Alberto R. Timm, do Centro de Pesquisas EGW (Unasp), Explica Sonho Polêmico da Sra. White

----- Mensagem Original ----

De: UNASP - Centro White
Enviada em: Quinta-feira, 20 de setembro de 2001 15:47
Para: Robson Ramos [mailto:adventistas@adventistas.com]
Assunto: ENC: Sonho de Ellen White a respeito de seu esposo

Prezado Robson,

O sonho que Ellen White teve a respeito de seu esposo, cerca de um mês após o falecimento dele, aparece registrado na Carta 17, 1881, que ela escreveu no White's Ranch, Rollinsville, Colorado, para seu filho Willie, no dia 12 de setembro de 1881. Parte do conteúdo da referida carta foi publicada em Arthur L. White, Ellen G. White, vol. 3, pp. 182-183, e outra parte no Manuscript Releases, vol. 10, pp. 19-21. 

Nessa carta a senhora White desabafa a seu filho que estava sentindo profundamente a falta do esposo. Ela chega mesmo a declarar: "É para mim bem diferente estar nas montanhas com meu esposo e nas montanhas sem ele. Estou convencida de que minha vida estava tão entrelaçada ou interligada com a de meu esposo que é quase impossível para mim considerar de grande importância [essa experiência] sem ele."

Não existem quaisquer dúvidas quanto à autenticidade da referida carta, pois ela é parte do acervo oficial de cartas de Ellen White. A data de 25 de março de 1980 diz respeito simplesmente ao processo de liberação da referida carta para citação ou mesmo publicação. Se você consultar os demais documentos contidos na série de 21 volumes dos Manuscript Releases, verá que cada grupo de documentos possui uma data relativamente recente relacionada à época de sua liberação.

Quanto é de nosso conhecimento, não existe ainda uma tradução oficial da referida carta ao português. No que diz respeito ao conteúdo da carta, diferentes pessoas podem interpretar o significado do sonho de maneiras diversas. Existem, por exemplo, aqueles que não relutam em considerar o sonho como espiritualista e de origem satânica, pelo simples fato de Ellen White haver sonhado com um suposto diálogo com seu esposo já falecido. 

Essa interpretação é baseada na premissa de que sonhos, para serem verdadeiros, só podem envolver diálogo com pessoas vivas. Se esse fosse realmente o caso, então Deus nunca poderia conceder a qualquer ser humano sonhos com entes queridos já falecidos ou personagens históricas que já desceram à sepultura. Não vejo razão pela qual sonhos que envolvam um diálogo hipotético com personagens bíblicas ou históricas devam ser considerados necessariamente satânicos.

Na seção "Bíblia sem Dúvidas" da revista Sinais dos Tempos, julho de 1999, p. 29, abordo, um pouco mais em detalhes, a distinção entre sonhos naturais e sobrenaturais, de origem divina ou satânica. Assumindo a posição de que um profeta não está em estado de constante inspiração (cf. 1Cr 17:1-4), alguém poderia sugerir que o referido sonho era um sonho natural que Ellen White teve com uma pessoa com a qual ela convivera por muitos anos. Eu, pessoalmente, sonhei várias vezes com o meu pai depois de sua morte em janeiro de 1981, e não creio que tais sonhos fossem de origem satânica. 

É normal que uma pessoa acabe sonhando à noite com as coisas ou pessoas com as quais a mente mais se detém durante o dia. Isso pode incluir conteúdos religiosos por vezes incoerentes no sonho, pois o subconsciente nem sempre armazena as informações em uma estrutura coerente e organizada. O profeta, como ser humano, não está isento de alguns fenômenos comuns aos demais seres humanos, incluindo os sonhos naturais que ocorrem espontaneamente durante o processo do sono. Mas o profeta é consciente quando lhe é concedido um sonho sobrenatural, da parte de Deus.

Como mencionado anteriormente, não vejo por que o sonho de Ellen White a respeito de seu esposo deva ser considerado satânico. Seu conteúdo não apresenta absolutamente nada de herético. Se Tiago White houvesse dito que ele havia sido levado ao Paraíso por ocasião da morte, não restariam quaisquer dúvidas que seria um sonho satânico, mas nada disso ocorreu.

Creio que simplesmente Deus usou o sonho com o propósito de (1) consolar a senhora Ellen White após a morte do esposo, (2) tornar evidente a causa de sua morte e (3) ajudá-la a evitar o excesso de trabalho que poderia acabar ceifando a sua própria vida também.

Como a interpretação espiritualista desta visão parece um tanto recente, desconhecemos a existência de quaisquer publicações que procurem esclarecer a questão. No entanto, Tim Poirier, arquivista do Ellen G. White Estate, respondeu à uma indagação semelhante a sua, com as seguintes palavras:

"Nesta carta para seu filho Willie, Ellen White relata um sonho no qual seu esposo (que havia falecido um mês antes) havia sido restaurado novamente à vida, e ambos dialogavam a respeito de planos e preocupações. Tenho visto os comentários que certos críticos têm feito a esse sonho - que Ellen White alegava ter recebido mensagens dos mortos.

Somente alguém que não conhece ou não aceita o ensino bíblico sobre o estado dos mortos poderia possivelmente mal interpretar seu sonho como um verdadeiro diálogo com seu esposo falecido, ou crer que Ellen White imaginou ser esse o caso.

