Artigo 2 — Judas, Pedro e Moisés Confirmam: Está na Bíblia Sim

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Entre as objeções mais comuns à interpretação literal de Gênesis 6, talvez nenhuma soe tão categórica quanto a frase: “A Bíblia não fala nada disso”. É uma afirmação que tenta encerrar o debate antes que ele comece, sugerindo que toda a ideia de anjos caídos tomando mulheres humanas e gerando descendência híbrida não passaria de invenção ou lenda. No entanto, essa posição só se sustenta quando se ignora — consciente ou inconscientemente — um conjunto de textos bíblicos que descrevem exatamente esse episódio. Lidos em conjunto, Gênesis 6:1-4, Judas 1:6-7 e 2 Pedro 2:4-5 revelam um panorama nítido, coerente e inescapável.

O registro em Gênesis

O relato em Gênesis 6 é breve, mas direto: “Quando os homens começaram a multiplicar-se sobre a face da terra, e lhes nasceram filhas, viram os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas; e tomaram para si mulheres de todas as que escolheram” (Gn 6:1-2). Em seguida, o texto menciona o surgimento dos nefilins, descritos como “valentes, homens de renome”. A estrutura da narrativa liga a união dos “filhos de Deus” com as mulheres humanas ao aparecimento desses seres extraordinários. O hebraico benei ha-Elohim — traduzido como “filhos de Deus” — é usado no Antigo Testamento, como em Jó 1:6 e 2:1, exclusivamente para seres celestiais, não para homens.

A confirmação de Judas

O Novo Testamento não deixa esse assunto em silêncio. Na carta de Judas, encontramos uma descrição notavelmente paralela:

“E aos anjos que não guardaram o seu estado original, mas abandonaram a sua própria habitação, ele tem guardado sob trevas, em algemas eternas, para o juízo do grande dia; assim como Sodoma e Gomorra […] se entregaram à imoralidade e foram após outra carne” (Jd 1:6-7).

Aqui, Judas não apenas confirma a existência de uma rebelião angelical distinta da de Lúcifer, mas também associa o pecado desses anjos à busca de “outra carne” — linguagem que implica relações sexuais ilícitas e contra a ordem estabelecida por Deus. Ao usar o exemplo de Sodoma e Gomorra, Judas reforça que a natureza do pecado foi sexual, o que coincide com a interpretação literal de Gênesis 6.

O testemunho de Pedro

Pedro acrescenta mais uma peça ao quebra-cabeça:

“Ora, se Deus não poupou a anjos quando pecaram, mas os lançou no inferno, entregando-os a abismos de trevas, reservados para juízo; e não poupou o mundo antigo, mas preservou Noé […] quando trouxe o dilúvio sobre o mundo dos ímpios” (2Pe 2:4-5).

A sequência do raciocínio de Pedro é clara: o pecado desses anjos ocorreu no contexto da geração de Noé, e o juízo divino veio tanto sobre eles quanto sobre a humanidade corrompida. É a mesma conexão temporal e temática que vemos em Gênesis 6.

A interpretação histórica

Muito antes das disputas teológicas modernas, a tradição judaica já lia esses textos de forma literal. O Livro de Enoque e o Livro dos Jubileus preservam a interpretação de que os “filhos de Deus” eram anjos caídos, chamados de “Vigilantes”, que se materializaram e geraram filhos com mulheres humanas. A Igreja primitiva manteve esse entendimento: Justino Mártir, Irineu, Tertuliano e Lactâncio viram nesses textos a descrição de um evento real e devastador, cuja memória foi preservada como advertência.

Essa unanimidade só começou a se romper séculos mais tarde, quando escolas teológicas passaram a rejeitar explicações sobrenaturais, substituindo-as por leituras alegóricas mais aceitáveis para um público racionalista. Mas a tentativa de “naturalizar” Gênesis 6 não encontra respaldo no uso original das palavras nem no testemunho dos primeiros intérpretes cristãos.

O problema da negação

Dizer que “a Bíblia não fala nada disso” exige ignorar passagens explícitas e sua interligação. O que existe, na verdade, não é ausência de registro, mas sim resistência em aceitar que a Bíblia descreve um evento sobrenatural tão perturbador. A objeção não é exegética, mas psicológica e teológica: aceitar a literalidade desses textos implica reconhecer um nível de interação entre o mundo espiritual e o físico que desafia a visão de mundo moderna.

Fidelidade ao texto, não a modismos

Reconhecer o registro bíblico não é “ceder a teorias fantasiosas”. É justamente o oposto: é permanecer fiel ao que o texto sagrado apresenta e ao que a tradição mais antiga confirmou. Negar isso para se alinhar a preferências teológicas modernas é, na prática, reinterpretar a Bíblia para adaptá-la a um modelo reducionista, no qual o sobrenatural só é aceito até onde não incomoda.

Se Moisés escreveu, Judas reafirmou e Pedro explicou, então a acusação de que “a Bíblia não fala nada disso” não se sustenta. O que falta não é evidência — é disposição para encarar a evidência que já está lá.

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