Tira-Dúvidas: Ellen G. White e o Ano
457 AC
A série de estudos "Plenitude dos Tempos" sublinha o
seguinte:
"Em suma, não há nenhuma citação do Espírito de Profecia que vincule
o início dos períodos proféticos com o sétimo ano de Artaxerxes...É certo que
ela diz que o decreto foi expedido em 457 A.C. (G.C., pp. 326, e P.R., p. 607),
mas em nenhum momento diz ter sido esse o ponto de partida dos períodos de
Daniel 8 e 9. Para ela, como já foi mostrado, tais cômputos só se iniciaram
quando o decreto entrou em vigor, isto é, no outono."
Lamentavelmente estou
dando uma resposta rápida, porque estou como o tempo apertado, mas além de
outras citações, considere-se apenas esta, a qual contradiz as afirmações do
irmão que escreveu acima:
“Não se percebeu a princípio que, se o decreto não tivesse sido
baixado no princípio do ano 457 a.C., os 2.300 anos não se
completariam no fim de 1843. Verificou-se, porém, que o decreto fora
emitido próximo do final do ano 457 a.C., e,
portanto, o período profético deveria atingir o outono do ano
1844”.
(Vida e Ensinos,
p.50).
Ela diz que o decreto foi emitido próximo do final do
ano 457 aC. e que o decreto entrou em vigor no Outono de 457; quer dizer, na sua
perspectiva não existia nenhum intervalo de tempo entre o “ser emitido” e a
“entrada em vigor”.
Também se verifica como a irmã Ellen White vincula os 2300 dias/anos
com o sétimo ano de Artaxerxes.
Existem muitas outras citações possíveis, que se necessário
transcreveremos depois. Por outro lado, devemos considerar o que escreveram os
pioneiros, os quais ensinaram o vínculo inequívoco (de facto, um equívoco!) entre
os 2300 dias/anos e o sétimo ano de Artaxerxes.
Francamente, não entendo o porquê de continuarmos a insistir em
aritméticas proféticas. Até porque existem outros problemas relacionados com as
cronologias adventistas dos pioneiros. Por exemplo: é absolutamente certo que o
dia das Expiações em 1844 não coincidiu com o dia 22 de Outubro, mas com o dia
23 de Setembro.
Alguns aperceberam-se
disso. Por exemplo, o irmão Himes realizou esforços para endireitar os excessos
do "movimento do sétimo mês", mas em vão. Ele escreveu o seguinte no "The Midnight Cry" de Octubre 3:
"Ha prevalecido extensamente la
impresión de que este año es observado como Jubileo por los judíos. Acabamos de
llamar al Rabino M. Isaacs, de la ciudad, que se refirió al calendario judío, y
dijo que el aniversario del Jubileo no se celebrará en los SIGUIENTES
VEINTICINCO AÑOS. Ellos inician su año en el otoño, y
calculan este año, comenzando con la luna nueva de Septiembre 14, como el
año 5605 desde la Creación, y su siguiente Jubileo no tendría lugar sino hasta
el año 5628."
Se a lua nova foi avistada
(nesse ano de 1844 -5605 desde a criação) no dia 14, o mês começou no dia 13 (1
de Tishri) e o dia 10 (dia da Expiação - Yom Kippur) caiu no dia 23 de
Setembro.
Existem outras evidências.
Nota: Acerca do ano da morte de
Jesus falaremos depois de eu ler o assunto. Para já, considere-se o
seguinte:
É sabido que os romanos
(a partir de Júlio César) começaram a usar um calendário solar (o ano novo
começava no primeiro dia de Janeiro). Quanto à numeração dos anos, era feita a
partir da fundação de Roma (ab urbe
conditia). Mas era mais comum o sistema de contar os anos com relação ao
período de “governo” dos imperadores, como em Lc.3:1: “o décimo quinto ano de
Tibério César”.
