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Será que a fé pode ser mal depositada? Essa é a pergunta que este sermão levanta ao discutir Hebreus 11:35, um versículo que faz referência a uma história do livro de 2 Macabeus. A mensagem: devemos ter cuidado com onde depositamos nossas convicções. Pois, embora possamos de fato ter fé, podemos depositá-la em coisas erradas.
Quando a Fé Aponta Para Livros Removidos: O Testemunho dos Macabeus e o Problema Protestante com os Apócrifos
Como um Texto Esquecido pela Reforma Revela a Emergência do Cânon e a Força da Tradição Perdida
Oração Inicial e a Cena de Martírio
“Deus amoroso, não permita que nos desviemos de Ti — o Caminho — nem que Te compreendamos mal — a Verdade — nem que adoremos qualquer outra coisa além de Ti — a Vida. Amém.”
Um por um, os irmãos eram trazidos para fora e, um por um, eram submetidos aos piores castigos imagináveis. Todos os oito — incluindo a mãe — foram chicoteados pelos soldados selêucidas. Nenhuma misericórdia seria dada àqueles dissidentes.
Observando o procedimento com notável deleite estava o rei Antíoco IV Epifânio.
De repente, um dos irmãos — conforme 2 Macabeus 7:1-42 — falou em meio à tortura, gritando:
“Estamos prontos para morrer, em vez de transgredir a lei de nossos antepassados.”
Isso só deixou o rei ainda mais furioso. Ele ordenou que caldeirões fossem trazidos e aquecidos para que o jovem fosse derretido vivo. Mas não satisfeito, ordenou que a língua do menino fosse arrancada, que suas mãos e pés fossem cortados e sua cabeça escalpada, tudo diante dos outros seis irmãos e da mãe.
Quando estava quase morto, mas ainda respirando, Antíoco ordenou que o jogassem ao fogo. A fumaça de sua carne rodeava a família restante, que continuava a encorajar-se mutuamente na fé.
Os soldados agarraram o próximo irmão. Um por um, eles vinham, eram convidados a comer, e, após recusarem, morriam. Alguns eram ainda mais corajosos, estendendo voluntariamente seus membros, com orgulho.
Finalmente, após a fumaça de sua carne envolver o local, restou o irmão mais jovem. Antíoco decidiu usar um método diferente de persuasão: prometeu riquezas e amizade real se o garoto comesse carne de porco. Afinal, tudo aquilo havia começado porque a família se recusara a comer o animal — e as consequências tinham sido terríveis.
“Escolha a vida!”, implorou o rei. Mas o jovem permaneceu firme.
Antíoco então ordenou que a mãe convencesse o filho. Ela fingiu que concordaria, mas, em hebraico, incentivou o menino a não ceder, dizendo que, se morresse fiel, seria considerado digno da ressurreição.
Antes que ela terminasse, o garoto exclamou publicamente que, por causa de suas mortes, Deus começaria a mostrar misericórdia ao Seu povo.
Isso enfureceu o rei ainda mais, que então fez ao mais novo pior do que fizera a todos os outros.
Por fim, tendo visto todos os filhos mortos, a mãe não suportou mais e lançou-se ao fogo, juntando-se a eles — conforme 4 Macabeus 17:1.
Hebreus 11 e a “Oportunidade Impossível”: Quando o Novo Testamento Cita Livros Apócrifos
Não é comum que, ao se pregar, um texto bíblico ofereça um trampolim legítimo para sair não apenas do trecho escolhido, mas da própria Bíblia protestante. No entanto, é exatamente essa oportunidade que surge com o texto de hoje, em Hebreus 11.
No versículo 35, o escritor anônimo menciona, entre outros heróis da fé:
“Alguns foram torturados, recusando aceitar a libertação, para obterem uma melhor ressurreição.”
Essa referência, embora lida por muitos, é raramente compreendida por leitores protestantes. Trata-se de uma alusão direta à história dos sete mártires Macabeus.
O problema?
