7. DISCERNIMENTO
Cada moeda apresenta duas faces. Numa delas
normalmente aparece um “figurão”; na outra, o valor da moeda.
Estas
duas faces representam dois pontos de vista diferentes. Quem vê um lado,
normalmente não está vendo o outro. Quem está olhando para a cara da moeda
fica ponderando na importância do individuo, e no que fez para ali estar. Não
esta se preocupando muito com o valor real da moeda. Quem esta olhando a coroa
da moeda se conscientiza do valor que a moeda tem e não está impressionado com
quem esteja por detrás.
Este
fato é uma boa ilustração das práticas e trabalhos religiosos e espirituais.
Pode acontecer que a ênfase e o enfoque recaiam sobre o lado humano, sobre o
ponto de vista humano. Contudo o valor real do que se faz é mais corretamente
avaliado pelo ponto de vista divino. Assim, as duas moedinhas da viúva valiam
mais, à vista de Deus, do que todo o dinheiro dos exibidos.
Jesus
tinha discernimento para distinguir o que tinha valor. Era Sua visão do ponto
de vista divino, que penetrava os intuitos do coração, os motivos e
sentimentos que norteavam as ações, que Lhe dava discernimento. Apenas o
Espírito de Deus pode capacitar os homens a terem esta visão, mas para isto os
homens devem estar dispostos a abandonar seu ponto de vista, se for contrário.
Assim, por exemplo, um obreiro deve estar disposto a abandonar o ponto de
vista humano dos seus relatórios de construções, crescimento numérico,
aquisições materiais, etc., para considerar sua influência real na salvação
das pessoas, que é o ponto de vista divino.
Com a
música na igreja dá-se o mesmo. Apenas tem valor real aquilo que o ponto de
vista divino valoriza. Deus não está olhando tanto para aquilo que faz mais
sucesso entre o povo, nem para o que rende mais dinheiro, nem para o que aos
olhos humanos pareça mais encantador, como para o que é de acordo com Suas
orientações e, por isso mesmo, mais eficaz para a salvação.
Não
é, portanto, suficiente crer que o Espírito Santo esteja inspirando tudo o que
se faz em matéria de música religiosa; se não
Pág.
63
estiver de acordo com as instruções divinas, não será absolutamente resultado
da inspiração do Espírito. É fácil ver, então, que qualquer pessoa que queira
ter discernimento deve procurar conhecer tudo o que for possível da luz que
Deus já derramou, e passar a olhar as coisas como Deus as olha. O Espírito de
Deus guiará a toda a verdade estas pessoas bem intencionadas.
Passou muita da hora de, como Igreja e indivíduos, humilharmo-nos diante de
Deus, rogando Seu colírio para aclarar nossa visão obscurecida.
No
capítulo V já ficou bem claro que a crise de discernimento que ocasiona esta
situação caótica da música em muitas igrejas e lares é o desinteresse nas
orientações divinas e a persistência em seguir os padrões mundanos.
Entretanto, para as pessoas que podem entender termos técnicos musicais,
queremos transcrever o que certa comissão de professores de música nos Estados
Unidos da América propôs como características de música rica, apropriada para
alcançar os objetivos da música sacra, e características da música pobre,
deficiente, inadequada. Observe-se que são duas tendências; uma buscando a
excelência, outra se acomodando ao rastejamento. Estes itens estamos extraindo
de um bom trabalho elaborado pelos professores Jessé e Jenise Torres: “Música
na Igreja.”
Musica rica e adequada:
A
-
Características harmônicas:
1. Mudança freqüente da harmonia em cada frase. Muitas vezes duas ou
três mudanças no mesmo compasso.
2. Harmonia diatônica, incluindo somente as alterações cromáticas
necessárias à modulação.
3. Utilização variada de acordes maiores e menores da escala.
4. Usa de harmonias modais como nas adaptações de cantochão.
B
-
Características melódicas e rítmicas:
1. Melodia diatônica, incluindo sons cromáticos apenas quando
necessários à modulação.
2. Predominância no uso de figuras inteiras, isto é, unidades de tempo,
intercaladas ocasionalmente por figuras de maior ou menor duração com
andamento moderado.
3. Repetição freqüente de variações melódicas ou rítmicas
Pág.
64
na
mesma frase.
4. Síncopes raras e, quando ocorrerem, deverão envolver somente tempos
inteiros.