Entre os judeus figurava
um calendário lunar. Cada dois ou três anos acrescentavam um mês intercalar, Veadar (entre Adar e Nisan). Mas os
judeus tinham dois dias de “ano novo”, um na primavera e outro no outono, que
correspondiam, respectivamente, ao ano eclesiástico (ou litúrgico), e ao ano
civil. O ano eclesiástico começava no primeiro dia do mês de Nisan. O ano civil começava no mês de Tishri. Sabemos que as datas dos reinos
estrangeiros eram computadas com relação ao ano civil. Assim, o primeiro ano de
um monarca contava-se a partir do ano novo (Tishri) que procedia imediatamente a
posse, o que nos dá sempre um ano ascensional. Seja um exemplo: O ano
ascensional do rei Artaxerxes I Longínamo transcorreu desde Dezembro de 465 a 1
de Tishri de 464 aC. O primeiro ano do soberano foi, então, o de 464/463 aC. O
sétimo ano (Esd.7:7) corresponde a 458/457
aC.
Nos começos do séc.VI
dC., Dionyssius Exiguus, um monge, colocou de parte o calendário romano e propôs
um novo cálculo, a partir do nascimento de Jesus (era do Senhor — Anno Domini). Entendeu que o nascimento
de Jesus coincidia com o ano romano de 753/754. A transposição de um calendário
a outro realiza-se com base em 754. César Augusto morreu no ano 768 AUC (ab urbe condita). Como 768 é maior do
que 754, subtrai-se 754 da referência AUC. Neste caso, temos: AUC - 754 = dC
(768 - 754 = 14 AD). Se AUC for menor do que 754, subtrai-se AUC de 754 e o
resultado é aC (754 - AUC = aC). Se a data pertence a dC, soma-se este com 754 e
temos AUC (dC + 754 = AUC). Se a data for aC, subtrai-se esta de 754 e o
resultado será AUC (754 - aC = AUC).
Como se disse, Dionysius
atribuiu o nascimento de Jesus ao ano 753/754 AUC. Ora, Mateus descreve o
nascimento de Jesus no tempo do rei Herodes. Flávio Josefo diz que Herodes
morreu no ano 749/750 AUC (cf. Ant. 17.6.4; 17.8.1; 17.9.3; Guerras 1.33.1).
Aplicando a regra temos: 754 - 750 = 4 aC. Se admitirmos que Jesus teria cerca
de dois anos, temos o ano 6 aC, como data do seu nascimento. Eis aqui o famoso
erro de Dionysius — pelo menos, de 4 anos. Isto, dando mais crédito a
Josefo.
Não poderíamos deixar de
tratar do célebre recenseamento que refere Lucas (cf.2:2), no tempo de Quirino
(ou Cirênio, governador da Síria). A solução não é fácil. Sabemos que os
governadores da Síria durante o final do reinado de Herodes foram Saturnino (de
9 a 6 aC) e Varo (de 6 a 4 aC). Quirino só o foi depois — e o recenseamento a
que se alude, só pode ser o do ano 6/7 dC (mais de dez anos depois do nascimento
de Cristo!). O vocábulo grego gemoneúontos, traduzido por “sendo
governador”, tem um sentido genérico (mais lato), que inclui o ofício exercido
baixo qualquer forma de governo. Em Lc.3:1 aplica-se a Pilatos como
“procurador”. Justino, na sua Apologia, diz-nos que Quirino era
procurador naquele tempo, mas usa outro termo: epítropos (cf. 1.34). Parece ser que o
recenseamento de Quirino, do ano 6/7 dC é mencionado em At. 5:37. A referência
de Lucas (2:2) não tem outra explicação além da seguinte: Publio Sulpicio
Quirino apesar de não ser governador, nessa altura, era um homem muito
importante que assumiu o encargo de algumas missões especiais (próprias dos
governadores), particularmente o recenseamento em Judeia, que consistiu apenas
do apographe (inscrição no registo).
