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Quem é o Dragão do Apocalipse? Por séculos, os fiéis têm se perguntado sobre a terrível besta descrita no último livro da Bíblia. Mas a Etiópia — uma das nações cristãs mais antigas do mundo — preservou uma antiga tradição que dá um nome a esse dragão: Arwe.
No vídeo acima, apresentamos:
- O dragão de Apocalipse 12 e seu significado profético
- O papel singular da Etiópia na preservação da antiga sabedoria bíblica
- A lenda de Arwe, o dragão sedento de sangue derrotado por Angabo
- Como os cristãos etíopes associaram Arwe ao próprio Satanás
Essa história espelha a vitória final de Cristo na cruz. Isso não é apenas história. É profecia. É um lembrete de que o dragão já foi derrotado e o Cordeiro triunfou. O que você acha? O Dragão do Apocalipse é apenas um símbolo do mal ou o próprio Satanás revelado?
Como a tradição etíope preservou uma versão esquecida da criatura mais temida das Escrituras

Quatro painéis ilustrando o relato de Arwe, extraídos de uma pintura maior de um pintor etíope anônimo, dos séculos XVII a XIX: 1. Arwe exigindo um sacrifício; 2. O veneno é extraído da árvore; 3. Arwe recebe uma cabra branca como oferta; 4. Arwe morre.
O Enigma que atravessou os séculos
Quem é o dragão do Apocalipse? Por séculos, essa imagem bíblica tem despertado perguntas e interpretações. Seria apenas um símbolo do mal? Uma metáfora do poder humano corrompido? Ou algo mais concreto, com raízes mais antigas do que imaginamos?
O Livro do Apocalipse descreve um grande dragão vermelho, com sete cabeças, dez chifres e sete coroas, cuja cauda varre um terço das estrelas do céu. É uma visão poderosa e perturbadora, de poder em escala cósmica — o tipo de imagem que não pretende ser esquecida. Mas há um detalhe surpreendente: segundo uma tradição preservada há mais de mil anos, a Etiópia afirma conhecer o nome desse dragão.
A sabedoria ancestral da Etiópia cristã
Muito antes da Europa abraçar o cristianismo, a Etiópia já o havia adotado oficialmente no século IV, tornando-se uma das primeiras nações cristãs do mundo. E, diferente de tantos outros povos, nunca perdeu sua fé para conquistas estrangeiras ou mudanças culturais.
A Igreja Ortodoxa Etíope tornou-se guardiã de textos que o restante do mundo cristão esqueceu. Entre eles estão o Livro de Enoque e o Livro dos Jubileus, que expandem a compreensão espiritual da luta entre o bem e o mal. Sua Bíblia, considerada a mais completa do planeta, é um repositório de saberes antigos, muitos deles ausentes da tradição ocidental.
Nesse contexto, a Etiópia também preservou uma história singular sobre o dragão do Apocalipse — e nela, o monstro tem nome, rosto e passado.
Arwe, o dragão que exigia sacrifícios
Na tradição etíope, o dragão é chamado Arwe, que significa “besta ou animal selvagem”, Arway (ou Arway Ble). A lenda conta que ele era uma serpente gigantesca e cruel, que governou a terra por quatrocentos anos, exigindo sacrifícios humanos, especialmente de crianças.
O povo vivia em constante terror até que surgiu um herói: Angabo. Com sabedoria e coragem, ele enganou o dragão com uma refeição envenenada, matando-o e libertando o povo do medo. De sua linhagem, diz a tradição, nasceu a Rainha de Sabá, que visitou o rei Salomão em Jerusalém.

A princípio, pode parecer apenas uma lenda moral. Mas, para os cristãos etíopes, Arwe ou Arway é a personificação do próprio Satanás — o mesmo dragão descrito por João no Apocalipse. Durante séculos, o nome Arwe foi preservado como um eco do mal primordial, um lembrete simbólico e espiritual de que o dragão tem um nome — e já foi derrotado.
A parábola dentro da lenda
A história de Arwe carrega um simbolismo profundo. O dragão que exigia sangue inocente é um retrato do próprio diabo, aquele que, segundo Jesus, “vem para roubar, matar e destruir”. Assim como a Etiópia foi escravizada pelo terror de Arwe, a humanidade também vive sob o poder do pecado — incapaz de se libertar sozinha. Mas um libertador se levanta. Angabo vence o monstro não com força bruta, mas com sabedoria, coragem e sacrifício.
