6. MÚSICA SACRA
Há
relutância por parte de muitos (principalmente os comprometidos com a música
pop-religiosa), em definir música sacra, tanto quanto estabelecer um conceito
de música. Isto porque qualquer definição excluirá a idéia de que “vale tudo”
na música hoje, quer na igreja ou não.
Quem
está inclinado a aceitar a idéia de que todo e qualquer fenômeno acústico já
faz parte da música terá que admitir que um computador pode inspirar, ou ser
inspirado a produzir música sacra. Mas um adventista que acredita em Deus como
fonte e origem da arte e, por conseguinte, da música celeste (da qual deriva a
da Terra) não tem outra opção senão aceitar a idéia de que a música vem
através da própria natureza com base no fenômeno físico-harmônico dos sons
naturais e musicais, e desprezar tudo o que seja ilógico e artificial,
explorado e valorizado pelos musicólogos contemporâneos.
Para
o conceito de música, teremos que ficar com o de que seja a arte que utiliza
os sons de maneira ordenada, relacionados natural e inteligentemente para
expressão e transmissão de sentimentos, idéias e experiências estéticas; e
para a musica sacra, ou sagrada, temos que ficar com o conceito de ser a que
se origina com Deus, ao inspirar um instrumento humano, destinada a trazer
benefícios espirituais ao próprio indivíduo, bem como a seus semelhantes, e
refletir-se novamente a Deus.
A
Bíblia é a Sagrada Escritura que veio de um Deus santo através de “homens
santos de Deus” que “falaram inspirados pelo Espírito Santo” (II Ped. 1:21);
assim também a música sacra provém de um Deus santo e é um instrumento de
salvação no mundo. Os homens e mulheres que a compõem e executam, se forem
mordomos cristãos, reconhecerão que ela é legitimamente usada quando não for
objeto de exploração comercial com vistas a lucros e enriquecimento próprios,
e sim, usada na grande causa divina de salvação.
Será
muito difícil distinguir se certa musica e sacra ou não? Não bastaria um
rótulo de sacra para sabermos?
Antes
de prosseguir, seria interessante relembrar que as
Pág.
56
músicas se classificam em três gêneros:
1
- Erudito - Produzidas e executadas pelas pessoas que estudam e praticam
as leis naturais da música.
2
- Folclórico - De autor desconhecido por serem usadas pelo povo em
transmissão oral, tradicionalizadas em funções específicas dentro da
comunidade ou região onde existem, sem sofrer exploração comercial nem
influência de ondas ou modas.
3 -
Popular - Produzidas entre o povo por autor conhecido, praticadas debaixo
de intensa exploração comercial por ídolos naturais ou fabricados, e
promovidas pelas Gravadoras, Rádios e TVs que manipulam os meios de
comunicação e massificam os gostos da sociedade de consumo; sofrem influência
da moda, normalmente sobre fórmulas rítmicas repetitivas, e incluem, além de
canções e música sertaneja, todas as danças que não sejam folclóricas ou "ballet”.
Cada
qual destes gêneros possui suas características próprias e peculiares na
melodia, na harmonização, nas formas musicais (tipos de peças), no ritmo, e,
muito importante, na maneira de executar e nos instrumentos que usa. Cada
qual, portanto, produz uma atmosfera sonora diferente e cria um estado mental
próprio. O que determina o gênero musical não é tanto o rótulo, mas o conteúdo
com suas características e os efeitos que produz.
Músicas com palavras religiosas existem dentro dos três gêneros, mas a grande
questão é: Existe música sacra nos três gêneros? Pode haver música sacra que
seja folclórica? Pode música sacra existir no gênero popular? A música popular
pode ser santificada e santificar apenas com as palavras religiosas?
Transforma-se o gosto pelo gênero popular só em virtude de algumas palavras
que falam de Jesus? O estado mental e os efeitos psicossomáticos da música
popular são magicamente mudados com as insinuações religiosas da letra?
Ficou
evidente, principalmente no capítulo anterior, que a música do gênero popular
nada tem a ver com inspiração divina, pois Deus não tem interesse algum nela.
