Como Pode Jesus Cristo Ser o "Outro Consolador", Prometido Por Ele Mesmo?

 

No Evangelho de João, Jesus, ao falar do consolador, diz que enviaria "outro", em seu lugar. Ora, qualquer dicionário da língua portuguesa e até mesmo um dicionário bíblico dizem que outro é outro, um terceiro, e não a mesma pessoa. Por exemplo, se o irmão Milton me diz: "Irmão Rogério, não poderei ir para Curitiba pregar, mas enviarei outro em meu lugar", não posso fazer violência ao texto e dizer que é o próprio Milton que virá.

No entanto, vejamos o que diz a mensageira do Senhor neste texto, conforme originalmente escrito por ela, sem a adulteração do Desejado de Todas as Nações:

"Impedido pela humanidade, Cristo não poderia estar em todos os lugares pessoalmente, então foi para vantagem deles (os discípulos) que Ele deveria deixá-los, ir para o Pai, e enviar o Espírito Santo para ser o Seu sucessor na terra. O Espírito Santo é Ele mesmo, despido da personalidade da humanidade e independente dela. Ele Se representaria como estando presente em todos os lugares pelo Seu Espírito, como o Onipresente. “Mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome [embora não seja visto por vós*], esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito” [João 14:26]. “Mas eu vos digo a verdade; convém-vos que eu vá, porque, se eu não for, o Consolador não virá para vós outros; se, porém, eu for, eu vo-lo enviarei” [João 16:7]. (*ESSA FRASE FOI ADICIONADA PELA PRÓPRIA SRA. ELLEN WHITE.) -- Manuscript Releases Volume Fourteen, page 23 and 24.

Estaria a Sra. White enganada? Não constitui uma violência ao texto, dizer que o "outro Consolador" é o próprio Senhor Jesus?

Embora, pelo dicionário não possa admitir primariamente a idéia de que "outro" seja o próprio indivíduo que fala e não um terceiro, posso sim, deixar que a Bíblia diga o que significa, neste caso, a expressão "outro", levando-se em conta a forma de comunicação de Nosso Salvador e daqueles que dEle aprenderam.

Vejamos o que diz João, o mesmo escritor que usa a palavra "outro", no relato da promessa do Consolador. O conhecido texto fala que o Consolador "habita CONvosco e estará EM vós", numa clara alusão ao próprio Cristo, que, conforme diz João na abertura de seu livro: "...E o verbo se fez carne, e HABITOU (habita com) entre nós..." Agregue-se ainda a promessa do Apocalipse "...Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, ENTRAREI em sua casa, CEAREI com ele e ele comigo...",na qual vemos implícito o próprio Jesus à porta de nosso coração, querendo habitar EM NÓS.

Mas sobre a palavra "outro", vejamos como é utilizada na Palavra de Deus em uma diferente situação, pelo mesmo discípulo. Em João 18:5, lemos: "E Simão Pedro e OUTRO discípulo seguiam a Jesus. No versículo 6 vemos ainda: Saiu então o OUTRO discípulo que era conhecido do Sumo Sacerdote."

Note-se que João relata que junto com Pedro, um outro discípulo seguia a Jesus. Quando porém analisamos a Bíblia, ou vamos para o comentário inspirado pelo Espírito de Profecia acerca desse incidente, descobrimos: "Estes discípulos eram Pedro e JOÃO".

Veja que João fala de si mesmo como de uma terceira pessoa, ou seja, chama a si mesmo de outro, da mesma forma que Paulo, ao falar de si mesmo, diz: "Conheço um homem, se dentro do corpo....este homem foi elevado ao Paraíso..."

De quem aprenderam Paulo e João a falar de si mesmos como falando de outro? De Jesus, pois o Mesmo diz: "...Rogarei ao Pai e Ele vos dará OUTRO Consolador..." Ou ainda, novamente falando de si mesmo: "...O Filho do Homem não veio para..."

E por que Jesus ensinaria esta forma de comunicação? Provavelmente para evitar o gloriar-se, para evitar o "eu". Note-se ainda que Paulo, em um momento, elogia-se a si mesmo, falando na primeira pessoa do singular: "...Eu trago no corpo as marcas do Senhor Jesus..." Mas, logo após, como que despertando de sua imprudência, diz: "...Fui louco em gloriar-me..."

