Bush Reeleito e Fim da História

Onda conservadora americana prepara as bases do mundo pós-democrático.

A reeleição do presidente norte-americano George W. Bush no dia 2 de novembro é um acontecimento da maior importância para todas as pessoas interessadas ou preocupadas com o destino do mundo, com os direitos humanos, com a democracia e com a liberdade religiosa.

A guerra contra o terrorismo e as recentes ameaças de Bin Laden são contadas entre os fatores que levaram mais americanos às urnas do que em toda a história da nação. Para além destas causas, porém, a permanência dos republicanos na Casa Branca e ampla maioria conquistada no Congresso se apóiam em mudanças estruturais na cultura e na sociedade americana nos últimos vinte anos. Essas mudanças apontam para uma nova fase da história ocidental – a pós-democracia, com a resultante retomada do fundamentalismo autoritário e da intolerância para com os dissidentes.

A reeleição do texano guerreiro, religioso, que incendiou o ódio internacional gerando mais manifestações antiamericanas do que em qualquer outra fase da história recente e a preferência de uma política belicista em vez da estratégia diplomática própria dos democratas justificaram, no entanto, que a reeleição fosse vista, em diversas análises, como uma decisão irracional. O jornal inglês Daily Mirror questionou na sua capa de 4 de novembro: “Como podem 59.054.087 pessoas ser tão burras?”

Essa “irracionalidade” que vem tomando conta da “América profunda”, como chamou a revista Época (8/11/2004), é resultado de fatores diversos, mas principalmente do crescimento de um neoconservadorismo, interessado em renovação moral, religiosa e em segurança absoluta. Mesmo que para isso a América tenha que decretar a eliminação de povos ou culturas discordantes.

Em benefício desta segurança absoluta, o governo George W. Bush implantou a “estratégia de defesa preventiva”, pela qual passa a agir independentemente das Nações Unidas e mesmo antes de ser atacado pelo inimigo, sempre que os americanos se sentirem diante de uma ameaça potencial. Foi com base nessa política que Saddan Hussein foi destronado em 2003.

Após o 11 de Setembro, o governo americano aprovou duas leis referentes a crimes de guerra, envolvendo ligações com organizações terroristas. As leis patrióticas, como foram chamadas, prevêem a cassação da cidadania e prisão de estrangeiros ou mesmo de americanos acusados de ligações com organizações terroristas, os quais não terão direito a um júri comum nem seus advogados poderão manusear os autos do processo, que será julgado em tribunais militares.

Os neoconservadores que constituem a base do governo republicano de George W. Bush também querem o fim das uniões homossexuais, a proibição do aborto, o banimento do ensino evolucionista nas escolas públicas, a proibição de pesquisas com células-tronco, a instituição de horários para oração e devoção nos estabelecimentos públicos e leis dominicais, entre outros.

Por ocasião da reeleição, diversos intelectuais e jornalistas de diferentes orientações falaram da “onda conservadora” religiosa que se projeta sobre a cultura e a política americana. A revista Veja (10/11/2004) falou do perigo de um emergente “radicalismo cristão” no segundo mandato do presidente americano.

É preciso, no entanto, saber se esta é uma onda passageira, que se ergueu após os atentados de 2001, ou se as intenções do novo conservadorismo americano têm raízes mais profundas, capazes de sinalizar uma mudança sólida das estruturas de poder nos Estados Unidos, as quais o mundo será forçado a seguir nos próximos anos.

Neste artigo, comento alguns fatos que apontam para raízes profundas dessa emergente onda conservadora. Além disso, pretendo analisar alguns indicativos relacionados com a mídia e a manipulação da opinião pública que sugerem que este mandato de George W. Bush poderá ser bem mais conservador e potencialmente mais revolucionário sobre as estruturas de poder mundiais do que foi o primeiro.

Repúdio ao liberalismo

A cultura americana experimentou mudanças graves com perdas significativas para os valores de autoridade e religião desde o início do processo de emancipação colocado em efeito pela contracultura nos anos 1960. Motivados pelo movimento hippie e pela ideologia do rock, os jovens conquistaram a liberdade para o sexo e para as drogas. Essa emancipação conquistada pelas novas gerações debilitou progressivamente a autoridade dos pais e da religião e acuou o tradicional puritanismo. Essa onda de emancipação certamente foi fortalecida pelo desgaste sobre a moral americana trazido com a guerra do Vietnã. A onda liberal ganhou força através dos anos 1970 e 1980 e cresceu nos movimentos feministas e homossexuais. Teve importantes defensores e promotores no cinema e nos quadros democráticos.

