Já Está o Governo dos Estados Unidos a Serviço da Igreja Católica?

Por Dr. Alberto R. Treiyer
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Acabo de terminar de traduzir ao inglês meus dois extensos trabalhos sobre a inquisição. Enquanto o fazia, perguntava-me sobre o real valor que poderia ter esse material para o mundo inglês. Interessar-se-iam os norte-americanos em conhecer a luta que se desenvolveu na América do Sul pela liberdade, sendo que viveram aqui por mais de dois séculos sem conhecer quase o que é a opressão religiosa?

Que importância lhes poderiam ter os argumentos que usam os defensores do Santo Ofício na atualidade? No dia seguinte, depois de ter concluído a tradução, fiquei estupefato com essa notícia de que um arcebispo católico de Denver foi eleito pelo presidente Bush para liderar a liberdade religiosa nos Estados Unidos. Ele foi imediatamente entrevistado pela Agência Zenit, o órgão informativo religioso mais destacado do Vaticano na internet. Isto fez com que me despertassem várias interrogações.

Acaso não sabe Bush que o papado é o inimigo maior da liberdade religiosa? Não se inteirou das tantas vezes em que esse papa (a quem gosta tanto ser príncipe deste mundo que não quer ir-se dele), manifestou seu desacordo com os critérios de liberdade que regem este país (EUA), declarando que não deve haver liberdade para agir mal? Será que se deixou enganar por João Paulo II, que se tem auto-proclamado apóstolo dos direitos do homem, e defensor apaixonado da liberdade religiosa? Como vai se arrumar este arcebispo para unir os dois conceitos de liberdade religiosa tão divergentes (católico e protestante), de tal maneira que não desperte suspeitas no mundo protestante norte-americano?

 

1. É o papado o inimigo maior da liberdade religiosa?

Nossa resposta é um categórico sim. Ao repassar os argumentos de Ellen White para apresentá-lo como tal, encontro basicamente dois: as declarações específicas dos papas que condenam a liberdade de consciência, e o fato de considerarem-se infalíveis (O Grande Conflito, capítulo 35 [36 em castelhano]). Esse último fato, o da infalibilidade, permite a Ellen White dizer que não devemos nos deixar enganar pela atitude de desculpas que a igreja católica apresenta atualmente ao mundo por suas horríveis crueldades do passado.

Estes dois pontos se sobressaem também nos argumentos que empregam os apologistas modernos da inquisição, e se incluem nas declarações específicas do Novo Catecismo Romano (os que queiram a documentação podem ir diretamente a minha página Web citada acima, e procurar o começo do trabalho sobre os apologistas da Inquisição, toda a informação básica pertinente).

Para propósitos práticos, destaco aqui o que diz o novo catecismo romano, que foi editado sob os auspícios do papa João Paulo II. Segundo esse catecismo atual, a liberdade "não é a permissão moral de aderir-se ao engano, nem um suposto direito ao engano". Em outras palavras, todos os que não aceitam o Magistério infalível da Igreja Católica em matérias de fé e moral, estão no engano e não têm direito à liberdade (inciso 2108).

Mas, qual é o problema que desafia Bush? O dos muçulmanos. O mundo moderno já amplamente globalizado, encontra-se com um câncer em seu meio que atenta contra os princípios básicos de liberdade, e ameaça destruí-los ao procurar amparo e segurança nos países livres. Quem, a não ser a Igreja Católica, tem laços e entendimentos de ampla envergadura atualmente, com os países muçulmanos?

Embora os critérios de liberdade de Roma se assemelham aos dos muçulmanos (como se pôde ver na defesa que fez João Paulo II da reação do líder muçulmano iraniano que ordenou matar ao autor de Versos Satânicos), há uma diferença. O papado soube inserir-se melhor dentro do estilo democrático dos países ocidentais, ao conviver com eles e ainda respeitá-los. Enquanto que em seu interior mantém os mesmos princípios fechados e herméticos de conduta medieval, no exterior requer que se respeitem os princípios de transparência que exigem os governos democráticos. [Nota do editor: Exatamente como faz a Igreja Adventista do Sétimo Dia!]