O gênero folclórico, por ser tradicionalizado em usos específicos para
atividades definidas onde existem (ex: canções de ninar, brincadeiras de roda,
canções para bebedeira e trabalho, danças folclóricas, etc.), provavelmente
terá contribuição muito insignificante para a música sacra, e assim mesmo se
Pág.
57
tiver
origem européia religiosa e soar como música erudita hoje.
Por eliminatória, resta-nos o gênero erudito.
Música sacra é música erudita.
Além
disto devemos notar que, desde que os Movimentos de Reforma do séc. XVI
estabeleceram os tipos básicos de música sacra que herdamos do protestantismo,
o mundo assistiu à passagem do classicismo, do romantismo e do modernismo
musicais em comboios sucessivos, cada qual carregado de grandes gênios
musicais, guiados por Bach, Beethoven, e Debussy, respectivamente.
No
período do classicismo floresceu um tipo de música vigorosa com base numa
harmonia natural e lógica. Seus vários tipos de música, obedientes às leis
naturais, afetavam em cheio o cérebro das pessoas; era música racional
inteligente, embora fizesse também vibrar as cordas do sentimento.
Passada esta época, parece que o coração das pessoas subiu para a cabeça. A
música, embora ainda seguisse leis de harmonia e forma, apresentou-se dando
mais importância à melodia e ao virtuosismo, e expressava basicamente mais o
que pedia o coração, musica rica em sua parte sentimental.
No
fim do período romântico novas características assumiram papel preponderante.
As leis da harmonização tradicional, lógica e natural foram abolidas, e a
música passou a manifestar uma atmosfera sonora dissonante, numa exploração
harmônica dos sons concomitantes superiores da série harmônica, naturalmente
reservados para o timbre; os ritmos se alteraram, se agitaram livres e
extravagantes, refletindo já muito da agitação artificial da vida moderna, com
suas tendências livres e permissivas.
A
música de cada época afeta de maneira diversa o estado da mente e provoca uma
reação psicossomática bem característica. A música clássica favorece e
estimula as manifestações intelectuais; a do romantismo, os sentimentos e
emoções; e, finalmente, o modernismo, pelas dissonâncias e pelos ritmos,
provoca reações de tensão, excitamento ou apatia racional, além de movimentos
físicos.
A
religião verdadeira é equilibrada, mais racional do que sentimental e emotiva,
e não deve ser tensa, artificial e agitada como a vida moderna que se reflete
no modernismo musical.
Concluímos que a música sacra, que deve ter "beleza,
Pág.
58
emoção e poder” (TS, vol.1, pág, 457), atinge melhor seus objetivos se tender
para a atmosfera mental que provocam as músicas do período clássico e do
romântico, e que o modernismo musical favorece a um clima de tensão, angústia,
suspense, agitação e desequilíbrio que é estranho à religião e ao culto,
embora possa ser normal nos festivais pop, ou de rockeiros.
Hinos
(endereçados normalmente a Deus) e cânticos evangélicos (dirigidos aos
semelhantes), em suas várias formas, são considerados como a Música Sacra que
a Igreja usa quando canta.
Cantar não é pôr apenas uma roupa bonita e atrativa nas palavras e sim, unir
duas maneiras de expressão, casando linguagem falada com linguagem musical,
polarizando, duplicando ou multiplicando o poder de penetração.
Neste
casamento, tanto as palavras como a música tem seu caráter, e a Música Vocal
Sacra é aquela que une palavras sagradas com música sagrada inspirada por
Deus. Este é um casamento feliz, pois as duas linguagens atuam num mesmo
sentido para o bem.
É
necessária uma análise do caráter da música e das palavras para determinar se
é música sacra ou não. O rótulo de XAROPE num frasco contendo veneno não
mudará o caráter nem os efeitos do conteúdo. E mesmo que se misture xarope com
veneno, ainda assim a mistura será venenosa. O efeito desta mistura do bem com
o mal sobre as pessoas é o mesmo que teve sobre Adão e Eva: torna a mente
“confusa, e entorpecidas suas faculdades mentais e espirituais” (Ed.25).
Uma
vez obscurecido o discernimento, as pessoas nem percebem mais que as palavras
religiosas ao serem cantadas não trarão beneficio espiritual se vierem
associadas com música popular.