Nos anos 1990, porém, ela se chocou contra uma muralha. O escândalo do então presidente Bill Clinton com a estagiária Mônica Lewinski levou uma significativa parcela dos americanos à conclusão de que a América não podia mais continuar a deplorar e destruir os valores tradicionais com os quais os Estados Unidos foram fundados, sob pena de a nação se definhar. A imagem do presidente dos Estados Unidos, a maior autoridade do planeta, com os olhos baixos, confessando em rede nacional que tivera um namoro indecoroso com uma estagiária no salão oval da Casa Branca, humilhou a América, plantou-se no inconsciente coletivo da nação e reascendeu a força do conservadorismo. A América entendeu que havia chegado ao fundo do poço e que então era hora de acordar, antes que fosse tarde demais.

Esse fato explorado pela mídia até a exaustão não terminou no impeachment do presidente. Mas assinala, segundo Philip Roth, em A Marca Humana, a mudança da tendência de emancipação e liberdade, iniciada nos anos 1960, para a retomada do controle e da regulação (o livro de Roth, publicado em 2002, gerou a produção de um filme intitulado Revelações, em 2003). Essa tendência de controle e regulação vai se manifestar em diferentes frentes, mas especialmente na política, na moral e na religião. A partir daí, os religiosos se dedicaram à militância política de forma persistente e mais inteligente, o que resultou no fortalecimento do partido republicano.

A humilhação do então presidente Bill Clinton teve, portanto, um efeito reanimador sobre a América religiosa e conservadora, até então, acuada pela onda de liberalismo sexual imperante desde os anos 1960. Essa retomada do conservadorismo está na base do fortalecimento da direita evangélica e católica, e é essa corrente religiosa e política que militou em função de George W. Bush, em 2000, e cresceu garantindo sua reeleição.

É preciso notar, no entanto, que a eleição de Bush em 2000, sob suspeita de fraude, não atestou necessariamente que o conservadorismo tivesse conquistado a maior parte da população americana. O fatídico 11 de Setembro, por sua vez, cuidou de sensibilizar uma maior parcela da nação, em função da urgência de reformas morais e institucionais, que garantissem à América a segurança necessária para a sobrevivência de sua vocação histórica para a Nova Ordem Mundial. O atentado de proporções gigantescas significou para os religiosos a eventual retirada da bênção divina de sobre a América, que então pareceu mais vulnerável do que nunca estivera.

Há, portanto, duas imagens plantadas no inconsciente coletivo dos americanos e que respondem pela chamada “irracionalidade” da reeleição de George W. Bush a despeito de sua atuação vexatória em nível mundial segundo os moldes da democracia – a confissão humilhada do então presidente dos Estados Unidos em rede nacional e as torres gêmeas desmoronando em chamas. Ambos os fatos foram divulgados com imagens de elevada carga emocional e exploradas até à exaustão pelos republicanos, pelos conservadores e pelas redes de televisão, muitas delas simpáticas ao governo de Bush.

Essas imagens e seus respectivos apelos emocionalmente extremados criaram um dispositivo de ação para além dos julgamentos da razão e da sensatez. Elas assumiram o peso de um imperativo do inconsciente coletivo.

Cinema e conservadorismo

A onda de liberalismo, feminismo, sexismo e hedonismo que prevaleceu nos Estados Unidos até os anos 1990, no entanto, é apenas sintoma de uma crise mais profunda imposta diretamente sobre a moral masculina e o patriotismo dos americanos. Para os conservadores, a crise da masculinidade representava um golpe mortal sobre uma cultura puritana de raízes protestantes.

Susan Jeffords, em seu livro The Remasculinization of América: Gender and the Vietnam War (1989), afirma que o Vietnã foi o mais terrível golpe sobre a masculinidade americana. O homem americano ficou intimidado diante do fiasco da guerra e teve de assumir sua fragilidade, o que deu lugar à crescente onda de homossexualismo e feminismo nas décadas de 1970 e 1980. A virilidade do homem americano necessária a uma nação de guerreiros capazes de construir uma nova ordem mundial, pela guerra se preciso fosse, se esvaía através dos anos de dedicação ao prazer, ao vício e às drogas.

