Nova Análise Reacende
Debate: Afinal, Existe ou Não Música Santa ("Sacra")?
Irmão
Flávio,
Somos
um grupo
que se reuniu neste sábado
à tarde discutindo assuntos musicais quando
nos deparamos
com o seu
texto
"Não Existe Música Santa. Música é Música"
na
internet.
É um grupo
heterogêneo,
composto
por
oito
pessoas,
com
idades
entre 18 e 22
anos, um de 42
anos e um de 50 anos.
Dois
são
estudantes de
música nas
áreas de composição e regência e canto,
três
são
músicos
amadores,
dois
são
anciãos da
igreja, um
é psicólogo e todos
são
adventistas
atuantes.
Unanimemente o admiramos como
compositor,
principalmente
pelos
seus
hinos
mais
conhecidos e
que
constam do Hinário Adventista e algumas composições
corais.
Por
isso
nos motivamos a responder
seu
artigo.
Gostaríamos de começar citando I Coríntios 10:31: “Portanto,
quer comais
quer
bebais, ou façais, qualquer
outra
coisa, fazei tudo
para
glória de Deus.”
Algumas
considerações de
um
compositor |
Nossas considerações |
É
muito
difícil
falar
abertamente de
música e
composição
com as
pessoas
da igreja, pois este é o assunto em que quase todas as pessoas da igreja
se acham entendidos e doutores... Até mesmo entre os músicos existe uma
divisão entre os que criam e os que executam e interpretam...
Um
outro
fato é
que o
gosto
pessoal
ás
vezes é
imposto
como o
gosto de
Deus:
como se
Deus tivesse se revelado
pessoalmente
a estas pessoas e dito "esta é a música que Eu o Senhor Teu Deus gosto".
A
maioria dos
músicos
cristãos
criativos,
compositores,
arranjadores e orquestradores, são questionados e de certa forma cerceados
pela alegação de que eles introduzem elementos estranhos ao gosto musical
de seu tempo, sendo assim é fácil afirmar que eles copiam o mundo e não
imitam a música do Céu. Eu pergunto: Como poderei imitar o céu sendo que
ainda não estive lá?
|
Concordamos que é difícil discutir o assunto música na igreja, pois há
muita opinião pessoal e pouca base bíblica e técnica na discussão.
Não pretendemos discutir gosto, pois concordamos que é pessoal, subjetivo
e cultural. Também concordamos que o gosto pessoal não deve ser usado como
parâmetro para a adoração a Deus. No entanto cremos que existem evidências
bíblicas claras sobre a verdadeira adoração, que deve ser:
·
Espiritual (João 4:24)
·
Inteligente (I Coríntios 14:15)
·
Sincera
(Colossenses 3:23-24)
·
Reverente
(Salmos 95:6)
“Eu vi que todos deveriam cantar com espírito e com entendimento.” (TI
Vol.1 pag. 146) |
01. O
que é
música?
A música ocidental é composta de 12 notas, uma dúzia ou mais de acordes,
consonantes e dissonantes, e uma
variedade de
instrumentos musicais
que somados a
vozes
humanas formam a paleta musical com o qual o compositor trabalha. Tudo que
se fez de música até hoje foi e é uma combinação de timbres, notas,
acordes, distribuídos em um período de tempo que é o ritmo.
O
compositor atua
como
um
pintor
que utiliza as
tintas
de diversas cores e as pincela numa tela. Diferentemente da pintura em que
a combinação de cores e riscos resulta numa imagem de algo já existente ou
numa imagem nova sem significado.
Uma
nova
composição
original
em
seu nascimento
não tem
significado
algum. Estou falando que a música ao sair da imaginação do compositor não
tem significado espiritual, moral, mundano, etc. Já a pintura muitas vezes
simboliza significados concretos e questionáveis. A música é como uma
mesa, cujo tamanho, as cores e os elementos podem diferir, mas não se pode
dizer que colocar um certo tipo de mesa na igreja é pecado. Somos nós que
atribuímos significados a mesma, e este significado é resultado da nossa
vivência. |
Qualquer composição tem um objetivo final, por mais abstrata que ela seja.
Inspiração não é psicografia. O compositor é uma pessoa, e como pessoa
atribui naturalmente significado a tudo que está criando, e desenvolve a
profundidade visando um objetivo. A música é naturalmente abstrata, mas
não isenta de significado.
Citamos Howard Hanson, famoso compositor e ex-diretor da Escola de Música
Eastman em Rochester, Nova Iorque: “A música é composta por muitos
ingredientes e, de acordo com a proporção destes componentes, pode ser
calmante ou estimulante, enobrecedora ou vulgarizante, filosófica ou
orgiástica. Ela tem poder tanto para o mal como para o bem”.
“A
música quando não abusiva, é uma grande benção; porém é uma terrível
maldição quando mal usada.” Testimonies, vol. 1, pp. 496 e 497.
Segundo Robert Jourdain no livro “Música, Cérebro e Êxtase”, “a música
sempre existe como um sistema confinado de relações, certos elementos
implicam outros elementos e, assim, forçam a mente em direção às
antecipações que nos deixam perceber grandes estruturas musicais”. (pág.
377). Isto seria tensão e relaxamento.
Parece difícil, diante destes elementos, conceber música sem significado. |
02. Ah! Essa é a
tal da
Associação?
Sim! A música passa a ter um significado através da associação que fazemos
ao ouvi-la
em
determinada
situação,
lugar e
emoção
sentida no
momento.
Vou explicar melhor: em São Paulo os caminhões de gás tocam uma música de
Beethoven chamada "Pour Elise",
Cada
vez
que as
pessoas de
São Paulo escutam a musiquinha o
que vem a
mente é o
butijão de gás. Mas para as pessoas da época de Beethoven e para as
pessoas de outras cidades esta música tinha e tem outro significado.
Acontece
que o
mundo é
muito
grande e as
pessoas percebem o
mundo de
forma diferente devido a cultura, educação, vivência,
família, etc. sendo
assim uma
nota,
um
instrumento
ou
ritmo
tem
um
significado
diferente
para
cada
pessoa,
de
acordo
com
a
sua
experiência
de
vida. |
“Não há nenhuma forma de música popular, no mundo moderno,
industrializado, que se situe fora da província da consciência tonal
maciça” (Richard Norton, Tonalidade na Música Popular, pág. 271).
Embora não possa ser negada a influência cultural e pessoal, também não
pode ser ignorada a reação natural e universal à música. A industria
cinematográfica reconhece isso usando a mesma trilha sonora para qualquer
cultura do globo, na certeza de que as reações serão idênticas.
A
musicoterapia obtém os mesmos resultados com as mesmas músicas para
pacientes com delírios ou surtos psicóticos ou maníacos diferentes,
independente do seu grau de consciência. Pessoas com distúrbios motores
reagem também de maneira igual a tratamento musical, independente de sua
história pregressa.
|
03.