A
herança de Laodicéia em sua música sacra é a do protestantismo - formas
musicais dentro do gênero erudito. É música sacra da cultura européia, da
civilização ocidental. Deus achou por bem que Laodicéia nascesse com esta
herança porque, evidentemente, achava que era a melhor que havia. O paganismo
e misticismo orientais com sua música de escalas pentatônicas; os elementos
rítmicos e melódicos que deitam suas raízes no poluente paganismo africano; as
escalas e ritmos usados pelos amerígenas em suas reuniões festivas e danças, a
tonalidade árabe com seus quartos de tom, não oferecem contribuição alguma que
seja melhor, ou de proveito, para a herança
Pág.
59
que
Laodicéia tem. Assim, se estas culturas forem absorvendo dentro de Laodicéia a
sua própria herança, estarão crescendo, subindo, elevando seu nível
espiritual, chegando ao melhor.
O que
Laodicéia não pode fazer é, sob pretexto de culturas diferentes, querer
absorver todo o lixo do paganismo internacional e trazer para a sua
organização mundial os elementos nocivos da música de outras civilizações. O
fato de Deus desejar “que nosso louvor ascenda a Ele levando o cunho de nossa
própria personalidade" (CBV, Pág.80) não justifica que adotemos para nosso uso
na Igreja aqui o que foi, talvez, aceitável para um escravo americano, ou um
havaiano, ou um canibal no sul do Pacifico, ou um indígena asteca. Seria
deliberadamente fechar os olhos às orientações divinas para Laodicéia. E se
alguém, por exemplo, foi “rockeiro”, não pode chegar à igreja e querer
continuar a ser “rockeiro" sob pretexto de que o cunho de sua personalidade é
essa; ou se alguém disser que tem sangue de bugre ou africano, nem por isso
deve dizer que precisa sambar na igreja por ser cunho de sua personalidade.
Caem assim também as tendências e possibilidades para nacionalismos musicais
cristãos. Todos devem comparar suas práticas musicais aos princípios divinos,
como diz a Filosofia Adventista de Música, e não aparecerão problemas maiores.
Entretanto, o que está acontecendo é uma tolerância plácida ao ouvirmos
cantores com microfone na mão, em sons amplificados de sintetizadores, “playbacks”,
guitarras e baterias na marcação de ritmos balanceados que pedem movimento, e
vozes meio assopradas, ou com pigarrinho, quase entoando com voltinhas e
garganteios, em síncopes e descompassos as palavras de alguma mensagem musical
"sacra”, com expressões faciais, sorrizinhos e trejeitos copiados dos grandes
ídolos do momento para “comunicar melhor”...
No
passado o povo de Deus não foi beneficiado com os Aarões “flexíveis servidores
de ocasião” (PP, Pág. 331). Hoje parece que muitos, mesmo pastores, se
acostumaram a conviver com música popular religiosa no lar, na escola e na
igreja. Não querem se indispor com algum compositor ou intérprete bajulados,
temem tornar-se antipáticos aos jovens, a algum administrador, evangelista ou
líder JA “chegadinho ao pop”; às vezes não sabem, não conhecem e acabam também
desenvolvendo o gosto e se esquecem da responsabilidade.
É,
porém, dever de quem lidera saber que música é aceitável
Pág.
60
e
qual não; jamais diminuir a importância do assunto; entender que o gosto nem
sempre é guia seguro; e, sobretudo, saber que “pais cristãos e lideres da
igreja prestam um grande desserviço aos jovens quando obscurecem a distinção
entre a música aceitável e a não aceitável, e toleram uma baixa qualidade de
música e apresentação dentro do contexto da igreja, 'a fim de manter os jovens
na Igreja!'"
“A
igreja nunca presta um serviço ao pecador comprometendo-se com o mundo. É
melhor que os não regenerados permaneçam fora da igreja até que se submetam
aos princípios da igreja, do que ela se tornar semelhante ao mundo, alistando
como membros aqueles que desejam trazer suas normas, seus costumes e gostos” (Kenneth
H. Wood, Editorial da RH, de 20/01/72).
Em
matéria de música sacra, não se trata de ser conservador ou liberal. É questão
de princípios e de discernimento para não se confundir leve com trivial,
alegre com vulgar, animado com excitante, sacro com popular, manter a linha
com não ter linha nenhuma, liberdade cristã com libertinagem existencialista
na derrubada de todos os padrões e princípios estabelecidos, que permeia a
música popular e a vida de seus produtores.
