Sob a presidência de Erton Kohler, a igreja exporta neutralidade e importa vergonha.

Nos últimos anos, o debate sobre direitos humanos no Brasil voltou ao centro das discussões públicas, impulsionado por decisões polêmicas, processos céleres, punições consideradas por muitos especialistas como desproporcionais e tensões entre liberdade de expressão, ordem pública e garantias fundamentais.
Diversos setores da sociedade civil têm manifestado preocupação com o que definem como acentuação do protagonismo judicial em temas políticos e comportamentais, bem como com o risco de decisões que, segundo críticos, ultrapassariam os limites do devido processo legal. Organizações de direitos humanos, juristas e entidades independentes têm pedido maior transparência, proporcionalidade e previsibilidade na aplicação das leis, especialmente em casos considerados de baixo potencial ofensivo.
Entre os episódios que geraram debate está o caso de Débora Rodrigues, cidadã brasileira que ganhou repercussão nacional após ser condenada por pichar uma estátua com batom lavável — um ato simbólico que, segundo sua defesa, não causou dano permanente ao patrimônio. O caso passou a ser amplamente discutido nas redes sociais e na imprensa alternativa devido à comparação feita por analistas entre a punição aplicada a Débora e declarações públicas semelhantes feitas por autoridades e figuras políticas sem consequências jurídicas equivalentes.
De acordo com informações circuladas em grupos adventistas e em reportagens independentes, Débora é membro da Igreja Adventista do Sétimo Dia, o que adicionou uma camada adicional de sensibilidade ao tema entre fiéis. No entanto, até o momento, não houve divulgação oficial da denominação sobre o assunto.
Especialistas em direitos humanos apontam que casos como o de Débora levantam três preocupações centrais:
- Proporcionalidade penal – se a punição corresponde ao ato praticado.
- Uniformidade de critérios – se cidadãos comuns recebem tratamento similar ao conferido a autoridades e figuras públicas.
- Proteção da liberdade de expressão simbólica – especialmente quando não há dano material permanente.
Para pesquisadores que acompanham tendências democráticas globais, a ausência de manifestações institucionais de grandes organizações religiosas ou cívicas diante de situações que despertam debate sobre garantias básicas pode ser interpretada como neutralidade — mas também pode ser vista, por segmentos críticos, como silêncio diante de possíveis violações, especialmente quando a pessoa impactada pertence a alguma dessas comunidades.
No contexto adventista, estudiosos de liberdade religiosa observam que a Igreja Adventista possui histórico internacional de defesa da consciência individual e, por isso, casos envolvendo membros suscitam a expectativa de posicionamentos públicos, mesmo que moderados, que reafirmem princípios basilares, como:
• o devido processo legal,
• a proporcionalidade das penas,
• a isonomia jurídica,
• e a proteção da livre manifestação de pensamento.
No cenário mais amplo, o caso de Débora Rodrigues tornou-se símbolo na discussão sobre direitos humanos no Brasil, independentemente de posição política: ele expõe tensões entre cidadania, expressão simbólica, autoridade estatal e resposta institucional.
O debate permanece aberto — e muitos especialistas defendem que maior diálogo entre sociedade civil, sistema de justiça e instituições tradicionais pode ajudar a evitar distorções e a reforçar a confiança pública nas garantias constitucionais.