Como é o
processo
de composição musical
Se um compositor tentar fazer um manual de composição onde se relacionem
todas as
combinações sonoras permitidas
ou proibidas de
acordo com
o pensamento de sua época, ele descobrirá que é impossível fazer música
usando este manual. A razão é que
todo
e
qualquer
som
ou
combinação
dos
elementos musicais tem
associado
a
ele uma
série
de
emoções,
sentimentos
e
lembranças,
que
diferem de
pessoa
para
pessoa,
de
povo
para
povo,
etc.
Por esta
razão dificilmente um compositor escreve livros de composição dizendo o
que é certo ou errado, pois ele seria o primeiro a quebrar estas regras.
Boa
parte dos
livros
sobre
composição musical foi
escrita
por
pessoas
que não são compositores, e estes livros são na verdade compilações de
exemplos de coisas em comum entre as obras conhecidas e mais apreciadas.
Mas a cada dia que passa o livro fica mais desatualizado porque a cada dia
novas coisas são criadas ou combinadas.
Os
compositores
mais
marcantes e reconhecidos
como
inovadores ou gênios da música, são aqueles que romperam com o tradicional
ou comum em sua época e criaram algo diferente, sempre é bom destacar que
em
música
o
novo
é a
mistura
de uma
corrente
ou
estilo
musical
com
outra.
Bach, o
famoso Bach,
que é o
grande
exemplo de
um
compositor consagrado a
Deus
pela
ala tradicional
religiosa
de hoje. Foi considerado revolucionário em seu tempo.
Já
li
artigos
em
que
musicólogos revelam
que
alguns
elementos
formais da
música
de Bach foram os
pilares de
alguns
estilos
atuais
tais
como
o
jazz
e a
música
erudita.
Vila-Lobos inspirou-se
em Bach e fez as famosas Bachianas
que por sua
vez influenciou Tom Jobim, um dos precursores da Bossa Nova, que pode até
ter influenciado alguns músicos conhecidos da nossa igreja que por sua vez
influenciaram tantos outros compositores, e assim vai...
Não dá
para
separar a
influência
que uma
corrente musical exerce
sobre a
outra e vice-versa.
Não
existem
também
fronteiras
religiosas
dentro da
música
e é
por
isso
que
o
nosso
hinário é o
maior
documento
ecumênico da
igreja,
pois
diversos
segmentos religiosos estão representados e inseridos
dentro dele. O
famoso
Padre
Marcelo gravou diversas
músicas evangélicas
em
seus cds,
até
corinhos
que
são
cantados
em
igrejas
Adventistas.
Existem também cds Adventistas que contém melodias de compositores
católicos. Todos aqueles que gravaram músicas da cantora Kathy Troccolli
não se iludam,
pois
ela é uma cantora
católica
americana
e uma parte de seus colaboradores, são companheiros de fé.
Um dos
compositores
mais
inovadores da
música
erudita
quando
criança morou numa casa em que se ouvia no lado de dentro música religiosa
por seus pais, missionário americanos. Já na parede ao lado a música
tocada era no estilo da região local. Pois bem este compositor foi o
precursor de uma corrente musical em que duas tonalidades são sobrepostas
criando o
mesmo
efeito
que
ele ouviu
quando
criança. |
Há
um equívoco aqui. Desde o início do renascimento, com Palestrina, até os
modernos guias de composição da Berklee University, a grande maioria dos
tratados de composição foi escrita por compositores aclamados. Por
exemplo, Palestrina, Rameau, Bach, Beethoven, Berlioz, Mendelssohn,
Hindemit, Schoenberg, etc. Estes livros foram usados não apenas por seus
alunos, como por diversos compositores da posteridade.
Quanto à desatualização, o tratado de contraponto de Palestrina, da
segunda metade do século XVI, é usado até hoje nas escolas de composição.
Mesmo pessoas que usam linguagens de composição diferentes se utilizam
destes tratados para desenvolver a escrita. Nenhum dos grandes
compositores mundiais, até os dias de hoje, os descartou.
O
fato de Bach ter influenciado o surgimento do jazz não se contrapõe à sua
religiosidade, nem é uma novidade. Apenas atesta que ele era um grande
compositor e que suas criações foram capazes de influenciar estilos
musicais surgidos 200 a 250 anos após a sua morte.
Na
verdade existem barreiras religiosas dentro da música. No entanto não são
barreiras denominacionais, mas de princípios. Hinos que se adequem aos
nossos princípios de adoração, podem ser adotados, independente do credo
religioso de seus compositores.
“Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto,
tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é
de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai.”
Filipenses 4:8
É
bom lembrar que nem toda a produção musical religiosa adere a estes
princípios, e portanto não deve ser incluída na nossa adoração.
“A
escolha de música apropriada para a igreja é crucial, especialmente para a
Igreja Adventista do Sétimo Dia, porque através de sua música ela ensina e
proclama as verdades finais a ela confiadas. Infelizmente o estilo de
música e de adoração da maior parte das igrejas Adventistas é baseado
grandemente na aceitação sem críticas do estilo de adoração de outras
igrejas.” (Dr. Samuele Bacchiocchi, O Cristão e a música Rock, pág.
185)
A
composição “Three places in New England” de Charles Ives, mencionada não
nominalmente, não tem objetivos sacros. Apenas cita motivos musicais
cristãos numa peça com objetivo de concerto. |
04. É
possível uma
música
santa desassociada do mundo?
Um
dos
maiores
mitos
que
existem é o da
música
santa.
Música
é
música.
Assim
como
Inglês
é
Inglês
e
Grego
é
Grego.
Música é uma forma de linguagem através dos sons. As palavras em uma
língua falada possuem um mesmo significado para o povo que fala e escreve
a mesma. Porém todos os lingüistas e estudiosos concordam que o
vocabulário de uma língua muda com o tempo, pois é um processo dinâmico em
que palavras caem no desuso e outras são agregadas pelas pessoas.
Já na
música esta universalidade de
interpretação
ou significado não existe. É preciso veículos formadores de opinião para
que este significado passe a ser associado a uma determinada música.
O
Cinema, a
Rádio e a TV
são
atualmente os
maiores
formadores de
opinião
e gosto musical, como também são as forças mais influentes, em dar
significados universais a música. Mas há paradoxos. Existe, por exemplo,
uma música gospel chamada "Oh! Happy Day" que no Brasil é sinônimo de
margarina e a mesma música nos Estados Unidos lembra uma freira rebelde do
filme "Mudança de Hábito". Já para outros a música lembra o dia de
sua conversão que é o tema da letra.
Se a
Rede
Globo
resolver
usar uma
música
qualquer
ou
até
mesmo
um hino para ilustrar uma cena de novela, pode ter certeza que milhões de
Brasileiros ao ouvir aquela melodia vão lembrar da cena. Já as pessoas que
não assistiram o tal programa terão outra reação para o mesmo estímulo.
