Comentários Adicionais da Lição 2, de 12/04/2003

 

O Perdão na Bíblia Hebraica

O ensino central da lição desta semana é o perdão, tal como é apresentado pelo Antigo Testamento. Ao longo de todo o trimestre são enfatizadas a bondade, a graça e a misericórdia de Deus por nós, em Sua amável disposição de perdoar o pecador. E assim é que também nós devemos perdoar a quem nos ofende. O perdão divino é um conceito maravilhoso. Sem ele todos nós estaríamos perdidos. Nos parece maravilhoso que se enfatizasse do mesmo modo o custo desse perdão divino. Será que Deus pode simplesmente declarar que o pecador, que transgrediu a Sua santa lei, seja perdoado devido porque confessou o seu pecado?

A "Bíblia hebraica" (o Antigo Testamento) esclarece categórica e insistentemente que a base para todo perdão ou expiação é o derramamento de sangue (Levítico 17:11): "porque a vida da carne está sangue; pelo que Eu vo-lo tenho dado sobre o altar, para fazer expiação pelas vossas almas; porquanto é o sangue que fará expiação pela alma". A hipótese de que Deus, devido à bondade do Seu coração, perdoa o transgressor da Sua lei através de uma simples proclamação divina, é estranha à Bíblia. Essa idéia, conhecida como a "teoria da influência moral", ou "teoria do exemplo", foi proposta por Pedro Abelardo na primeira metade do século XII, e vem sendo promovida em maior ou menor grau até o dia de hoje. Embora a Lição da Escola Sabatina não sugira nada parecido com isso, alguém poderia ter pensamentos que lembram essa idéia. Visto que a lição não condena essa teoria, poderia dar espaço (não por culpa da própria lição) para uma compreensão superficial do equilíbrio entre a graça de Deus e a Sua justiça. É a perfeita compreensão da Sua misericórdia e da Sua justiça, tal como exposto pelo Antigo Testamento, o que pode nos fazer entender corretamente Sua graça e perdão.

O derramamento de sangue e a expiação estão em íntima conexão com o perdão divino. O Antigo Testamento está impregnado da relação entre o sangue e o perdão, segundo o sólido padrão de adoração apresentado em toda a Bíblia. Abel ofereceu um melhor sacrifício (com derramamento de sangue) do que Caim. Noé, Abraão, Isaque e Jacó, todos eles adoraram trazendo sacrifícios de sangue, e acharam perdão por meio do Cordeiro que foi imolado desde o começo do mundo. O que Deus desejava não era ver correr o sangue de bezerros e ovelhas, mas sim o "espírito quebrantado", o "coração quebrantado e contrito" ou "contrito e humilde" (Salmo 51:17) resultantes de contemplar o Cordeiro de Deus simbolizado naqueles sacrifícios. Assim é que Davi achou perdão –como descreve o Salmo 51-, e o Senhor disse dele que era "um varão conforme o Meu coração".

O perdão ou justificação requer a destruição do pecado e da morte da raça humana em que mora o pecado. Ensina a Bíblia a expiação baseada na substituição? "O Senhor fez cair sobre Ele a iniqüidade de nós todos. ... Pela transgressão do Meu povo foi Ele foi atingido. ... quando a Sua alma se puser por expiação do pecado, verá a Sua posteridade, prolongará os Seus dias... com o Seu conhecimento o Meu servo, o Justo, justificará a muitos; porque as iniqüidades deles levará sobre Si. ... Ele levou sobre Si o pecado de muitos, e intercedeu pelos transgressores" (Isaías 53:6, 8, 10-12).

O Antigo e o Novo Testamento estão em perfeita harmonia. Também este último ensina a necessidade de uma expiação de caráter substitutivo. "Se um morreu por todos, logo todos morreram" (II Coríntios 5:14). Somente em virtude da encarnação de Cristo, quando o Filho de Deus "tomou sobre Sua natureza [divina] sem pecado a nossa natureza [humana] pecaminosa" (Ellen G. White, Medicina e Salvação, pág. 181), podia cumprir uma perfeita expiação substitutiva. A nossa humanidade caída -levada pelo Filho de Deus- morreu na cruz, obtendo assim um perfeito perdão em favor da humanidade.

Tal como afirma a lição de domingo, Deus "está disposto a perdoar uma e outra vez (depois de tudo, pecamos uma e outra vez)". Mas recordemos que a palavra hebréia kapar significa expiar, perdoar, reconciliar. De igual forma, nasah significa, não somente carregar ou levar, mas também tomar e tirar. A idéia de perdão significa que tanto Deus como o próprio pecador, odeiam e desprezam o pecado.

Uma das ilustrações mais interessantes sobre o perdão na "Bíblia hebraica", é a história de Oséias e sua esposa adúltera (Oséias 1 e 2), que nos fala do chamado de Cristo à Sua igreja na mensagem a Laodicéia: uma chamada a aceitar o Seu perdão, comprado a tão infinito preço: "Sê pois zeloso, e arrepende-te" (Apocalipse 3:19).

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