Tales Fonseca: Em Defesa do Pastor Rubem M. Scheffel

 

Caro Pastor Rubem M. Scheffel.

Li com atenção seu artigo "Trindade, uma revelação gradual". Li também com satisfação seu diálogo neste site com o Robson Ramos. Na ocasião, eu estava  escrevendo a parte final da proposta de colocar todos os teólogos em um saco e jogar no rio. Ao ler seu artigo, a resposta do Robson e a sua réplica, ambos se respeitando, nenhum chamando o outro de diabo, fiquei feliz por ver que ainda há teólogos que divergem sem um querer furar o olho do outro. Pensei: o Pastor Rubem Scheffel é um dos teólogos que não deve ser jogado no rio. (Será que há teólogos afogados no  desastre ecológico de Cataguazes?)

Fiquei emocionado, principalmente com sua postura humilde, não querendo ser o porta-voz oficial da igreja. Também com a resposta dele, lembrando que quando ambos trabalhavam na CASA, discordavam sem perder o respeito. O Robson chegou a admitir, com humildade, que nem sempre estava certo nas cartas que lhe escrevia.

Não me manifestei na ocasião, pois acompanhava meu pai em seus últimos dias de vida. Agora, voltando a acessar este site, fiquei triste quando vi um grande número de cartas massacrando sem dó nem piedade seu artigo na revista Ministério.  Todos o condenaram rudemente por dar asas à imaginação, como se isso fosse algo mau ou desonesto.

Não vejo problema em alguém, após ler a Bíblia, meditar sobre os maravilhosos mistérios da Divindade. Quando li suas idéias sobre Jesus viver entre os anjos como se fosse um deles, pensei: “Ué, mas de onde ele tirou isso?” e então, concluí, que após muito estudar o tema e meditar sobre ele, esta foi a sua forma de entender o assunto. Esta é a sua compreensão sincera, e o artigo é a exposição honesta de sua crença.

 

Peço desculpas

Para a maioria dos psicólogos, sociólogos e outros intelectuais que estudam  o homem, Deus e a religião são apenas frutos da nossa imaginação. E os teólogos reconhecem que cada indivíduo pode se comunicar diretamente com o Divino. Nós não precisamos entregar nossas orações aos pastores para que eles telefonem para o Céu. Podemos pedir diretamente a Deus, e podemos receber a resposta diretamente dEle. Portanto, “viajar”, imaginar como será o Céu, imaginar como funcionam as coisas lá em cima, não é nenhum pecado. Podemos ter contato com a Divindade sem intermediários. E também não está errado em compartilhar estas idéias com os outros. Se não houvesse a possibilidade de cada cristão interpretar o que lê e usar um pouco a imaginação, não haveria sermões nas igrejas, apenas ler-se-ia a Bíblia.

Assim, caro pastor, peço desculpas pelo massacre que o Robson e sua tropa de choque lhe impuseram. Eles são realmente muito bravos. Talvez por isso nunca me atrevi a escrever sobre o tema da Trindade, tenho medo que eles destrocem meu artigo com armas proibidas pela convenção de Genebra. Eles não têm dó não. E quando alguém investido de poder oficial escreve para o site, ao invés de tratá-lo com carinho, eles o pisoteiam. Assim, com medo, nenhum outro teólogo oficial se atreverá a escrever para cá. E,  como na grande imprensa eles só podem publicar artigos concordando com o que a igreja já ensina, não podem pensar nada novo, e sua atividade intelectual ficará restrita a refletir o que outros já pensaram - o que os tornará inúteis, dando razão a certo tipo de malucos que querem colocá-los em um saco e jogar no rio.

Defendo o direito de qualquer um dar asas à imaginação e publicar tais idéias. Mas daí espera-se que os que lêem é que decidam se devem aceitar ou não. Não se pode forçar ninguém a aceitar uma visão “na marra”. À lei e ao testemunho...

Caro Pastor, peço que o senhor também os desculpe. Eles argumentam de forma agressiva,  raivosa, mas têm lá seus motivos para isso. Porque, assim como o senhor tem o direito de interpretar a Palavra de Deus a seu modo, eles também deveriam ter o mesmo direito. Mas não têm. Eles não podem publicar suas interpretações na revista Ministério. Fossem, pastor Rubem, suas conclusões contra a doutrina da Trindade, o senhor também não poderia publicar nada lá. Mas poderia publicá-las aqui. E sendo a favor da Trindade, também pode enviar suas idéias para cá, o Robson as publicará com satisfação.

 

Não é paradoxal?

Aí, em seu ambiente de trabalho, em geral as pessoas criticam o adventistas.com como sendo uma forma errada de jornalismo, e acham que só as revistas oficiais é que estão certas. Mas não manda a ética informar a verdade e deixar ao leitor que tire suas conclusões? Pois lá, onde o sr. trabalha, só um lado da questão pode ser informado. Além disso, fazem de conta que o outro lado não existe. O Robson publicou seu artigo na íntegra, aqui, e o senhor o agradeceu por isso. Ele, ou o Ennis, ou o Josiel, poderiam publicar algo lá?