Essa história não está mais nas Bíblias protestantes.
Para católicos e ortodoxos, ela ainda se encontra no Antigo Testamento, entre Ester e Jó, no livro de 2 Macabeus.
Para sermos breves: a maioria dos cristãos do mundo não usa o mesmo cânon que os protestantes. Não é apenas uma questão de tradução: eles possuem mais livros — não porque os acrescentaram, mas porque os reformadores removeram.
Por muito tempo, mesmo após declararem esses livros como “não canônicos”, os protestantes continuaram incluindo-os em suas Bíblias.
Hoje, muitos nem sabem que Bíblias diferem entre si — e menos ainda sabem que o Novo Testamento às vezes faz referência direta a histórias que os protestantes retiraram.
Assim, curiosamente, uma pregação em Hebreus oferece a rara oportunidade de um protestante pregar sobre o Apócrifo.
O Que Hebreus Confirma: A Fé dos Mártires
Segundo Hebreus, foi pela fé que os sete irmãos fizeram o que fizeram. Por séculos, cristãos viram na história dos Macabeus um exemplo de fidelidade extrema.
Mas a reflexão não termina aí.
A questão proposta é:
Pode uma fé ser genuína — e ainda assim mal direcionada?
O Conflito Macabeu: Tradição x Helenização
A questão central para os jovens mártires era simples: comer ou não comer carne de porco, conforme o decreto do rei. Antíoco não lhes exigiu renunciar a Deus ou deixar de ser judeus. Não exigiu adoração a outros deuses.
Ele queria apenas uma coisa:
que abandonassem um ponto específico da lei dietética.
Por que isso era tão importante?
Por que um rei sírio se importaria com uma família judaica que se recusava a comer porco?
A resposta está no contexto histórico:
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Judeus tradicionalistas x judeus helenistas
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Conservadores x liberais
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Resistência cultural x adaptação ao mundo grego
Os tradicionalistas afirmavam que o povo judeu nada deveria ter a ver com a cultura grega.
Os helenistas acreditavam que o futuro judaico dependia de abraçar a helenização e as mudanças culturais, sendo flexíveis com costumes como circuncisão, ginásios e consumo de carne impura.
É uma simplificação de um debate complexo do século II a.C., mas suficiente para explicar o conflito.
Quando Antíoco removeu o sumo sacerdote tradicionalista e colocou um helenista em seu lugar, a guerra explodiu. Conservadores — ancestrais ideológicos dos futuros zelotes — passaram a atacar e matar judeus considerados liberais.
A história dos irmãos ocorre nesse contexto.
A Teologia da Mãe: Ressurreição Como Recompensa pelo Rigor
A fala da mãe ao filho mais novo é teologicamente reveladora:
se eles não resistissem ao porco, não seriam dignos da ressurreição.
Ou seja:
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A ressurreição seria um prêmio por obras, não graça divina.
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Judeus que comessem porco estariam perdidos.
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A severidade das convicções determinaria o destino eterno.
Mas Paulo — escrevendo 170 anos depois — afirma de modo claro que:
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Questões dietéticas não determinam salvação.
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Deus julga a sinceridade da convicção, não o alimento em si. (Romanos 14)
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Convicções mal formuladas podem causar grandes danos.
Quando a Convicção Vira Cegueira: Paralelos Históricos
O texto cita o filme A Man for All Seasons (1966) e Thomas More — que morreu pelas próprias convicções religiosas, defendendo uma posição que, ironicamente, abriu caminho para aquilo que ajudaria a Reforma Protestante.
Uma morte heroica?
Sim.
Mas também trágica — uma vida perdida por um ponto que Deus, ao que tudo indica, usaria de outra maneira.
O mesmo raciocínio se aplica aos Macabeus:
eles lutaram e mataram para preservar práticas que o cristianismo posterior não manteria:
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Circuncisão como obrigação — abandonada.
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Rejeição a costumes gregos — superada.
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Rigidez dietética absoluta — flexibilizada.