O culturalista Douglas Kellner afirma que, para tratar essa moral definhada, filmes de guerra, exibindo homens musculosos, guerreiros, vencedores, abnegados e patriotas, muitos deles abstêmios ao sexo e ao vício, foram colocados diante dos americanos sistematicamente a partir dos anos 1980. Desde então essas produções de elevada carga emocional vêm cumprindo um papel restaurador da natureza masculina americana. O exemplo típico deles é a série Rambo. O personagem desta produção “exemplifica uma imagem masculinista que define a virilidade em termos de um guerreiro com características de grande força, uso eficaz do poderio e heroísmo militar como expressão mais elevada da vida” (Kellner, A Cultura da Mídia, 2001, p. 92). Outros filmes mostram policiais igualmente saudáveis e musculosos, determinados e de elevado espírito patriótico empenhados no combate ao tráfico, à corrupção e ao crime.

A produção cinematográfica e literária voltada para o tratamento cultural da imagem do homem e da moral social reflete as preocupações de uma parcela da América com seu destino. Até então essa preocupação se refletia em certa parte da produção cultural como um mecanismo natural. A onda conservadora que se mostrou forte na reeleição de Bush, porém, quer usar os instrumentos legais para a garantia de uma reforma moral na nação. Isso sugere que os americanos se convenceram de que religião, moral e ética não é assunto para se deixar ao sabor do gosto individual, sem intromissão do Estado. Os conservadores esperam que o governo assuma um papel de controle e de direcionamento moral para a nação.

Essa intenção dos americanos ficou clara numa pesquisa feita durante no contexto da eleição. Segundo esse levantamento, 80% dos eleitores que votaram em Bush fizeram sua escolha com base em valores morais. A revista Época (8/11/2004) afirmou que “Bush teve sua consagradora vitória graças ao que ele pessoalmente é e representa: um cristão conservador”. E é como um cristão conservador que os americanos esperam que Bush governe. É por estas qualidades que eles o viram como o mais adequado para levar o Estado a interferir nas questões morais e religiosas.

Autoridade e tradição

Outro fator a ser considerado em relação ao governo Bush e à onda conservadora que move os americanos neste início de milênio é o fato de buscarem uma restauração do conceito de autoridade, religião e tradição, como elementos determinantes do espaço público, em substituição ao ideal de liberdade irrestrita. Essa corrente caracteriza o governo de George W. Bush como a primeira presidência da história dos Estados Unidos impelida pela fé, segundo o historiador americano Arthur Schlesinger Jr.

A crescente força dessa ala reformadora se deve a alianças importantes feitas nos últimos anos. A direita religiosa, comandada por evangélicos, fez aliança com os católicos conservadores em torno de temas como a proibição do aborto, e com a direita judaica em torno da Terra Santa. Para Schlesinger, a conversão de Bush é algo inquestionável, e ele não seria presidente se a experiência do novo nascimento não tivesse dado a sua vida um novo sentido. “Há uma certeza messiânica nos pronunciamentos do presidente”, afirma o historiador, em texto divulgado pelo Estado de S. Paulo (3/11/2004).

A ala conservadora composta por evangélicos, católicos e judeus não é, porém, uma associação de crentes com mentalidade isolacionista e medieval. O que tem feito dessa ala uma força política é o fato de terem uma visão internacionalista do papel da América e a intenção de cumprir esse papel apoiado em valores históricos da maior significação.

O jornalista Gilberto de Mello Kujawski avalia que o ativismo político de Bush e da própria onda conservadora é alimentado e respaldado por um círculo de intelectuais convencidos do valor universal do modelo americano, e que acreditam que os Estados Unidos devem implantar esse modelo no mundo inteiro.

Segundo Kujawski, esses intelectuais, alguns de origem judaica, criticam o estado de bem-estar social dos democratas liberais. Não aceitam o relativismo moral e cultural dos anos 1960. Entre eles, Kujawski lista Paul Wolfowitz, Allan Bloom, Kenneth Adelman, William Kristol, Charles Fairbanks e Albert Wohlstetter. Os neoconservadores buscam apoio teórico também no pensamento de Leo Strauss, intelectual judeu de origem alemã, “reconhecido pela erudição nos textos gregos clássicos e nas escrituras sagradas cristãs, judaicas e islâmicas” (Estado de S. Paulo, 15/05/2003). Acrescento os nomes de Herbert Marcuse, da crítica social de origem judaica, e da filósofa política também judia Hannah Arendt.

A comparação feita por Hannah Arendt entre Estados Unidos e o Império Romano ajuda a entender por que a onda conservadora e o governo Bush tanto se interessam em restaurar os valores do espaço público.