Talvez, no ano 7 ou 6 aC. E no período do seu governo na Síria (6 dC) teve
efeito a apotimesis, ou segunda parte
do recenseamento. Assim, Quirino teria levado a cabo todos os procedimentos do
recenseamento, do princípio até ao fim, em 14 anos. Lucas, ao dizer que Quirino
era governador da Síria, está atribuindo-lhe o título que lhe correspondeu
apenas no final (quando foi governador de facto). Esta explicação não é nossa,
mas foi resumida de H.A. Mertens.
A data do início do
ministério de Jesus. — Em Lc. 3:1 refere-se o ministério de João Baptista.
Sabemos que o ministério de Jesus começou um pouco depois, mas não se conhece
quanto. É todavia certo que Jesus iniciou o seu ministério no mesmo
ano.
Não temos referências de
Lisânias, a menos que se identifique com o Lisânias que morreu em 36 aC,
executado por Marco António (por exigência de Cleópatra), uns sessenta anos
antes do início do ministério de João. Alguns dados arqueológicos trazidos
recentemente a lume, parecem confirmar a existência de outro Lisânias. Josefo
(cf. Ant. 15.4,1; 14.13,3) e Lucas não falam dos mesmos territórios governados.
A evidência arqueológica é uma inscrição descoberta em Abila que mostra que
houve um tetrarca posterior, com o mesmo nome. A data daquela inscrição pode ir
até 29 dC, embora alguns a atribuam ao ano 11 dC. Portanto, o Lisânias a que
alude Lucas não é o mesmo que refere Josefo. Seja lá como for, referem-se
também, no texto lucano, Herodes Antipas, tetrarca da Galileia (deposto em 39
dC), e Filipe, tetrarca de Itureia (morreu em 34 dC). Caifás foi deposto no ano
36 (?) e Pôncio Pilatos foi Procurador da Judeia de 26 até 36. De toda esta
informação podemos concluir muito pouco — que o ministério de Jesus começou
algures, entre os anos 26 a 34 dC. Mas, no texto até se lê que foi no décimo quinto ano de Tibério César
(quando se usa o ordinal, geralmente devemos entender um ano a menos; daí que
não seja correcto traduzir: no ano
quinze ...). Foi depois de 14 anos (entre catorze e quinze). Ora, a História
diz-nos que César Augusto morreu a 19 de Agosto de 767/768 AUC. Tibério assumiu
o poder (nessa data). Se contamos catorze anos (décimo quinto ano) temos o ano
782; e aplicando a regra de transposição, determinamos que se trata do ano 27/28
dC (depende se partimos de 753 ou de 754, para o nascimento de Jesus). Devemos
ainda considerar o costume judeu do “ano ascensional”, quer dizer, contavam o
primeiro ano a partir do mês de Tishri anterior. Assim sendo, o resultado é
26/27 dC.
No evangelho de João,
temos como início do ministério, a purificação do templo; enquanto que em
Marcos, a purificação do templo ocorre no fim do ministério de Jesus, na última
Páscoa. Ainda que alguns suponham duas purificações, é mais lógico pensar que se
trata de uma só, e admitir que João, por razões teológicas, deslocou
cronologicamente a narrativa do evento (ademais, parece ser que João não tem
preocupações de ordem cronológica).
Precisamente no
evangelho de João, encontramos estas palavras que nos fizeram pensar. Jo. 2:18:
pediam um sinal; Jo. 2:19: Jesus alude ao levantamento ou construção do templo
em três dias. Os judeus entendem literalmente as palavras do Mestre e respondem:
“Em quarenta e seis anos foi
edificado ...” (Jo.2:20). Josefo refere que Herodes iniciou a construção do
templo no ano 20/19 aC. Concluímos daqui que o primeiro ano do seu ministério
foi 26/27 dC. Dizemos primeiro, dando crédito a João, que fala de um ministério
de três anos e meio (pois, se damos crédito cronológico aos sinópticos, durou
apenas um ano!). Sobre este particular, diremos algo
mais.