O
hino "Mais
Perto Quero
Estar"
para os
milhões de cinéfilos
que foram
assistir o
filme
"Titanic" lembra
apenas e
tão
somente a
cena de
desespero
e despedida dos músicos daquela tragédia.
Este
hino
somente
tem
um
significado
espiritual e
especial
para
aqueles
cristãos
que
conheceram o
hino
em
sua
experiência
religiosa.
Dá
para
mudar o
significado de uma
música
ou
estilo musical?
Sim,
mas é
preciso
executar a música num outro contexto diversas vezes até se criar um novo
vínculo. É um processo de recondicionamento musical. Uma
pessoa
que passou
por
circunstâncias
difíceis na vida geralmente associa lugares e coisas aos fatos, este
significado só irá desaparecer na medida que estes elementos comecem a ser
associados a circunstâncias diferentes das vividas. |
Muito apropriada a sua comparação entre a música e as linguagens. Assim
como as linguagens podem ser usadas para textos de diversos significados,
a música também. Grego é grego realmente, e foi usado para os textos dos
filósofos gregos (uso profano) e também para escrever o novo testamento.
Creio que é difícil negar a sacralidade do novo testamento. Portanto
música pode também usada para compor expressões sacras ou profanas.
No
entanto a comparação entre música e idiomas deve ser usada com ressalvas.
Existem coisas em música impossíveis de serem ditas em palavras, assim
como existem cenas (quadros) indescritíveis. “Tradução é um outro
problema. Quase tudo que pode ser dito em árabe, também pode ser fielmente
traduzido para o chinês, finlandês ou navajo. Será que tudo que é “dito”
por uma sinfonia de Beethoven pode ser traduzido para country and western
ou motown? Não parece possível. Na música o significado parece, em parte,
estar corporificado no idioma de sua expressão”. (Robert Jourdain, Música,
Cérebro e Êxtase, pág. 351). Portanto se música é um idioma e os estilos
musicais dialetos, ainda assim seria impossível a “tradução”.
“Embora não possa ser negado que, com o crescimento da mídia globalizada
das massas, algum condicionamento em massa com respeito à música possa ter
ocorrido, também é claro que o impacto da música não é apenas uma questão
de condicionamento. A primeira exposição a uma música já causará o efeito
desejado pelo compositor/executante. Mesmo antes que se pudesse dizer que
o condicionamento das massas fosse um fator importante, os produtores
pareciam ser capazes de predizer com muita precisão qual música era
apropriada para cenas ou seqüências específicas. Isto nunca foi uma
questão de tentativa e erro. Antes que fossem feitos estudos científicos
sobre este fenômeno, houve muito empirismo, mas os resultados sempre eram
os esperados” (Dr. Samuele Bacchiocchi, O
Cristão
e a música Rock, pág. 352)
Por outro lado, quanto ao uso do hino “Mais Perto Quero Estar” nas cenas
do filme “Titanic”, pode-se acrescentar que a compreensão da cena na sua
total profundidade apenas pode se dar quando as pessoas já conhecem o hino
e seu significado. Neste caso o filme está usando um significado anterior,
embora não se possa negar que cria uma nova associação.
|
05. E o
compositor
cristão, o que ele faz?
Na
prática
um
compositor,
cristão,
sensato,
polido
e equilibrado
procura
fazer
é
utilizar
combinações
sonoras
que
não
estejam
tão associadas
ou
vinculadas a
coisas
mundanas
de
seu
tempo.
Muitas
vezes
ele
guarda na
gaveta
suas
criações, e
muitos deles
só
são reconhecidos na
posteridade, como é o caso de Bach, cujas partituras foram usadas para
enrolar mercadorias, até que um músico descobriu novamente a obra de Bach.
Por
outro
lado
se a
música é destinada
para
a
conversão de
pessoas
o
meio
mais
eficaz
de
comunicação
é
falar na
linguagem
conhecida e apreciada. |
A
prática musical da igreja hoje é a mesma da época de Bach, na qual o
compositor cria para consumo atual e não para a posteridade. Nesse sentido
Bach foi um dos maiores de sua época, sendo chamado aos 22 anos para ser
Mestre de Música na Corte de Weimar, pois já era reconhecido como um dos
maiores pelo próprio imperador. Sua magnificência foi o que gerou sua
redescoberta mais de 100 anos depois por Felix Mendelssohn, fazendo com
que toda a Europa olhasse para o passado ao se defrontar com tamanha
excelência e criasse uma nova prática musical, ou seja, a execução
de música de séculos anteriores, prática essa usada até hoje. Ainda assim
não se encontra um único vestígio de mundanismo de época alguma em
trabalhos de tão consagrado compositor.
Quanto à música usada para conversão citamos Ellen G. White: “Há pessoas
que estão prontas para fazer uso de qualquer coisa estranha, que possam
apresentar como surpresa ao povo... nunca devemos rebaixar o nível da
verdade, a fim de obter conversões, mas precisamos elevar o pecador
corrupto à alta norma da lei de Deus.” (Evangelismo, pág. 137) |
06. E a
Igreja
como se posiciona em relação a associação de significados?
Algumas denominações religiosas fazem o que Lutero fez, santificam
ou procuram
mudar o
significado
mundano
associado
à música. Outras esperam 20 anos aproximadamente ou o tempo necessário
para a associação deixar de existir e então passam a utilizar o
determinado estilo em sua liturgia.
O
pensamento
de Lutero é
seguinte,
só
porque
o
inimigo
usou
primeiro,
não
quer
dizer
que
ele
é o
dono
desta
combinação.
O compositor Lineu Soares em suas músicas "A Minha Esperança" que é
semelhante a um reggae ou no Semi-Baião cujo título não me lembro aparece
no último disco do Tom de Vida. Dá margem para algumas pessoas sentirem-se
afrontados e incomodados, enquanto que para outros estas músicas são uma
homenagem carinhosa aos cristãos do Caribe ou do Sertão Brasileiro.
O
Professor Irineu,
diretor do IASP
me relatou
que este Reggae do Lineu já converteu e trouxe de
volta
muita
gente
para
igreja e sei uma
pessoa
originária do
Nordeste
se sente prestigiada
com uma
música num
estilo
familiar
que é o
Baião e se abre
para a
mensagem de salvação.
Vou
dar
outro
exemplo: na
década de 1960 surgiu no
cenário
Adventista
um grupo chamado The Wedgwood
Trio e o
tipo de
música deles
era
muito parecido
com os Beatles,
Até no
visual
eles se pareciam, Os
jovens e
adolescentes apreciaram imensamente aquele grupo, mas a liderança da
igreja baniu o grupo e os proibiu de atuarem na
igreja e nas
reuniões evangelísticas,
somente trinta
anos depois
que eles foram aceitos pela comunidade Adventista, o som continua o mesmo,
mas as pessoas se acostumaram com o som.
