinais, mas não usa a expressão “fantasma”. O que escreve é: “antes do pôr do sol, viram-se carros e tropas de soldados, em suas armaduras, correndo pelas nuvens e cercando cidades”; e, na festa de Pentecostes, os sacerdotes ouviram um estrondo e a voz: “Partamos daqui”. LexundriaPenelope
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Eusébio (séc. IV), História Eclesiástica 3.8.5 (resumindo Josefo)
Reitera a data: “no vigésimo primeiro dia do mês Artemísio” (21 de maio) e diz que “viram-se carros e tropas armadas em pleno ar, por toda a região”. topostext.org
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Tácito (séc. I/II), Histórias 5.13
Entre os prodígios, relata: “No céu apareceu a visão de exércitos em conflito e de armas cintilantes”; também que “as portas do santuário se abriram sozinhas” e ouviu-se uma voz sobre a partida dos deuses. Penelope
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Sefer Yosippon (medieval, séc. X)
Uma tradição hebraica posterior que combina esses relatos: fala do “contorno de um rosto” visto sobre o Santo dos Santos por uma noite inteira e de “quatro carros com cavaleiros” e estrondos no céu, próximos a Jerusalém. jannawam.files.wordpress.com
Conclusão rápida
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A frase mais próxima de “fantasma demoníaco de tamanho incrível” está no Pseudo-Hegesipo (“figura de tamanho tremendo”). Josefo, Eusébio e Tácito embora não usem as expressões “demoníaco” e “fantasma”; falam de exércitos antagônicos, carros e tropas que se enfrentam nas nuvens e de sinais no Templo. Projeto TertulianoLexundriatopostext.orgPenelope
Em suma:
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“Figura gigantesca”: Pseudo-Hegesipo. Projeto Tertuliano
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“Exércitos/batalha no céu”: Josefo, resumido por Eusébio; e Tácito também menciona exércitos em conflito. Lexundriatopostext.orgPenelope
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Elaborações medievais (rosto sobre o Templo; carros de fogo): Yosippon. jannawam.files.wordpress.com
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O surgimento da figura monstruosa e gigantesca que alguns associam a um “fantasma demoníaco” vem sobretudo da informação preservada e por Pseudo-Hegesipo (séc. IV). No livro V, capítulo 44 de sua obra De excidio Hierosolymitano (uma versão latina do cerco de Jerusalém, com base principalmente na obra de Flávio Josefo, Guerra dos Judeus), ele descreve o seguinte:
“Além disso, depois de muitos dias, uma certa figura de tamanho tremendo apareceu, que muitos viram, assim como os livros dos judeus revelaram, e antes do pôr do sol, carros foram subitamente vistos nas nuvens e formações de batalha armadas, pelas quais as cidades de toda a Judeia e seus territórios foram invadidas.”
Esse testemunho acrescenta um detalhe que não aparece em Flávio Josefo nem em Eusébio: a visão inicial de uma figura gigantesca, uma aparição aterrorizante que serviu de prelúdio ao espetáculo celeste de carros de guerra e tropas entre as nuvens.
Segundo o Pseudo-Hegesipo (séc. IV), antes mesmo de se verem os exércitos nas nuvens, surgiu sobre Jerusalém uma figura de tamanho tremendo, descrita como um espectro colossal que muitos habitantes afirmaram ter visto. Essa aparição monstruosa pairava sobre a cidade como um presságio, antecedendo imediatamente a visão dos carros de guerra e das tropas celestes que se moviam entre as nuvens. Para os que presenciaram, a figura gigantesca foi o primeiro anúncio visível de que os céus estavam prestes a se transformar em palco de uma batalha sobrenatural.
A partir daí, a narrativa converge com o que Josefo e Eusébio registraram: exércitos em movimento nas nuvens, cercando cidades, e depois — conforme Tácito acrescenta — até mesmo batalhas em choque nos céus. Assim, no quadro completo transmitido pelas diferentes tradições, temos uma sequência dramática:
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O aparecimento da figura colosal (Hegesipo).
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A manifestação de exércitos armados nas nuvens (Josefo, Eusébio).
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A descrição de batalhas e choques de tropas celestes (Tácito).
Esse encadeamento transforma o cerco de Jerusalém não apenas em uma tragédia militar, mas também em um cenário de sinais cósmicos, interpretados como a confirmação do juízo divino.
Fontes sobre obra de Hegésipo: