Teriam Ananias e Safira Cometido o "Pecado Imperdoável" Contra o Espírito Santo?

 

Leia também, por favor, nossa resposta a esta carta,
pois se ficar apenas com os argumentos deste irmão estará se equivocando tanto quanto acreditamos que ele esteja. (Clique!)

 

Prezado Robson,

Li a sua matéria em resposta ao irmão Mário Sérgio, onde você afirma que pecado contra o Espírito Santo, é atribuir ao demônio a obra de Deus. Ora, não foi isso que Ananias e Safira fizeram. No entanto, Pedro afirma claramente que eles mentiram ao Espírito Santo, e por isso não tiveram perdão.

Se o pecado contra o Espírito Santo, é somente o pecado de atribuir ao demônio a obra de Deus, então porque Pedro afirmou que eles cometeram o pecado contra o Espírito Santo, o qual não tem perdão, e foram fulminados imediatamente? Eu não lembro de eles terem atribuído ao demônio a obra de Deus, mas a Bíblia afirma que eles mentiram contra o Espírito Santo, dizendo em seguida "mentiram contra Deus".  

Eu lhe pergunto, se eles não cometeram o pecado contra o Espírito Santo, por que morreram, sem sequer ter sido dada a eles a oportunidade de caírem de joelhos e pedirem perdão por seu pecado?  

Vamos ao texto completo:  

"Mas um certo homem chamado Ananias, com Safira, sua mulher, vendeu uma propriedade, e reteve parte do preço, e sabendo-o também sua mulher, e levando a outra parte, a depositou aos pés dos apóstolos. Disse então Pedro: Ananias, por que encheu Satanás o teu coração para que mentisses ao Espírito Santo e retivesses parte do preço do terreno? Enquanto o possuías não era teu? E vendido não estava em teu poder? Como pois, formaste este desígnio em teu coração? Não mentiste aos homens mas a Deus.  

E Ananias, ouvindo estas palavras caiu e expirou. E grande temor veio sobre todos os que souberam disso. Levantando-se os moços, o cobriram e, levando-o para fora o sepultaram.  

Depois de um intervalo de cerca de três horas, entrou também sua mulher, não sabendo o que tinha acontecido. E perguntou-lhe Pedro: Vendeste por tanto aquele terreno? E ela respondeu: Sim por tanto. Então Pedro lhe disse: Por que é que combinastes entre vós provar o Espírito do Senhor? Eis aí à porta os pés dos que sepultaram seu marido, e te levarão também a ti". Atos 5:1-9  

"Portanto vos digo: Todo pecado e blasfêmia se perdoará aos homens, mas a blasfêmia contra o Espírito, não será perdoada. Se alguém disser alguma palavra contra o Filho do homem, isto lhe será perdoado; mas se alguém falar contra o Espírito Santo, isto não lhe será perdoado, nem neste mundo, nem no vindouro." Mat.12:31 e 32  

"Mas aquele que blasfemar contra o Espírito Santo, nunca mais terá perdão, mas será réu de pecado eterno." Mar. 03:29  

Para que não fique dúvida sobre o contexto do que Jesus estava falando vamos ver os versos 27 e 28 de Mateus 12, e Marcos 3:30.  

"E, se eu expulso os demônios por Belzebu, por quem os expulsam então vossos filhos? Portanto, eles mesmos serão os vossos juízes. Mas, se eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus, logo é chegado a vós o reino de Deus." Mat.12:27 e 28  

Jesus afirma que ao expulsar Ele os demônios, era o Espírito de Deus atuando através dele. Em seguida afirma que é pecado imperdoável blasfemar contra o Espírito Santo. Mar.3:30: "Porque diziam: Tem espírito imundo."

Afirmaram que o Espírito Santo que estava nele (sobre Ele), era espírito imundo. (Isso é blasfêmia!)  

Quem é o Espírito Santo neste contexto? O Consolador (fôlego, segundo vocês), ou a terceira pessoa do trio celestial (anjo Gabriel, segundo vocês)?  

Ora, não te parece estranho, pecados contra o próprio Jesus podem ser perdoados, mas contra algo que sai de dentro dele, (um sopro/glória) não ter perdão?  

Ou ainda, pecado contra Cristo (aquele que estava com Deus e era Deus), ter perdão, e contra a terceira pessoa (anjo Gabriel) não ter? Gabriel passa então a ser mais importante  do que Cristo neste contexto? Era tudo que Lúcifer queria para ele!

