Poucos perceberam mas toda a polêmica que se criou em relação ao samba de louvor gravado pelo grupo Vocal Livre, sob o título “Clareou”, além de descabida e injustificada, serviu apenas como cortina de fumaça para esconder a desnecessidade de uma nova revisão do Hinário Adventista, cujo objetivo é evidentemente financeiro. Afinal, não houve nos últimos 25, 30 anos, uma mudança tão significativa de linguagem que possa justificar a produção de um novo hinário.

Multiplique o valor de um exemplar da nova edição do novo hinário pelo número de membros adventistas do Brasil e outros países da Divisão Sul-Americana e você terá uma noção do valor econômico que isso representa em lucros pela CPB.

Dezenas de milhões de reais serão, com certeza, mais uma vez arrecadados pelo Casa Publicadora Brasileira com a adoção obrigatória desse novo livro de cânticos para toda a DSA, como se já não bastasse o monopólio da produção de livros, revistas, lições e meditações usadas pelo público consumidor da denominação.

A polêmica sobre o ritmo adotado pelo Vocal Livre serviu também para legitimar a subordinação do louvor adventista ao crivo das supostas autoridades em música em nosso território, “pastor emérito” Jael Enéas e o maestro Lineu Soares, entre outros.

Ora, não existe na Bíblia qualquer mandamento acerca de um ou mais ritmos de louvor litúrgico ou evangelístico, que seriam aprovados ou desaprovados por Deus. Em outras palavras, a Bíblia não proíbe o samba e o que mais importa é a letra ou verdade exposta na canção. Além disso, o louvor deve vir do coração ainda que reflita a cultura da região, seja em ritmo de samba, guarania, forró ou fandango.

E por não ser um grupo de louvor subordinado ou ligado oficialmente à denominação, muito menos razão têm aqueles que se julgaram no direito de condenar ou criticar o Vocal Livre. Liberdade de expressão da crença ou opinião, inclusive através de composições musicais, são direitos garantidos pela própria Constituição brasileira de 1988. Por isso, entendemos como desnecessária a nota abaixo, publicada pelo Vocal Livre em resposta às críticas que recebeu.

“Então cantou Moisés e os filhos de Israel este cântico ao SENHOR, e falaram, dizendo: Cantarei ao SENHOR, porque gloriosamente triunfou; lançou no mar o cavalo e o seu cavaleiro.”  — Êxodo 15:1

“Então Miriã, a profetisa, a irmã de Arão, tomou o tamboril na sua mão, e todas as mulheres saíram atrás dela com tamboris e com danças. E Miriã lhes respondia: Cantai ao Senhor, porque gloriosamente triunfou; lançou no mar o cavalo e o seu cavaleiro.” — Êxodo 15:20,21

“Aleluia! Cantem ao Senhor um cântico novo; cantem o seu louvor na assembleia dos santos. Alegre-se Israel no seu Criador; exultem no seu Rei os filhos de Sião. Louvem o nome do Senhor com danças; cantem-lhe salmos ao som de tamborins e harpas.” — Salmo 149:1-3

“Aleluia! Louvai a Deus no seu santuário; louvai-o no firmamento, obra do seu poder. …Louvai-o com o som de trombeta; louvai-o com o saltério e a harpa. Louvai-o com o tamborim e a dança, louvai-o com instrumentos de cordas e com órgãos. Louvai-o com os címbalos sonoros; louvai-o com címbalos altissonantes. Todo ser que respira louve o Senhor. Aleluia!” — Salmo 150:1-6

O que precisamos não é de hinário novo, mas de um cântico novo, músicas que reflitam a experiência, convicções e sentimentos de nosso povo, com letras compostas na própria comunidade, inspiradas pelo Espírito de Deus, e não impostas por pseudos especialistas em música denominacional. Hinos que possam ser tocados ao violão, por exemplo, e cantados espontaneamente pelos próprios membros, sem pretensos regentes que se exibem na plataforma, como foco das atenções, gesticulando para impor seu ritmo e estilo ao louvor, como se isso fosse necessário.

O pior mesmo é perceber que muitos irmãos já nem sequer cantam, apenas “dublam”, ao som de arquivos de áudio que já vêm com os vocais, hinos que já vem cantados e  que impõem um padrão único de interpretação ao louvor adventista.

Outro problema é o costume de ouvir louvores gravados por terceiros em vez de louvar a Deus com nossa própria voz. Mas isso é resultado da maligna indústria da produção e comercialização do louvor, que exalta indivíduos ou grupos à condição de ídolos, dos quais viramos seguidores e imitadores em lugar de Cristo.

Obviamente, disponibilizar a letra dos hinos através de aplicativos pode não gerar lucro diretamente, mas permite a captação de dados dos usuários que interessem à organização, mas esse é um outro assunto, que fica para mais tarde.

NOTA SOBRE A MÚSICA E VIDEOCLIPE “CLAREOU”