É evidente que Bush necessita um assessoramento indiscutivelmente mais autorizado e atualizado da situação islâmica, assim como sua intervenção diplomática, para pôr ordem ou, ao menos, obter certo tipo de abertura dentro da raça de Ismael para os princípios de liberdade que caracterizam aos países mais desenvolvidos. Recordemos que intitulou sua campanha ao Afeganistão como "Liberdade duradoura". Uma promessa de liberdade equivalente prometeu com respeito ao Iraque, a qual, em sua opinião, ia produzir um efeito dominó sobre o resto dos países árabes. Mas o quadro se complica cada vez mais, e Bush se encontra em um beco sem aparente saída. Se se retirar do Iraque, e o governo que surge é religioso muçulmano, tanto sua liderança nos EUA como a segurança do mundo que busca, terminarão em um fracasso total.

 

2. Os conceitos de liberdade diferentes.

Tanto a Revolução Francesa (secular), como a Norte-americana (protestante), estabeleceram a separação Igreja-estado como base e fundamento da liberdade. Enquanto que na Revolução Francesa, pelo menos no começo, essa independência civil da autoridade religiosa implicou num pronunciamento de condenação para a religião; na Norte-americana se manteve o respeito para todas as religiões, sem se pronunciar sobre elas. A libertação, em ambos os casos, secular e protestante, teve que ver com o rompimento dos conceitos medievais-católico romanos, que exigiam governos confessionais.

Na Constituição dos EUA, mais definidamente, declara-se que não se requererá nenhuma profissão religiosa para a nomeação a qualquer cargo público, nem tampouco se estabelecerá uma lei para "o estabelecimento de uma religião", ou que "proíba o livre exercício dela". Pelo contrário, os países católicos que quiseram romper com a exigência de pertencer à religião católica para ser presidente de seus respectivos países, além do reconhecimento aberto em suas constituições da Igreja Católica, tiveram que confrontar-se com o próprio Papa que exige que os estados católicos continuem sendo confessionais. E o que dizer da luta atual que cercou o Vaticano para voltar a transformar o continente europeu em uma Europa confessional?

Enquanto que a liberdade que exige o mundo secular significa independência de toda religião, a liberdade religiosa que exige a Igreja Católica é independência de todo governo secular. Isto permite ao Vaticano argüir que sua luta atual é pela liberdade religiosa, sem trocar em um único ponto seus conceitos medievais. Diz-se o mesmo com palavras diferentes. E conseguiu convencer aos protestantes em sua lógica, que sentem cada vez mais a perda de sua autoridade espiritual, já que menos e menos gente freqüenta suas igrejas. Quem tem a culpa? O Estado, que não respeita por lei os dias de culto das Igrejas, [dizem os protestantes, seduzidos pela Igreja Católica].

Querem separação de Igreja e Estado? Nós também, dizem os católicos. Não nos imponham nada. Pelo contrário, são vocês os que nos devem respeitar ao garantir por lei o livre exercício de culto que nos foi roubado pelas grandes empresas multinacionais, ao exigir trabalhar em domingo. É por essa razão que João Paulo II esteve liderando uma liberação das classes pobres que, em sua opinião, estão sendo exploradas sem misericórdia pelas sociedades industrializadas modernas. Ao obter o respaldo das Igrejas protestantes e ortodoxas, inclusive do Concílio Mundial do Iglesias nessa luta em favor dos pobres, procurou isolar a liberação secular moderna. A liberação secular se encontra, com efeito, repentinamente deixada sozinha por seus antigos colegas protestantes de liberação.

 

3. O engano do papa João Paulo II.

Se Bush se deixou enganar, junto com tantos protestantes e evangélicos, pelos discursos de liberdade religiosa do papado, interpretando-os à luz dos princípios tradicionais de liberdade protestante; ou se for o próprio Bush (junto com a maioria do mundo protestante hoje), que trocou e abraça os mesmos critérios de liberdade religiosa do papado que, apesar de tantas promessas, por principio implicam em intolerância para as minorias; não sei se vale a pena elucidá-lo aqui. Aparentemente, ambas as coisas estão ocorrendo. Aqui vejo uma prova mais e extraordinariamente significativa, da extensão da mão do protestantismo norte-americano por cima do abismo para agarrar-se ao poder papal. Necessita-o especialmente neste momento em que o presidente norte-americano se está encontrando cada vez mais isolado do mundo por empreender uma guerra contra o terrorismo islâmico sem esperar o apoio e respaldo do resto das nações civilizadas.