Li textos afirmando que o Espírito Santo, no contexto de Ananias e Safira, era o Espírito de Jesus. Então lhe pergunto: Você acredita que Jesus em algum momento de sua vida na terra, poderia ter mentido?  

Vejamos estes versos:

"Então, Pedro aproximando-se dele, lhe perguntou: Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu hei de perdoar? Até sete? Respondeu-lhe Jesus: Não te digo que até sete, mas setenta vezes sete". Mat.18:21 e 22  

Veja, Jesus afirma que o perdão deve ser infinito, porém, no verso 32 de Mateus 12 (leia acima), Ele afirma que todo pecado contra o filho será perdoado, mas o pecado contra o Espírito Santo, este não será perdoado. Ananias e Safira, mentiram ao Espírito Santo, segundo Pedro, e então cometeram o pecado imperdoável, por isso morreram, sem chance de perdão. Se o pecado houvesse sido cometido contra Jesus, eles (Ananias e Safira) teriam a chance de pedir perdão pelo que fizeram, pois foi Jesus quem disse que o perdão é infinito, exceto no caso do pecado contra o Espírito Santo.  

Quanto ao verso 9, (Espírito do Senhor) quantas passagens existem na Bíblia dizendo que o Espírito Santo procede de Deus?  

"Não me lances fora da tua presença, e não retire de mim o Teu Espírito Santo". Salmos 51:11  

"Eles porém, se rebelaram e contristaram o Seu Espírito Santo..." Isaías 63:10 prim. Parte  

Veja neste texto: "Seu Espírito Santo", se é Seu, procede dEle (fôlego, segundo vocês). Mas fôlego se entristece?  

Se não aceitarmos isso, estamos chamando Jesus de mentiroso, pois Ele diz que perdoa infinitamente, mas nesse caso, não houve sequer tempo para arrependimento.  

Só podemos concluir que este pecado foi sem perdão. Portanto pecado única e exclusivamente cometido contra o Espírito Santo.  

Disse então Pedro: "Ananias, por que encheu Satanás o teu coração para que mentisses ao Espírito Santo e retivesses parte do preço do terreno? Enquanto o possuías não era teu? E vendido não estava em teu poder? Como pois, formaste este desígnio em teu coração? Não mentiste aos homens mas a Deus."

Portanto, Pedro chamou o Espírito Santo de Deus.  

Um abraço, Israel.


Resposta do Editor

Irmão, Israel:

Nesta resposta pública, acrescento estes primeiros parágrafos ao e-mail que já lhe enviei. É que me esqueci de responder aos questionamentos que faz em relação à identificação do Espírito Santo, quanto a ser o "fôlego" divino, ou o anjo Gabriel.

Em primeiro lugar, repito ao irmão aquilo que deve ser do conhecimento da maioria dos que acompanham nosso texto, que tanto a palavra ruach (hebraico) quanto pneuma (grego), ambas traduzidas geralmente por "espírito" nas Bíblias em português, significam não apenas "fôlego", mas também "respiração, brisa, vento, energia vital, etc" e até "mente", mas nunca se refere a uma pessoa ou entidade imaterial, que habite o ser humano ou vague pelo espaço.

Tanto é que nossas explicações acerca da natureza humana repudiam a idéia de que os homens possuam um "espírito" ou "alma", que abandone seu corpo por ocasião da morte. O que ensinamos é que, desde a criação: corpo + "fôlego de vida" (ruach, soprado por Deus nas narinas de Adão) = alma vivente.

Obviamente, irmão, Deus introduziu naquele corpo moldado no barro mais que oxigênio. O "sopro" ou "fôlego" de Deus acrescentou todo um organismo, vida, respiração, personalidade, estruturação mental, etc, ao corpo ali moldado pelas mãos do Filho de Deus. Portanto, quando nos referimos a esse Fôlego Santo, não estamos nos referindo simplesmente ao ar em movimento, mas ao poder dAquele que é Todo-Poderoso. Assim, o Espírito Santo não é uma mera força ou influência qualquer, mas a força criativa e regeneradora do Deus Criador do Universo. Foi esse Espírito Santo que Jesus, para não deixar dúvida acerca do poder a que Se referira, soprou sobre Seus discípulos antes de subir ao Céu, dizendo: "Recebei o Espírito Santo."

Em relação ao anjo Gabriel, o que já escrevi aqui sobre o assunto é que, se formos nos referir às três primeiras pessoas com autoridade no Céu, Gabriel será o terceiro, mas isto não significa que exista uma trindade ou triunvirato divino, governando o Universo. Não, o único soberano é Deus, o Pai, vindo Seu Filho logo em seguida. Gabriel é apenas um anjo subordinado a Cristo, embora tenha autoridade sobre os demais anjos e tenha sido comissionado para missões muito especiais aqui na Terra.