O
retorno
e
reabilitação
do Wegdwood
Trio foi
um
fato
marcante
na
história da
música
Adventista,
tanto
é
que
cantaram na
última
conferência
geral
em
Toronto as mesmas
músicas
que foram proibidas 30
anos
atrás.
Eu
mesmo fui
proibido de
tocar na
igreja do IAE
por
um
certo
período de tempo, pelo Pr. Manuel Xavier,
diretor
interno do IAE na
época,
por
ter interpretado uma
música
secular do
compositor
Milton Nascimento: "Amigo É
Coisa
Pra Se
Guardar"
em uma
festa de
Amizade do IAE
que aconteceu no
refeitório. Uma
década
depois
pra
minha
surpresa o IAE passou
um vídeo
promocional de seus cursos e instalações e adivinhe qual era a música de
fundo? "Amigo é Coisa Pra Se Guardar."
Um
outro
fato interessante foi o
processo de "santificação"
da música Amizade de minha autoria em parceria com o poeta Valdecir S.
Lima. Esta música foi composta para uma festa de amizade ocorrida em nosso
colégio, no entanto com o tempo os líderes de jovens passaram a utilizar
esta música em seus programas para jovens. Uma vez fui convidado para um
aniversário de uma igreja e a música cantada neste evento especial que
ocorreu num sábado de manhã foi Amizade.
Se esta
música fosse gravada
pelo Roberto Carlos
ou Padre
Marcelo jamais teria sido aceita como digna de ser entoada em nossos
átrios, por ser originária de nossos colégios ela é aceita e executada
em
todo o Brasil. |
Quanto ao uso de música secular por Lutero, muita lenda já foi criada.
Vejamos a seguinte pesquisa séria:
“Primeiro, dos trinta e
sete
corais compostos por Lutero, só uma melodia veio diretamente de uma
melodia folclórica secular. Quinze foram compostas
pelo
próprio Lutero, treze vieram de
hinos
latinos ou músicas de culto, duas eram, originalmente, canções religiosas
dos peregrinos, quatro derivavam de canções religiosas populares alemãs, e
duas
são de
origem
desconhecida.
O que a maioria das pessoas ignora é que mesmo a melodia que foi tomada
emprestada de uma
canção
folclórica, e
que
“apareceu no hinário de Lutero de 1535, foi substituída
mais
tarde, por outra melodia no hinário de 1539. Os historiadores acreditam
que Lutero a descartou
porque
as pessoas associavam esta
melodia
com o
seu
texto secular anterior”.
Segundo, Lutero mudou a
estrutura melódica e rítmica das
melodias
que
ele
tomou emprestado de
fontes
seculares,
para eliminar qualquer possibilidade de
influência
mundana.
Em seu livro acadêmico, Martin Luther, His Music, His Message, Robert
Harrell explica: “O modo mais eficiente de [se opor] à influência mundana
seria ‘des-ritmar’ a
música. Evitando as
melodias de dança e ‘des-ritmando’ as outras
canções, Lutero chegou a
um
coral com ritmo marcado, mas sem os dispositivos que lembravam as pessoas
do mundo secular. Tão bem sucedido foi o trabalho feito por Lutero e
outros músicos luteranos que os estudiosos eram freqüentemente incapazes
de descobrir a origem secular dos corais. ...
Terceiro, Lutero
organizou a música para os jovens do seu tempo de modo a guia-los para
longe da atração da música mundana. ... . Lutero explicou por que ele
mudou os arranjos musicais de suas canções: “Estas canções foram
organizadas em quatro partes, pela única razão que eu desejei atrair a
juventude (que deveria e deve ser treinada em música e em outras belas
artes) para longe das canções de amor e obras carnais, dando-lhes em lugar
disto algo saudável que pudessem aprender, de forma que possam adentrar
com prazer ao que é bom, como é próprio à juventude”.
À
luz destes fatos, qualquer um que use a declaração de Lutero “Por que o
Diabo deveria ter todas as melodias boas?” para defender o uso da música
rock na igreja, tem que saber que esse argumento é condenado claramente
pelo que o próprio Lutero disse e fez.” (Dr. Samuele Bacchiocchi, O
Cristão
e a música Rock, pág. 34-36)
Quanto às influências da música popular, além dos textos já citados, cito
você mesmo: “Na prática um compositor, cristão, sensato, polido e
equilibrado procura fazer é utilizar combinações sonoras que não estejam
tão associadas ou vinculadas a coisas mundanas de seu tempo.”
Por
outro
lado é
um
erro considerar qualquer música popular como pecaminosa, quando usada fora
da igreja. Se algum excesso foi cometido no passado é um erro tão
grosseiro como hoje querer trazer estilos mundanos para dentro da igreja.
Na verdade achamos que nossos jovens deveriam ouvir mais música secular,
cuidando na sua seleção, para ter a referência da diferença.
A
igreja,
por
sua
vez, deveria manter parâmetros que evitassem a migração dos
estilos musicais. “Daí a César o
que é
de César e a Deus o que é de Deus”. A passagem do tempo não “sacraliza”
uma música ou estilo. Na verdade a polemica criada ultimamente tem criado
confusão e deixado boa parte da igreja sem saber que decisão tomar. A
própria liderança é confusa e confunde.
Que
dizer
então dos
irmãos
mais simples.
Foram citados
alguns
erros
de julgamento. Eles não podem ser usados como parâmetros. O que importa
são os princípios bíblicos.
|
07. E o
gosto
musical, como é formado?
As pessoas desenvolvem o gosto musical ou o seu paradigma musical
(conjunto de sons associados a experiências e sentimentos) no período que
compreende os primeiros 20 anos. Depois deste período tudo que é novo ou
diferente é de difícil assimilação ou compreensão. Aquela musiquinha do
caminhão de
gás vai
lhe
acompanhar
para
sempre na
sua
memória.
Só terão
significado
espiritual
todos os
estilos musicais
que foram
associados à igreja, e que foram utilizados e absorvidos
como
parte da
experiência
religiosa neste
período da
vida. É
possível
uma mudança neste condicionamento, sim, como disse antes, mas são poucas
as pessoas que estão abertas para mudanças radicais.
Acontece
que se
um
compositor
limitar a
sua
criatividade
ao que pode ou não pode ditado pelo gosto das pessoas ao seu redor, não
fará música. Por causa de seu espírito curioso o compositor está sempre a
frente de seu contemporâneos. O gosto musical dele é sempre diferente dos
outros porque o contato com o novo é sempre mais constante para aquele que
experimenta e cria novas combinações.
|
Citando Schuman “as pessoas compõe por muitos motivos: para se tornarem
imortais; porque, por acaso, o piano estava aberto; por desejarem ficar
milionárias; por causa do elogio de amigos; porque olharam para um par de
lindos olhos; ou sem motivo algum, absolutamente”.