Poderíamos aqui propor uma série de interrogações para que cada qual pensasse
e decidisse se tal e tal música lhe traria benefícios espirituais e Ihe
elevaria e enobreceria a caráter, Como fez o Prof. Gerson P. de Araújo em seu
artigo “Fogo Estranho Diante do Altar” (RA, Fev. de 89). Acontece, porém, que
este tipo de teste só funciona para quem tem discernimento. Para alguém
viciado em música pop, o assunto se torna a tal ponto subjetivo que, mesmo que
aconteça o contrário, o indivíduo dirá que Ihe faz bem porque gosta ou lhe
agrada, como fazem certos fumantes e alcoólatras que “afirmam e provam” que
para eles nunca fez nem fará mal o tabaco ou o álcool! O mais difícil sempre é
despertar no ser humano o desejo de se corrigir, ou mesmo convencê-lo de que
precisa de correção.
O
mundo tem apresentado inovações tão surpreendentes que uma geração não entende
a anterior, nem a seguinte. Falam linguagens diferentes. Por isso é que parece
difícil para um jovem compreender hoje que, para alguém que era jovem há vinte
ou trinta anos, é impossível adorar a Deus quando em presença da tal “música
evangélica contemporânea”, caracterizada por um ritmo popular que
Pág.
61
naquele tempo era “swing”, "fox trot” e tantos outros ritmos por ele
considerados como satânicos para as danças sensuais da época. O que os
pentecostais, neopentecostais, católicos e protestantes estão produzindo e
praticando em suas reuniões não nos serve de modelo. Satanás reivindica a
música evangélica contemporânea (vide RA de 08/ 84 - Editorial).
Sabemos que toda boa música, inclusive a secular que seja dom perfeito como
arte, desce do “Pai das Luzes” (Tiago 1:17), e se torna muito útil para
desenvolvimento e formação, bem como educação do gosto. O que nos faz bem,
como dieta musical durante a semana, nos ajuda a apreciar e utilizar a música
sacra em nossa adoração e nas horas sagradas do Sábado. Esta dieta, porém,
está na música erudita, e nunca na popular.
Deus
sempre fez diferença entre o sacro e o profano, e deixou, como já vimos,
orientações para que Sua Igreja o pudesse fazer também. Onde está então o
problema? Será que ainda existem pessoas se iludindo com a idéia de
“conservar” alguém na igreja, deixando-o praticar livremente música popular na
própria igreja? Perdido dentro com a sensação de estar salvo é muito pior do
que saber que está perdido fora por não querer entrar, afora o risco de
influenciar aos de dentro também para a perdição.
É
triste ver principalmente os jovens ávidos em busca de algum material novo,
formando pastas com “xerox” dos quatro cantos do mundo, tudo no estilo
“country”, “tender rock”, “spiritual”, tudo musica popular religiosa;
compositores nacionais e estrangeiros se esmerando em introduzir a “pimenta”
do ritmo quente como tempero da dieta musical jovem; e, pior do que isto, os
arranjadores desvirtuando os grandes hinos da música sacra para torná-las
“música de café”, no dizer de Caldeira Filho, antigo critico musical do maior
jornal brasileiro.
O
resultado ainda mais triste é vermos uma geração se formando acostumada a se
conformar com o nível rasante da música “pop”, sabendo apenas apreciar o vazio
dos corinhos, apresentando perante o mundo, através de seus cânticos,
atestados de pobreza cultural e espiritual. Como dói!
Ah,
Laodicéia, “nem sabes que és desgraçada, e miserável, e pobre, e cega e nua” (Apoc.
3:17).
Haverá solução? Estará
tudo perdido? Graças a Deus, não! Ele é especialista em casos difíceis e há
milhares que ainda não dobraram seus joelhos a Baal!
7. DISCERNIMENTO
|