C
-
Características do relacionamento das vozes
1. Uso ocasional de terças e/ou sextas paralelas entre soprano e
contralto, intercaladas freqüentemente com intervalos justos e perfeitos.
2. Boa linha melódica do baixo, utilizando igualmente harmonias maiores
e menores, notas de passagem diatônicas e inversões ocasionais dos acordes.
3. Pelo menos alguma independência melódica e rítmica nas partes
intermediárias.
Musica pobre, deficiente,
inadequada:
A
-
Características harmônicas:
1. Mudança infreqüente da harmonia numa frase, sendo comum menos de uma
mudança por compasso.
2. Harmonias cromáticas como acordes alterados, variações cromáticas do
acorde de sexta, e acordes com acréscimo de sextas com finalidades ornamentais
em vez de modulação.
3. Harmonias deslizantes.
4. Emprego consecutivo de sétimas menores não resolvidas em series, no
sentido das tonalidades claras.
B
-
Características melódicas e rítmicas:
1. Cromatismo melódico como ornamento em vez de modulação.
2. Pequenos desenhos melódicos e rítmicos consecutivos e repetidos com
freqüência na mesma frase.
3. Síncopes freqüentes envolvendo partes de um tempo apenas.
4. Várias figuras curtas, alternando com uma ou mais figuras de maior
valor, repetidas com regularidade.
5. Predominância freqüente na melodia de figuras curtas, pontuadas e/ou
inteiras.
6. Paradas nos tempos ou partes fracas, ou onde a parada não coincide
com a terminação do pensamento musical.
7. Ritmo típico de valsa, isto é, acentuação ternária no
Pág.
65
compasso composto e ternário simples rápido. Frases regulares de quatro
compassos, combinando figuras de dois ou mais tempos e mudança infreqüente da
harmonia na mesma frase.
8. Ritmos rápidos de "fox-trot” e outros binários e quaternários, num
andamento consideravelmente rápido, combinados com figuras de dois ou mais
tempos na melodia e associados à mudança infreqüente da harmonia na mesma
frase.
C
-
Características do relacionamento das vozes
1. Emprego predominante de terças e/ou sextas paralelas entre soprano e
contralto, intercaladas freqüentemente com intervalos aumentados e diminuídos,
sétimas menores, cromáticos ascendentes ou descendentes com intervalos justos
apenas ocasionais.
2. Passagens em solo ou dueto sem estilo de arpejo ou escalas, contra
notas sustentadas nas outras partes ou vozes.
3. Efeitos de eco entre duas ou mais partes. Melodia tipo eco.
A
isto poder-se-ia acrescentar, por exemplo, como características de pobreza
musical, entoar a parte ou estrofe final num tom mais agudo (modular para
semitom ou tom acima), finalizar repetindo a mesma coisa muitas vezes, sumindo
até desaparecer, ou na cadência final a melodia terminar com salto do sexto
para o oitavo grau, etc. que também são, ao lado de tudo o que foi
apresentado, características da música do gênero popular.
Qualquer pessoa que não consiga entender esta linguagem anterior e se envolva
com o trabalho da música na igreja deve reconhecer suas deficiências no
conhecimento de Teoria Musical...
Mas
não importa. Resumindo em linguagem acessível a todos, a análise comparativa
entre estas características revela nada mais, nada menos do que o contraste
entre a música erudita e a popular. E quantos compositores da igreja,
especialmente de setores diretivos em influenciar as massas, estão mergulhados
exatamente no tipo mais deficiente de música, vibrando com o sucesso barato
entre as indefesas vítimas da falta de cultura, explorando-as em vez de
educá-las.
Pág.
66
Que
tremenda responsabilidade assumem estes compositores!
Laodicéia não está preparada para o selamento. “Nem um em vinte”, diz
conhecida expressão do Espírito de Profecia. Deveríamos chorar e prantear
nossa pobreza espiritual, nossa cegueira e falta de discernimento, que
infelizmente pode ser fatal.
Mas
será que só chorar adianta? Prantear soluciona todos os problemas?
Evidentemente não. E necessário agir. Mas em que direção?
É
claro que a iniciativa não pode nem deve partir de um membro isolado. São os
administradores da Organização que devem pôr de lado um pouco sua visão
imediatista de relatórios finais de triênios e qüinqüênios que mostrem
serviço, e se disponham a pensar um pouco mais adiante, a médio e longo prazo.