Assim, vemos que tanto pela palavra de Deus quanto pela revelação, fica evidenciada a forma cristã de comunicação, falando-se de si mesmo, como se fora de outro.

Graças te damos Pai, porque escondeste isto dos "sábios", e os revelaste aos humildes. -- Rogério Buzzi


Complemento de David Souto de Souza

Irmão Rogério,

Gostei muito de ler sua colocação relativa à palavra "outro". Antes de mais nada, quero agradecer a Deus por estarmos buscando entendimento para, em seguida, tentar contribuir com sua explicação, complementando-a.

Inicialmente, gostaria apenas de situar a leitura do capítulo 14 de João dentro do próprio contexto para tentar justificar o uso da expressão "outro".  

15 Se me amardes, guardareis os meus mandamentos.
16 E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Ajudador, para que fique convosco para sempre.
17 a saber, o Espírito da verdade, o qual o mundo não pode receber; porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque ele habita convosco, e estará em vós.
18 Não vos deixarei órfãos; voltarei a vós.

Preste bem atenção na afirmação feita por Jesus, ao dizer que os discípulos o conheciam porque habitava com eles e no futuro estaria neles.  A análise literal do texto nos mostra que o Espírito Santo estava habitando junto com eles naquele momento e que no futuro estaria neles. Uma dedução cabível aqui seria dizer que ele habitaria no interior deles (Opinião minha, dedutiva). 

Tentarei ainda fortalecer a minha opinião, utilizando-me do texto seguinte, no mesmo contexto:

19 Ainda um pouco, e o mundo não me verá mais; mas vós me vereis, porque eu vivo, e vós vivereis.
20 Naquele dia conhecereis que estou em meu Pai, e vós em mim, e eu em vós.

21 Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele.

Neste trecho, Jesus antecipa parte de sua oração de João 17, em que afirma sua união com o Pai e o desejo de que nós tenhamos a mesma união.

Destaco ainda o final do verso 21, onde diz: "Eu me manifestarei a ele". Jesus estava prometendo uma manifestação pessoa sua e não a de um terceiro aos que se convertessem e o amassem, guardando seus mandamentos.

E ainda levando-se em conta a minha interpretação quanto à futura habitação interior do próprio Cristo nos discípulos, gostaria de considerar os seguintes versos no mesmo contexto:

23 Respondeu-lhe Jesus: Se alguém me amar, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos a ele, e faremos nele morada.

Portanto, o verso 23 do mesmo contexto de João 14 nos mostra que só existem duas pessoas que vão morar naquele que se converte.

Ora há um problema a ser resolvido neste contexto porque se Jesus disse "Outro" é "Outro", como posso deixar de entender isto? Não podemos a principio, dizer para as pessoas que "outro" aqui é o próprio Jesus simplesmente. Mas por outro lado só dois vão morar no interior, se é que estou correto com relação a habitação de Jesus Cristo no interior do ser humano.

Meu quebra-cabeça está quase formado. Preciso terminar de montá-lo, utilizando nossa máxima de Isaías 28:10:

Pois é preceito sobre preceito, preceito sobre preceito; regra sobre regra, regra sobre regra; [um pouco] aqui, [um pouco] ali.

O verso 26, do mesmo contexto de João 14, parece reforçar a idéia de que Jesus se refere a outra pessoa:

Mas o Ajudador, o Espírito Santo a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto eu vos tenho dito...

Porém, o verso 28 elimina-me a dúvida. Ele está falando acerca de si mesmo!

Ouvistes que eu vos disse: Vou, e voltarei a vós. Se me amásseis, alegrar-vos-íeis de que eu vá para o Pai; porque o Pai é maior do que eu...

Poderia ser que ele estivesse falando de sua segunda vinda, quando os apóstolos ressuscitarão, mas não posso afirmar. Também pode ser o reduzido tempo depois de sua ressurreição, quando esteve entre eles por alguns dias, o que caracterizaria um retorno após sua morte...

Verificando, porém, algumas formas de utilização da expressão "outro", encontro alguns casos em que a palavra pode ser utilizada para nos referirmos à mesma pessoa de quem falamos. Por exemplo:

Eu era um alcoólatra, mas, depois que me tratei, voltei para casa outro homem.

Meu marido mudou muito. Ele agora é outro homem. Não o reconheço.

