
Os Cativos de Satanás Estão Queimando a Bíblia: Ellen White Endossou os Apócrifos em 1849?
Matthew J. Korpman
Spes Christiana, Vol. 35, 2024, pp. 245–282
Tradução completa em Português: https://www.adventistas.com/wp-content/uploads/2025/11/Korpman_Satans-Captives-are-Burning-the-Bibles_SpesChr_35-2024.pdf
Original em inglês: https://www.adventistas.com/wp-content/uploads/2025/11/12_Korpman_Satans-Captives-are-Burning-the-Bibles_SpesChr_35-2024.pdf
ESTE TEXTO É APENAS UM RESUMO!
As declarações de Ellen White sobre o “Livro Oculto” ou “Apócrifo” têm despertado crescente interesse entre historiadores adventistas. Com a divulgação pública, em 2014, de um novo documento (Manuscrito 5, 1849) revelando que White não apenas recomendou o “Livro Oculto”, mas o chamou de “tua Palavra” e “a Palavra de Deus”, surgiu a necessidade de explicar suas observações iniciais sobre o assunto. Isso foi ainda mais complicado pelo fato de que o próprio documento está repleto de erros ortográficos.
Neste artigo, busco fornecer uma reconstrução textual das duas passagens referentes ao Apócrifo, oferecendo emendas adicionais às já disponibilizadas pelo Patrimônio White. Ao fazer isso, apresento também uma análise detalhada do material, explorando o contexto histórico por trás de seus comentários sobre o Apócrifo estar “queimado” e “lançado fora”, especialmente em relação à Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira e seus apoiadores, que defendiam a destruição — e, segundo alguns relatos, até mesmo a queima — do Apócrifo.
Argumenta-se que a declaração final de Ellen White nesses dois parágrafos deve ser compreendida como um alerta de que qualquer tentativa de remover o Apócrifo acabaria levando à rejeição de todo o cânon das Escrituras, lançando luz sobre seu aviso posterior no Manuscrito 4, de 1850.
INTRODUÇÃO
Entre as declarações feitas por Ellen White que mais intrigam os historiadores adventistas estão aquelas referentes às obras do Apócrifo, ou o “Livro Oculto”, como alguns adventistas as chamavam de maneira única. Ironicamente, porém, essas declarações receberam pouca atenção, com apenas alguns poucos estudiosos abordando o assunto.
Ela só é conhecida por ter falado diretamente sobre o tema em três ocasiões, e apenas em duas delas suas palavras foram realmente registradas. Ambas têm se mostrado enigmáticas e difíceis de interpretar — e, para complicar ainda mais, cada relato só veio a público nos últimos quarenta anos, mais de um século depois de terem sido escritos.
Somando ao mistério, reconhece-se que a jovem Ellen Harmon aludiu e/ou citou duas dessas obras apócrifas oito ou mais vezes dentro de duas cartas iniciais, uma das quais era um relato publicado de suas primeiras visões.
Além disso, estudos adicionais mostraram que ela continuou a citar e fazer alusão ao Apócrifo ao longo de toda a sua vida, demonstrando uma prática consistente que não cessou até sua morte.
Enquanto seus comentários do Manuscrito 4, 1850 receberam atenção em estudos anteriores, nenhum estudo sério havia sido dedicado ao Manuscrito 5, 1849, que contém comentários ainda mais enigmáticos. Como Roland Karlman observou:
“Quase não houve comentários publicados sobre ele.”
Antes da anotação de Karlman, nunca havia havido sequer reconhecimento público da existência do documento. No entanto, ele parece ter sido conhecido privadamente pelo Patrimônio White.
-
William White demonstrou conhecimento do texto em 1911.
-
Ronald Graybill também o mencionou num carta privada em 1984.
-
Contudo, o documento só foi publicado ao público em 2014.
Apesar de sua enorme relevância, o Manuscrito 5, 1849 recebeu muito pouca atenção — seja do Patrimônio White, seja dos historiadores adventistas.
Até hoje, o Patrimônio White não atualizou a declaração oficial escrita por Arthur White em 1985 para incluir:
-
o reconhecimento do manuscrito adicional,
-
nem as pesquisas mais recentes sobre o tema.
Além disso, como o documento está sendo disseminado online por grupos com diferentes agendas ideológicas, torna-se necessário que historiadores adventistas forneçam uma análise rigorosa e historicamente fundamentada do texto, situando-o dentro de seu contexto e vinculando-o ao que Ellen White declarou no visionamento seguinte, apenas alguns meses depois.
1. UM MANUSCRITO NÃO PUBLICADO: TEXTO E COMENTÁRIO
Entre 2014 e 2015, o Patrimônio Ellen G. White realizou uma iniciativa ousada e tornou públicos todos os materiais inéditos escritos por Ellen White. Esses documentos foram disponibilizados online e também em formato impresso, parcialmente integrados em uma obra histórica e comentada sobre seus primeiros escritos (ver Karlman 2014).
Entre essas publicações, estava um manuscrito até então desconhecido, contendo a transcrição de uma visão de Ellen White em 1849 — um manuscrito no qual ela mencionava diretamente o “Apócrifo” ou “Livro Oculto”. Até então, a impressão pública criada pelo Patrimônio White desde 1985 era de que não existiam outros documentos, além da visão de 1850, que pudessem esclarecer as opiniões de Ellen White sobre o Apócrifo.
Assim, a divulgação desse novo documento representou um avanço enorme nos estudos sobre a relação entre Ellen White e o Apócrifo.
Como muitas pessoas ainda desconhecem esse texto — e devido à necessidade de emenda textual — o trecho referente ao Apócrifo é apresentado integralmente abaixo, acompanhado de comentários críticos em notas de rodapé.
O manuscrito é bastante problemático: possui erros de ortografia, palavras truncadas, gramática irregular e grafias inconsistentes. Tanto o Patrimônio White quanto o autor do artigo propuseram correções, e estas são indicadas entre colchetes [ ].
Quando a correção exige explicação, uma nota é incluída.
As palavras entre parênteses ( ) pertencem ao transcritor original, não ao analista moderno.
Trechos foram colocados em itálico e negrito pelo autor do estudo para ênfase.
O pesquisador também examinou o manuscrito original escrito à mão no cofre do Patrimônio White, corrigindo grafia e pontuação conforme necessário.
O texto a seguir é, até o momento, a transcrição mais precisa e fiel disponível em qualquer publicação.
TRANSCRIÇÃO DO MANUSCRITO (1849) – TRADUÇÃO
(Pegando a grande Bíblia contendo o “apochraphy” [Apocrypha]:)
Pura e incontaminada, uma parte dela está consumida, santa, santa, andai cuidadosamente, tentados.
A Palavra de Deus, tomai-a (Marion Stowell),
ata-a longamente ao teu coração, pura e não adulterada.
Quão amável, quão amável, quão amável.
Meu sangue, meu sangue, meu sangue.
Ó filhos da desobediência, repreendidos, repreendidos.
Tua palavra, tua palavra, tua palavra,
uma parte dela está queimada sem adulteração,
uma parte de [ela,] o Livro Oculto,
uma parte dela está queimada (o apochraphy).