Schleiermacher baseou a
sua Vida de Jesus no quarto
evangelho. É possível que João tenha condensado o seu pensamento num quadro
cronológico de um ano. O método de que nos servimos para determinar a duração do
ministério de Jesus, consiste em identificar qualquer alusão a Jerusalém, com a
celebração da Páscoa. Assim, em Jo. 2:13 e 2:23 temos a primeira Páscoa. A
segunda em Jo.6:4. A terceira aparece em Jo.11:55, 12:1, 13:1. Em Jo. 5:1
alude-se a uma festa dos judeus. Alguns manuscritos dão a leitura: “a festa dos
judeus”, o que só pode significar a Páscoa. Neste caso teríamos quatro Páscoas.
A leitura correcta e partilhada pela crítica é esta: “uma festa dos judeus”.
Quatro Páscoas dariam três ou mais anos, mas três Páscoas significam apenas dois
anos e uns meses. Outrossim, é possível que todas as passagens se refiram apenas
a circunstâncias diferentes da mesma Páscoa (um ano de ministério). Tanto mais
que o evangelho de João não tem interesse cronológico; e prova-o, entre outras,
esta incoerência: a purificação do templo aparece no início do quarto evangelho
(nos sinópticos aparece no fim, pelo que pode ser uma indicação propositada — de
que apenas se referia à última Páscoa). A opinião de que o ministério de Jesus
durou apenas um ano era compartida por Clemente de Alexandria e Orígenes, quem
parece que interpretavam Lucas 4:19 nesse sentido: “ ... anunciar o ano aceitável do Senhor” (cf.
Miscelânea 1. 2:1; De Principii 4.5). Interessa-nos reforçar esta hipótese de um
ano de ministério. Assim, Marcos 2:23-38 refere que as espigas estavam prontas
para recolher, o que significa que era a altura da safra, no Verão. A
multiplicação dos pães (Mc.6:30-44) diz que a relva era verde (v.39), seria
então a primavera. E a crucificação deu-se na Páscoa (o ministério teria
começado e terminado com uma Páscoa; portanto, duas). De Páscoa a Páscoa vai um
ano.
Antes de avançarmos com
a discussão do ano da crucificação (assunto deveras importante), debrucemo-nos
sobre o tema da idade de Jesus conforme Lucas 3:23. Aqui se originou a suposição
de que Jesus teria 30 anos quando iniciou o seu ministério. Logo acrescentavam
três anos de duração e a crucificação ter-se-ia dado no ano 33. Mas Jesus não
nasceu no ano zero! Sucede ademais que Lucas não diz que Jesus tinha trinta
anos, mas “cerca de trinta anos” (mais ou menos). Apenas isto: parecia ter uns
trinta anos. Se considerarmos o que se disse acima, que Jesus nasceu no ano 7/6
aC, e que começou o seu ministério no ano 26/27 dC, temos uma idade de 32/33
anos. Os manuscritos de Qumram, acerca dos quais nos ocuparemos em capítulo
posterior, referem que um membro da comunidade precisava de completar trinta
anos de idade para ocupar um ofício religioso. Talvez João Baptista tenha
seguido este costume (esteve nos desertos — cf. Lc. 1:80). Trata-se de uma
hipótese.
Data da morte de Jesus.
— O ano 33 dC é demasiado tardio. A patrística, de um modo geral, assume o ano
29 dC. Tertuliano, Hipólito, Lactâncio e Agostinho, subscrevem a opinião de que
a data da crucificação ocorreu durante o consulado de L. Rubellius Geminus e C.
Fufius Geminus, isto é, no ano 29 dC. Em Contra os Judeus, Tertuliano diz que a
crucificação ocorreu no décimo quinto ano de Tibério, dando a entender que os
textos base eram lucanos: 3:1 e 4:19. Ano 29, ano do consulado dos dois gémeos,
um ano (só) de ministério. Muito interessante, mas
continuemos.