O paralelo é inevitável: Cristo fez o mesmo. Não destruiu Satanás com violência, mas com a sabedoria divina e o poder da cruz. Ao entregar a própria vida, esmagou a cabeça da serpente e libertou o povo da escravidão espiritual. Assim, a lenda etíope deixa de ser apenas folclore e se torna uma parábola do Evangelho — um reflexo antecipado da vitória do bem sobre o mal.
As sete cabeças e os impérios do mundo
O Apocalipse descreve o dragão com sete cabeças e dez chifres, símbolos que representam reinos e poderes terrenos. As coroas, por sua vez, indicam domínio e autoridade.
O dragão, então, não é apenas Satanás como indivíduo, mas Satanás atuando através dos impérios humanos: Egito, Babilônia, Roma e outros que tentaram destruir os fiéis. Cada cabeça e cada chifre é uma manifestação histórica da opressão. Na tradição etíope, Arwe também não era apenas um monstro: representava eras inteiras de medo, corrupção e idolatria. Ambas as visões convergem — o mal assume muitas formas, mas tem uma única origem.
Etiópia: o elo profético esquecido
A Bíblia menciona a Etiópia inúmeras vezes. Em Isaías 18:7, o profeta diz:
“De além dos rios da Etiópia, meus adoradores trarão ofertas para mim.”
A Etiópia, portanto, não é um detalhe de rodapé, mas uma peça do plano profético. E talvez por isso tenha sido ela a preservar o nome do dragão quando o resto do mundo o esqueceu.
Essa lembrança nos ensina algo vital: Satanás não é uma abstração filosófica, mas uma realidade espiritual ativa. Contudo, sua derrota já foi decretada. O Apocalipse é claro: o dragão foi lançado à Terra e está furioso, “porque sabe que pouco tempo lhe resta.”
Três lições eternas
Da antiga história etíope, emergem três lições que continuam válidas hoje:
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O mal sempre exige sacrifício.
O dragão pedia sangue; Satanás exige nossa alegria, paz e fé. O mal nunca se satisfaz — ele consome tudo que toca. -
A sabedoria e a coragem derrotam o mal.
Angabo não fugiu do dragão. Enfrentou-o com inteligência e ousadia — assim como somos chamados a resistir ao mal, firmes na fé. -
Cristo é o herói definitivo.
Se Angabo libertou seu povo, Cristo libertou toda a humanidade.
A cruz foi o golpe final — o veneno que destruiu o poder da serpente.
A vitória do Cordeiro
O dragão do Apocalipse pode ter sete cabeças e uma cauda flamejante, mas sua derrota é certa. A história etíope não é sobre medo, mas sobre vitória e esperança.
O dragão tem nome. O dragão foi desmascarado. E, mais importante, o dragão foi derrotado. A antiga sabedoria da Etiópia nos lembra que o mal pode rugir alto, mas já foi envenenado pela cruz. E quando o Cordeiro venceu, selou para sempre o destino da serpente.
Reflexão final
Hoje, diante de um mundo tomado por guerras, mentiras e desespero, ainda sentimos a fúria do dragão. Mas a mensagem permanece: ele já caiu. A Etiópia guardou esse lembrete por séculos — e agora ele volta a ecoar para o mundo. Porque, no fim, a história do dragão não é sobre terror, mas sobre redenção.
O mal tem muitas cabeças,
mas o Cordeiro já venceu a vitória.
O Cordeiro e a Serpente: Arwe, Makeda e a Redenção no Mito Etíope

Arwe — ou Arway — foi derrotado com a oferta de um cordeiro branco imaculado e uma tigela com o suco da venenosa árvore Euphorbia. Enfrenta a serpente e oferece-lhe o cordeiro e o suco, que Arwe aceita sem saber que isso lhe causará a morte. Depois de Arwe ser finalmente derrotado, o povo oferece ao homem o direito de se tornar seu governante, posição que ele aceita de bom grado até estar pronto para deixar a sua filha Makeda reinar.
Essa narrativa, que à primeira vista parece apenas uma antiga lenda etíope, carrega em si símbolos universais e ecos espirituais que atravessam civilizações. O cordeiro branco, oferecido em sacrifício, é um dos mais fortes arquétipos da pureza e da redenção. Na tradição cristã, o cordeiro representa Jesus Cristo — o “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”. Assim como Cristo venceu o mal não pela espada, mas pelo sacrifício, o herói desta história derrota a serpente não com violência, mas com entrega e sabedoria.