Comentários e notas explicativas do artigo (TRADUZIDAS)
Nota 8 — Sobre a frase “uma parte do livro oculto”
O texto manuscrito contém a frase “a part of the hidden book”, que parece estranha.
É possível que isso seja erro de transcrição, pois não corresponde ao restante da visão — Ellen White afirma repetidamente que todo o Apócrifo havia sido removido/queimado, não apenas parte dele.
O autor sugere que a frase original pode ter sido:
“uma parte de it, the hidden book”
(“uma parte dele, o livro oculto”)
— o “ele” sendo a Bíblia que Ellen segurava.
Isso faz muito mais sentido:
-
harmoniza com todas as outras frases,
-
reflete melhor a lógica interna da visão,
-
e corrige um erro de escuta/transcrição fácil de ocorrer.
Nota 9 — “apochraphy” x “apocraphy”
O manuscrito utiliza duas grafias incorretas diferentes para “Apocrypha”.
Isso mostra:
-
que a transcrição não tenta reinterpretar ou padronizar,
-
que o transcritor entendeu “Livro Oculto” como coleção inteira,
-
não um único livro isolado.
Segunda metade do trecho do manuscrito (TRADUZIDO)
Aqueles que desprezarem esse remanescente
tratá-lo-iam como lixo, pensando estar prestando serviço a Deus.
Por quê?
Porque estão sendo levados cativos por Satanás, segundo sua vontade.
[O] Livro Oculto — ele está lançado fora.
Atai-o ao coração (4 vezes):
Atai-o, atai-o, atai-o.
(Colocando a Bíblia sobre Oswald Stowell:)
Não deixem que suas páginas se fechem.
Leiam-no cuidadosamente.
Laços vos cercarão por todos os lados.
Tomem a verdade direta;
atai-a ao coração (3 vezes),
le[s]t tudo seja lançado fora.
Notas adicionais traduzidas
Nota 10 — “treat” ou “tread”?
A grafia manuscrita mistura as formas “tread” (pisar, desprezar) e “treat” (tratar).
O estudioso conclui que:
-
O transcritor começou a escrever um, mudou para o outro,
-
Ambas as opções fazem sentido teológico:
→ “pisar o remanescente”
→ “tratar mal o remanescente”.
Nota 11 — O “remanescente” é o Apócrifo
Algo extraordinário:
Ellen White chama o Apócrifo de “remanescente”.
Isso faz sentido porque:
-
era um pequeno conjunto de livros,
-
estava sendo perseguido e removido por protestantes,
-
ecoa o conceito adventista do “remanescente perseguido”.
Nota 12 — “wodel”
Palavra ilegível e taxada no manuscrito.
O autor explica que:
-
provavelmente era para ser “would”,
-
o transcritor percebeu o erro e anulou rapidamente.
Isso reforça que o documento é transcrição ao vivo, não versão editada.
Nota 13 — “The Hidden Book”
O manuscrito provavelmente perdeu o artigo “The”.
O contexto exige:
“O Livro Oculto”
Não apenas “Livro Oculto”.
Nota 14 — A correção crucial: “lest”
O manuscrito contém:
“let everything be cast out”
O autor demonstra que isso não faz sentido.
A leitura correta deve ser:
“lest everything be cast out”
(“para que não tudo seja lançado fora”)
Ou seja:
Ela alerta que se o Apócrifo for rejeitado, o restante da Bíblia também cairá.
Uma ideia reforçada por sua teologia posterior.
2. É CONFIÁVEL?
Este documento registra as palavras de Ellen White ditas durante uma visão, transcritas por um membro anônimo do pequeno grupo reunido na casa onde a visão ocorreu.
Alguns podem questionar a confiabilidade dessa transcrição de 1849, já que:
-
não é um manuscrito escrito pela própria Ellen White,
-
contém muitos erros ortográficos,
-
e é claramente um registro ao vivo feito às pressas.
O próprio Ronald Graybill admitiu que inicialmente ignorou o documento por esse motivo.
Diante disso, alguém poderia perguntar:
“Será que essa transcrição reflete com precisão o que Ellen White realmente disse naquela noite no Maine?”
A resposta, segundo as evidências analisadas no artigo, é:
Sim — e com um grau de fidelidade ainda maior do que outras transcrições semelhantes.
O Patrimônio White considera o documento autêntico
Desde 2013, o Patrimônio Ellen G. White:
✔ não demonstrou qualquer preocupação sobre a autenticidade do texto,
✔ tem tratado o manuscrito como autêntico e confiável,
✔ e inclusive aumentou suas declarações de confiança no documento.
Karlman, em suas próprias notas críticas publicadas em 2014, afirmou:
“Este manuscrito é outro raro exemplo de um registro de palavras realmente ditas por Ellen White durante uma visão.”
Alberto Timm também entende que essas transcrições são implicitamente confiáveis — e sua lógica se aplica igualmente ao Manuscrito 5, 1849.
Pesquisadores modernos (como Gonzales e Gouveia) tratam o manuscrito como preciso, utilizando-o em teses e artigos sem levantar dúvidas sobre sua autenticidade.
Não é um ‘relato lembrado’ — é uma transcrição ao vivo
O estudioso Roland Karlman explica que esse tipo de documento é:
-
transcrição literal de palavras ditas durante a visão,
-
feita no momento do evento,
-
por alguém que estava fisicamente presente,
-
anotando tudo em tempo real.
Ele escreve:
“Devemos entender tais documentos como transcrições das palavras realmente proferidas durante a visão.”
Portanto, não se trata de:
-
memórias reescritas depois,
-
uma reconstrução tardia,
-
ou um resumo teológico.
É a captura direta das falas, respirações, interrupções e repetições de Ellen White.
Evidências internas do manuscrito mostram que é original — não editado
O artigo aponta uma série de detalhes no manuscrito que provam que não é uma cópia limpa, mas o original:
-
Palavras escritas de forma errada e imediatamente corrigidas
(indica anotação rápida, não edição posterior) -
Palavras riscadas no ato
(erro percebido no momento da escrita) -
Frases espremidas no final das linhas
(típico de quem escreve enquanto alguém fala) -
Adição de palavras acima da linha
quando não havia espaço — algo que não ocorreria em uma cópia revisada -
Pontuação inconsistente
(vírgulas onde deveria haver ponto e vice-versa) -
Abreviações improvisadas
como “comm*”, “commts”, “evry”, “upu”
Esses traços deixam claro:
O manuscrito é uma transcrição literal feita ali mesmo, durante a visão.
Comparação com outro manuscrito semelhante: Manuscript 6, 1849
O pesquisador comparou o Manuscrito 5 com o Manuscrito 6 — outra transcrição de visão, feita na mesma época.
Diferenças importantes:
-
O transcritor do Manuscrito 6 era menos preciso,
-
Ele admitia incertezas nos trechos (ex.: “I suppose”),
-
Inseria comentários posteriores, memórias e reconstruções.
Já o Manuscrito 5:
✔ não apresenta especulações,
✔ apresenta maior consistência,
✔ segue as falas com fidelidade,
✔ registra repetições com exatidão (ex.: “4 vezes”),
✔ e conserva uma estrutura mais clara.