O que nos diz a
astronomia? Por Marcos 14:12 sabemos que foi crucificado na sexta-feira, dia 15
de Nisan, depois de comer a Páscoa; mas de acordo com João
18:28-19:14, foi crucificado na sexta-feira 14 de Nisan (véspera da
Páscoa). Se João está certo, a ceia de quinta-feira à noite não seria a
Páscoa (esta comia-se na sexta-feira à noite, no início do sábado). Recorde-se
que quando nós dizemos sexta-feira à noite, os judeus dizem noite do sábado (que
vem antes do dia do sábado; este vai de pôr-do-sol a pôr-do-sol). O primeiro dia
do mês era feito pela observação da lua. Se a lua nova aparecesse antes do
pôr-do-sol, aquele dia era o primeiro do mês (se depois do pôr-do-sol, esse dia
era o último do mês anterior). A astronomia serve os nossos propósitos na medida
em que, partindo da certeza de que Jesus morreu nos dias de Pôncio Pilatos, 26 a
36 dC — pretende saber quais os anos em que os dias 14 ou 15 de Nisan foi
sexta-feira. Os resultados são os seguintes: ano 27 dC, 14/15 Nisan corresponde
a uma sexta-feira (11 de abril); ano 29, se não houve mês intercalar, o dia 14
de Nisan foi uma sexta-feira (18 de Abril); ano 30 dC, 14/15 de Nisan foi
sexta-feira (7 de Abril); ano 33 dC, 14 de Nisan, também numa sexta-feira (3 de
Abril). Os outros anos são de rejeitar. Verificamos também que são os anos 27 e
30 os que oferecem mais garantias, pois a sexta-feira poderia ser 14 ou 15 de
Nisan (os outros deixam 15 de Nisan fora). O ano 27 parece muito cedo — a menos
que (sublinhe-se) se leve em consideração apenas uma duração de um ano para o
ministério de Jesus (que teria começado em 26 dC, primeiro ano de Pôncio
Pilatos). Se este período parece curto, a alternativa será o ano 30 dC. O ano 33
é muito tardio e não corresponde, de modo nenhum com a duração do ministério.
Jesus teria começado o seu ministério no ano 27/28 e foi crucificado em 29/30
(três anos de ministério). (Excerto do meu livro "Subsídios para uma leitura do
Novo Testamento").
Um abraço
Ernesto Sarmento
Em
princípio, 2 pontos precisam ser reafirmados:
1)
Não
existe nenhum texto do Espírito de Profecia que vincule o início dos períodos
proféticos ao sétimo ano de Artaxerxes. Isso é deveras importante, pois o Dia
da Expiação em 457 A.C., com o qual se iniciam as 2.300 tardes e manhãs e as
70 semanas, já pertencia ao oitavo ano daquele rei.
2)
Embora Ellen G. White afirme
que o decreto foi expedido em 457 A.C., em momento algum diz ter sido esse o
ponto de partida dos períodos proféticos de Daniel 8 e 9. Na verdade, a Bíblia
não informa a data exata da assinatura da ordem; apenas indica que ela teria
sido dada antes de primeiro de Nisan (março-abril) de 457 A.C.. No entanto, a
combinação das informações escriturísticas com as do Espírito de Profecia
permitem situar o momento em que o decreto foi assinado entre primeiro de
janeiro e primeiro de Nisan em 457 A.C..
“Não
se percebeu a princípio que, se o decreto não tivesse sido baixado no princípio
do ano 457 a.C., os 2.300 anos não se completariam no fim de 1843.
Verificou-se, porém, que o decreto fora
emitido próximo do final do ano 457 a.C., e, portanto, o período profético
deveria atingir o outono do ano 1844”.
Vida e Ensinos, p. 58 (no original).
Essa
declaração de Vida e Ensinos não
possui o condão de destruir as conclusões apresentadas acima. Eis as razões:
-
A locução verbal “fora emitido”, que aparece no texto em Português,
não é uma tradução literal do inglês. No original, a expressão utilizada
é “was given”, cujo significado é tão somente o de “foi dado”.
