Talvez o Pastor Bullón Esteja Certo...

(Confissões de um Ex-Pastor - XVI)

 

Sei que estou me demorando muito em relatar meu primeiro ano na obra como pastor. Estou me prendendo a detalhes. Tenho um propósito nisto. É que o primeiro ano do obreiro é marcante. Você sai do teológico, cheio de ideais, e se depara com a triste realidade, de encontrar líderes, homens e mulheres, que não vivem, nem de longe, estes ideais.

No meu caso, a coisa se tornou pior. Aceitei a Cristo de uma maneira muito intensa. Lembro-me do pastor Horne, analisando minha classe, composta por quase cem teologandos. Éramos quase quatrocentos, ao todo, do primeiro ano ao quarto. O pastor Horne analisava o tempo de batismo de cada um. Quanto maior o tempo, mais experiência e com certeza, mais preparo espiritual para ser um obreiro.

Não era aconselhável um teologando ser novo na fé. Ele foi perguntando o tempo de batismo de cada um e meus colegas iam respondendo. Lembro-me do assombro da classe, quando um, levantou a mão, para dizer que tinha um ano de batismo somente. Depois, o pastor Horne estava encerrando, quando eu levantei a mão e disse:

— Tenho apenas três meses!

Todos caíram na risada. Pensaram que eu estava brincando, sendo espirituoso.  

O pastor Horne continuou a sua aula e ficou por isso mesmo.

Vocês estão me entendendo, irmãos? Um jovem de vinte anos, com apenas três meses de batismo, que com 26 anos torna-se um pastor, e sai para o campo, cheio de esperança, fé, ideais, enfim, alguém que realmente está vivendo o seu primeiro amor por Cristo Jesus... Aí se depara com lobos, raposas que estão na obra há décadas!

Que tristeza, que decepção! Disse Jesus:  

— Eu vos envio como ovelhas ao meio de lobos. Portanto sede prudentes como as serpentes e simples como as pombas. Faltava-me a prudência da serpente. Só iria adquirir esta prudência com o tempo. Vivendo no meio de serpentes, você acaba se tornando cauteloso. Aprende, que se der um passo em falso, certamente será picado. Sabe que o veneno é doloroso demais, que amarga à vida.

 

Sei que meu coração, amargurado, destila verdades que deveria guardar só para mim.

O pastor Sodré está certo ao dizer: "...pois podemos vir a causar escândalo para alguns e até desestimular a outros de seguir a fé adventista, tornando-nos desse modo indireta e relativamente responsáveis pela perdição eterna dessas almas".

Também não gostaria de ser lembrado na seguinte oração: "...se minha filha tivesse esfriado na fé ao ler essas matérias, eu estaria pedindo incessantemente a Deus, dia e noite, que cobrasse o sangue dela das cabeças tanto dos que geram esses fatos quanto dos que os divulgam de forma leviana e irresponsável".

Então por que continuo a escrever? Talvez porque as feridas que tenho, falem mais alto do que minha preocupação com as conseqüências que estes meus artigos possam gerar. Talvez porque não me importe mais com o impacto negativo que estou causando. Talvez me julgue no direito de falar... Talvez acredite que Jesus irá me perdoar, por este meu desabafo...

Talvez esteja completamente errado e nenhum de meus artigos mereça atenção. Mas um fato não se pode negar: Falo a verdade. Relato o que realmente aconteceu. Exponho a ferida aberta, com todo o seu pus e seu odor fétido.

Alguém poderá dizer:

— Não seria melhor esconder, ocultar a ferida purulenta! É horrível contemplá-la!

Mas não é bom para a saúde, ocultar uma ferida. O médico, certamente errará no diagnóstico, se você não disser:  

— Olhe, tenho está ferida, oculta pela minha camisa de seda.

Sei que é mais fácil varrer a sujeira para debaixo do tapete, ainda mais se ele for persa. É desagradável, levantar o tapete, e deixar a poeira subir, enquanto você tenta limpar. A poeira sobe, todos ficam sufocado. Você pode até prejudicar a saúde de alguém seriamente. Imaginem os asmáticos!

Então vamos ocultar tudo? Pelo bem dos pequeninos de Jesus? Que resposta delicada e difícil de dar, não é? Era bom que o K. não existisse! Muito menos que ele seja o que é: um ex-pastor. Isto é desconcertante... Seria bom que ele ficasse em silêncio. Assim muitos não teriam que se confrontar com a seguinte realidade:

— Um pastor perdeu a fé!

Que escândalo! Que miséria! Que furúnculo aberto e exposto no corpo de Cristo!  

Quanta indignação! Constatar que existem Pedros modernos, que além de covardes, pois se escondem atrás de um pseudônimo, ainda traem o Mestre, negando-O, por muito mais que três vezes.

Talvez o pastor Bullón esteja certo:

Que estes dedos tornem-se leprosos!

Mas como ocultar a realidade? Como esconder a verdade? O ex-pastor K. está falando a verdade! E agora?  

A história dele, é a mesma de muitos ex-obreiros! E pode estar se repetindo na vida de pastores atuantes, que estão sofrendo, nos dias de hoje, a mesma perseguição inescrupulosa! O que fazer?

Era melhor que o Robson acabasse com esta página na Internet! Era melhor que as feridas não fossem expostas! Era melhor que a sujeira ficasse debaixo do tapete! Era melhor que Cristo não voltasse!  

Sei que o pastor Bullón está certo em apresentar a igreja adventista totalmente maquiada, gloriosa, sem mácula, nem ruga, santa e irrepreensível. Para que expor as feridas? Por que abrir o cadáver? Por que os alunos de medicina, abrem um corpo humano? É desagradável. Que maneira de aprender! Expor os órgãos, o cheiro horrível, a triste realidade de saber que não temos glória nenhuma e que acabaremos assim!

Para que expor Laodicéia? Para o Bullón, fica o evangelho maquiado. Deixem para os traidores de Cristo, como eu, o evangelho do escândalo, do cadáver, da ferida aberta! Laodicéia é minha! É evangelho escandaloso, próprio para ex-pastores!

Não percam o tempo com esta Igreja. Contemplem a Igreja Gloriosa! A menina dos olhos de Deus! A Igreja rica e triunfante!

A dissecação do cadáver, fica por minha conta. Eu estou morto espiritualmente. Que se cumpra em mim o que Jesus disse:

— ...Deixa aos mortos o sepultar os seus próprios mortos.  

Então eu sepultarei Laodicéia! Ela não mais perturbará a vossa paz! Tenham esperança! A ferida será escondida, os bons costumes mantidos, as aparências salvas a todo custo!

Que nos Revives da vida, fale-se do amor de Jesus, nunca das Suas náuseas, fale-se da cruz, nunca da Sua indignação, fale-se do Seu sangue, nunca da nudez da Sua igreja, fale-se do Seu perdão, nunca da cegueira espiritual de Seu povo, fale-se da Sua volta, nunca da miséria que nos atingiu.

Cantem, os mega-star pop adventistas, cantem da Sua presença conosco, mas nunca, nunca mesmo, cantem que Ele está fora da Igreja, batendo à porta, querendo entrar!

Prossigamos com a farsa! Não fizeram os judeus o mesmo? Por que seríamos diferentes?

Ex-Pastor K

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