Por isso, o Manuscrito 5 parece ser:
a transcrição mais fiel entre as duas — mais próxima das palavras exatas de Ellen White.
Ellen White pode ter revisado ou comentado partes da transcrição
Outro detalhe importante:
O manuscrito registra comentários feitos “fora de visão” por Ellen White.
Exemplos (traduzidos):
“Fora da visão ela disse:
‘Mas quando a luz vier sobre o quarto mandamento, a condenação será maior se for rejeitada.’”
“(Fora de visão) ‘Ele acredita que as promessas são para todos, menos para ele.’”
Esses comentários:
-
ocorrem depois de frases ditas em visão,
-
parecem ter sido adicionados imediatamente,
-
sugerem que Ellen White leu ou explicou partes do próprio texto.
Ou seja:
➜ Possivelmente ela revisou partes do documento enquanto ainda estava presente.
Isso torna o manuscrito ainda mais confiável.
Conclusão da Seção 2
✔ O manuscrito é autêntico.
✔ É uma transcrição ao vivo, não um relato tardio.
✔ Contém características típicas de anotações feitas no momento.
✔ É mais fiel do que outras transcrições similares do mesmo período.
✔ Pode ter sido revisado pela própria Ellen White.
3. “QUEIMADO, MAS NÃO ADULTERADO?” — CRÍTICA OU ENDOSSO?
A visão de 1849 pode confundir os leitores quando Ellen White afirma que o Livro Oculto (Apócrifo) foi “consumido”, “queimado” e “lançado fora”, e quando declara que ele estava “não adulterado”.
O que exatamente esses termos significam?
E o que revelam sobre o sentido real da visão — crítica ao Apócrifo ou defesa dele?
Karlman resumiu essa dificuldade em seu comentário pioneiro sobre o manuscrito:
“O propósito das declarações sobre o Apócrifo nos três parágrafos anteriores não está claro. Qual é o significado de ele ter sido ‘consumido’, ‘queimado’ e ‘lançado fora’? Isso constitui uma avaliação positiva — ou seja, que o Apócrifo tem valor, mas foi ‘desprezivamente tratado’? Ou as palavras ‘queimado’, etc., implicam uma avaliação negativa? Ou talvez nenhuma avaliação tenha sido pretendida?”
(Karlman 2014, p. 183)
Embora Karlman apresente três possibilidades, a primeira — uma avaliação positiva — é muito mais provável quando analisamos:
-
o contexto histórico real da época,
-
o restante das declarações do próprio manuscrito,
-
e a teologia posterior de Ellen White.
O que significava “queimar o Apócrifo” no tempo de Ellen White?
O artigo demonstra que Ellen White está provavelmente se referindo a um fenômeno real da época:
a intensa campanha protestante contra o Apócrifo nos anos 1820–1840.
De fato, a partir de 1826, a Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira tomou a decisão histórica de:
❌ remover completamente o Apócrifo de todas as novas Bíblias
❌ destruir todas as cópias do Apócrifo que possuíam
O autor documenta várias fontes da época que mostram:
-
pessoas pedindo que o Apócrifo fosse arrancado das Bíblias,
-
outros sugerindo jogá-lo no fogo,
-
diversas declarações públicas pedindo sua queima literal.
Um exemplo chocante:
Luke Howard (1829) escreveu que os opositores do Apócrifo mandavam “queimar todas as cópias do Apócrifo em sua posse”.
Outro escritor, MacGavin (1827), afirmou que se recusava a doar dinheiro para a campanha que buscava:
“queimar todas as cópias do Apócrifo”.
Além disso:
-
havia relatórios de judeus em Jerusalém ameaçando queimar Bíblias que incluíssem o Apócrifo,
-
panfletos circulavam exigindo a “purificação” das Escrituras,
-
a controvérsia tomou proporções internacionais.
O contexto, portanto, é impossível de ignorar:
➤ Quando Ellen White diz que o “Livro Oculto” foi “queimado”, ela está descrevendo exatamente o que ocorria entre protestantes de sua época.
Ou seja:
Não é uma metáfora negativa ao Apócrifo — é uma crítica aos que ODEIAM o Apócrifo.
A expressão “queimado, mas não adulterado”
No manuscrito, Ellen White declara:
“Tua Palavra… uma parte dela está queimada não adulterada.”
O autor mostra que:
-
Ellen White chama a Bíblia com o Apócrifo de “pura e não adulterada”
-
e chama a parte queimada (o Apócrifo removido) de “não adulterada” também.
Esse uso é extremamente relevante.
✦ No discurso antigues 1826–1840:
“não adulterado” = Bíblia sem o Apócrifo
“puro” = Bíblia purificada, sem os “livros estranhos”
✦ Mas para Ellen White, o termo significa o oposto:
“não adulterado” = Bíblia com o Apócrifo intacto.
Isso é uma inversão teológica direta da retórica popular protestante da época.
Em outras palavras:
Ellen White está defendendo a Bíblia com Apócrifo e denunciando os que o removem.
Por que isso é decisivo?
Porque:
-
ela chama a Bíblia com Apócrifo de pura e não adulterada;
-
ela chama a parte queimada (o Apócrifo removido) de não adulterada;
-
ela diz para não fechar suas páginas;
-
ela ordena: “Bind it! Bind it! Bind it!” – “Ata-o ao teu coração!”
Tudo isso mostra que:
Ellen White tratou o Apócrifo como parte integral da Palavra de Deus.
Possível simbolismo bíblico: 2 Esdras 14 e Jeremias 36
O autor sugere que Ellen White poderia estar ecoando:
-
2 Esdras 14
– onde todas as Escrituras (canônicas e apócrifas) são queimadas por Babilônia,
– e precisam ser reditadas milagrosamente. -
Jeremias 36
– onde o rei Joaquim corta e queima partes das profecias de Jeremias.
Esses paralelos reforçam:
➤ Para Ellen White, queimar o Apócrifo = ato satânico.
➤ Remover livros da Bíblia = mutilar a Palavra.
Conclusão da Seção 3
Esta seção estabelece, com forte evidência:
✔ Ellen White não está criticando o Apócrifo.
✔ Ela está denunciando os que o queimam e removem das Bíblias.
✔ Ela chama a Bíblia com Apócrifo de “pura e não adulterada”.
✔ Ela trata o Apócrifo como parte do “Tua Palavra”.
✔ Sua visão concorda com sua teologia posterior:
4. “TUA PALAVRA?” — A RELAÇÃO DO APÓCRIFO COM AS ESCRITURAS
Tendo esclarecido que Ellen White descreveu o Apócrifo como “queimado” em um sentido histórico, e não crítico, e tendo mostrado que ela chamou tanto a Bíblia com o Apócrifo quanto a parte removida (o Apócrifo) de “não adulterados”, agora o artigo avança para a questão central:
➤ Ellen White considerava o Apócrifo parte da Palavra de Deus?
A Seção 4 responde: Sim — e o manuscrito de 1849 mostra isso de forma explícita e direta.
O Apócrifo é tratado como parte da Bíblia, não como algo externo
O primeiro ponto observado pelo autor é simples, mas profundo:
Quando Ellen White levanta a grande Bíblia em visão, ela diz:
“Uma parte dela está consumida.”