Portanto, Ellen G. White está afirmando que o decreto “foi dado” no outono
de 457 A.C.. Mas, a que ela está se referindo? Ao momento em que Artaxerxes
assinou a ordem e a entregou a Esdras para que ele pudesse
realizar sua viagem rumo a Jerusalém ou ao momento em que os judeus
entregaram as ordens do rei aos sátrapas e governadores da região da Palestina
(Esdras 8:36)? Não se sabe! A citação é muito ligeira para que sejam extraídas
quaisquer conclusões. Além disso, outro aspecto deve ser considerado:
-
Manda a boa técnica de interpretação que os textos mais primitivos de
um autor sejam analisados à luz de textos mais bem desenvolvidos. Ora, o texto
de Vida e Ensinos retrata um momento inicial da extensa obra literária
de Ellen G. White. Nele, ela não entra em pormenores sobre o assunto em tela.
Por outro lado, O Grande Conflito e Profetas
e Reis já é um texto mais maduro, em que a senhora White pôde esmiuçar
melhor seu pensamento sobre os períodos proféticos de Daniel 8 e 9. Portanto,
suas colocações nestes últimos 2 livros devem orientar a leitura de outras
declarações de sua autoria. O que diz Ellen G. White, em O
Grande Conflito e em Profetas e Reis,
sobre o assunto?
-
À página 326
de O Grande Conflito, a senhora White
afirma ter sido o decreto expedido em 457 A.C., o que também é dito em Profetas
e Reis, à p. 607. Aliás, o livro Profetas
e Reis é de grande valor na análise da
presente matéria. Recomenda-se a leitura atenciosa do capítulo intitulado
“Esdras, Sacerdote e Escriba”. Em Profetas e Reis,
depois de explicar como o decreto de Artaxerxes foi expedido (pp. 609-612),
Ellen G. White narra a experiência da jornada rumo a Jerusalém (pp. 612-617) e
deixa muito claro que tal viagem só aconteceu em virtude do decreto. À p. 617,
ela afirma que os judeus passaram 4 meses em viagem e que “no primeiro dia do
quinto mês, no sétimo ano de Artaxerxes,
alcançaram Jerusalém”. E, 2 meses após o fim da jornada, iniciou-se a
contagem dos períodos proféticos, no outono do ano, mais precisamente, no décimo
dia do sétimo mês. Ver O Grande Conflito,
pp. 398 e 410. Não há como contestar tais informações. Elas estão
assentadas sobre cuidadosa análise da Bíblia, do Espírito de Profecia, da
História e, agora, da Astronomia (ver o site).
É
verdade que os pioneiros nem sempre foram tão cuidadosos ao tratarem dessa matéria,
pois alguns deles afirmam que os períodos de Daniel 8 e 9 começaram no sétimo
ano do rei Artaxerxes. Isso, porém, em nenhum momento ocorre nos escritos de
Ellen G. White. Suas declarações se encontram em perfeita harmonia com as mais
recentes descobertas sobre o assunto.
Análise
de Outras Questões.
Setembro
versus Outubro: em que mês
caiu o Dia da Expiação em 1.844? Segundo o calendário rabínico, o Dia da Expiação,
em 1.844, não teria ocorrido no mês de outubro, mas, sim, no mês de setembro.
Isso tem dado motivos a que se duvide da consistência do esquema profético
defendido pelos adventistas do sétimo dia. Diga-se, de passagem, que, também
quanto a esse ponto, os autores denominacionais têm sido incompetentes para
defender a verdade. Por outro lado, não vinga a tese dos acusadores, pois o
calendário rabínico atual não representa o calendário vigente nos tempos de
Esdras ou nos tempos de Jesus. Infelizmente, ainda não foi possível
disponibilizar esse assunto no site “Concerto Eterno”. Futuramente, no
entanto, ele será inserido no formato de um Estudo Suplementar. Aguardem!
