Artigo 1 — Não é Bobagem: Jesus Mandou Olhar para os Dias de Noé

ARTIGO ANTERIOR:

Quando se apresenta a interpretação literal de Gênesis 6 — que identifica os “filhos de Deus” como anjos caídos que assumiram forma física e se uniram a mulheres humanas, gerando os nefilins — uma reação frequente é o riso irônico, seguido da frase: “isso é pura bobagem”. Essa resposta, muitas vezes, não vem acompanhada de argumentos sólidos ou de um exame honesto do texto bíblico, mas serve como um atalho para encerrar a discussão sem investigar suas implicações. No entanto, tal postura ignora um fato incontornável: o próprio Jesus Cristo nos mandou observar os “dias de Noé” como referência para compreender os eventos do tempo do fim.

O alerta profético de Jesus

Nos evangelhos de Mateus (24:37-39) e Lucas (17:26-27), Jesus afirma com clareza:

“Assim como foi nos dias de Noé, assim também será nos dias do Filho do Homem.”

Ele menciona que, antes do dilúvio, as pessoas “comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca, e veio o dilúvio e os destruiu a todos”. A leitura superficial vê nessa frase apenas uma descrição da rotina comum da vida humana. Mas, ao inserir o casamento como elemento central — e colocá-lo ao lado do juízo divino —, Cristo acena para algo muito mais profundo. Ele não precisava mencionar esse detalhe se estivesse apenas se referindo a uma vida cotidiana desinteressada de assuntos espirituais. A ênfase sugere que havia algo específico e problemático na forma como esses casamentos aconteciam nos dias de Noé.

A ligação direta com Gênesis 6

Ao voltarmos a Gênesis 6:1-4, vemos que o contexto matrimonial a que Jesus alude é peculiar. O texto descreve “filhos de Deus” tomando para si “filhas dos homens” — e a união dessas categorias distintas gerando seres poderosos, descritos como “valentes” e “homens de fama”. A expressão “filhos de Deus” (benei ha-Elohim) no Antigo Testamento é usada, em Jó 1:6 e 2:1, para se referir a seres celestiais. A tradição judaica e cristã primitiva entendeu essas palavras de forma literal: anjos, que transgrediram os limites estabelecidos por Deus, se materializaram e mantiveram relações com mulheres humanas, corrompendo a criação.

Portanto, quando Jesus aponta para os “dias de Noé”, Ele não está apenas relembrando uma história moralizante sobre desobediência e incredulidade. Está também chamando atenção para um episódio único de hibridização e corrupção na ordem criada, um evento tão grave que exigiu o juízo global do dilúvio.

A tradição que confirma

Essa leitura não é invenção moderna. Escritos judaicos intertestamentários, como o Livro de Enoque e o Livro dos Jubileus, interpretam Gênesis 6 como a história de anjos caídos (os “Vigilantes”) que se uniram a mulheres humanas. Pais da Igreja como Justino Mártir, Irineu, Tertuliano e Lactâncio sustentaram a mesma posição, entendendo que Jesus, ao mencionar os dias de Noé, estava também reafirmando a realidade histórica desse evento. Para eles, negar a literalidade de Gênesis 6 significava amputar parte da mensagem profética e distorcer o pano de fundo escatológico que Cristo propôs.

Por que não é “bobagem”

Chamar essa interpretação de “bobagem” é, na prática, minimizar as palavras de Jesus e desprezar um alerta profético que Ele mesmo julgou digno de destaque. Ignorar ou ridicularizar o assunto impede que percebamos paralelos claros entre a corrupção antediluviana e os perigos espirituais do nosso tempo — que, segundo o próprio Cristo, se assemelhará àquele período.

O desprezo moderno por esse tema não é fruto apenas de desinteresse, mas também de um desconforto com a natureza sobrenatural e perturbadora da narrativa. Vivemos numa era que prefere enquadrar a Bíblia dentro de categorias estritamente naturalistas, evitando qualquer elemento que sugira intervenção direta de seres espirituais no mundo físico. No entanto, a Escritura nos convida a reconhecer essa dimensão e a não subestimar a realidade do conflito entre o Reino de Deus e as forças espirituais da maldade.

Aplicação para nossos dias

Estudar Gênesis 6 à luz do ensino de Jesus não é uma curiosidade arqueológica nem um exercício teórico. É uma questão de vigilância espiritual. Cristo não desperdiçaria palavras em Seu discurso escatológico; se Ele disse que o fim será “como nos dias de Noé”, é porque os padrões de corrupção, engano e invasão espiritual voltarão a se manifestar de maneira semelhante. Reconhecer isso nos ajuda a discernir movimentos contemporâneos que tentam, mais uma vez, distorcer a ordem criada — seja pela manipulação genética, pela banalização do casamento ou por práticas espirituais que abrem portas a influências malignas.

PRÓXIMO ARTIGO:

Deixe um comentário