O pronome “dela” é fundamental.
Ele mostra que Ellen White via o Apócrifo como parte da Bíblia, parte do “it” (“ela”), e não como um apêndice estranho.
Logo depois, ela afirma:
“A Palavra de Deus…
ata-a ao coração, pura e não adulterada.”
Em seguida declara:
“Tua palavra…
uma parte dela está queimada… o Livro Oculto… o apócrifo.”
O encadeamento interno é claríssimo:
-
“A Palavra de Deus… ata-a ao coração…”
-
“Tua palavra… uma parte dela está queimada…”
-
Essa parte é identificada como o Apócrifo.
Conclusão inevitável:
➤ Para Ellen White, o Apócrifo fazia parte da “Palavra de Deus”.
O transcritor ORIGINAL entendeu exatamente isso
O artigo destaca um detalhe importante:
O transcritor de 1849 — um adventista pioneiro — entendeu perfeitamente o que Ellen White quis dizer.
Isso é comprovado pelo fato de que ele:
-
colocou entre parênteses “(o apocrypha)” ao final da frase sobre a parte queimada,
-
identificou o “Livro Oculto” como o Apócrifo,
-
e tratou o conjunto inteiro da Bíblia com Apócrifo como uma unidade.
Em outras palavras, os primeiros ouvintes de Ellen White entenderam que ela estava chamando o Apócrifo de Palavra de Deus.
Ellen White usa termos paralelos para o Apócrifo e para a Bíblia
O artigo monta um quadro comparativo revelador.
Observe:
Parágrafo 1 — sobre a Bíblia (“Word of God”)
“A Palavra de Deus…
ata-a ao teu coração, pura e não adulterada.”
Parágrafo 2 — sobre o Apócrifo (“Hidden Book”)
“[O] Livro Oculto…
atai-o ao coração… não deixem suas páginas fechar… leiam-no cuidadosamente.”
Essa simetria é intencional e poderosa.
A estrutura retórica é paralela:
-
Palavra de Deus → ata ao coração
-
Livro Oculto → ata ao coração
A instrução é a mesma.
➤ O artigo conclui:
“Ela trata ambos da mesma forma, com o mesmo nível de autoridade espiritual.”
E mais:
“Ela enfatiza ainda mais o ATAR do Apócrifo ao coração do que o da própria Bíblia no início do trecho.”
O Apócrifo é explicitamente chamado de “parte da Palavra”
O ponto mais forte da Seção 4 é este:
“Tua palavra…
uma parte dela está queimada — o Livro Oculto — o apócrifo.”
Ela não diz:
-
“um suplemento”,
-
“um anexo”,
-
“um livro útil”,
-
“um material histórico”.
Ela diz:
**“Parte da TUA PALAVRA.”
“Parte da Palavra de Deus.”**
Não há ambiguidade.
O artigo responde a críticas adventistas modernas
O autor cita um pastor adventista contemporâneo (Kevin Paulson) que tentou argumentar que:
“Não há evidência suficiente para afirmar que Ellen White endossou o Apócrifo como Escritura inspirada.”
O artigo responde (em resumo):
-
Essa alegação é insustentável.
-
O manuscrito é explícito.
-
Ellen White usa a mesma linguagem para Bíblia e Apócrifo.
-
Ela ordena que ambos sejam “atados ao coração”.
-
Ela afirma que o Apócrifo é “parte da Palavra”.
-
Ela censura satanicamente quem o remove da Bíblia.
Conclusão do artigo:
➤ A evidência é mais que suficiente:
Ellen White endossou o Apócrifo como parte da Palavra de Deus em 1849.
Conclusão da Seção 4
✔ O Apócrifo não é tratado como material externo.
✔ É parte da Bíblia que ela segura.
✔ É parte da “Tua Palavra”.
✔ Recebe o mesmo tratamento que a Bíblia canônica.
✔ Suas páginas não devem ser fechadas.
✔ Deve ser lido cuidadosamente.
✔ Deve ser atado ao coração.
✔ Sua remoção pertence ao plano de Satanás.
5. O PLANO DE SATANÁS — COMPREENDENDO O AVISO FINAL DE ELLEN WHITE
(Tradução completa)
O alarme final dado no manuscrito de 1849 pode ser considerado a frase mais importante de todo o documento. É também a frase mais mal interpretada pelos adventistas modernos.
No manuscrito, após Ellen White ordenar repetidamente:
-
“Atai-o ao coração!”
-
“Atai-o! Atai-o! Atai-o!”
-
“Não deixem suas páginas se fecharem!”
-
“Leiam-no cuidadosamente!”
ela então conclui com um aviso dramático:
lest everything be cast out
“para que não tudo seja lançado fora”
O significado é direto e chocante:
➤ Se o Apócrifo for rejeitado…
➤ toda a Bíblia acabará sendo lançada fora.
Isso é consistente com:
-
Todo o fluxo da visão
-
A teologia posterior de Ellen White
-
O contexto histórico da época
-
Suas advertências repetidas em 1850 e depois
Vamos aprofundar.
O que Ellen White realmente está dizendo?
O artigo demonstra que esta frase final é a chave hermenêutica da visão.
Ela indica que:
-
Satanás estava por trás da remoção do Apócrifo das Bíblias protestantes,
-
O ato de arrancar o Apócrifo abriria a porta para destruir o restante da Bíblia,
-
O ataque ao Apócrifo era o primeiro passo para minar a Palavra de Deus como um todo.
Em outras palavras:
O Apócrifo era o “primeiro alvo”; a Bíblia inteira seria o segundo.
Por isso ela ordena:
-
“Ata ao coração!”
-
“Não deixe as páginas se fecharem!”
-
“Leia cuidadosamente!”
E finalmente:
“porque, se não, tudo será lançado fora.”
Ellen White repete exatamente o mesmo aviso um ano depois (1850)
No Manuscrito 4, 1850 — que já era conhecido antes deste — ela declara:
“Vi que o Livro Oculto deveria ser entendido.
Os sábios dos últimos dias o compreenderão.”
E acrescenta:
“Vi que coisas seriam arrancadas da Bíblia, e elas seriam lançadas fora.”
Ou seja:
✔ Os dois manuscritos se confirmam mutuamente.
✔ A visão de 1850 é um eco da visão de 1849.
✔ Ambas afirmam que “arrancar” livros levaria à destruição completa das Escrituras.
Isso prova que:
➤ Essa era uma posição consistente, não um devaneio isolado de juventude.
Como isso se encaixa na teologia posterior de Ellen White?
Décadas depois, Ellen White escreveu:
“Eu jamais ousaria dizer o que é inspirado e o que não é inspirado.”
(1888)
“Ninguém deve pôr a mão na Arca.
Não toquem nela para dizer: ‘Isto não é inspirado’.
Deixe Deus decidir.”
(1888)
“Não se atreva a afirmar que alguma parte da Palavra de Deus não é inspirada.”
(Review & Herald, 1888)
Essas citações ecoam perfeitamente o aviso original:
**Se você começar a remover partes…
você acabará removendo tudo.**
O artigo deixa claro:
Ellen White acreditava que:
-
remover o Apócrifo
-
remover versos “duvidosos”
-
remover seções “problemáticas”
-
remover livros “ignorados”
-
remover trechos “questionados por eruditos”
levaria inevitavelmente a:
destruir a autoridade da Bíblia inteira.
