Carta Aberta ao Professor Alberto R. Timm

Previsível. É o máximo que se pode dizer do seu artigo “A Igreja e seus críticos”, publicado  na Revista Adventista, edição de Abril/2005, páginas 16 e 17.

Esta seria apenas mais uma das tentativas oficiais da IASD de tratar situações que lhes fogem ao controle, não fosse por apenas um detalhe: a forma leviana e presunçosa como o senhor ultrapassa os limites do aceitável.

De maneira invejável, o senhor, consegue traçar um perfil dos críticos da Igreja, apenas por tendo conhecido alguns ou através das informações biográficas fornecidas por outras pessoas. Desculpe-me professor, o que é isso? A legalização da fofoca, ou a oficialização do uso de boatos e mexericos como fonte de pesquisa?

Mas as surpresas continuam. Em determinado momento do texto o senhor cita explicitamente o transtorno obsessivo compulsivo – TOC. O que me chama mais a atenção é que demora algum tempo, após meses de tratamento e acompanhamento médico especializado para tal distúrbio ser diagnosticado, e o senhor apenas com informações passadas por outras pessoas consegue apontá-lo tão claramente em terceiros. Isto é impossível, a não ser que o ‘conhecimento progressivo’, como os sacerdotes da IASD gostam de dizer, tenha alcançado a esfera pastoral com assuntos da medicina psiquiátrica.

Não são raros os casos na História em que a religião foi usada como arma de manipulação das massas. Infelizmente na IASD isso vem acontecendo freqüentemente. Quando interessa, o discurso é que somos uma Igreja, somos uma família, e como tal devemos ter compaixão, empatia, carinho, amor cristão. Quando não interessa, o discurso muda: a Igreja deve punir eclesiasticamente aqueles que discordam de algum ponto, ou apenas questionam alguma coisa.

Será, professor, que questionar como é gasto o dinheiro santo do dízimo faz me tornar uma pessoa com a moral comprometida ou frustrada conforme o perfil traçado no artigo? Pedir um pouco de moderação no gasto com aluguéis e condomínios é algum erro passível de punição eclesiástica? Talvez as suas fontes que te deram as informações biográficas sobre os críticos da Igreja não te informaram que muitos dos nossos irmãos moram mal e vivem com dificuldades. Impressionante os seus argumentos, principalmente quando lembramos que em nosso país existe um movimento muito grande para que os líderes do poder executivo cumpram a lei de responsabilidade fiscal. Claro, isso não se aplica a Igreja, uma vez que exigir o mínimo de transparência na administração dos campos e instituições adventistas me torna uma pessoa com problemas de auto-estima ou dificuldades financeiras, outros itens que fariam parte do perfil dos críticos segundo o seu entendimento.

Será errado questionar porque tantos parentes e amigos de líderes da Igreja são favorecidos com empregos e benefícios às custas do dízimo, e isso me torna um egocêntrico?

Professor Timm, será que não lhe ocorreu que os que criticam ou questionam algo na Igreja não estejam certos? Ou com razão em pelo menos em um ponto? Será que não lhe ocorreu que o crítico de hoje é alguém que se decepcionou com a Igreja, simplesmente porque percebeu que “devolver o dízimo e a ofertinha para mandar missionários às terras de além mar” não é tão real assim? Se em algum momento lhe ocorreu tais pontos, porque não mereceram destaque em seu artigo? Será que usar de um espaço destinado à toda Igreja para atacar determinados pecados parece correto? Tais artigos servem somente para insuflar ainda mais a Igreja.

Professor Timm, muitos dos que criticam amam a Igreja, da mesma forma que o senhor, creio eu. Dariam a vida por ela, mas não compactuam com a forma que é dirigida hoje. Jesus, se o senhor se lembra, expulsou mercadores do templo, criticou a liderança religiosa da Igreja, questionou costumes e doutrinas. Muitos dos que criticam a Igreja hoje, já deram muito de sua vida pela Causa de Deus, falam do que viram, do que viveram, e mesmo assim é possível ler na Revista Adventista, artigos como o seu. O mínimo que se espera de homens decentes é a liberdade de expressão, o diálogo aberto e franco e não atitudes autoritárias de se usar um veículo da Igreja em causa própria e não somente por amor a Obra.

Somos irmãos. A Igreja é lugar de pessoas doentes, e sendo assim merecem atenção e cura. A crítica exagerada e com intenção de ferir é apenas uma dessas doenças. Da mesma forma que também são doenças as fraudes no imposto de renda que pastores cometem, os adultérios cometidos e acobertados dentro das nossas instituições, os desvios de dinheiro e acordos com políticos de índole questionável como tenho visto em alguns campos, os falsos testemunhos levantados por ministros da Igreja, o dinheiro mal empregado na administração da Obra, os aconchavos politiqueiros para a manutenção dos vossos cargos, o nepotismo descarado... Todos somos pecadores. Esses erros não merecem destaque editorial, pelo menos não li ainda nada tão explícito na Revista Adventista. Porque somente a crítica merece? Porque quando algumas pessoas erram devemos ter compaixão e quando outras erram merecem a fria intolerância? Ainda que todas as críticas fossem irracionais não justificariam o seu artigo.

Já passou da hora de revermos alguns pontos, permitir que Deus trabalhe livremente entre nós. Deixar que Deus construa novamente nossa vida, nossa casa, nossa Igreja.

Não é com espírito de revanchismo ou punições eclesiásticas que a Igreja vai se fortalecer, e sim com o espírito desarmado, com o mesmo propósito que inspirou os nossos pais na fé que vamos ter de volta uma Igreja pura, sem mácula, que aliás, é o propósito de Deus.                                                                     

Outrossim, acho oportuno informar-lhe que, há muita diferença entre ser crítico e fazer uma análise crítica de uma situação. Ser crítico é ser uma pessoa ácida, descontente com tudo e com todos. Fazer uma análise crítica, que é o que está acontecendo na Igreja Adventista do Sétimo Dia, é ter capacidade de poder analisar uma situação sob vários ângulos, e essa não é uma característica apreciada pelos “sacerdotes”, pois incomoda. Jesus não era crítico, mas tinha uma grande capacidade em fazer uma análise crítica de qualquer situação, tanto é que incomodou deveras o Sinédrio.

Professor Timm, se a sua Bíblia for completa como é a minha e a de meus irmãos, ela terá os capítulos 8 e 34 do livro de Ezequiel. Leia-os e medite neles. É provável que o senhor, bem como uma maioria dos “Ungidos do Senhor” dos dias atuais, se encaixem na mensagem dos mesmos. Lembre-se, aquelas severas repreensões são tão atuais hoje quanto o foram naqueles dias. A história se repete.

O mesmo livro que o senhor utilizou para finalizar o seu artigo, também diz algo interessante: “Os seus atalaias são cegos, nada sabem; todos são cães mudos; não podem ladrar; sonhadores preguiçosos; gostam de dormir. Tais cães são gulosos, nunca se fartam, são pastores que nada compreendem, e todos se tornam para o seu caminho, cada um para sua ganância, todos sem exceção. Vinde, dizem eles, trarei vinho, e nos encharcaremos de bebida forte, o dia de amanhã será como este e ainda maior e mais famoso” Isaías 56:10 – 12. -- P.S - Peço que nenhuma identificação seja usada na assinatura do artigo. O dia em que os "príncipes" da IASD souberem debater sobre algo, assino meus artigos.

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