Editor da Adventist Review Opina Sobre o Filme de Mel Gibson

Os Sofrimentos de Jesus
Reflexões Sobre A Paixão de Cristo

Por William G. Johnsson

Enquanto escrevo, em meados de fevereiro, a mídia está fervendo de comentários acerca do novo filme de Mel Gibson, "A Paixão de Cristo". A Adventist Review não se sente compelida a comentar qualquer evento que apareça na mídia. Contudo, este filme, devido ao seu tema e a polêmica que está levantando, é diferente.

O filme foi planejado para ser lançado em 25 de fevereiro, que é a quarta-feira de cinzas e o tradicional início do período santo da Páscoa. Mas muito antes desta data ele já marcou a história do marketing, através das vendas antecipadas de ingressos, que chegaram a 30.000 por dia.

Grupos e líderes evangélicos tem apoiado entusiasticamente o filme. "Freqüentemente tenho me perguntado como teria sido ser um transeunte presente durante aquelas últimas horas antes da morte de Jesus,"disse Billy Graham. "Depois de assistir 'A Paixão de Cristo', sinto-me como se tivesse estado realmente lá."

A National Religious Broadcasters, uma organização evangélica, apresentou uma sessão antecipada do filme em sua convenção anual, ocorrida  nos dias 13 - 18 de fevereiro em Charlotte, Carolina do Norte, com uma multidão de 6.000 pessoas na platéia.

A revista Focus on the Family, dirigida por James Dobson, publicou uma entrevista altamente positiva com Mel Gibson. Nela, Gibson falou sobre sentir algo como uma missão divina para realizar este filme, e falou sobre pessoas que trabalhavam no estúdio sendo convertidas. A revista Newsweek na sua reportagem de capa de 16 de fevereiro de 2004 cita Mel Gibson dizendo: "O Espírito Santo estava operando através de mim neste filme." Alguns adventistas viram o filme em algumas das muitas sessões antecipadas. Eles estão chamando o filme de a mais poderosa visão que jamais experimentaram.

Eu não vi o filme. Não critico quem tenha visto, mas não pretendo vê-lo. Digo porque.

Todos os relatos descrevem o filme como sendo impressionantemente gráfico. Mel Gibsom estrelou em filmes violentos: agora ele fez o seu mais violento filme. O artigo da Newsweek descreve a violência deste filme, classificado como R (NT- A classificação mais restritiva para filmes violentos nos EUA), como sendo "a princípio chocante, depois estupidificante."

Eu detesto violência e não suporto assistir cenas de violência. Não tenho necessidade de ver este filme.

Segundo, o filme oferece a interpretação de Mel Gibson sobre a Paixão. A reportagem de capa da Newsweek apontou vários lugares onde o filme se afasta dos relatos dos Evangelhos. Por exemplo, Gibson mostra Maria Madalena tentando pedir ajuda aos soldados romanos quando Jesus é levado para ser julgado pelos sacerdotes. Você não vai encontrar isto na Bíblia. Além de tais discrepâncias, a questão do significado do evento está, inevitavelmente, nas mãos de Gibson.

Prefiro deixar que Mateus, Marcos, Lucas e João interpretem os sofrimentos e a morte de Jesus para mim. Seus relatos sucintamente específicos, listando os detalhes sinistros e deixando a cargo do Espírito Santo falar à imaginação do leitor, preenchendo os espaços vazios.

Mas também quero expressar a minha esperança e oração por este filme - que ele possa levar muitos a uma nova, ou renovada, apreciação pelos sofrimentos de Jesus. Jesus morreu uma morte violenta. Ele foi executado! Seus sofrimentos foram torturantes, mais torturantes do que qualquer diretor de cinema poderia retratar, porque Ele suportou não apenas um extremo abuso físico, mas também um terrível peso da solidão espiritual.

Nós que temos sido cristãos por um longo tempo, temos ouvido o relato da Paixão vez após vez e nos esquecemos facilmente de sua sórdida realidade humana. Aqueles que foram criados na igreja normalmente consideram a "velha, velha história" de uma forma demasiadamente leviana. Se o filme de Gibson sacudir estes cristãos complacentes, servirá a um nobre propósito.

O filme tem sido polêmico desde seu início. Aplaudido pelos evangélicos e sancionado pelo Vaticano, ele tem sido castigado por grupos judaicos e a imprensa em geral por seu visível anti-semitismo. No decorrer dos séculos os judeus tem sofrido terrivelmente nas mãos de cristãos que os rotulam como "assassinos de Cristo". Críticos do filme temem que ele desperte estes sentimentos deploráveis.

Os fatos históricos são claros: Jesus foi crucificado - o método romano de execução. Uma multidão judaica incitada pelos líderes pediu pelo Seu sangue, mas apenas o governador romano poderia assinar o mandato de execução.

Finalmente, contudo, a questão vai além dos judeus e dos romanos. Todos nós estamos envolvidos na Paixão. Nossos pecados - os meus e os seus - pregaram Jesus na cruz.

Este é o ponto acima de todos os outros que eu gostaria que os espectadores tirassem de "A Paixão de Cristo". -- William G. Johnsson é o editor da Adventist Review

Fonte: http://www.adventistreview.org/2004-1508/story5.html

Leia também:

Retornar

Para entrar em contato conosco, utilize este e-mail: adventistas@adventistas.com