Isto nos remete ao tema da motivação do compositor. No caso da música
sacra esta motivação não deve estar voltada para os homens, mas sim para
Deus. No entanto, deve sempre ter em mente que sua música será usada pelos
homens para o ato de adoração. Esta adoração deve começar por ele mesmo, e
ser extensível aos seus co-adoradores. Caso não seja compreendida e/ou
aceita pelos seus semelhantes, perde bastante do seu objetivo. |
08. Pode o
compositor
usar o livre-arbítrio num processo de criação?
Em determinado momento o compositor rompe com tudo e todos e escreve suas
músicas usando o livre arbítrio que Deus lhe deu. Ele combina os sons com
a mesma liberdade que Deus teve ao criar os animais, plantas e tudo que há
na terra, sem se preocupar se a cobra é ou se tornará símbolo disto ou
daquilo, ou o Arco-Íris é ou será usado pela nova era ou outros
movimentos, e assim por diante. É claro que com pecado tudo se modificou e
alguns animais já não são mais mansinhos e bonzinhos,
mas
são
design do
Senhor. (Made by Lord) Da
formiga ao
elefante
não dá pra dizer esta ou aquela espécie não foram criadas pelo Senhor, o
maior e único criador de todos os tempos.
Só
que existe uma
situação complicada
para o
compositor
religioso: muitas vezes em suas experiências criativas o compositor
mistura elementos musicais e chega a um resultado que é semelhante a algum
estilo que já existe e já esta vinculado a algum significado mundano. Este
compositor pelo fato de procurar ser um cristão consagrado e viver
distante do mundo desconhece qual o significado que aquele estilo ou
combinação de elementos tem para as pessoas e ao apresentar a sua música
para a sua geração o choque é inevitável. |
O
livre arbítrio é uma faculdade concedida por Deus, mas nem sempre é bem
utilizada. O fato de usar o livre arbítrio não garante a qualidade do
resultado. A Bíblia e a vida estão repletas de exemplos de mau uso desta
faculdade.
O
livre arbítrio esta diretamente associado à criatividade. É dever do
compositor saber exatamente como vai soar cada nota, acorde, pausa, que
surgem em sua cabeça, e optar conforme o seu desejo. Mas nada disto está
livre das influências. É fundamental desejar que esta influência seja
direta do espírito santo.
Por outro lado não se pode ter a inocência de dizer que se reinventou por
acaso um estilo musical. Claro que nem sempre se pode prever a reação
exata das pessoas, mas é imprescindível, por parte do compositor, um
conhecimento das tendências musicais que o cercam, sacras ou não. O fato
de um cristão ser consagrado não pode ser usado como desculpa para ser
isolado do mundo. Não é esse o chamado que Deus tem para nós (João 17:15).
É obrigação do compositor conhecer as ferramentas do seu ofício. |
09.
Este
choque
incomoda a quem?
As pessoas mais atingidas ou incomodadas por esta nova música, são
justamente aqueles cuja música/significado exerceu ou ainda exerce
fascínio, aquilo que nos incomoda nos outros pode ser o nosso ponto fraco.
Geralmente
boa
parte das
pessoas
que
mais
se "preocupam"
com a
música
na
igreja
são
aquelas
cuja
vida
foi marcada
com
experiências
questionáveis associadas a
música.
Vou dar outro exemplo: sabe aquele jovem que se desviou da igreja e foi a
todo tipo de ambiente ruim e em todos os lugares ele viu e ouviu música
tocada em um piano de cauda branco, no dia que ele voltar para a igreja,
se os irmãos resolverem comprar um piano novo para a igreja, pode ter
certeza de que o jovem fará de tudo para influenciar na escolha da cor
evitando o branco, pois esta cor lhe remete a recordações
que
não condizem
com
sua
nova
vida.
Muitas
vezes a
pessoa
não viveu e
nem teve
experiências no
mundo,
mas as presenciou
através de
filmes, propagandas e outros programas de televisão e associação ou
vínculo foi feito, e uma vez ocorrido é para sempre a não ser que se faça
uma auto-desprogramação
mental.
Ainda está
entre
nós
um
famoso e influente
Pastor da
Igreja
Adventista,
que apreciava
fazer
sermões sobre a música na igreja na década de 70-80. Este pastor era o
maior combatente dos Heritage Singers no
púlpito,
mas
seus
sermões eram
só
fachada
pois na
intimidade
ele
era o
maior
colecionador de
discos dos Heritage e
até suas
filhas só ouviam e cantavam no colégio as músicas dos Heritage Singers. |
Este tipo de generalização é perigosa. Nem sempre as experiências que você
pode ter vivido em algumas situações se aplicam a todos os casos. A
acusação feita é arriscada e no nosso caso incorreta.
Quanto a gosto musical há bastante diversidade no nosso grupo. Há aqueles
que admiram Marvin Gaye e Sam Cooke, dois cantores de origem protestante,
e de qualidade incontestável. Tamanha qualidade é muito aproveitada na
área secular, mas seu estilo ao falar de Deus não condiz com nossa
filosofia, sendo portanto descartado. O princípio é claro: não se deve
profanar o nome de Deus misturando o sacro com o profano (I Pedro
1:14-16). |
10. E o
gosto
de Deus?
Existem aqueles que ao ouvir uma música num estilo que não gostam devido
ao significado evocado (convém lembrar que é algo puramente pessoal),
invocam a volta da presença do Senhor, como que o seu gosto pessoal também
é o de Deus. Será que o Senhor realmente se retirou da sua igreja? Ou o
pensamento daquele ouvinte que se desviou das coisas do Senhor? É correto
achar que o nosso gosto é similar ao de Deus?
Nós
só saberemos o
gosto musical de
Deus
quando estivermos na
nova terra,
tudo que existe de música até hoje foi copiado, modificado
ou misturado. O
nosso
cérebro é
um
liquidificador
que mistura tudo aquilo que ouve e transforma numa coisa nova fruto da
combinação daquilo que é conhecido. Na literatura e artes em geral
acontece o mesmo, Até a Irmã White foi influenciada
pelos
escritos de
sua
época.
Com os
profetas da
Bíblia aconteceu o
mesmo, um
profeta educado como Paulo produziu um texto muito mais refinado do que um
pescador.
|
Realmente não sabemos qual o gosto pessoal de Deus, mas conhecemos suas
instruções com respeito à adoração que Ele espera de seus filhos, e ao
citarmos estas instruções não estamos falando do nosso gosto pessoal.
Faríamos bem em tentar corrigir nosso gosto pessoal usando como regra
estas revelações. |
11. Se existisse uma
música
santa quais seriam as consequências?
Não
é
possível
estabelecer
uma
nova
música
diferente
do
mundo
ou
música
santa,
para
isso
acontecer
os
compositores precisariam
esquecer
tudo
que
ouviram e ao
mesmo
tempo
ouvir
uma
amostra
da
música
santa
e
com
esta
referência
criar
suas
novas
composições.