Arendt analisa, em seu livro Entre o Passado e o Futuro (1992), as virtudes e a força histórica da civilização romana como apoiadas em três pilares essenciais: o caráter sagrado da fundação, a autoridade e a tradição, os quais estão intimamente relacionados com a religião. Para os romanos, crescer e progredir não significava necessariamente caminhar para frente e desligar-se do passado. Pelo contrário, o crescimento dependia de preservar e manter bem íntegros os valores da fundação e da tradição.

Esses pilares sustentadores do poder político temporal fizeram de Roma um império mais duradouro do que o grego, cuja visão de crescimento se orientava para frente e não para o passado e para tradição. Os romanos atribuíam elevado valor àquilo que fora fundado, dado como legítimo pelos pais e pelos antepassados. Os valores que alcançavam um peso de tradição e autoridade deveriam ser mantidos e renovados constantemente para as gerações futuras. A noção de autoridade baseava-se justamente na importância e no respeito atribuídos aos mais velhos. Pare os romanos, os “pais” representavam a grandeza para as “novas gerações” e eram referenciais revestidos de autoridade.

O apego aos valores da fundação, da tradição e o peso de autoridade concedido aos mais velhos estão na base da longevidade do poder romano, segundo a compreensão da filósofa judia. Depois de Roma outros poderes políticos não ascenderam com igual força de resistência e duração. Os estados europeus, tão logo se independeram do poder eclesiástico, penderam para mudanças estruturais justamente no sentido de um rompimento com a tradição e com a idéia de autoridade do passado. Segundo Alexis de Tocqueville, em seu clássico O Antigo Regime e a Revolução, na onda da Revolução Francesa, os intelectuais e pensadores “desprezaram todas as instituições fundadas sobre o respeito ao passado” e romperam com a “essência da tradição e da religião” (1979, p. 21, 142). Arendt atribui a crise política e social contemporânea à ruptura com a noção de tradição, fortalecida de forma crescente após a Revolução Francesa. Para ela, o famoso “declínio do Ocidente” é resultado justamente do “declínio da trindade romana de religião, tradição e autoridade” (1992, p. 185).

A ruptura com o passado, inaugurada na França, tornou-se um modelo para todo o Ocidente. Mas os Estados Unidos têm uma trajetória diferente nessa relação com o passado e a tradição.

Segundo Hannah Arendt, na história ocidental, os pilares valorizados por Roma foram retomados com muita ênfase na fundação dos Estados Unidos. A despeito do progresso tecnológico e econômico, as inovações não comprometeram os valores da fundação americana. Permaneceu a força da tradição e dos valores da autoridade, lançados pelos pais fundadores.

Arendt também entendeu que a Igreja Cristã deu certa continuidade ao triângulo sagrado/tradição/autoridade, após a derrocada do Império Romano (1992, p. 171). A religião unida ao Estado dava a este um poder inquestionável. Para ela, a separação do poder político (exercido pelo Rei) do poder religioso (exercido pelo Papa) acarretou a perda de autoridade do poder político, o que a leva a concluir que a presença simultânea dos dois poderes seria necessária para uma manutenção dos valores da tradição, autoridade e religião.

Os americanos conservadores entenderam que desde os anos 1960, com a contracultura, essas pilares vinham sendo sistematicamente desfeitos, com uma crescente perda de autoridade por parte dos mais velhos. Esse distanciamento seria o motivo da decadência moral em que chegou a nação nos anos 1990.

O governo de George W. Bush, fortemente apoiado no conservadorismo religioso emergente tem o claro objetivo de restaurar esses pilares e fortalecer a América como um poder estável e de alcance mundial.

A pergunta que se levanta, porém, é: como a América democrática, progressista e liberal pode dar lugar a uma emergente América conservadora e moralmente rígida? A ironia do jornal inglês Daily Mirror, que considerou “burros” os eleitores de Bush, deve ser vista à luz das mudanças nas leis e no funcionamento das empresas de comunicação que historicamente tiveram o papel de alimentar e esclarecer a opinião pública americana acerca dos possíveis efeitos controladores do Estado sobre a sociedade civil, o que sempre foi visto como um grave perigo. Mas que agora parece ter assumido uma posição mais insuspeita.

Fim da liberdade

Os donos de grandes empresas de comunicação têm se articulado junto aos republicanos na Câmara para mudanças na legislação de mídia que favoreçam o controle disfarçado da imprensa e a concentração de poder.