Sobre
a Data da Morte de Jesus. O estudo cronológico não pode ser feito de
qualquer maneira. Trata-se de uma ciência refinada, em que cada asserção
precisa ser devidamente comprovada. Afirmações gratuitas não cabem em nenhum
campo de estudo, mas, nessa área, essa proibição deve ser ainda mais
rigorosa. O compromisso do site “Concerto Eterno” é o de afirmar apenas
aquilo que possa resistir ao mais severo escrutínio. A seguir, estão
relacionados alguns exemplos de declarações que não podem ser provadas ou que
vão além do que as informações atuais permitiriam concluir:
“O
ano ascensional do rei Artaxerxes I Longínamo transcorreu desde Dezembro de 465
a 1 de Tishri de 464 aC.” (sic.). Não se sabe, atualmente, o ponto exato da
ascensão de Artaxerxes. A indicação do mês de dezembro na primeira edição
de Chronology of Ezra 7 foi retificada na segunda edição. Sua origem está
numa interpretação errada que H. H. Figulla fez da parte fragmentada de um
tablete encontrado em Ur dos Caldeus. Maiores informações podem ser obtidas no
estudo 7 de “A Plenitude dos Tempos”: “Certezas e Incertezas sobre 457
A.C.”.
“A
data do início do ministério de Jesus. — Em Lc. 3:1 refere-se o ministério
de João Baptista. Sabemos que o ministério de Jesus começou um pouco depois,
mas não se conhece quanto. É todavia certo que Jesus iniciou o seu ministério
no mesmo ano.” (sic.). Totalmente errado. Não é certo que Jesus iniciou seu
ministério no mesmo ano em que João Batista. Não há nada no texto de Lucas
que autorize essa asserção. Em breve, o estudo 10 de “A Plenitude dos
Tempos” também será inserido no site, trazendo uma explicação completa
sobre o assunto.
“Tertuliano,
Hipólito, Lactâncio e Agostinho, subscrevem a opinião de que a data da
crucificação ocorreu durante o consulado de L. Rubellius Geminus e C. Fufius
Geminus, isto é, no ano 29 dC.” (sic.). As fontes citadas nesse trecho são
as piores possíveis. Não são, nem de longe, contemporâneos de contemporâneos
de Jesus. O estudo científico precisa se apoiar em base muito mais sólida e
confiável.
“Por
Marcos 14:12 sabemos que foi crucificado na sexta-feira, dia 15 de Nisan, depois
de comer a Páscoa; mas de acordo com João
18:28-19:14, foi crucificado na sexta-feira 14 de Nisan (véspera da Páscoa).
Se João está certo...” (sic.). Em primeiro lugar, como ficou demonstrado no
estudo 9 de “A Plenitude dos Tempos”, a cronologia de João não difere,
necessariamente, das informações claras e inequívocas dos Sinóticos. Por
outro lado, mesmo que houvesse tal divergência, não seria honesto simplesmente
adotar um dos lados como sendo o correto e desenvolver toda a argumentação em
cima dele. O estudo cronológico merece melhor tratamento.
“Verificamos
também que são os anos 27 e 30 os que oferecem mais garantias, pois a
sexta-feira poderia ser 14 ou 15 de Nisan (os outros deixam 15 de Nisan
fora).” (sic.). Essa afirmação não procede. Como está explicado e
devidamente comprovado no estudo “O Meio da Septuagésima Semana”, o ano 30,
não admite, de forma alguma, uma Sexta-feria=15 de Nisan.
Esses
são apenas alguns exemplos de afirmações gratuitas e destituídas de comprovação
científica que são feitas em torno do assunto dos períodos proféticos de
Daniel 8 e 9.
Aos
leitores que desejaram conhecer uma matéria consistente sobre o assunto, em que
cada asserção é comprovada com insofismáveis evidências científicas,
estende-se o convite para que não deixem de visitar o site www.concertoeterno.com,
onde poderão encontrar a fantástica Série de Estudos “A Plenitude dos
Tempos”. A série ainda não está completa, mas o que já está disponível
é suficiente para fortalecer a fé do crente sincero no Evangelho de Jesus
Cristo e na mensagem do advento. -- Henderson H. L.
Velten, Editor do site "Concerto Eterno".
Leia também:
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