Seria preciso também que os ouvintes se acostumassem com esta forma
musical e se condicionassem a
ela. Uma
nova
música
realmente
diferente
só seria
possível
com
novas
escalas musicais, 20 ou 30 notas ou quem sabe 7 notas perfeitas, 2300
novos instrumentos, 666 ritmos, e assim por diante. Será que é possível?
O
que estou dizendo é
que
tentar
fazer
uma
nova
linguagem
para a
comunicação
entre os
santos
produziria
muitos
problemas.
Em primeiro lugar os ímpios não compreenderiam o que estaríamos
comunicando e
não teríamos
como
usar a
música e
ou a
linguagem
santa
para levar as boas novas da salvação. Em segundo, é só Deus que pode criar
esta música ou linguagem santa, pois qualquer homem que ousasse fazer isto
seria criticado por tentar ser ou tomar o lugar de Deus.
Será
que
a
música,
velha,
desgastada,
em
desuso
pelo
mundo
é a
melhor
para
comunicar
a salvação
por
meio de Jesus?
Ou
será
que podemos
usar
o
novo as
novas
tendências
musicais
para
comunicar Jesus? |
É
um absurdo supor que o nosso sistema musical não possa suportar novos
estilos, bem como limitar a capacidade de Deus em usá-lo. Lembre-se que a
música foi cedida ao homem por Deus, e não é uma invenção humana. Em todos
os casos em que os homens ouviram a música celestial (Isaías e a visão dos Serafins, os pastores de Belém, João no Apocalipse, Ellen White em visão,
etc.) ela foi perfeitamente compreendida, assimilada e admirada.
Deus se comunica com os homens em linguagem humana, e é perfeitamente
compreendido.
Considere os seguintes textos:
“Quando os seres humanos cantam com o espírito e o entendimento, os
músicos celestiais apanham a harmonia, e unem-se ao cântico de ações de
graças. Aquele que nos concedeu todos os dons que nos habilitam a ser
coobreiros de Deus, espera que Seus servos cultivem sua voz, de modo que
possam falar e cantar de maneira compreensível a todos. Não é o cantar
forte que é necessário, mas a entonação clara, a pronúncia correta, e a
perfeita enunciação. Que todos dediquem tempo para cultivar a voz, de
maneira que o louvor de Deus seja entoado em tons claros e brandos, não
com asperezas, que ofendam ao ouvido. A faculdade de cantar é um dom de
Deus; seja ela usada para Sua glória.” (Mensagens aos Jovens, pág. 294)
“A
música faz parte do culto de Deus, nas cortes celestiais, e devemos
esforçar-nos, em nossos cânticos de louvor, por nos aproximar tanto quanto
possível da harmonia dos coros celestiais.” (Patriarcas e Profetas, pág.
594.)
Quanto à musica
velha
ou nova, a qualidade não depende da idade. É uma virtude intrínseca, que
pode estar presente ou não na produção musical de qualquer época.
|
12.
Qual a
solução
para esta Torre de Babel musical?
Se encararmos a
música
como uma
linguagem é
muito
mais
fácil
entender a
torre da
babel
que é o
nosso
mundo de
hoje.
Como aconteceu no
tempo dos
apóstolos no dia de Petencostes em que os discípulos pregaram na língua
que sabiam as boas novas aos povos de todas as partes do mundo e através
do Espírito Santo todos entenderam a mensagem.
É
só
através
do
Espírito
Santo
que
pessoas
com
cultura,
formação e
gosto
musical
diferentes conseguem
compreender,
sentir e
apreciar
a
mensagem
que
é conduzida
através da
música.
Música
(notas,
timbres,
ritmos,
harmonia,
melodia)
são
produtos
humanos.
Se Jesus tivesse deixado
composições
escritas
seria tão fácil resolver este problema. Mas Jesus tinha outras prioridades
e deixou esta missão para o Consolador. Por que não pedimos a cada momento
da vida que o Espírito Santos nos ilumine e ajude a escolher com sabedoria
a melhor música para aquela ocasião? |
Concordamos com esta conclusão. No entanto é importante ressaltar que isto
não nos autoriza a fornecer material de qualidade duvidosa para o Espírito
Santo trabalhar.
Deus é soberano para utilizar a ferramenta que lhe parecer melhor. No
entanto, se Ele pode utilizar uma overdose para transformar uma vida, isto
não me autoriza a pregar o emprego das drogas. |
13. O
ritmo, África e
racismo
Existe também um preconceito velado de que a música do céu é a música WASP
(White Anglo-Saxon Protestant)
Branco,
Inglês
ou
Alemão e
Protestante. Estas
pessoas que
pensam desta forma tem o mesmo raciocínio que inspirou os movimentos
radicais racistas, tais como Hitler, Ku-Klux-Klan, etc.
Dizer
que o
produto cultural proveniente da Africa é do
inimigo é
também uma forma velada de racismo. Nas igrejas Adventistas Brasileiras se
aceita hinos folclóricos Escoceses, Irlandeses,
Americanos, Franceses,
Alemães, etc.,
mas o
folclore indígena Brasileiro ou Africano é considerado elemento estranho.
Qual a diferença? Por acaso os Europeus ou Americanos são mais santos que
os Africanos ou Nativos Brasileiros? Quem foram os maiores destruidores e
exploradores da África e da América do
Sul?
Como a
música
africana é predominantemente rítmica e o
ritmo para
alguns pertence ao inimigo, a conclusão que se chega por comparação é de
que a África é a terra do inimigo. Será que está certo? |
Concordamos que há excessivo preconceito contra ritmo e percussão na
igreja. Temos em nosso grupo uma pessoa de origem afro-brasileira, por
coincidência percussionista amador, que tem sido usado em algumas
apresentações na igreja.
No
entanto é importante ressaltar que há uma diferença básica entre a música
religiosa européia e judaica e a música das demais culturas: o Deus que é
adorado.
Se
devemos aceitar a influencia musical religiosa africana, deveríamos abrir
igualmente o acesso à música celta, japonesa, indiana, dos índios
americanos, etc. Não cremos que nos faria bem esta miscigenação. Devemos
prestar culto apenas ao nosso Deus, e não a todas as visões de Deus que
possam existir no mundo, nem aceitar músicas que foram dedicadas ao louvor
de outros deuses pagãos. Não se trata de preconceito cultural, mas mais
uma vez de princípio religioso.
Se
há alguma discriminação ela ocorre contra a música da cultura islâmica,
que adora o mesmo Deus que os judeus e cristãos, mas não é aceita em nosso
meio.
Sobre a herança musical africana, sugerimos a leitura do capítulo 12 do
livro “O Cristão e a Música Rock” do Dr. Samuele Bacchiocchi. Este
capítulo discute este assunto, tendo sido escrito por uma doutora em
música que é, ela mesma, uma afro-americana, tendo portanto informação
muito melhor que nós a respeito do assunto. |
14. A
Bíblia e o
ritmo
Foi Deus quem fez o pulsar do coração, quando estamos alegres e
entusiasmados o nosso coração bate mais rápido, já quando estamos calmos e
reflexivos o coração bate mais devagar. Alguém já tentou escrever o ritmo
das folhas caindo no chão, ou do trote de um cavalo, ou das ondas do mar.