Vocês vão ver. Vou voltar outro homem, vou mudar minhas maneiras. Vocês não vão me reconhecer!

Ganharei as batalhas, serei vencedor, serei vitorioso. Voltarei como o Maioral de Todos. Então, o Maioral virá e mostrará seus troféus para os que por ele aguardavam.

A Bíblia também traz passagens em que Jesus se refere a si mesmo como se fosse uma outra pessoa:

Mateus 24:27:

Porque, assim como o relâmpago sai do oriente e se mostra até o ocidente, assim será também a vinda do filho do homem.

Aqui entendemos que Jesus fala se si mesmo como o filho do homem, ou seja, usa um outro título ou forma de identificação para sua própria pessoa.

Lucas 18:31:

Tomando Jesus consigo os doze, disse-lhes: Eis que subimos a Jerusalém e se cumprirá no filho do homem tudo o que pelos profetas foi escrito...

Note que Jesus estava se referindo a si mesmo como um outro, o Filho do Homem.

Seria o Filho do Homem uma outra pessoa, diferente de Jesus? Ou a expressão pode ser aplicada a ele próprio? O que significava para Jesus identificar-se como o Filho do Homem?

A própria Bíblia nos ajuda a entender:

Hebreus 2:6:

Mas em certo lugar testificou alguém dizendo: Que é o homem, para que te lembres dele? ou o filho do homem, para que o visites?

A frase Filho do Homem se refere aos descendentes gerados pelo homem. Por isso, penso que Jesus estava falando de sua condição humana, como homem de carne e osso, homem na sua forma completa. Embora seja dedução minha, creio que os irmãos concordarão com ela!

1º Coríntios 15:44:

Semeia-se corpo animal, é ressuscitado corpo espiritual. Se há corpo animal, há também corpo espiritual.

Nossa doutrina ensina-nos que somos o resultado da soma de um Espírito (Fôlego de vida) com um Corpo, o que faz de nós uma alma vivente. Como não posso negar essa doutrina, não posso também afirmar que o Espírito Santo seja uma pessoa que vai morar em mim literalmente. Isto equivaleria à habitação corpórea de um outro ser em meu corpo, idéia que beira ao espiritismo ou à possessão.

E agora, como vou explicar que Jesus enviou um "outro", mas falava de si mesmo?

Romanos 8:9:

Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele.

Portanto, posso considerar que a habitação do Espírito em mim significa eu permitir a atuação do Espírito de Cristo, que é o Espírito de Deus, em mim.

Considerando que Jesus é o Filho do Homem e se fez como um de nós deduzo que ele precisa ser inteiramente como nós, precisa de um Corpo e de um Espírito. Mas como ele sendo humano poderia estar junto de todos nós, ao mesmo tempo e em tantos lugares? Percebo então que o espírito de profecia concorda com a Bíblia quando diz:

"Impedido pela humanidade, Cristo não poderia estar em todos os lugares pessoalmente... O Espírito Santo é Ele mesmo, despido da personalidade da humanidade e independente dela..."

O Espírito Consolador ou Espírito da Verdade é o Espírito de Cristo, que habita em todos aqueles que nasceram de novo. Esse Espírito não pode ser menos do que Santo!

Esse Espírito difere completamente do "espírito imundo" porque não nos escraviza, não nos torna marionetes sob seu comando arbitrário.

Colossenses 2:6 identifica Jesus cristo como "o Senhor":

Portanto, assim como recebestes a Cristo Jesus, o Senhor, assim também nele andai...

Por outro lado, II Coríntios 3:17, afirma que o Senhor é o Espírito, que nos proporciona liberdade:

"Ora, o Senhor é o Espírito; e onde está o Espírito do Senhor aí há liberdade."

Posso, portanto, deduzir por essas passagens, que Jesus Cristo é o Espírito. Afinal, se Jesus = o Senhor e o Senhor = o Espírito, logo Jesus = o Espírito, que nos dá liberdade!

O Senhor nos devolve o livre arbítrio e permite-nos escolher a quem serviremos. Assim, atua como uma poderosa influência positiva sobre os nossos pensamentos e vontade, mas não se apodera de nossa mente, a não ser que lhe permitamos. -- David Souto de Souza [Edição: Robson Ramos].

Outros artigos relacionados:

Retornar

Para entrar em contato conosco, utilize este e-mail: adventistas@adventistas.com