Primeiro fazem de conta que estes sites não existem. Depois, ao ver que a audiência da “oposição” é grande, ao invés de responder aos argumentos, passam a criticar o caráter e ofender a honra do adversário. E não respondem aos argumentos! Batem nas pessoas, chamam de diabo, rogam pragas... O doutor José Carlos Ramos (sim, este é candidato ao banho de rio!) chama os que discordam da doutrina da Trindade de tolos e ignorantes. Estas pessoas são então discriminadas em suas igrejas. Sofrem elas e suas famílias. Agora, deram para cortar da igreja os “hereges”. Matar, não podem, pois a lei não permite. Mas falar mal, desprezar, cortar da igreja, tudo o que for possível para desmoralizar o “inimigo” eles fazem. Então, pastor Scheffel, perdoe a agressividade deles. Foram desprezados e punidos por, com sinceridade, interpretar a revelação Divina de forma diversa da institucional.

Muçulmanos crêem em Alah e Maomé, e nossa igreja os respeita. Católicos crêem que o Papa é infalível, e nós os respeitamos. Presbiterianos guardam o Domingo, e nós os respeitamos. Mas, entre nós, uma diferença de doutrina em assuntos misteriosos  é suficiente para perseguições, xingamentos (chamar de diabo é o quê?), e a pena radical, a exclusão da igreja, que teologicamente pode ser definida como “entregar ao diabo”, ou, como diz o popular, mandar ao diabo que o carregue.

Eles estão feridos, magoados. E até isto é usado contra eles. “São uns revoltados, uns recalcados”, dizem os bons e justos, para que quem for ler os “sites de oposição” já vá com o preconceito firmado.

Depois que comecei a escrever neste site, várias pessoas me escreveram questionando as intenções e a vida particular do editor. Também já ouvi relatos escabrosos contra o Ennis. Não contra sua vida moral, mas relatos de injustiça que ele sofreu na igreja, o que justificaria sua “revolta”. Portanto, ao ler seu site, já devo ir precavido que ele é um “revoltado”. Esta é a ética da instituição. Ao invés de discutir as idéias da pessoa, questionam sua honra. De que lado o senhor está, pastor Scheffel?

 

Ponto de vista

Seria tão bom se pudéssemos discutir idéias, doutrinas, onde todos pudessem expor seu ponto de vista sem discriminação, e a verdade surgisse do estudo da Bíblia, não de manobras políticas. O senhor conhece alguma igreja onde exista isso?

Se houvesse, eu gostaria de poder conversar, e perguntar, por exemplo, e concordando com seu artigo:

● Se a Trindade foi um conhecimento dado ao homem de forma progressiva, então há a possibilidade de outras doutrinas também serem dadas de forma progressiva. Mas, doutores da lei, se a nossa igreja reprime violentamente qualquer manifestação discordante do já estabelecido, como a verdade progressiva será aceita? Ou, como saber que, agora sim, já temos toda a verdade e ponto final, a ponto de excluir qualquer um que pense de forma diferente?

● As mesmas pessoas que defendem a doutrina oficial da igreja, aceitam a permanência de administradores corruptos em seus cargos. Sim, isto é fato consumado. Quando mostramos a eles provas inquestionáveis da corrupção administrativa, dizem que o joio deve permanecer junto com o trigo até a colheita. Mas quando é a vez de cortar o leigo meio analfabeto, porque lê na Bíblia que Deus é um só e entende que Deus é um só, aí sim, é preciso arrancar o “joio” com a precisão dos bombardeios cirúrgicos do presidente Bush! Quando se corta um chefe de família honesto, apenas por sua interpretação diferente da Palavra de Deus, sofrem toda a sua família, seus amigos, e as pessoas a quem ele deu estudos bíblicos. Enquanto isso, os mentirosos e os corruptos continuam impunes  vivendo às custas dos dízimos. Por falar em Bush, o Ennis Meyer, que é seu vizinho, poderia investigar se ele nunca foi presidente de associação ou união. Pois, além da arrogância comum aos poderosos, ele também quer ser considerado “bonzinho” e receber honras.

A maioria dos pastores e da igreja institucionalizada ensinam e praticam violentamente a doutrina de que a igreja é dona de toda a verdade, e que os que discordam devem ser perseguidos e punidos. Será que eles têm para si suficiente certeza de sua fé, ou escondem suas próprias dúvidas no ódio com o qual perseguem? Porque, se uma doutrina é verdadeira, a investigação só poderá confirmá-la. A igreja que tornou a doutrina da Trindade oficial, também reprimiu violentamente a idéia de que a Terra era redonda e que girava em torno do Sol. Qual o problema em se investigar? Se uma doutrina é verdadeira, quanto mais estudada, mais não se confirmará?

Podemos usar os mesmos métodos de argumentação com alguém que guarda o Domingo, tentando convertê-lo ao Sábado, que os que defendem as doutrinas atualmente oficiais da nossa igreja, isto é, o desprezo, a perseguição, chamar de burros... Conseguiremos converter alguém excluindo-o?

“Se todas as idéias que temos entretido em assunto de doutrina são a verdade, será que a verdade não resiste à investigação? Será abalada e cairá se criticada? Então, que caia, quanto antes melhor. O espírito que fecharia a porta à investigação de pontos da verdade de maneira cristã não é o espírito do alto.” (Ellen White, carta 7 – 1888) Cito a frase para ser usada apenas a força do argumento. -- Tales Fonseca.

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