O ritmo é parte da vida.
Penso
que a
igreja deveria
rever a
questão da
percussão na
igreja.
Um exército não marcha direito se não tiver um tarol, um prato e um bumbo,
uma orquestra não toca junto se não tiver um Maestro e uma boa seção de
percussão.
A
música da
igreja teria
outra
vida se tivesse
percussão. O
Salmo 150
não
deixa
dúvida: Louvai a
Deus
com
instrumentos
de percussão, mas parece que hoje em dia a Bíblia se tornou uma luz menor
para nossos líderes e por isso é difícil colocá-la em prática. E o nosso
louvor sem percussão é uma coisa morta sem vida, arrastada bem no espírito
da igreja de Laodicéia. |
Desculpe-nos, mas cremos que ao citar a Bíblia seria necessário não se
ater apenas aos textos que nos convém, nem muito menos distorcer o texto
conforme nos convém. Uma boa leitura no livro “Música em minha Bíblia”, ou
vários outros livros denominacionais sobre o assunto, resolveria muito
desta questão. O assunto é extenso, mas para resumir:
1.
O único instrumento de percussão admitido no templo, conforme as
instruções do Senhor (II Crônicas 29:25) foi o címbalo (pratos), que não
era usado para marcar o ritmo, mas para definir o início das frases
musicais.
2.
Os ritmos da natureza não são regulares e repetitivos como os
ritmos artificiais da nossa música.
3.
No salmo 150 os instrumentos de percussão mencionados são címbalos
(já discutidos) e adufes (tímpanos). Não cremos que os adeptos da
percussão desenfreada se contentassem com estes instrumentos de percussão.
Lembramos ainda que o adufe não foi admitido na adoração do templo.
Se
a música na igreja é morta e sem vida, deve-se em grande parte à
interpretação ou composição sem inspiração e/ou sem qualidade. Não somos
contra o uso de percussão em determinados momentos, mas seu uso
indiscriminado na música sacra não é defensável. Se não foi autorizado no
serviço do templo (e aqui está sendo usada a Bíblia como luz maior, e não
a opinião humana), não pode ser adequado hoje.
|
15.
Conclusão
Como compositor, eu, Flávio Santos, juntamente com os meus colegas
Adventistas: Ariney de Oliveira, Alexandre Reichert
Filho, Clayton Nunes, Dino Nolasco, Enoque
Júnior,
Evaldo Vicente, Enio Monteiro, Frederico Gerling
Júnior, Henoch Thomas, Jader
Santos,Jane
Leitzke, José Geraldo de
Lima, Lineu
Soares, Lucas Pimentel, Kleber
Augusto, Mário Jorge
Lima, Pablo
Sanches, Pedro Marques, Valdecir S.
Lima, Williams
Costa
Júnior,Raimundo Martins, Ronnye
Dias,
Silmar Correa, Wanderson Paiva, Wiliam Gomes, (e
vários
outros
compositores
e músicos cujo nome não lembro agora, mas que têm dado a sua contribuição
para a música adventista) temos enfrentado críticas, julgamentos e
incompreensão da parte de alguns membros da igreja.
Infelizmente,
alguns dos
nossos
companheiros
até já desanimaram da fé. Outros são humanos e por isso erraram e poderão
errar. Mas o legado que eles tem deixado para a igreja Adventista
Brasileira é inestimável...
Nenhum
outro
país
Adventista no
mundo tem a
música e os
músicos
que temos e o
crescimento
da nossa igreja não teria acontecido sem a música.
As
notas
que escrevemos, nossas
composições,
são
produtos
humanos. Ficam velhas, caem em desuso também. O que vale é a mensagem que
tentamos comunicar, pois a música como todas as coisas são passageiras,
mas o evangelho é eterno.
Cada
vez
que estudamos a
evolução
ou
degeneração da
música
percebemos que o ouvido humano está degradando da mesma forma que a nossa
visão. Os nossos óculos auditivos são os sistemas de som Yamaha ou Mackie.
Os
acordes
estão
cada
vez
mais
complexos
pois
o
acorde
simples
já
não
nos
agrada.
Na
verdade,
em
nossa
degradação
auditiva
não ouvimos
mais os harmônicos contidos
em uma nota
musical de um acorde e por isso compensamos acrescentando
mais
sons aos
acordes.
Todos
aqueles
que estudam a
matéria
física sabem do
que se
trata
a série harmônica. Da mesma forma que cores combinadas formam outra cor.
Dentro de uma nota Lá 440, várias outras freqüencias estão soando
simultaneamente.
Quando se
olha o
verde
não se
vê o
azul
nem o
amarelo,
mas
eles estão
lá.
Já
não ouvimos
mais a
série
harmônica,
mas
ela está
lá e é
infinita.
Quem
já mexeu
em
um Orgão Hammond sabe
que uma
nota musical
muda
totalmente
de cor, quando o seus registros são alterados. Quando acrescentamos ou
tiramos o registro de oitava, quinta, terça, etc, estamos simplesmente
modificando a quantidade de amplitude ou volume freqüências contidas no
som original.
Cada
vez
mais estou
convencido
que
não estamos
prontos
para a
música
do Céu. Nossos ouvidos são muito limitados. O Rap é um estilo que
demonstra o quanto nossos jovens não ouvem e não distinguem mais as notas
ou tons musicais e por isso não faz diferença ter ou não melodia. Para
aqueles que não percebem a diferença entre um dó e um ré a melhor música
para pregar as boas novas é um Rap que é toda falada.
Por
isso, convoco
todos
aqueles
que
criticam os "Reis
do Gospel", ao
invés
de
falar,
proibir,
intimidar,
distorcer,
tirar
textos
do
contexto
só
para
defender
seu
gosto
musical: estudem
música, façam e componham
novas
músicas, formem
grupos
musicais, publiquem e coloquem a
disposição da
igreja
o
seu
trabalho.
Coloquem
em
prática
suas
teorias. E
não percam
tempo
tentando adivinhar o gosto de Deus ou tentando criar a música santa ou
separada do mundo, pois mais cedo ou tarde vocês vão descobrir que é
impossível fazer música sem emprestar elementos de outros estilos musicais
sejam eles ligados à elite ou ao povão.
E
mais procurem
um
veículo de
comunicação
eficiente,
pois se o receptor não compreende a mensagem enviada, a comunicação será
sem efeito. Vocês descobrirão que, em alguns casos, a única música que
alcança alguns tipos de pessoas são o Rap, o Samba, o Funk, o Erudito, o
Gospel, a Bossa Nova, o Coral Alemão, o New Age, o Jazz, o Pagode, ou
qualquer nome que se venha a designar os estilos musicais.