Que
passos tenderiam a ir solucionando o problema da má qualidade de música nas
igrejas e nos lares? Seria o de pôr um pastor responsável em cada Divisão,
União e Campo para ver se controlam a disseminação do material nocivo? E se
eles próprios não souberem discernir entre o que é aceitável ou não, e, tendo
seu gosto já pervertido, forem "chegadinhos ao pop”? O resultado será ficar na
mesma ou piorar. Seria mais ou menos como colocar um pastor para dirigir um
hospital ou uma indústria. Que falta faz um bom preparo musical nos Seminários
de Teologia!
Uma
vez que o material inferior se dissemina e alastra com muitíssimo mais
facilidade que o bom, a primeira coisa que deve ser vencida é o orgulho e o
egoísmo doentio de quem tem algo de bom, como um repertório exclusivo, com
medo de que se tome “batido”. Se é bom, quanto maior circulação, maior
beneficio trará. Qualquer bom material estará na sepultura enquanto figurar no
repertório exclusivo de um egoísta.
Em
segundo lugar, deveria haver uma espécie de Banco da Boa Música, ou Banco da
Música Sacra, onde não se aceitassem depósitos de música popular nem arremedo
de música, e donde qualquer pessoa bem intencionada tivesse um cartão de
crédito ilimitado para sacar quanta Música Sacra quisesse, assim como é o
Banco das Graças Divinas.
Em
terceiro lugar a prioridade deste material deveria
Pág.
67
obedecer à orientação divina: “O canto não deve ser sempre apresentado por uns
poucos. Tanto quanto possível, deixemos que toda a congregação tome parte” (Test.
VIII, 144), isto é, primeiro o material para a congregação cantar, em segundo
lugar material para corais, em terceiro para conjuntos, quartetos, trios,
duetos, e por último para solos.
Este
é o grande brado que
o Prof. Harold Hannum
dá em seu Iivro
“Let the People Sing” (Review and Herald Publishing Association, Washington,
D. O., 1981).
Enquanto a congregação canta coisa boa, está livre de ser estragada, ouvindo
coisa ruim. Participando teriam maiores benefícios do que sendo meros
espectadores de artistas, como às vezes acontece. O fervor dos tempos iniciais
da Reforma e dos nossos Pioneiros voltaria.
Em
quarto lugar deve-se ter em mente que todo o aprendizado de coisas
profundas requer tempo, paciência, perseverança, conscientização, e criação de
condições, como cursos, gravações, “playbacks” decentes, etc. para facilitar
esta aprendizagem.
Lembro-me bem de que, quando irmãos nossos na África tinham o desejo de
aprender hinos do Cantai ao Senhor, num sábado à tarde reunimos um grupo de
jovens músicos missionários aqui e fizemos uma simples gravação em fita de uma
estrofe ao piano (do que está escrito) como introdução, e a primeira estrofe
cantada a quatro vozes dos primeiros cinqüenta hinos do Hinário. Imagino
nossos queridos irmãos lá ouvindo atentos muitas vezes à gravação do trecho
até começarem a cantar junto, seguindo para as outras estrofes. Logo um hino
sacro a mais, de boa constituição, seria incorporado ao repertório conhecido e
usado por uma pequena congregação num ponto longínquo do globo!
Por
que não se faz isso quando um bom hinário é lançado? Por que sempre o que não
presta toma a dianteira, enquanto que timidamente o bem se acomoda? Quantas
congregações não aprenderiam mais hinos se houvesse uma gravação do Hinário
para ouvir? Por que a iniciativa deveria ser particular? Por que não se
orienta a cada Pastor para que se utilize dos elementos capazes da igreja num
serviço de cânticos programado através do ano, com hinos da semana ou do mês
para o aprendizado, como sugeriu a Dr. Gerson G. Damaceno? Em poucos anos
todas as igrejas poderiam usar todos os hinos de um hinário.
Pág.
68
Acredito que Satanás, conhecendo o potencial que a música tem, procura obstar
o avanço da música sacra na salvação do Homem com um clima de hostilidade para
quem trabalha com discernimento, e com uma enxurrada de material que ele
próprio inspira para causar confusão. Assim Laodicéia acaba sendo o que é -
emblema de presunçosa mornidão, embalada, por vezes, com a moderna música
fenícia.
Enfim, Deus tem a
solução para o grande problema da falta de discernimento. Basta demonstrarmos
interesse em aceitar as Suas instruções.
8. HINÁRIOS
|