Artigo 5 — Negar o Passado é Negar o Texto Sagrado

ARTIGO ANTEROR:

Artigo 4 — Aprisionados nas Trevas: O Destino dos Transgressores de Gênesis 6

Uma das objeções mais comuns à interpretação literal de Gênesis 6 é afirmar que “esse episódio nunca aconteceu” — nem no passado, nem hoje —, tratando-o como mito ou alegoria. Essa posição, porém, não resiste a uma análise cuidadosa do texto bíblico, de seu contexto histórico e da tradição interpretativa mais antiga.

O texto afirma: aconteceu!

Gênesis 6:4 declara de forma direta:

“Naqueles dias havia nefilins na Terra, e também depois, quando os filhos de Deus possuíram as filhas dos homens, as quais lhes deram filhos; estes foram valentes, varões de renome, na antiguidade.”

O autor, Moisés, apresenta essa afirmação como narrativa histórica, não como metáfora. O texto não contém nenhuma transição para linguagem poética ou simbólica. Está inserido no mesmo fluxo narrativo que traz genealogias precisas (Gn 5), descrições concretas da maldade humana (Gn 6:5) e detalhes da construção da arca por Noé (Gn 6:14-16). Ignorar a literalidade de um trecho enquanto aceita a dos outros é adotar um critério inconsistente e arbitrário.

A coerência do gênero literário

Todo o bloco de Gênesis 1–11 é narrado com a estrutura típica da história hebraica antiga: eventos reais, datas, lugares e personagens apresentados como fatos. O Dilúvio, por exemplo, é aceito como literal por quase todos os que respeitam a autoridade bíblica — mas o relato dos nefilins está entrelaçado ao mesmo episódio. Se o primeiro for histórico, o segundo também deve ser.

Negar a literalidade de Gênesis 6 rompe a unidade do texto e coloca em dúvida a integridade da narrativa antediluviana. Afinal, se Moisés teria inventado ou alegorizado essa parte, por que não faria o mesmo com o próprio Dilúvio?

O testemunho da tradição antiga

A tradição judaica pré-cristã — refletida no Livro de Enoque, no Livro dos Jubileus e nos escritos de Filon e Josefo — tratou o episódio como fato histórico, interpretando os “filhos de Deus” como anjos caídos e os nefilins como híbridos gigantes. Os primeiros pais da Igreja, como Justino Mártir, Irineu e Tertuliano, seguiram o mesmo entendimento.

Foi apenas séculos depois, especialmente a partir de Agostinho, que se consolidou a chamada interpretação setita, que propunha que os “filhos de Deus” fossem descendentes de Set e as “filhas dos homens” descendentes de Caim. Essa releitura não nasceu da exegese natural do texto, mas de um esforço apologético para afastar a narrativa de qualquer semelhança com mitos greco-romanos e mesopotâmicos.

Negar é minar a confiança no registro bíblico

O problema de “espiritualizar” Gênesis 6 é que isso cria um precedente perigoso: se esse trecho for simbólico, por que o Dilúvio, a Torre de Babel ou até a criação literal não seriam também? A Bíblia não nos autoriza a escolher seletivamente o que é fato e o que é figura de linguagem com base em conveniências culturais.

O apóstolo Pedro, ao mencionar os dias de Noé e o Dilúvio (2Pe 2:4-5; 3:5-6), não trata o episódio como mito. Ele o cita como exemplo real do juízo divino sobre uma geração corrupta — e inclui no mesmo pacote a queda dos anjos.

O que está em jogo

Aceitar a historicidade de Gênesis 6 não é abraçar lendas, mas reconhecer que o registro bíblico denuncia um momento em que a corrupção humana e espiritual chegou a um limite tão extremo que exigiu o juízo mais radical da história: a destruição global pelo Dilúvio. Negar que isso aconteceu é, na prática, duvidar da veracidade do próprio texto sagrado e reduzir a Bíblia a uma coleção de fábulas morais.

PRÓXIMO ARTIGO:

Artigo 6 — Corpos Temporários: Como Anjos Podem Interagir Fisicamente

Deixe um comentário