H.M.S Richards ao
fundar o
programa da A
Voz da
Profecia escolheu um meio de comunicação que pra muitos era o próprio
demônio falando através de uma caixa. E o estilo musical era o das
Barbearias, (Barbershops), um estilo extremamente popular e mundano para o
início do século. Hoje aquela música é lembrada como um modelo de
espiritualidade e de boa música religiosa. Será que no início do século
ela era vista da mesma forma???
O
dia
que a
música
santa
ou a
música do
Céu for instituída
por
homens
aqui na
terra, almejo
estar
descansando e aguardando a
volta de Jesus,
quando seremos
realmente
um só povo, uma só língua e uma só música.
Você
que está lendo esta
mensagem e concorda
com o que
digo não se cale, escreva, cante, fale, ilumine ao
seu
redor e ajude a
mudar esta
igreja
que está impregnada do
espírito
farisaico que até mesmo Jesus rejeitou nos dias em que esteve aqui na
terra.
Muitas
vezes queremos
dedicar a
Deus o
fruto de nossas
mãos
tal
como a
oferta
de Caim, e esquecemos
que a
oferta de Abel foi a
que
Deus pediu. Muitas
vezes
usamos a música, a técnica, a retórica, a crítica para mostrar o quanto
somos superiores ao mundo enquanto Deus no pede para sermos uma influência
positiva para o mundo através do amor e através da missão de comunicar as
boas novas (o amor de Deus, que enviou o seu filho amado...) ao mundo
todo.
Enquanto limitarmos a
linguagem usada a
um estilo
musical ultrapassado: estaremos andando
para
trás...
Já na
Adoração
penso
que o contato diário com o Senhor nos dará discernimento para escolher
músicas apropriadas para o Louvor e Adoração. E se ainda não possuímos
sabedoria e discernimento, é de joelhos que os alcançaremos.
Um
abraço. |
Gostaríamos de lembrar que igualmente pastores, evangelistas, colportores,
professores da escola sabatina, líderes de desbravadores, e qualquer líder
em qualquer atividade da igreja também sofrem incompreensão e críticas.
Lembramos igualmente que muitos dos nomes citados não concordam com as
idéias expostas neste texto. Mas podemos dizer que muita música composta
por alguns dos compositores citados é realmente passível de crítica por
excessiva influência secular ou baixa qualidade do texto ou da música.
Sabemos também que uma interpretação pobre pode comprometer um trabalho de
boa qualidade e resultar em críticas ao compositor. A pergunta é se os
compositores estão dispostos a ouvir as críticas técnicas abalizadas e
rever seu trabalho.
Não cremos que o nosso país tem a melhor música adventista, nem a
maior produção musical. Não conhecemos a produção musical adventista no
mundo todo, mas podemos citar como exemplos os Estados Unidos e a
Inglaterra.
A
música adequada ao evangelho eterno deveria também ser feita para a
eternidade, refletindo os valores deste evangelho. Deveríamos fugir da
música de consumo imediato e tentar fazer um produto cultural de melhor
qualidade, que resistisse ao tempo.
Parece que Ellen White não concorda com esta argumentação.
Ela afirma com relação aos jovens: “Eles
têm um ouvido aguçado para a música e Satanás sabe qual órgão excitar,
incitar, absorver e fascina a mente de modo que Cristo não seja desejado.”
(Testimonies to the Church, Vol. 1, pág. 497)
Na
verdade não conhecemos nenhum estudo sério que tenha chegado à conclusão
de que nossa forma de ouvir a série harmônica hoje seja diferente da de
qualquer outra época. Se você tiver algum material sobre o assunto
gostaríamos de conhecê-lo.
Quanto ao rap, o estilo não é novo. Na realidade o uso do “falar cantado”
é uma prática antiga, instituída por Arnold Schoenberg (1874-1951). O
“sprechgesang” não foi instituído porque o músico não sabia cantar, mas
apenas como uma forma a mais de expressão musical. Por outro lado, hoje
muito rap possui um refrão melódico. E seja qual for o motivo para seu
uso, ele não é uma boa forma de divulgação do evangelho, por sua
característica de gueto, incitação à violência e protesto social.
Muitos daqueles que criticam os “Reis do Gospel” continuam a fazer o seu
trabalho musical humilde em suas igrejas, apesar da crítica e
discriminação que hoje sofrem. Apenas não buscam a divulgação que os
demais promovem, por não ter objetivos comerciais em seu trabalho. Na
verdade este trabalho está sendo cada vez mais dificultado pela
massificação de uma música comercial, industrial e descartável, que está
sendo imposta pela liderança.
Também sugerimos que os “Reis do Gospel” estudem um pouco de música,
estética e filosofia musical, história da arte, teologia da arte, etc,
saindo da esfera de influência estritamente adventista, de forma a ter uma
visão mais abrangente e culta do fenômeno musical.
“Há pessoas que estão prontas para fazer uso de qualquer coisa estranha,
que possam apresentar como surpresa ao povo... nunca devemos rebaixar o
nível da verdade, a fim de obter conversões, mas precisamos elevar o
pecador corrupto à alta norma da lei de Deus.” (Evangelismo, pág. 137)
Poderíamos repetir a pergunta: Será que no início do século não era vista
da mesma forma? Pelas informações que temos não houve resistência de forma
geral nem ao meio, nem ao estilo do programa nem ao uso de quarteto
masculino.
“Ao guiar-nos nosso
Redentor ao limiar do Infinito, resplandecente com a glória de Deus,
podemos apreender o assunto dos louvores e ações de graças do coro
celestial em redor do trono; e despertando-se o eco do cântico dos anjos
em nossos lares terrestres, os corações serão levados para mais perto dos
cantores celestiais. A
comunhão do Céu começa
na Terra. Aqui aprendemos a nota tônica de seu louvor.”
Educação,
págs. 161-168. (grifo nosso)
E
quem não concorda, também?
Na
verdade a oferta de Caim foi exatamente a oferta produto do esforço
humano, enquanto que a oferta de Abel refletia a vontade de Deus. Se não
conhecemos a vontade de Deus, como oferecer-lhe a oferta de Abel? E se a
música sacra não existe, como seremos uma influência positiva para o
mundo? Através da música, a técnica, a retórica, a crítica?
Seria um estilo musical ultrapassado aquele que não tem percussão? Ou
aquele que não reflete o nosso gosto pessoal?
|
Mais uma
coisa:
por
gentileza
não distorçam
minhas
palavras,
não tirem
frases do
contexto e nem mesmo concluam fatos, pois este texto não foi feito para
gerar especulações e adivinhações. |
Pedimos exatamente a mesma coisa. |
Se
você tiver alguma
observação,
por
favor,
não hesite
em
entrar
em
contato.
Participaram do
grupo
que elaborou esta
resposta: Elias Tavares, Keila Herodek, Levi de Paula Tavares,
Marcos Herodek, Renata Tavares, Robson Tavares, Rolnei Tavares, Wellington
Sena.
Leia também:
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