Atente também para o tremendo absurdo de sua conclusão de que o Espírito Consolador ou Auxiliador, prometido por Jesus, seja uma terceira pessoa divina, que não tolera pecados contra Si e que possui caráter completamente diverso do de Jesus Cristo, sempre perdoador e misericordioso, e do próprio Pai, a Quem louvamos, porque a Sua misericórdia dura para sempre. Existisse um tal deus irascível assim e ele estaria em completa desarmonia com o Pai e o Filho, posicionando-se até acima deles, a ponto de pecados contra ambos poderem ser perdoados, mas não contra o Espírito Santo.

 

O caso de Ananias e Safira

Pedro não lhes disse que haviam cometido o pecado contra o Espírito Santo, ou blasfemado. Disse apenas que não haviam mentido a homens, como imaginavam estar fazendo, mas a Deus, pois os discípulos haviam recebido porção generosa do Espírito de Deus no Pentecostes e, nessa condição, Pedro pôde ler-lhes o pensamento e desmascarar sua mentira. Além disso, por inspiração do Espírito de Deus, pôde prever que, confrontados com a revelação de sua mentira, morreriam imediatamente, mas não foi Pedro nem o Espírito de Deus quem os matou. Sua morte foi apenas prevista por Pedro e permitida, mas não ocasionada, por Deus.

Note ainda qual foi a explicação de Pedro para o fenômeno do Pentecostes. Ele não fala em terceira pessoa divina, quando se refere ao Espírito Santo. Fala desse poder como uma promessa do Pai para Cristo, denomina-o "isto" e não "este", deixando claro ser um "dom" de Deus, através de Cristo, e não outro Deus:

Atos 2:33:

Exaltado, pois, à destra de Deus, tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vedes e ouvis.

Atos 2:38:

Respondeu-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo.

E em Atos 5, o Espírito Santo, para quem Ananias e Safira mentiram é chamado de "o Espírito do Senhor", o mesmo que "o Espírito de Cristo", uma vez que temos um só Deus, o Pai, e um só Senhor, o Filho:

Atos 5:3-9:

Então, disse Pedro: Ananias, por que encheu Satanás teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo, reservando parte do valor do campo? Conservando-o, porventura, não seria teu? E, vendido, não estaria em teu poder? Como, pois, assentaste no coração este desígnio? Não mentiste aos homens, mas a Deus. ...Tornou-lhe Pedro: Por que entrastes em acordo para tentar o Espírito do Senhor? Eis aí à porta os pés dos que sepultaram o teu marido, e eles também te levarão.

Nada é dito nesse relato de Ananias e Safira sobre terem cometido ou não o pecado imperdoável. A única definição bíblica acerca do pecado contra o Espírito Santo é a dada por Jesus Cristo nos Evangelhos. Ele explicou ser este pecado a atribuição da obra de Deus ao demônio, o que pode ser confirmado pelo irmão nos Testemunhos Seletos, Vol. 2, pág. 265:

"Que constitui o pecado contra o Espírito Santo? - Está em voluntariamente atribuir a Satanás a obra do Espírito Santo. Por exemplo: Suponhamos que alguém seja testemunha de uma nova manifestação especial do Espírito de Deus. Possui prova convincente de que o fato está em harmonia com as Escrituras, e o Espírito testemunha com seu espírito que é de Deus. Depois, entretanto, a pessoa cai em tentação; orgulho, convencimento, ou qualquer outro mau traço, a dominam; e, ao rejeitar todas as provas de seu divino caráter, declara que tudo o que antes reconhecera como sendo o poder do Espírito Santo era apenas o de Satanás. É por meio de Seu Espírito que Deus opera no coração humano; e quando o homem voluntariamente rejeita o Espírito, e declara ser o de Satanás, intercepta o conduto por meio do qual Deus Se pode comunicar com ele. Pela negação da prova que Deus Se dignou conceder-lhe, apaga a luz que lhe estivera a brilhar no coração, e, como resultado, é deixado em trevas. Assim se verificam as palavras de Cristo: 'Se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grandes serão tais trevas!' Mat. 6:23."

Acredito que esse texto possa lhe ser bastante esclarecedor, embora não creia que a Sra. White ocupe o lugar de única comentarista autorizada da Bíblia, como alguns irmãos.

Em junho do ano passado, respondemos a uma pergunta semelhante. A resposta diferente desta e mais completa em alguns aspectos está em:

Robson Ramos

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