O Massacre no Templo Adventista em Kibuye: Fé, Ódio e Justiça

Skulls of people who died during the 1994 Rwandan genocide are arranged and locked outside the St. Pierre Catholic Church, in Kibuye, Karongo city center, Karongi district South West of Rwanda May 26, 2023. REUTERS/Jean Bizimana

Em meio ao genocídio de 1994 em Ruanda, a violência atingiu locais sagrados, incluindo igrejas — supostos refúgios que se transformaram em armadilhas letais para a comunidade tutsi. Entre esses episódios, o massacre ocorrido em um templo adventista na região de Kibuye destacou-se pela participação de obreiros da IASD, incluindo um pastor e um médico, ambos posteriormente julgados pelo Tribunal Penal Internacional para Ruanda (ICTR) por genocídio e crimes contra a humanidade.


️ 1. O contexto: Hutus, Tutsis e igrejas como “zonas de morte”

Em abril de 1994, após a morte do presidente Hutu Juvénal Habyarimana, milícias hutu — apoiadas pelo governo — lançaram uma campanha sistemática contra a minoria tutsi. Estimativas apontam entre 800 000 a 1 000 000 mortos em cem dias pt.wikipedia.org+11justiceinfo.net+11justiceinfo.net+11pt.wikipedia.org.

Muitas vítimas buscavam segurança em igrejas, confiantes de que sua fé os protegeria. No entanto, essas instituições se tornaram armadilhas:


⚰️ 2. O papel trágico de líderes adventistas

O caso mais emblemático envolve Elizaphan Ntakirutimana, pastor adventista em Mugonero (perto de Kibuye), e seu filho Dr. Gérard Ntakirutimana, médico no hospital anexo:

  • Em 16 de abril de 1994, o templo foi deliberadamente exposto: o telhado foi removido para facilitar a entrada da milícia hutu, que massacrou cerca de 12 000 tutsis refugiados no local blackpast.org+13justiceinfo.net+13unictr.irmct.org+13.

  • O pastor Ntakirutimana organizou transporte de milicianos ao local, incentivando e dando acesso para o genocídio .

  • Gérard participou ativamente dos massacres, sendo acusado de participar de assassinatos e estupros pt.wikipedia.org+1justiceinfo.net+1.


⚖️ 3. Julgamento no Tribunal Penal Internacional

Os dois foram julgados pelo ICTR, tribunal criado pela ONU para julgar os responsáveis pelo genocídio:


⛪ 4. Igrejas como armadilhas da fé

A partir de testemunhos e relatórios, torna-se evidente que igrejas no genocídio ruandês, incluindo a adventista, foram usadas estrategicamente:


5. Legado e memória

O ICTR encerrou suas atividades em 2015, mas o legado permanece:

  • O Memorial de Bisesero e outros locais preservam restos mortais como recordação da brutalidade en.wikipedia.org+9pt.wikipedia.org+9unictr.irmct.org+9.

  • Commemorações e museus em templos como Nyamata servem de advertência permanente para a história trágica da religião distorcida.


Conclusão: Fé, poder e responsabilidade

O massacre no templo adventista em Kibuye evidencia que, mesmo no ambiente supostamente mais seguro — a casa de Deus —, líderes podem distorcer a fé, legitimando violência em nome da etnia.

Este episódio traz três reflexões cruciais:

  1. Autoridade religiosa e poder político: a influência pastoral pode ser usada para manipular a sociedade com resultados fatais.

  2. Perigo da conivência institucional: líderes espirituais devem manter integridade moral, não se alinhar a violentos.

  3. Compromisso com a verdade e humanidade: a igreja deve reconhecer seus erros históricos, educar e prevenir que atrocidades sejam repetidas.


Este relato reforça que fé sem consciência crítica e integridade institucional pode se transformar em instrumento de ódio — alerta urgente para a Igreja Adventista e afins.


Fontes e notícias sobre o massacre e julgamento

Revealed: Rwanda genocide war crimes tribunal wraps up mission after 29 years

theguardian.com

15 de mai. de 2024

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