
Em meio ao genocídio de 1994 em Ruanda, a violência atingiu locais sagrados, incluindo igrejas — supostos refúgios que se transformaram em armadilhas letais para a comunidade tutsi. Entre esses episódios, o massacre ocorrido em um templo adventista na região de Kibuye destacou-se pela participação de obreiros da IASD, incluindo um pastor e um médico, ambos posteriormente julgados pelo Tribunal Penal Internacional para Ruanda (ICTR) por genocídio e crimes contra a humanidade.
️ 1. O contexto: Hutus, Tutsis e igrejas como “zonas de morte”
Em abril de 1994, após a morte do presidente Hutu Juvénal Habyarimana, milícias hutu — apoiadas pelo governo — lançaram uma campanha sistemática contra a minoria tutsi. Estimativas apontam entre 800 000 a 1 000 000 mortos em cem dias pt.wikipedia.org+11justiceinfo.net+11justiceinfo.net+11pt.wikipedia.org.
Muitas vítimas buscavam segurança em igrejas, confiantes de que sua fé os protegeria. No entanto, essas instituições se tornaram armadilhas:
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O Templo Adventista em Kibuye tornou-se local de uma das piores chacinas.
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Crânios, roupas e esqueletos encontrados em igrejas como Nyamata e Ntarama mostram que os fiéis foram brutalmente assassinados dentro das paredes sagradas pt.wikipedia.org+2nationalgeographic.com+2nationalgeographic.com+2.
⚰️ 2. O papel trágico de líderes adventistas
O caso mais emblemático envolve Elizaphan Ntakirutimana, pastor adventista em Mugonero (perto de Kibuye), e seu filho Dr. Gérard Ntakirutimana, médico no hospital anexo:
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Em 16 de abril de 1994, o templo foi deliberadamente exposto: o telhado foi removido para facilitar a entrada da milícia hutu, que massacrou cerca de 12 000 tutsis refugiados no local blackpast.org+13justiceinfo.net+13unictr.irmct.org+13.
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O pastor Ntakirutimana organizou transporte de milicianos ao local, incentivando e dando acesso para o genocídio .
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Gérard participou ativamente dos massacres, sendo acusado de participar de assassinatos e estupros pt.wikipedia.org+1justiceinfo.net+1.
⚖️ 3. Julgamento no Tribunal Penal Internacional
Os dois foram julgados pelo ICTR, tribunal criado pela ONU para julgar os responsáveis pelo genocídio:
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Elizaphan foi condenado por auxílio e cumplicidade em genocídio — recebeu 10 anos de prisão andrews.edu+14theguardian.com+14justiceinfo.net+14.
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Gérard, condenado por genocídio e crimes contra a humanidade, foi sentenciado a 25 anos de prisão es.wikipedia.org+2theguardian.com+2pt.wikipedia.org+2.
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Eles foram os primeiros clérigos adventistas condenados por esse tribunal, reforçando o grave envolvimento de líderes religiosos em atrocidades theguardian.com+2theguardian.com+2en.wikipedia.org+2.
⛪ 4. Igrejas como armadilhas da fé
A partir de testemunhos e relatórios, torna-se evidente que igrejas no genocídio ruandês, incluindo a adventista, foram usadas estrategicamente:
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Milhares de tutsis foram atraídos por líderes religiosos e depois entregues às milícias gettyimages.fr+4pt.wikipedia.org+4pt.wikipedia.org+4en.wikipedia.org+13theguardian.com+13pt.wikipedia.org+13.
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As composições dos templos permitiram ataques em massa com facões, machetes, armas de fogo e explosões de violência dentro dos recintos sagrados pt.wikipedia.org.
5. Legado e memória
O ICTR encerrou suas atividades em 2015, mas o legado permanece:
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O Memorial de Bisesero e outros locais preservam restos mortais como recordação da brutalidade en.wikipedia.org+9pt.wikipedia.org+9unictr.irmct.org+9.
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Commemorações e museus em templos como Nyamata servem de advertência permanente para a história trágica da religião distorcida.
Conclusão: Fé, poder e responsabilidade
O massacre no templo adventista em Kibuye evidencia que, mesmo no ambiente supostamente mais seguro — a casa de Deus —, líderes podem distorcer a fé, legitimando violência em nome da etnia.
Este episódio traz três reflexões cruciais:
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Autoridade religiosa e poder político: a influência pastoral pode ser usada para manipular a sociedade com resultados fatais.
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Perigo da conivência institucional: líderes espirituais devem manter integridade moral, não se alinhar a violentos.
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Compromisso com a verdade e humanidade: a igreja deve reconhecer seus erros históricos, educar e prevenir que atrocidades sejam repetidas.
Este relato reforça que fé sem consciência crítica e integridade institucional pode se transformar em instrumento de ódio — alerta urgente para a Igreja Adventista e afins.
Fontes e notícias sobre o massacre e julgamento

theguardian.com