ENTREVISTA: PR. ALBERTO R. TIMM
Desafios da lgreja Para o
Terceiro Milênio
Precisamos, como comunidade
e como indivíduos, de uma experiência
mais genuína com Cristo.
O secularismo sempre exerceu, através dos tempos, forte
influência sobre o povo de Deus. E a igreja, atualmente, não está livre dessa
onda avassaladora. Mas, além do secularismo,
a igreja enfrenta duas outras ameaças: o institucionalismo
e o congregacionalismo.
Para falar sobre estes e outros desafios, a Revista
Adventista ouviu o Dr. Alberto R. Timm. Ph.D. pela Universidade Andrews, é
especialista em Estudos Adventistas e Teologia Sistemática. Nascido em São
Lourenço do Sul, ES, é professor de Teologia no IAE-Campus 2. Além de
orientar dissertações e teses, coordena também o Centro do Pesquisas Ellen G.
White do Brasil e o Centro Nacional da Memória Adventista. Artigos de sua
autoria têm sido publicados em português, inglês e espanhol. Sua tese
doutoral foi traduzida e publicada em português sob o título O Santuário e
as Três Mensagens Angélicas: Fatores Integrativos no Desenvolvimento das
Doutrinas Adventistas (Engenheiro Coelho, SP, Imprensa Universitária Adventista,
1998).
O Dr. Timm é casado com Mary L. Timm, professora de Orientação
Educacional e Psicologia da Aprendizagem na Faculdade Adventista de Educação
do IAE-Campus2, onde também coordena o Centro de Aconselhamento Universitário.
O casal possui três filhos: SueIlen Elise (12 anos), William Edward (6 anos) e
Shelley Wilaine (3 anos).
Nesta entrevista, concedida a a Rubens Lessa, o
Dr. Timm encarece a necessidade de "um retorno incondicional às grandess
verdades da mensagem adventista".
Revista Adventista:
Há
indícios de que o secularismo já esteja afetando a Igreja Adventista no
Brasil?
Dr. Timm: Estudos
demonstram que os movimentos religiosos surgem normalmente com o propósito de
reformar a cultura na qual existem. Mas no segundo século de sua existência,
depois que faleceram os pioneiros e aqueles que conheceram os pioneiros, esses
mesmos movimentos acabam sendo reabsorvidos pela própria cultura que
originalmente tencionavam reformar.
A
Igreja Adventista penetrou no Brasil há mais de cem anos, e já enfrenta os
desafios da secularização.(Leia:
Organização Admite Uso da Religião para Manipulação e Controle de Funcionários.)
Em âmbito institucional, preocupa-me o número de
professores não-adventistas que lecionam em nossas escolas. Até
mesmo entre os professores adventistas, existem aqueles que nem ao menos
conseguem discernir entre a verdadeira filosofia de educação integral ensinada
por Ellen White e o falso paradigma de educação holística proposto pela Nova
Era. Já na esfera da igreja local, pode-se observar que
grande
parte dos nossos cultos está-se secularizando pela atual avalanche de músicas
completamente acomodadas à cultura em que vivemos e ao espírito
ecumênico-pluralista contemporâneo.
RA:
Qual deve ser a
postura dos membros e das instituições adventistas?
Dr. Timm:
Só existe uma
saída: identificar, com clareza e equilíbrio, os princípios bíblicos e do
Espírito de Profecia que devem controlar os conceitos e o comportamento
cristãos, para então educar e mesmo
reeducar a postura dos obreiros e membros da igreja com base nesses
princípios.
A igreja carece de pessoas equilibradas, que vivam por
princípios e que tenham coragem suficiente para romper com os extremos do
fanatismo e do liberalismo.
RA:
Ao analisarmos a história
do povo de Deus através dos tempos, notamos que a igreja sempre foi peregrina
no mundo. Qual a relação eutre uma igreja instalada e o institucionalismo?
Dr. Timm:
A igreja é o
"corpo de Cristo" (1 Cor. 12:12-27) e ela precisa de uma organização
eficiente, em nível mundial,
para manter a "unidade da fé" (Efés. 4:13) e facilitar
o cumprimento de sua missão global (Mat. 28:18-20). Isto significa que a
organização existe não como um fim em si mesma mas apenas como um meio
para atingir esses objetivos. Setores organizacionais e instituições
acabam se institucionalizando
quando se
tornam tão inchados e voltados para si mesmos que perdem de vista, em grande
parte, a sua missão evangelizadora.(Veja
neste site: Organização Adventista Admite Mudanças Estruturais entre 2010 e 2025.)
RA:
E quanto à
pregação adventista: não estaria ela tendo um enfoque mais existencialista do
que doutrinário?
Dr. Timm:
Com certeza. No
passado já fomos conhecidos como o povo da Bíblia, mas essa não me parece ser
mais a nossa característica predominante. É
uma vergonha que em muitos de nossos cultos os adoradores são distraídos com
histórias pessoais e aplicações retóricas, sem que o poder transformador da
Palavra de Deus seja sentido. "Leite com água" tem sido
servido constantemente nos púlpitos de muitas de nossas igrejas, privando assim
os adoradores da oportunidade de se nutrirem do "alimento sólido" das
Escrituras (Heb. 5:11-14).