"Tais críticos ignoram também a diferença fundamental entre um 'sonho' e um evento 'real'. Não seria diferente se ela houvesse tido no sonho uma conversação com outra pessoa viva contemporânea, como por exemplo, Uriah Smith. Em qualquer dos casos, a conversação não teria ocorrido de fato, mas apenas em seu sonho. Ellen White certamente não cria de que havia realmente conversado com seu esposo já falecido. Ela sabia que os mortos não sabem nada. Mas mesmo sendo um sonho, ou seja, não uma conversação real entre duas pessoas reais, Ellen White cria que Deus estava comunicando uma mensagem a ela, revelando-lhe o dever presente em relação às preocupações que ela havia expressado a seu filho."

Cremos que as considerações acima são elucidativas.

Cordialmente,

Alberto R. Timm

Confira a Íntegra do Texto Original


Reação dos Leitores:

Resposta Incompleta

As desculpas apresentadas parecem não suprir uma explicação completa sobre esse sonho polêmico. A senhora White parece ter sido bem influenciada pelo sonho, e isso se vê nas palavras que a mesma pronunciou ao acordar. Uma coisa é sonhar e desconsiderar o sonho ao acordar, baseado na crença pessoal sobre o estados dos mortos. Mas quando uma pessoa como ela parece crer mesmo naquilo que viu no sonho, interpretando-o como mensagem divina, isto se torna controvertido.

A brother, USA

Quanta Ignorância!

Caro Robson,

Acabei de ler um texto ignorantemente intitulado "O Sonho Diabólico de Ellen G. White"; confesso estar estarrecido com a ignorância de alguns irmãos -- perfeccionistas, diga-se de passagem -- a respeito de Ellen G. White. A passagem que se segue mostra quão ignorante é esse irmão. 

Sonhou [Ellen G. White] que estava dirigindo uma carruagem, quando o seu marido, Tiago White, que falecera em 6 de agosto, apareceu-lhe e assentou-se a seu lado. Em lugar de repreender e expulsar de sua mente em nome de Jesus aquele mensageiro do Mal, a irmã White tragicamente saudou-o com alegria, dizendo que estava feliz por tê-lo de seu lado mais uma vez, embora soubesse que não poderia tratar-se de seu marido.

Temos a tendência de tirar dos profetas qualquer resquício de humanidade. Um profeta, pelo que nos declara o incauto irmão, não pode ter sentimentos de afeição, sentimentos de amor, carinho, etc.

Se fizermos uma análise no texto que a senhora White escreveu, veremos que não se trata de uma passagem profetizada, mas, sim, uma de suas muitas cartas que escrevia, COMO QUALQUER MÃE DE SEUS DIAS, para seus filhos. Isso é perfeitamente normal. Pois, antes de Ellen White ser uma profetiza, ela era uma mulher, mãe e esposa. Era natural que sentisse saudades de seu marido, com quem viveu muitos anos; era natural que sonhasse com ele (sonho é um simulacro da realidade); era também natural que tivesse escrito ao seu filho o tal sonho; e, acima de tudo, era perfeitamente natural que se sentisse feliz ao ter sonhado com ele.

Se o simples fato de sonharmos com entes já falecidos nos torna falsos profetas, então é proverbial também que de "falso profeta e louco todo mundo é um pouco."

Por favor, leitores deste site, é muito importante que creiamos que EGW, antes de tudo, era também uma mulher.

Aluno do IAE

Resposta do Editor

Ora, irmão, se não se trata de "passagem profetizada", como você mesmo diz, simplesmente não deveria estar entre os escritos inspirados da Sra. White, guardados pelo White Estate. E a serva do Senhor, por sua vez, não poderia afirmar que se tratava de uma mensagem divina. Esse é o ponto. Sonhar com entes queridos mortos não nos faz falsos profetas. O que nos torna falsos profetas é atribuir esses sonhos à Revelação Divina. - Robson Ramos

Parábola do rico e Lázaro

Prezado Robson,

Se Deus não pudesse usar um sonho como o da irmã White com o seu esposo falecido para ensinar-lhe alguma lição, como pode ter usado a parábola do rico e Lázaro (Lucas 16) para nos ensinar algo?

Talvez alguém diga que a diferença é que o texto de Lucas 16:19-31 é uma parábola e não um sonho, o que é pior pois Jesus estava acordado e não dormindo. Então, se as pessoas que estão achando que o sonho da irmã White tem origem satânica analisarem esta parábola sob a mesma ótica, o que irão dizer de Jesus? Acho que, no mínimo, terão que concluir que Ele deveria ter usado uma ilustração melhor. Só não sei se vão ter coragem de questionar os métodos de Jesus e que autoridade têm para fazerem isso.

Cordialmente,

Júnior

Resposta do Editor

Na parábola, não se está falando de personagens reais. Trata-se de uma fábula usada por Cristo, com o objetivo de ensinar exatamente que, quando não existe predisposição para obedecer a Deus, nem mesmo um milagre como o da ressurreição é suficiente para comover o pecador. Outra lição da parábola é a conclusão de que Deus não envia mortos para transmitir mensagens aos vivos (nem mesmo em sonho!), porque já nos transmitiu toda a verdade através da Bíblia. "Eles têm Moisés e os profetas; ouçam-nos."  Note também que Jesus Cristo deixa claro, ao final da parábola, que o único meio para alguém já falecido comunicar-se com os vivos, é pela ressurreição (Lucas 16:29-31). Mas o que mais me assombra, irmão, é ver que estamos tão mal informados sobre a natureza do dom profético que, para defender a infalibilidade da Irmã White, estamos dispostos a até mesmo atacar Jesus Cristo e Seus ensinos.

Robson Ramos


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