Por que Ellen White via isso como o “plano de Satanás”?
Porque a História moderna confirma exatamente o que ela disse:
-
Primeiro os protestantes removeram o Apócrifo.
-
Depois começaram a duvidar da inspiração de certos livros.
-
Depois rejeitaram livros inteiros (como Daniel).
-
Em seguida rejeitaram milagres.
-
Por fim, rejeitaram a Bíblia como Palavra de Deus.
Esse processo é conhecido na academia como:
“desconstrução textual protestante do século XIX”
(ou “descanonização progressiva”)
Ellen White viu esse processo começando, ainda em 1849, com a remoção do Apócrifo.
E Deus lhe mostrou que isso levaria a:
➤ Uma crise de confiança na Escritura no final dos tempos.
➤ Uma completa destruição da autoridade bíblica.
➤ “tudo será lançado fora.”
Exatamente como ela disse.
Conclusão da Seção 5
✔ “lest everything be cast out” é a frase-chave do documento.
✔ Ellen White vê o ataque ao Apócrifo como o início da apostasia.
✔ Remover o Apócrifo = abrir caminho para destruir toda a Bíblia.
✔ O diabo estava conduzindo esse processo.
✔ A visão de 1850 confirma a de 1849.
✔ Suas advertências posteriores de 1888–1897 ecoam o mesmo ensino.
Em suma:
**Ellen White não apenas aprovou o Apócrifo —
ela viu sua remoção como um ataque satânico à Bíblia.**
6. PARALELO ADICIONAL COM OUTRAS VISÕES — A CONFIRMAÇÃO DO PADRÃO
A advertência de que um pequeno desvio leva à rejeição completa da Bíblia não aparece apenas na visão sobre o Apócrifo. Esse padrão é encontrado em várias outras visões de Ellen White no período de 1845–1851.
O artigo explica que, para Ellen White, todas as apostasias começam com um pequeno passo, aparentemente inofensivo, mas que inevitavelmente leva a um grande afastamento da verdade. Assim, a remoção do Apócrifo é interpretada como o primeiro pequeno passo, cujo desfecho final seria lançar fora toda a Palavra de Deus.
Esta visão é consistente com:
-
Suas advertências sobre abandonar o “caminho estreito”,
-
Seu conceito de “pequenos desvios”,
-
Seus escritos sobre “primeiros passos de Satanás”,
-
E a leitura profética que ela aplicava a movimentos religiosos de sua época.
Vamos analisar trecho por trecho.
O padrão profético em outras visões iniciais
O artigo cita um de seus escritos mais conhecidos, presente em Primeiros Escritos, onde White descreve um grupo caminhando em um “caminho estreito e reto”, iluminado atrás deles por uma luz especial.
Essa luz era:
➤ O “clamor da meia-noite”
(também chamado de “luz atrás deles”)
Ellen White descreve:
“Alguns passaram a duvidar da luz…
Alguns diziam que não era Deus que os havia conduzido até ali.
Assim que rejeitavam a luz, apagava-se o caminho.”
(Primeiros Escritos, p. 14–15)
Esse trecho mostra:
✔ Um primeiro desvio (duvidar da luz)
✔ leva inevitavelmente
✔ ao segundo desvio (perder o caminho inteiro)
Esse é o mesmo padrão profético aplicado à Bíblia e ao Apócrifo:
-
Remova “só um livro”…
-
E logo todo o caminho desaparece.
O padrão também aparece na visão do “Caminho para o Céu”
Ellen White descreve:
“Quando tiravam os olhos de Jesus,
tropeçavam e caíam da vereda estreita,
aparecendo no mundo inferior.”
(EW 15)
O artigo observa:
➤ O “tirar os olhos” é o primeiro passo.
➤ A queda total é o último passo.
É exatamente o mesmo modelo do manuscrito de 1849:
-
Primeiro passo: retirar o Apócrifo
-
Passo final: “tudo será lançado fora”
O mesmo padrão na visão da “Plataforma Inabalável” (1858)
Ellen White escreveu:
“Alguns estavam a mover um tijolo da plataforma…
Mas tão logo o tiravam, toda a estrutura se abalava.”
(Testemunhos, vol. 1, p. 300)
O artigo enfatiza:
➤ Um tijolo = um livro
➤ Uma plataforma = a Bíblia
➤ Remover um livro é remover a fundação inteira
O paralelismo é óbvio:
Remover o Apócrifo → destruir a Bíblia.
A própria Ellen White reconheceu esse princípio teológico
Em 1888, ela escreveu:
“Se Satanás puder fazer você acreditar
que alguma parte da Bíblia não é inspirada,
ele estará pronto para enlaçar sua alma.”
(RH, 1888)
Isso é exatamente a explicação da frase de 1849:
“lest everything be cast out”
para que não tudo seja lançado fora
Ou seja:
-
Questione um trecho…
-
Você acabará rejeitando tudo.
Ellen White viu isso como um ataque progressivo de Satanás
O artigo deixa claro que Ellen White enxergava uma lógica satânica:
-
Primeiro Satanás ataca um pedaço pequeno.
-
Depois ataca os fundamentos.
-
Depois destrói toda a fé na Bíblia.
-
Finalmente conduz ao engano final dos últimos dias.
O Manuscrito 5, 1849, é a primeira declaração registrada dessa estrutura teológica.
O autor do artigo observa:
“O padrão é consistente:
um pequeno ataque às Escrituras leva à ruína total de sua autoridade.”
Isso aparece:
-
na visão da “luz atrás deles”,
-
na visão da “plataforma”,
-
na visão do “caminho estreito”,
-
na visão do “Livro Oculto”.
E todas afirmam:
Um pequeno desvio destrói a totalidade da fé.
Conclusão da Seção 6
✔ A visão do Apócrifo segue o mesmo padrão profético das visões iniciais de Ellen White.
✔ Remover um livro é o primeiro passo, mas Satanás pretende remover todos.
✔ O aviso “lest everything be cast out” é consistente com toda a teologia de Ellen White.
✔ Para Ellen White, abandonar parcialmente a Escritura leva inevitavelmente à rejeição total.
7. O MISTÉRIO DOS TRÊS PARÁGRAFOS — QUAL É O SENTIDO DA VISÃO?
Tendo analisado:
-
a estrutura do manuscrito,
-
o contexto histórico de 1840–1850,
-
a linguagem usada por Ellen White,
-
o padrão teológico recorrente em suas visões,
-
e a própria evolução posterior de seu pensamento,
o artigo agora procura responder à grande pergunta:
“Qual é o sentido total da visão de Ellen White sobre o Apócrifo em 1849?”
Karlman, que foi o primeiro acadêmico a comentar esse manuscrito, disse que o propósito “não parece claro”.
Mas, com os novos dados apresentados nas seções anteriores, o autor do artigo conclui que o sentido é nítido, coerente e consistente com toda a teologia de Ellen White.
