da Reuters, em Washington

Os agentes da CIA (inteligência dos EUA) estão usando métodos quase desumanos e possivelmente ilegais contra prisioneiros capturados no Afeganistão, disse o jornal "The Washington Post" hoje.

Os interrogatórios acontecem em contêineres metálicos usados secretamente pela CIA na base aérea de Bagram, o quartel-general dos norte-americanos no Afeganistão, onde os militares caçam remanescentes da rede Al Qaeda, acusada pelos ataques de 11 de setembro de 2001 contra os EUA.

Prisioneiros que se recusam a cooperar são mantidos vendados em pé ou ajoelhados durante horas, disse o jornal, citando especialistas que conhecem os métodos da CIA. Às vezes eles são mantidos em posições dolorosas ou privados de sono durante 24 horas, por causa de um bombardeio de luzes.

Já os que colaboram recebem "confortos" que podem ir desde o respeito a suas manifestações culturais até dinheiro.

Em vários casos, segundo o jornal, os prisioneiros que não colaboram são entregues a serviços secretos estrangeiros cujas práticas de tortura são amplamente reconhecidas, inclusive pelo governo dos EUA.

"Na multifacetada guerra global ao terrorismo iniciada pelo governo Bush, uma das frentes mais opacas, ainda que vitais, é a detenção e interrogação de suspeitos de terrorismo", disse o jornal.

Em mais de um ano de atividade, as autoridades revelaram pouco a respeito de nomes, quantidades ou localização dos suspeitos, e quase nada a respeito dos métodos dos interrogatórios.

Mas o jornal disse que conseguiu obter algumas informações em entrevistas com agentes aposentados e da ativa, inclusive alguns que disseram ter visto os prisioneiros de perto. "O quadro que surge é o de uma truculenta busca por informação, às vezes em associação com aliados de dúbia reputação nos direitos humanos, nos quais as tradicionais divisões entre certo e errado, legal e desumano, são maleáveis e vagas", disse o jornal.

O governo norte-americano critica publicamente o uso de tortura, mas essa prática foi considerada necessária por todos os agentes da ativa entrevistados. "Eles acham que a opinião pública norte-americana apoiaria sua opinião", disse o jornal.

A CIA não quis comentar o artigo.

Segundo o jornal, há outros centros de interrogatórios como o de Bagram, onde as leis processuais norte-americanas não se aplicam. Outro desses centros seria na ilha britânica de Diego Garcia, no oceano Índico.

Segundo as autoridades dos EUA, quase 3.000 supostos membros e simpatizantes da Al Qaeda já foram presos. Cerca de 625 deles foram levados para a base militar norte-americana de Guantánamo, encravada em território cubano.

Fontes oficiais estimam que menos de cem presos foram entregues a terceiros países. Essas fontes admitem, entretanto, que milhares foram presos com a ajuda dos EUA em países conhecidos pelo tratamento brutal dispensado a seus prisioneiros.