 

4. A união dos dois conceitos divergentes de liberdade.

Esse arcebispo que acaba de assumir esse novo cargo criado pelo Bush, já expressou claramente que a separação igreja-estado não significa a exclusão da igreja do estado. Os religiosos têm não só o direito a ser escutados, mas também também o dever de fazer-se escutar. Ambas as esferas não podem divorciar-se em forma plena. E para desviar o tiro, acusa ao mundo muçulmano de pretender outorgar liberdade, mas não permiti-lo na prática (algo que faz também a Igreja Católica freqüentemente). O problema ao qual todos devemos olhar agora, é ao problema muçulmano que não permite o livre exercício da fé, ao proibir a proclamação pública da fé de cada um. Assim faz também o Vaticano ao explicar a rejeição secular dos princípios de liberdade que busca impor à Europa, aduzindo que o temor não está contra o catolicismo, a não ser contra o islamismo tão representado atualmente na Europa que pode requerer os mesmos direitos.

O mesmo que começou fazendo o novo presidente da liberdade religiosa nos EUA, está permanentemente fazendo o Vaticano. Exige liberdade e transparência nos governos civis, mas nega ambas as coisas em sua organização interior. Exige, como durante a Inquisição, um alto nível moral na população a que castiga brutalmente se não se confessar, enquanto que em seu interior se volta muito longânimo para com todo tipo de aberração sexual. Por quê? Porque toda imundície, ainda militante, tem guarida no catolicismo romano sob a condição apenas de que os que a praticam se confessem.

Recordemos que o Novo Catecismo Romano estabelece, além disso, que "os justos limites" da liberdade religiosa devem ser determinados… segundo as exigências do bem comum, e ratificados pela autoridade civil" (inciso 2109). É óbvio que, se uma religião atenta contra o bem comum pelo que sempre advogou o papado desde que foi maioria, não pode amparar-se na Constituição Norte-americana tampouco. Há um mútuo respeito que deve desenvolver-se, a partir de tantos diálogos que está empreendendo a Igreja Católica nos quais procurou nos envolver como Igreja Adventista também. Nenhuma denúncia de um "remanescente" contra os pecados de Babilônia e contra seus enganos vai, é obvio, a favor do "bem comum". Além disso, ao requerer às autoridades civis que imponham um dia de culto como respeito à liberdade de culto, não o fará para favorecer alguma religião em especial, a não ser a muitas religiões, a maioria, e nisso as autoridades civis advogarão também pelo "bem comum".

 

Conclusão.

O papado conseguiu enganar aos luteranos e a maioria do mundo protestante com relação às indulgências, pretendendo estar de acordo até com o mesmo Lutero, mas sem renunciar às indulgências em si. Também conseguiu enganar em grande medida ao mundo com seu pedido de perdão pelos crímes da Inquisição, mas sem condenar aos "filhos" da Igreja que os perpetraram, e sem reconhecer falta na própria igreja, já que conforme o expressou claramente, "a igreja não pode errar". Agora o fará facilmente com o tema da liberdade religiosa. Tudo é questão de jogar com as palavras. Não é à toa que a profecia o definiu como "poderoso em intrigas", capaz de fazer, "com sua sagacidade", "prosperar o engano em sua mão" (Daniel 8:23,25).

"A História testifica de seus esforços, astutos e persistentes, no sentido de insinuar-se nos negócios das nações; e, havendo conseguido pé firme, nada mais faz que favorecer seus próprios interesses, mesmo com a ruína de príncipes e povo." (O Grande Conflito, pág. 580, português.) "A igreja papal nunca abandonará a sua pretensão à infalibilidade. Tudo que tem feito em perseguição dos que lhe rejeitam os dogmas, considera ela estar direito; e não repetiria os mesmos atos se a oportunidade se lhe apresentasse? Removam-se as restrições ora impostas pelos governos seculares, reintegre-se Roma ao poderio anterior, e de pronto ressurgirá a tirania e perseguição." (O Grande Conflito, pág. 564, português.) "A Palavra de Deus deu aviso do perigo iminente; se este for desatendido, o mundo protestante saberá quais são realmente os propósitos de Roma, apenas quando for demasiado tarde para escapar da cilada." (O Grande Conflito, pág. 581, português.) -- Dr. Alberto R. Treiyer.

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