A ESTRUTURA TRIPLA DA VISÃO
O autor mostra que a visão é organizada como um discurso profético em três movimentos, perfeitamente integrados:
(1) Descrição da Bíblia com Apócrifo
— “Pura e não adulterada”;
— Parte queimada = o Apócrifo removido.
(2) Advertência sobre os que desprezam a parte removida
— “Aqueles que desprezam esse remanescente…”
— “são cativos de Satanás segundo a sua vontade.”
(3) Ordem divina
— “Atai-o ao coração!”
— “Não deixem suas páginas se fecharem!”
— “Leiam-no cuidadosamente!”
— “lest everything be cast out.”
(para que não tudo seja lançado fora)
A sequência inteira aponta para um único tema central:
A Bíblia deve ser preservada INTEIRA — e isso inclui o Apócrifo.
A visão tem um motivo profético claro e repetido
O autor demonstra que:
-
O primeiro parágrafo descreve a condição da Bíblia.
-
O segundo denuncia o ataque satânico à Bíblia.
-
O terceiro representa a resposta divina e o apelo final.
Esse é o exato formato de outras visões, como:
-
A visão da plataforma,
-
A visão do caminho estreito,
-
A visão da luz atrás deles.
Assim, a visão do Apócrifo não é uma exceção ou aberração — mas faz parte da mesma lógica profética interna.
A frase decisiva novamente: “lest everything be cast out”
O autor reforça:
Essa frase é a chave para entender toda a visão.
Ela mostra que:
-
remover o Apócrifo era o primeiro passo,
-
e que isso levaria à remoção de todas as outras partes da Bíblia.
Logo, o sentido final da visão é:
Preservar o Apócrifo é preservar a Bíblia.
Lançar fora o Apócrifo é lançar fora a Palavra de Deus inteira.
Erro histórico corrigido: Adventistas leram Ellen White ao contrário
A maior conclusão da Seção 7 é que, por quase 170 anos, adventistas leram a visão ao contrário.
A interpretação tradicional dizia:
“Ellen White não apoiou o Apócrifo; ela disse que era parte queimada, removida.”
Mas isso é o inverso do real sentido:
✔ O que está queimado não é o que deve ser queimado,
✘ mas o que foi queimado injustamente pelos protestantes anticatólicos do século XIX.
✔ O que está “lançado fora” não é o que Deus rejeitou,
✘ mas o que os homens rejeitaram por estarem “cativos de Satanás”.
✔ O “remanescente desprezado” não é maus escritos,
✘ mas sim os livros apócrifos que foram atacados.
✔ A “parte queimada” é o Apócrifo,
✘ e Ellen White diz explicitamente que essa parte era “não adulterada”.
✔ “Ata-o ao coração” se refere especificamente ao Apócrifo,
✘ com ênfase maior do que ao restante da Bíblia.
Tudo isso leva à conclusão inequívoca:
➤ A visão não é sobre rejeitar o Apócrifo.
➤ A visão é sobre restaurá-lo, estudá-lo e protegê-lo.
Reconstrução final do sentido teológico
O artigo fornece esta síntese final (traduzida):
“A jovem Ellen White viu que a remoção do Apócrifo era o primeiro passo de Satanás para destruir a confiança na Bíblia.
Por isso, ela repetiu o pedido divino para ‘atar ao coração’ essa parte negligenciada e desprezada da Palavra, para que a Bíblia inteira não fosse lançada fora.”
E conclui:
“A visão de 1849 deve ser compreendida como um endosso explícito do Apócrifo como parte da Palavra de Deus.”
Conclusão da Seção 7
✔ A visão tem estrutura profética clara e intencional.
✔ O Apócrifo é tratado como parte essencial da Bíblia.
✔ A remoção do Apócrifo é obra de Satanás.
✔ Deus ordena que seja preservado, lido e atado ao coração.
✔ A visão é um apelo urgente para evitar a destruição da Bíblia inteira.
✔ O sentido da visão é a favor do Apócrifo — não contra ele.
8. O TESTEMUNHO DA HISTÓRIA — O CONTEXTO QUE DEU ORIGEM À VISÃO
Para entender por que Ellen White falou sobre o Apócrifo em 1849–1850, o artigo demonstra que todo o ambiente religioso dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha nas décadas anteriores estava em chamas com o debate sobre o Apócrifo.
A visão não surgiu no vácuo. Ela é parte direta dessa controvérsia histórica.
Vamos por partes.
8.1 A “Guerra do Apócrifo” (1826–1836)
(Tradução)
Entre 1826 e 1836, a Grã-Bretanha viveu uma das maiores disputas religiosas de sua história moderna.
O nome dado posteriormente por historiadores:
“A Guerra do Apócrifo.”
O conflito envolveu:
-
A British and Foreign Bible Society (Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira)
-
Igrejas evangélicas
-
Líderes políticos
-
Missionários
-
Teólogos reformados
-
Imprensa religiosa
-
E multidões de leigos protestantes indignados
O motivo?
➤ A decisão da Sociedade Bíblica de remover o Apócrifo de TODAS as Bíblias futuras.
E mais:
➤ Destruir todas as cópias do Apócrifo já impressas.
Isso gerou:
-
Protestos violentos
-
Sermões inflamados
-
Cartas abertas
-
Ameaças públicas
-
Sects separatistas
-
Discussões parlamentares
-
E volumes inteiros publicados apenas para defender ou atacar o Apócrifo
O artigo apresenta dezenas de fontes documentando isso.
8.2 A linguagem da época: “queimar”, “cortar”, “extrair”
A retórica comum dos opositores do Apócrifo era extremamente agressiva.
Eles exigiam que o Apócrifo fosse:
-
“arrancado”
-
“cortado fora”
-
“purificado”
-
“eliminado”
-
“destruído”
-
e até “lançado ao fogo”
Exemplo real de 1829, citado no artigo:
“Queimem todas as cópias do Apócrifo.”
(Luke Howard, 1829)
Outro exemplo:
“O Apócrifo deve ser removido para sempre do meio do povo — mesmo que seja preciso queimá-lo.”
(MacGavin, 1827)
Essas expressões aparecem literalmente na visão de Ellen White:
-
“queimado”
-
“lançado fora”
-
“desprezado”
-
“tratado como serviço a Deus”
Isso mostra que a visão responde diretamente à crise cultural daquele momento histórico.
8.3 A controvérsia chegou aos Estados Unidos
O artigo mostra que os jornais religiosos americanos da época publicavam constantemente relatos da Guerra do Apócrifo na Inglaterra.
Revistas, folhetins e sermões americanos repetiam:
-
os ataques ao Apócrifo,
-
os apelos para que fosse removido das Bíblias,
-
e até as acusações contra quem defendia seu uso.
Em outras palavras:
➤ O ambiente adventista de 1849 já estava saturado dessa discussão havia mais de 20 anos.
Ellen White cresceu numa geração influenciada diretamente por essa controvérsia.
8.4 A Bíblia da família Harmon continha o Apócrifo
O autor cita Graybill (1987):
A grande Bíblia da família Harmon, que Ellen levantou em visão, continha o Apócrifo impresso entre os Testamentos.
Esse é um fato crucial:
-
Quando a jovem Ellen White levantou a Bíblia,
-
quando disse “Tua Palavra”,
-
essa Bíblia incluía o Apócrifo.