No início dos anos 1980, de tudo que era produzido em termos de literatura, jornais, revistas, comunicação televisiva e radiofônica e cinema nos Estados Unidos, 80% estavam sob o controle de 46 grandes empresas. Desde o ano 1983, porém, com a criação da Comissão Federal de Comunicação, a legislação rígida tem sido mudada. Os republicanos têm tido enorme influência também na mudança dessa legislação.

Os processos de fusão e formação de conglomerados progrediram com a mudança da lei e reduziram o grupo de 46 grandes empresas para 23, em 1990. Desde então, novas mudanças foram feitas. Em 2003, nada menos que 90% de tudo que os americanos vêem, ouvem e lêem são produzidos por apenas seis empresas (AOL Time Warner, Viacom, Disney, General Electric, News Corporation e Vivendi Univeral). Os 90% da produção cultural americana incluem 1,8 mil jornais, 11 mil revistas, 11 mil estações de rádio, 2 mil emissoras de televisão e 3 mil editoras, além de sites de internet.

A Comissão Federal de Comunicação fez a última alteração na lei em junho de 2003, permitindo que a audiência máxima permitida a uma rede de televisão passasse de 35% para 45%, que uma mesma empresa tenha até duas televisões em cidades grandes e que donos de televisão tenham também jornais em cidades médias e grandes. Com várias restrições, os americanos vinham garantido a pluralidade da informação e dificultavam que a imprensa caísse nas mãos de um grupo reduzido de empresas. A comissão que atuou em 2003 foi dirigida pelo republicano Michael Powell, filho de Collin Powell, o secretário de Estado do governo George W. Bush. Pesquisa do Centro de Excelência em Jornalismo revelou que 72% da população não ouviu nada sobre o debate acerca da mudança na legislação nos dias que antecederam as decisões em junho de 2003. Essa é uma evidência clara de que quanto menos donos de empresas de comunicação menos informação estratégica vai chegar até a opinião pública.

O pesquisador Ben H. Bagdikian, em Monopólio da Mídia, afirma que por meio do processo de concentração das empresas de comunicação, os Estados Unidos estão se movendo rumo ao controle centralizado de suas mídias (1993, p. 23). O monopólio da mídia e da informação “diminui as chances reais de escolha”, o que torna o discurso da liberdade uma ideologia que pretende esconder a real condição de dominação (Ibid, 26).

Conclusão

A reeleição do presidente republicano George W. Bush coloca em evidência as mudanças profundas pelas quais passa a cultura americana desde os anos 1980. O vexame sofrido pelo então presidente Bill Clinton e a queda das torres gêmeas no atentado terrorista podem ser vistos como elementos desencadeadores dessa virada em função de uma reforma moral e religiosa.

O mesmo George W. Bush foi eleito com uma votação duvidosa em 2000. Agora, contudo, ele obteve a maior votação da história americana. Isso mostra que a onda conservadora de natureza moral e religiosa vem crescendo e conquistando novos adeptos, entre os quais contam-se católicos, judeus, negros e os americanos do Sul.

Os interesses destes conservadores colocam em baixa as políticas progressistas democráticas em favor de uma rigidez do Estado no controle da pesquisa científica, da proibição do aborto, do casamento entre homossexuais, da orientação moral dos indivíduos. Os católicos e os evangélicos também têm interesse em leis dominicais.

Em essência, essa América “profunda”, que se liga às raízes puritanas dos fundadores, quer garantir a preservação dos valores da religião, da autoridade e da tradição. A América profunda quer segurança absoluta e o cumprimento dos ideais e das vocações americanas para a Nova Ordem Mundial, com supremacia moral, política e cultural sobre o restante do mundo. George W. Bush é visto como um líder ungido para essa tarefa.

Os pais fundadores quiseram ensinar para a América e o mundo que “o preço da liberdade é a eterna vigilância”. No contexto da retomada conservadora deste início de milênio, porém, a vigilância cedeu lugar para a militância contra a própria liberdade. A liberdade preservada como uma conquista inalienável tornou-se um inimigo, um cavalo de tróia dentro da América.

Os acontecimentos atuais na maior potência do planeta e os claros rumos de intolerância que a América passa a tomar devem servir para alimentar o espírito de vigilância recomendado pelas Escrituras, não em favor da liberdade apenas, mas, sobretudo, em favor da preparação individual para o desfecho da História, como previsto na Revelação. -- Vanderlei Dorneles, mestre em Comunicação Social e professor no Unasp, Engenheiro Coelho.

Fonte: http://www.advir.com.br/sermoes/Sermao_c_bushreeleito.asp

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