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Condenação do porco como questão de salvação — rejeitada.
Em muitos aspectos, hoje temos mais em comum com os helenistas do que com os tradicionalistas martirizados.
Conclusão: Quando o Apócrifo Questiona Nossas Próprias Guerras Culturais
A história dos sete irmãos — preservada apenas nos livros removidos — não oferece respostas fáceis. Em vez disso, lança um espelho sobre nós:
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Como nossas convicções serão lembradas?
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Podem ser sinceras e, ainda assim, equivocadas?
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Já lutamos — ou ainda lutamos — contra coisas que Deus futuramente usará?
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Nossa fé pode estar em Deus… e ao mesmo tempo mal colocada?
As perguntas são profundas. E, como afirmado no texto:
“Que essas questões nos assombre, como devem — e que façam o mesmo com você.”
O Livro que a Reforma Escondeu: Quando Hebreus 11 Testemunha a Favor dos “Apócrifos”

Como um Texto Removido do Antigo Testamento Revela a Verdade Sobre o Cânon, a Tradição e a Nossa Própria Cegueira Espiritual
Há momentos na história em que um detalhe esquecido, uma frase dispersa, um fragmento aparentemente insignificante, expõe um abismo teológico inteiro. O capítulo 11 de Hebreus carrega um desses abismos — uma lacuna que revela tanto a força da fé quanto a fragilidade do cânon protestante tal como hoje o conhecemos.
No verso 35, o escritor inspirado menciona:
“Alguns foram torturados, não aceitando o resgate, para obterem uma melhor ressurreição.”
Mas quem são esses mártires?
Em que parte do Antigo Testamento encontramos esse relato?
Que história é essa que o Espírito Santo julgou importante o suficiente para inspirar… mas nós julgamos dispensável o suficiente para remover?
A resposta é desconcertante:
a história está nos livros apócrifos — removidos pelas mãos humanas durante a Reforma.
E essa constatação, por si só, já deveria nos fazer tremer.
1. Quando o Novo Testamento cita o que o Protestantismo escondeu
A narrativa dos sete irmãos martirizados por Antíoco IV Epifânio, juntamente com sua mãe, está registrada em 2 Macabeus 7 e ecoada teologicamente em 4 Macabeus 17.
É unânime entre estudiosos:
Hebreus 11:35 cita diretamente essa história.
Logo, a carta aos Hebreus — inspirada, canônica, sagrada — pressupõe que seus leitores conheciam perfeitamente um livro que nós removemos.
Por qual autoridade nós decidimos que parte da Bíblia que Jesus e os apóstolos liam deveria ser descartada?
Por qual autoridade nós julgamos supérfluo algo que o próprio Espírito Santo usou para compor o Novo Testamento?
A resposta histórica é amarga:
não foi inspiração.
Foi política.
Foi reação.
Foi medo de Roma.
Foi um gesto apressado da Reforma que jamais foi teologicamente resolvido.
E hoje, o protestante médio sequer sabe que a Bíblia que carrega possui buracos — buracos que o próprio Novo Testamento aponta.
2. A História dos Macabeus: o Texto que o Mundo Leu e os Protestantes Esqueceram
A cena é brutal:
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oito pessoas torturadas, uma por vez;
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membros arrancados;
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línguas cortadas;
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jovens sendo literalmente derretidos em caldeirões;
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uma mãe encorajando seus filhos a permanecerem fiéis até a morte;
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e, no final, lançando-se ao fogo para morrer com eles.
Tudo isso por quê?
Por não comer carne de porco.
Antíoco não exigiu renúncia à fé.
Não exigiu idolatria.
Não exigiu adoração a falsos deuses.
Exigiu uma coisa:
que eles deixassem de ser o tipo de judeu que eram.
E eles decidiram morrer.
A mãe afirmou ao caçula que, se morresse fiel, seria digno da ressurreição — uma crença que influenciaria diretamente a teologia judaica e, mais tarde, o cristianismo primitivo.