A serpente Arwe, símbolo do caos, da tirania e da corrupção, encarna o mal que se alimenta da própria destruição. O cordeiro, em contrapartida, representa a pureza que desarma a força sombria. O suco da venenosa Euphorbia torna-se o instrumento paradoxal da justiça divina: o veneno se converte em remédio, e o mal é vencido ao provar de seu próprio fruto. É a justiça espiritual invertendo a lógica da violência — o castigo nascendo dentro da própria transgressão.
Ao oferecer o cordeiro, o herói realiza um ato messiânico. É a antecipação simbólica da cruz — a vitória que nasce do sacrifício, a vida que surge da morte. A pureza vence o caos, não pela força, mas pelo poder redentor da verdade e do amor.
Quando o povo entrega o trono ao libertador, e este o aceita apenas até a maturidade de sua filha Makeda, revela-se outro princípio essencial do cristianismo: o poder como serviço, e não como domínio. Makeda, futura Rainha de Sabá, encarna a continuidade da luz após a queda das trevas. Sua ascensão representa o início de uma nova era — a do saber, da diplomacia e da fé.
Segundo a tradição etíope, Makeda viajou até Jerusalém para conhecer o rei Salomão, atraída pela sua sabedoria. Dessa união nasceu Menelik I, fundador da dinastia salomônica e, segundo o Kebra Nagast, portador da Arca da Aliança para a Etiópia. Assim, o mito de Arwe conecta-se diretamente à história sagrada: o cordeiro sacrificado prefigura Cristo, Makeda representa a humanidade restaurada e Menelik, a continuidade da aliança divina.
Dessa forma, a morte da serpente Arwe e o reinado de Makeda não simbolizam apenas o fim de uma tirania, mas o nascimento de uma nova aliança entre o humano e o divino. O cordeiro branco anuncia o Cristo vindouro, o veneno representa o pecado consumido pelo próprio mal, e Makeda, a rainha sábia, traz ao mundo o testemunho da fé que une sabedoria e redenção.
O mito, portanto, é mais do que uma história antiga: é uma profecia velada, um espelho da salvação. Nele, a serpente cai, o veneno se purifica, o trono é restaurado — e o poder retorna à inocência. A Etiópia, guardiã da Arca e herdeira desse legado, conserva até hoje a memória desse cordeiro branco que venceu o abismo sem derramar uma espada.
No fim, a lição permanece: o verdadeiro poder não está nas presas da serpente, mas na mansidão do cordeiro.
Nota editorial
O mito de Arwe é uma das narrativas mais antigas da Etiópia, transmitida oralmente por gerações e preservada em textos ligados à tradição etíope ortodoxa. Arwe, descrito como uma serpente ou dragão que devorava o povo, representa a antiga ordem pagã. Sua derrota marca o início da civilização espiritual da Etiópia, culminando com o reinado de Makeda, a Rainha de Sabá.
Na interpretação cristã etíope, o cordeiro oferecido ao monstro é uma clara prefiguração de Cristo, e o veneno que destrói Arwe simboliza o próprio pecado sendo vencido pela pureza divina. Essa fusão entre mito e teologia faz da narrativa uma das mais ricas pontes entre a fé judaico-cristã e a espiritualidade africana, onde o Cristo é visto não apenas como redentor universal, mas também como herdeiro simbólico da sabedoria e da aliança etíope.
Referências Bibliográficas
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The Kebra Nagast: The Queen of Sheba and Her Only Son Menyelek, traduzido por E. A. Wallis Budge. London: Oxford University Press, 1932.
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Ullendorff, Edward. The Ethiopians: An Introduction to Country and People. Oxford University Press, 1960.
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Kaplan, Steven. The Beta Israel (Falasha) in Ethiopia: From Earliest Times to the Twentieth Century. New York University Press, 1992.
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Marrassini, Paolo. Aethiopica Antiqua: Studies in Ethiopian Language and Literature. Napoli: Istituto Universitario Orientale, 1987.
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Isaac, Ephraim. African Roots of the Old Testament. In: The Biblical Archaeologist, vol. 59, n. 4, 1996.
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Levine, Donald N. Greater Ethiopia: The Evolution of a Multiethnic Society. University of Chicago Press, 1974.
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The Book of Enoch (1 Enoch), tradução etíope. Manuscrito Ge’ez preservado pela Igreja Ortodoxa Etíope Tewahedo.