Assim:
A visão é sobre a Bíblia REAL que ela segurava — não uma Bíblia moderna sem Apócrifo.
Isso destrói a leitura posterior que tentava dizer que o Apócrifo era um “apêndice estranho” ou um “livro separado”.
Para Ellen White, naquele momento:
✔ a Bíblia = continha o Apócrifo
✔ o Apócrifo = parte do “todo”
✔ remover o Apócrifo = mutilar a Bíblia
8.5 Para muitos protestantes da época, defender o Apócrifo era perigoso
O artigo mostra que, na década de 1840:
-
Quem defendia a presença do Apócrifo era visto com desconfiança.
-
Era acusado de “pró-catolicismo”.
-
Era rotulado de traidor do protestantismo.
-
Alguns líderes chegaram a dizer que defender o Apócrifo equivalia a “servir Roma”.
Portanto, quando Ellen White diz:
“Pensam que fazem um serviço a Deus…”
Ela está ecoando exatamente essa acusação histórica:
➤ Os que queimam o Apócrifo pensam estar servindo a Deus, mas estão enganados.
Esse ponto histórico reforça a interpretação teológica:
Ellen White estava condenando a remoção do Apócrifo e endossando sua leitura.
8.6 O Apócrifo era parte da “Bíblia padrão” nos EUA até 1827
O artigo lembra que:
-
Bíblias com o Apócrifo eram comuns nas colônias americanas,
-
A Sociedade Bíblica Americana só parou de imprimir com Apócrifo após 1827,
-
Muitas famílias mantiveram suas Bíblias antigas até meados do século XIX.
Portanto, em 1849:
✔ não era incomum ver Bíblias com Apócrifo,
✔ muito menos uma Bíblia “antiga” usada por uma família cristã devota.
Esse contexto mostra que a visão de Ellen White estava perfeitamente integrada à realidade material e espiritual de sua própria Bíblia.
8.7 A visão de 1849 é uma resposta profética direta à guerra cultural do Apócrifo
O artigo conclui esta seção afirmando:
“As palavras de Ellen White se encaixam exatamente — e de forma impressionante — nas polêmicas e linguagem da Guerra do Apócrifo, como uma resposta profética à mutilação das Escrituras promovida pelas sociedades bíblicas.”
E mais:
“A visão não é acidental:
é uma intervenção divina na maior controvérsia bíblica de sua geração.”
Conclusão da Seção 8
✔ A visão surge em um contexto de guerra teológica.
✔ Os termos “queimar”, “lançar fora” e “desprezar” eram usados na época.
✔ A Bíblia da família Harmon continha o Apócrifo.
✔ O debate americano importou a controvérsia inglesa.
✔ A visão de Ellen White responde diretamente ao movimento de remover o Apócrifo das Bíblias.
✔ A visão é uma crítica profética e explícita a essa mutilação da Bíblia.
9. RECONSTRUÇÃO TEXTUAL — CORRIGINDO O MANUSCRITO
Como o Manuscrito 5, 1849 contém erros significativos de ortografia, inconsistências e palavras mal registradas — resultado de uma transcrição feita ao vivo durante uma visão — o autor propõe aqui uma reconstrução textual crítica, em linha com os métodos acadêmicos usados para restauração de documentos históricos.
O objetivo desta seção é:
-
Corrigir erros evidentes do transcritor,
-
Propor a leitura mais provável das palavras ditas por Ellen White,
-
Apresentar justificativas linguísticas e históricas para cada correção.
O autor enfatiza:
A reconstrução deve ser:
-
conservadora (não alterando o sentido),
-
fiel ao manuscrito,
-
coerente com o contexto,
-
consistente com outras visões de Ellen White
-
e teologicamente neutra, ou seja: reconstruir o texto, não interpretá-lo.
9.1 Os três problemas principais do manuscrito
O autor identifica três problemas recorrentes na versão original:
Problema 1 — Erros ortográficos que dificultam a leitura
Exemplos:
-
“apochraphy”
-
“wodel”
-
“commts”
-
“upu”
-
“evry”
Esses erros devem ser corrigidos para restituir palavras inteligíveis.
Problema 2 — Palavras truncadas ou incompletas
Exemplo citado:
“a part of the hidden book, a part of it is burned”
O manuscrito parece faltar um “it” (“ele / isso”).
O autor explica por quê:
-
O transcritor provavelmente perdeu o ritmo da fala,
-
O texto está apressado,
-
O manuscrito mostra espaços incomuns e substituições apressadas.
Portanto, a leitura mais provável é:
“a part of it, the hidden book”
(“uma parte dele, o livro oculto”)
O que restabelece a lógica da frase.
Problema 3 — Um erro crítico: “let” vs. “lest”
O manuscrito traz:
“let everything be cast out”
(“deixe que tudo seja lançado fora”)
Mas isso contradiz a visão inteira.
A leitura correta deve ser:
“lest everything be cast out”
(“para que não tudo seja lançado fora”)
O autor lista as razões:
✔ A visão é um apelo para preservar, não para abandonar.
✔ Ellen White nunca mandaria “deixar tudo ser lançado fora”.
✔ O paralelismo com outras visões exige “lest” (prevenção).
✔ A teologia posterior de 1888 repete essa exata ideia (“não questione nada, para não perder tudo”).
✔ Grafias semelhantes eram frequentemente confundidas em manuscritos apressados.
Conclusão textual:
✔ “lest” é a forma correta.
✘ “let” é erro de transcrição.
9.2 Reconstrução da Primeira Parte da Visão
Trecho original (com erros):
“Pure and unadulterated, a part of it is consumed, holy, holy, walk carefully, tempted.”
Reconstrução proposta:
“Pure and unadulterated…
A part of it is consumed.
Holy, holy… walk carefully.”
A reconstrução:
-
restaura o sujeito (“it”),
-
corrige verbos,
-
adiciona pausas plausíveis conforme estilo profético.
Motivo teológico e linguístico
O autor lembra que em outras visões, quando Ellen White contemplava a Bíblia, ela dizia palavras como:
-
“pura”,
-
“santa”,
-
“preciosa”,
-
“a Palavra de Deus”,
-
“ata-a ao coração”.
A cadência aqui é típica de seus primeiros discursos visionários.
9.3 Reconstrução da frase sobre o “Livro Oculto”
Manuscrito:
“a part of the hidden book, a part of it is burned (the apochraphy).”
Reconstrução:
“a part of it, the hidden book —
a part of it is burned (the Apocrypha).”
O autor explica que essa forma:
-
mantém a repetição característica de Ellen White,
-
corrige o sentido,
-
e harmoniza com seu uso posterior do termo “os sábios dos últimos dias o entenderão”.
9.4 Reconstrução do comando divino
O manuscrito repete “ata-o” (“bind it”) várias vezes, mas sem clareza estrutural.
O autor organiza assim:
“Bind it to the heart.
Bind it… bind it… bind it.”
Em seguida:
“Bind it to the heart… lest everything be cast out.”
Esta reconstrução:
-
segue o ritmo de outras visões,
-
mantém a repetição tripla (típica do estilo de Ellen White),
-
conecta coerentemente ao aviso final.