E é justamente essa frase — “digno de uma melhor ressurreição” — que o autor de Hebreus ecoa.
Ou seja:
o Novo Testamento usa o Apócrifo como base doutrinária.
E nós… o arrancamos do cânon.
3. A Reforma removeu livros que os cristãos usaram durante 1.500 anos
Este é um fato histórico incontestável:
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Os judeus da época de Jesus usavam o cânon longo, com Macabeus incluído.
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Jesus e os apóstolos citavam a Septuaginta, que continha os Apócrifos.
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A Igreja por quinze séculos leu, estudou e preservou esses textos.
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Lutero e os reformadores não negaram o valor desses escritos — apenas duvidaram de seu status canônico.
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Mesmo assim, eles continuaram publicando-os nas Bíblias protestantes até o século XIX.
Hoje, ironicamente, protestantes rejeitam livros que seus próprios reformadores consideravam úteis, edificantes e historicamente essenciais.
E rejeitam sem nem saber por quê.
4. O Caso dos Macabeus e a Pergunta Incômoda: A Fé Pode Ser Genuína e Mesmo Assim Estar Mal Direcionada?
O sermão original que discutimos levanta uma pergunta que corta fundo:
“É possível que uma fé sincera seja verdadeira… e ao mesmo tempo mal colocada?”
Os Macabeus:
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lutaram pela circuncisão — que o cristianismo posterior abandonou;
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mataram e morreram pela pureza ritual — que deixou de ser critério espiritual;
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condenaram o porco como ponto de salvação — algo que Paulo rejeita em Romanos 14;
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combateram a helenização — que seria justamente o ambiente no qual Paulo levaria o Evangelho ao mundo.
O cristianismo, ao longo dos séculos, adotou centenas de elementos culturais gregos que os Macabeus rejeitaram com sangue.
E ainda assim…
Hebreus os chama de heróis da fé.
Por quê?
Porque não foram heróis por estarem certos, mas por serem fiéis às convicções que possuíam.
E isso lança sobre nós um espelho incômodo:
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Quais convicções defendemos como absolutas… sem perceber que Deus pode estar fazendo algo maior?
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Em que guerras culturais nos engajamos hoje… que amanhã parecerão cegueira espiritual?
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Quantos morreram defendendo ideias que Deus, no fim, deixou para trás?
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Quais textos bíblicos — ou apócrifos — desprezamos simplesmente porque nossa tradição os escondeu?
5. E se a história dos Macabeus é essencial para entender o Adventismo?
Aqui surge outra ironia divina:
O adventista crê em:
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fidelidade absoluta à consciência;
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leis dietéticas;
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resistência contra pressões culturais;
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a questão final envolvendo comida, culto e lealdade;
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a centralidade da ressurreição como esperança última;
-
a tensão entre tradição e helenização;
-
o visível e o invisível nos conflitos de fé.
Tudo isso está nos Macabeus.
Não na Reforma.
Não em Roma.
Não em Calvino.
Nos livros que foram removidos.
E o Novo Testamento — para surpresa de muitos protestantes — concorda com eles.
6. Conclusão: O Fantasma dos Livros Removidos Ainda Grita
A pergunta que encerra o texto original ressoa com força:
“Será que nossas convicções podem nos cegar para o que Deus está realmente fazendo?”
Os Macabeus:
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morreram por suas convicções,
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inspiraram gerações,
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moldaram a teologia judaica e cristã,
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e foram citados no Novo Testamento…
… mas foram apagados das Bíblias protestantes.
No fim, o que é mais assustador?
A brutalidade de Antíoco?
Ou a brutalidade silenciosa com que o protestantismo removeu livros que o próprio Espírito Santo utilizou?
Talvez a pergunta mais honesta seja:
Se o Novo Testamento cita Macabeus… como podemos negar sua relevância?
E mais:
Quantas verdades ainda ignoramos porque confiamos mais no filtro da Reforma do que no texto que Jesus usava?
A resposta, por enquanto, permanece aberta — e exige coragem espiritual para encarar.