(Sobre esse
assunto, leia neste site o artigo: Alejandro Abre o Jogo e Conta os Segredos dos Famosos "Sermões com Sabor Bullón".)
RA:
Que prejuízos isso
pode causar à igreja?
Dr. Timm: Precisamos
falar às necessidades reais das pessoas, mas esse tipo de ênfase unilateral
está formando uma geração de "adventistas" sem raízes e sem
identidade. Essa geração existencialista navega de acordo com a maré
de seus gostos e preferências pessoais, sem uma âncora que os segure em meio
às tempestades da vida. São altamente vulneráveis a distorções
doutrinárias, tendem a contestar o estilo de vida adventista, e são fortes
candidatos à apostasia. Este é, sem
dúvida, um dos maiores estratagemas satânicos para minimizar o nosso
conhecimento doutrinário, tão necessário para enfrentarmos os grandes enganos
dos últimos dias (ver Mat. 24:24).
RA:
Qual a relação
entre a mensagem de Romanos 12:2 e o estilo de vida do cristão? Quais as
implicações éticas?
Dr. Timm:
Um dos maiores
problemas do cristão é o seu relacionamento com a cultura. Você encontra, de
um lado, pessoas antagônicas à cultura, que vivem hoje no Brasil como se ainda
estivessem na Europa da Idade Média; e você observa, no outro extremo, pessoas
vítimas da cultura, que fazem uma releitura brasileira comprometedora do
evangelho, com base no contexto sócio-cultural em que vivem. Como habitante
deste mundo e cidadão da pátria celestial, o cristão adventista não pode ser
nem anticultura (fanático) e nem vítima da cultura (liberal), mas um agente
poderoso de tranformação da cultura (equilibrado).
O cristão adventista precisa conhecer bem os princípios
universais da Palavra de Deus (contidos em João 17:15; Rom. 12:2; Filip. 4:8;
etc.), de modo a ter parâmetros para analisar criticamente os componentes da
cultura em que vive. Ele pode incorporar em seu estilo de vida os elementos da
cultura que estão em harmonia com esses princípios, mas deve rejeitar todos
aqueles que são antagônicos aos ensinamentos biblicos.
RA:
Dentre os desafios
que a igreja está enfrentando nesta virada de milênio, há a ameaça velada do
congregacionalismo. À luz da Bíblia e do Espírito de Profecia, como devemos
encarar essa onda divisionista?
Dr. Timm: O
congregacionalismo é deveras tentador pelo fato de prometer mais autonomia
administrativa e financeira para a igreja local. Não resta a menor
dúvida de que algumas denominações pentecostais têm crescido
vertiginosamente com esse modelo estrutural. Mas não podemos nos esquecer de
que o crescimento de tais denominações
está diretamente relacionado também ao fato de oferecerem
uma
atrativa religião popular de consumo, com um corpo doutrinário diluído e com
forte ênfase na teologia da prosperidade.(Embora
até o momento não tenhamos defendido o congregacionalismo neste site, neste
ponto perguntaríamos ao Dr. Timm: Não estariam essa diluição e ênfase
ocorrendo também na Igreja Adventista?)
Por contraste, a Igreja Adventista do Sétimo Dia possui a
desafiadora missão de proclamar ao mundo verdades importantes que foram
deitadas por terra pela grande apostasia pós-apostólica e que continuam sendo
menosprezadas pelo próprio cristianismo (ver Dan. 8:9-14; II Tess. 2:1-12; II
Tim. 3:1-5; 4:1-5; Apoc. 14:6-12). O modelo congregacionalista, que pode ser
eficaz para outras denominações, jamais o seria para a Igreja Adventista, pois
acabaria rompendo a unidade doutrinária universal da igreja e bloqueando o
fluxo de recursos para os lugares mais necessitados do campo mundial.
Ellen White nos adverte:
"Oh, como se regozijaria Satanás, se pudesse ter êxito
em seus esforços de se insinuar entre este povo, e desorganizar
o trabalho, num tempo em que é
essencial uma completa organização, e será este o maior poder para
manter afastados os movimentos espúrios e para refutar declarações não
endossadas pela Palavra de Deus!... Alguns têm apresentado o pensamento de que
ao nos aproximarmos do fim do tempo, todo filho de Deus agirá independentemente
de qualquer organização religiosa. Mas fui instruída pelo Senhor de que nesta
obra não há coisa que se assemelhe a cada homem ser independente." - Testemunhos
Para Ministros, pág. 489.
RA:
Trace o perfil que
Deus gostaria de ver em Sua igreja neste novo milênio.
Dr. Timm:
Por
mais de 150 anos temos pregado, como movimento adventista, que "Jesus em
breve voltará", e ainda continuamos neste mundo! Nenhum dos pioneiros
deste movimento jamais imaginaria que adentraríamos o ano 2000 sem havermos
concluído a missão que nos foi confiada! Isso nos deve levar a uma solene
reflexão e a uma séria tomada de posição. Precisamos, como comunidade e como
indivíduos, de uma experiência mais genuína e profunda com Cristo, de um
retomo incondicional às grandes verdades da mensagem adventista, e de uma maior
dedicação à pregação da tríplice mensagem angélica "a cada nação,
e tribo, e língua e povo" (Apoc. 14:6).
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