Perdeu, Manerton!
Outro elemento mencionado por fiéis e analistas do meio adventista é o silêncio das lideranças globais da igreja em relação a casos de grande repercussão no Brasil.
O fato de o presidente mundial ser brasileiro — alguém com raízes e sensibilidade ao contexto nacional — muda profundamente o cenário quando se discute esse “silêncio institucional” diante de casos de injustiça ou atentados aos direitos humanos no Brasil. Vários cargos de peso na estrutura mundial da IASD também contam hoje com brasileiros ou líderes com forte ligação com o país, refletindo o enorme crescimento da denominação no território brasileiro, que possui um dos maiores números de membros do mundo.
Por isso, setores da comunidade adventista esperavam algum tipo de manifestação — mesmo que prudente e institucional — diante de casos emblemáticos envolvendo cidadãs brasileiras de fé adventista, como o episódio de Débora Rodrigues, cuja condenação por um ato de protesto simbólico gerou intenso debate público sobre proporcionalidade penal, liberdade de expressão e direitos humanos.
Até o momento, não houve posicionamento da Conferência Geral, nem de seus representantes de origem brasileira. Isso alimentou percepções divergentes dentro da comunidade:
• Para alguns, o silêncio demonstra cautela e o desejo de evitar envolvimento direto em questões judiciais nacionais.
• Para outros, a ausência de posicionamento fere o histórico adventista de defesa da liberdade de consciência e transmite a impressão de distanciamento institucional diante de temas sensíveis que mobilizam parte significativa dos membros.
Especialistas em liberdade religiosa destacam que a IASD, justamente por sua forte ênfase histórica na consciência individual, costuma ser cobrada publicamente sempre que casos envolvendo direitos civis de membros ganham repercussão nacional ou internacional.
A expectativa por uma palavra — ainda que moderada — não diz respeito a interferência no processo judicial, mas à reafirmação dos princípios adventistas clássicos, como:
• a defesa da proporcionalidade,
• o respeito ao devido processo legal,
• a importância da liberdade de expressão não violenta,
• e a solidariedade institucional para com membros que enfrentam processos públicos de grande desgaste.
Na visão de analistas, a ausência de reação pode ser interpretada tanto como estratégia de prudência institucional quanto como distanciamento diante de um caso de forte sensibilidade social. E por isso, o debate sobre o papel da liderança adventista em contextos de tensão civil continua aberto — com impacto direto na percepção pública da denominação dentro e fora do Brasil.
O silêncio da liderança global (ou a ausência de uma nota pública clara) torna-se mais visível — e, para críticos, mais contundente. Não se trata, necessariamente, de esperar um “palanque político”, mas pelo menos de reafirmar valores fundamentais: justiça, proporcionalidade, dignidade da pessoa, liberdade de consciência.
A legitimidade da instituição às vezes se mede pela coerência entre sua liderança e seus princípios: se a denominação defende liberdade de consciência, liberdade religiosa, dignidade humana — espera-se que essa defesa se estenda quando membros ou cidadãos são atingidos por decisões que muitos consideram desequilibradas ou injustas.
Conclusão profética
No Brasil, a erosão silenciosa dos direitos humanos se tornou tão comum que muitos já a tratam como paisagem. E quando abusos se tornam rotina, o silêncio das instituições religiosas não é neutralidade — é cumplicidade. A omissão diante de injustiças é sempre uma forma de aliança com elas.
Quando o poder se concentra em qualquer instância — seja no Executivo, no Judiciário ou em qualquer órgão capaz de sufocar vozes divergentes — o silêncio da Igreja soa como um “amém” que ela nunca teve o direito de pronunciar.
A Bíblia não concede à religião institucional o privilégio de calar quando vidas comuns, frágeis e invisíveis, são esmagadas pela máquina do Estado.
O caso de Débora Rodrigues — mãe de família, cidadã, brasileira — condenada por um ato simbólico, uma pichação com batom lavável, enquanto frases semelhantes foram ditas publicamente por autoridades de toga sem sofrer qualquer consequência, tornou-se um espelho cruel desta distorção.
Segundo relatos amplamente divulgados nas redes sociais, Débora é adventista. Isso deveria, no mínimo, provocar lágrimas, indignação e atitude profética por parte de uma Igreja que diz defender liberdade de consciência desde o século XIX.
Se a Igreja fecha os olhos diante de abusos institucionais, ela perde a autoridade moral de falar contra Babilônia. Se ela não levanta a voz quando mães de família são tratadas como inimigas do Estado por atos simbólicos, ela perde o direito de citar Apocalipse 18. Se ela se curva ao medo político, à conveniência diplomática ou ao cálculo institucional, ela deixa de ser voz profética e passa a ser funcionária do silêncio.
E quando injustiças se convertem em espetáculo e punições desproporcionais passam a ser instrumento de intimidação social, qualquer comunidade de fé que assiste calada já não está apenas ausente — está envolvida. O silêncio institucional é sempre uma forma de participação.
A Igreja pode alegar prudência. Pode alegar neutralidade. Pode alegar que não quer “se envolver em política”. Mas o profeta não pergunta se há risco.
O profeta pergunta se há verdade.
E quando a verdade é esmagada,
quando a justiça é seletiva,
quando mães choram por punições absurdas,
quando o Estado trata cidadãos desarmados como criminosos,
— o silêncio já não é opção.
Uma igreja que diz defender liberdade de consciência não pode fechar a boca diante do sofrimento de um dos seus — ou de qualquer pessoa injustamente tratada. Uma igreja que diz seguir Jesus não pode ignorar Pilatos. Uma igreja que diz defender a lei moral não pode aplaudir a arbitrariedade legal.
Porque quando a Igreja se cala, a injustiça fala em seu nome. E quando a Igreja se omite, a opressão agradece.
PARA ENCERRAR: Nova caricatura de “Sua Santidade Isentona, Erton Köhler — o Papa Adventista do Silêncio”

No centro da cena, ergue-se a famosa estátua da Justiça, mas algo está diferente. Sentado exatamente onde deveria estar a deusa romana, com as pernas cruzadas e um sorriso de quem não pretende se comprometer com absolutamente nada, está Sua Santidade Isentona, Erton Köhler — o Papa Adventista da Neutralidade Perpétua.
A venda cobre-lhe os olhos, mas não por causa da tão celebrada imparcialidade. A venda é de conveniência, costurada com tecido de “melhor não me meter”, e amarrada com um laço de “precisamos manter boas relações diplomáticas”.
No lugar da espada da Justiça, ele segura um celular.
Não vibra, não toca, não acende. Está para sempre configurado em:
Modo Silêncio — Não Perturbe — Notificações Desativadas — Consciência Opcional.
Na sua mão, treme uma hesitação eterna: falar ou não falar?
Mas o dedo paira sobre a tela e nunca pressiona “enviar”.
Nas costas, colado com fita crepe meio torta, um papel ofício dobrado em quatro balança ao vento.
O cartaz, escrito com canetão azul, declara ao mundo (ou a quem conseguir ler):
“Perdeu, Manerton!”
A balança abaixo dele tenta pesar alguma coisa —
de um lado, injustiças gritantes, casos emblemáticos, direitos humanos feridos; do outro, o silêncio institucional cuidadosamente empacotado.
A balança não se mexe. O peso da omissão é igual ao da neutralidade conveniente.
E assim permanece a caricatura: imóvel, vendada, silenciosa, equilibrada no fio tênue entre a diplomacia e a conivência.
O Papa Adventista Isentão observa tudo sem ver, avalia tudo sem julgar e lidera tudo sem dizer uma palavra.