9.5 O parêntese “(o Apócrifo)” — por que é crucial
O transcritor adicionou:
“(the apochraphy)”
Essa nota é um dos elementos mais importantes do manuscrito.
O autor argumenta:
-
O transcritor nunca o teria incluído se Ellen White não o tivesse dito claramente.
-
Isso prova que o ouvinte entendeu que a parte queimada era o Apócrifo, não outra coisa.
-
E mostra que os adventistas originais compreendiam o Apócrifo como parte da Bíblia.
Em resumo:
➤ Esta é uma evidência primária da interpretação original dos pioneiros.
9.6 Reconstrução final completa (em inglês no artigo)
Reconstrução final proposta (Tradução)
“Pura e não adulterada…
Uma parte dela está consumida.
Santa, santa… andai cuidadosamente.
A Palavra de Deus — tomai-a —
ata-a ao vosso coração,
pura e não adulterada.”“Tua palavra, tua palavra, tua palavra…
Uma parte dela está queimada —
ele, o Livro Oculto —
uma parte dela está queimada
(o Apócrifo).”“Aqueles que desprezam este remanescente
pensam estar prestando serviço a Deus;
mas são levados cativos por Satanás
segundo a sua vontade.”“O Livro Oculto — está lançado fora.
Atai-o ao coração!
Atai-o! Atai-o! Atai-o!
Não deixem que suas páginas se fechem.
Leiam-no cuidadosamente.
Tomem a verdade direta.
Atai-a ao coração…
para que não tudo seja lançado fora.”
(A reconstrução e tradução estão completas e fiéis ao artigo.)
9.7 Conclusão da Seção 9
✔ O texto do manuscrito pode ser reconstruído com alto grau de precisão.
✔ Os erros de transcrição não afetam o sentido total — e podem ser corrigidos.
✔ As correções demonstram ainda mais claramente o apoio explícito de Ellen White ao Apócrifo.
✔ A visão inteira torna-se coesa, clara e teologicamente consistente com seus escritos posteriores.
✔ A frase-chave — “lest everything be cast out” — é restaurada com total segurança textual.
10. CONCLUSÃO GERAL
(Tradução completa)
A controvérsia sobre o Apócrifo nos primeiros anos do adventismo permanece um campo pouco explorado.
A maior parte dos adventistas modernos:
-
nunca leu o Manuscrito 5 (1849),
-
desconhece a existência do texto,
-
ou acredita (com base em interpretações antigas e desatualizadas) que Ellen White simplesmente “tolerou” ou “ignorou” o Apócrifo.
Este artigo demonstra o contrário.
Analisando:
-
a visão de 1849 (Manuscrito 5),
-
a visão de 1850 (Manuscrito 4),
-
o contexto histórico da Guerra do Apócrifo,
-
a Bíblia usada por Ellen White,
-
sua teologia posterior sobre inspiração e cânon,
-
sua linguagem repetida em outras visões,
-
e a reconstrução textual precisa do manuscrito,
a conclusão é inequívoca:
Ellen White, em 1849, endossou o Apócrifo como parte da Palavra de Deus.
Esse endosso aparece de várias formas na visão:
-
Ela chama a Bíblia com Apócrifo de “pura e não adulterada”.
-
Ela chama o Apócrifo de “Tua Palavra”.
-
Ela o identifica como “parte” da Bíblia — não como algo externo.
-
Ela o ordena ser “atado ao coração”.
-
Ela o manda ser “lido cuidadosamente”.
-
Ela censura aqueles que o rejeitam como sendo “cativos de Satanás”.
-
Ela adverte que rejeitá-lo levará a rejeitar toda a Bíblia.
-
Ela afirma que sua remoção é o início do plano satânico para destruir a Escritura.
O autor escreve:
“A visão de Ellen White deve ser compreendida não como uma crítica ao Apócrifo, mas como uma defesa profética dele.”
A “parte queimada” não é rejeitada por Deus — é perseguida pelos homens
A linguagem de “queimar”, “lançar fora” e “desprezar” não é usada por Ellen White para condenar o Apócrifo.
Pelo contrário, ela está:
-
descrevendo o que os protestantes da época estavam fazendo com o Apócrifo,
-
denunciando esse ato como enganoso e satânico,
-
e chamando o Apócrifo de “remanescente” — um termo nitidamente positivo em sua teologia.
A visão de Ellen White é uma resposta divina à Guerra do Apócrifo
O artigo demonstra que:
✔ As palavras que ela usa são as mesmas usadas nas campanhas anticatólicas dos anos 1820–1830.
✔ A visão é direcionada à mutilação da Bíblia feita pelas sociedades bíblicas.
✔ A realidade histórica que ela via em sua juventude iluminou o conteúdo da visão.
Assim:
➤ A visão é um julgamento profético
sobre o movimento protestante de REMOVER livros da Bíblia.
Ellen White manteve essa posição por toda sua vida
O artigo mostra conexões claras entre:
-
a visão de 1849,
-
a visão de 1850,
-
suas advertências de 1888,
-
seus escritos de 1897–1899,
-
e sua citação contínua do Apócrifo mesmo em idades avançadas.
E conclui:
Não existe evidência de que Ellen White tenha abandonado a visão de que o Apócrifo possui inspiração ou autoridade espiritual.
Pelo contrário:
-
ela usa Esdras como profeta baseado no 2 Esdras (Apócrifo),
-
ela repreende quem decide o que é ou não inspirado,
-
ela afirma que ninguém deve “pôr a mão na arca”,
-
ela diz que remover partes da Bíblia é obra de Satanás.
Tudo isso se encaixa perfeitamente com sua visão original.
Resultado final
O artigo conclui com esta frase forte, traduzida integralmente:
“Não há base histórica ou textual para negar que Ellen White considerou o Apócrifo como parte da Palavra de Deus em 1849 — e nada em seus escritos posteriores contraria essa compreensão.”
Em outras palavras:
✔ Ellen White endossou o Apócrifo.
✔ Ela o viu como parte da Bíblia.
✔ Ela considerou sua remoção um ataque satânico.
✔ Ela manteve essa visão durante toda sua vida.
Encerramento
O autor encerra afirmando que este texto deve:
-
levar a comunidade adventista a reconsiderar sua compreensão sobre o Apócrifo,
-
inspirar novas pesquisas históricas,
-
e corrigir erros de interpretação repetidos por mais de um século.
E conclui:
“A visão de 1849 é uma contribuição profética singular para a história da Bíblia no protestantismo americano.
Ela merece estudo, respeito e reavaliação.”
Fontes e Referências:
Tradução em Português: https://www.adventistas.com/wp-content/uploads/2025/11/Korpman_Satans-Captives-are-Burning-the-Bibles_SpesChr_35-2024.pdf
Original em inglês: https://www.adventistas.com/wp-content/uploads/2025/11/12_Korpman_Satans-Captives-are-Burning-the-Bibles_SpesChr_35-2024.pdf
Korpman_Satans-Captives-are-Burning-the-Bibles_SpesChr_35-2024
12_Korpman_Satans-Captives-are-Burning-the-Bibles_SpesChr_35-2024