Queixas de um Pastor Corporativo

Nota do Editor

Elizeu Lira é um velho amigo, amigo de verdade, como Antônio Braga e vários outros de cuja amizade e compreensão ainda partilho, graças a Deus. Pastores que, embora profissionalmente ligados a uma Organização que questionamos aqui no site por diferentes motivos, ainda conseguem visualizar Deus conduzindo soberanamente todas as coisas, apesar de todas as nossas trapalhadas como leigos e oficiais.

Elizeu Lira conhece toda a minha história e ainda assim permanece meu amigo, imagine! Com gente assim, dá gosto trocar idéias. Para gente assim, convém dar espaço sempre, embora ele já tenha os púlpitos das igrejas que pastoreia e as revistas da CPB para expor seu ponto de vista e até nos atacar, como fazem muitos de seus colegas pelo Brasil afora.

De qualquer modo, peço a atenção de todos para este desabafo de um "pastor corporativo" em busca de diálogo. Embora ligeiramente equivocado quanto a alguns detalhes, Elizeu Lira não nos procura pressionar, ameaçar ou intimidar. Diz apenas o que pensa, como nós também fazemos aqui.

Está equivocado quanto à identificação deste site com os vários ramos de um "movimento leigo" que explode descontroladamente por toda a América do Sul, ao qual não representamos nem pretendemos ou estamos autorizados a representar, seja parcial ou totalmente. É bom deixar isso bem claro.

Um site que sabemos estar oficialmente ligado a uma das correntes do chamado movimento leigo é o www.adventistasleigos.com (ABA-Lei). Outro é o www.adventistas-bereanos.com.br, de irmão unitarianos do Rio de Janeiro. Mas há muitos outros sites de diferentes grupos e muitos grupos que ainda não estão na internet. 

Aqui no Adventistas.Com, apenas publicamos artigos de irmãos leigos, que conosco colaboram através de e-mails. Mas não enviamos "missionários", nem patrocinamos ou incentivamos incursões "missionárias" aos territórios da Organização. Até porque discordamos de alguns posicionamentos de irmãos leigos mais ousados e chegamos a sugerir já faz algum tempo, com base na Bíblia, qual deveria ser o comportamento leigo nos espaços da Corporação.

Como ia dizendo, leia com atenção o que diz o Pastor Elizeu Lira, de quem continuarei amigo, apesar de tudo o que ele escreveu aí embaixo:

“Em verdade, em verdade vos digo: o que não entra pela porta no aprisco das ovelhas, mas sobe por outra parte, esse é ladrão e salteador. Aquele, porém, que entra pela porta, esse é o pastor das ovelhas. ... Eu Sou a porta. Se alguém entrar por Mim, será salvo; entrará, e sairá, e achará pastagem. O ladrão vem somente para roubar, matar e destruir; Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância. Eu Sou o bom Pastor. O bom pastor dá a vida pelas ovelhas. O mercenário, que não é pastor, a quem não pertencem as ovelhas, vê vir o lobo, abandona as ovelhas e foge, então, o lobo as arrebata e dispersa. O mercenário foge, porque é mercenário e não tem cuidado com as ovelhas. Eu Sou o bom Pastor; conheço as Minhas ovelhas, e elas Me conhecem a Mim” (João 10:1-2, 9-14).

“Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a Igreja de Deus, a qual Ele comprou com o Seu próprio sangue. Eu sei que, depois da minha partida, entre vós penetrarão lobos vorazes, que não pouparão o rebanho. E que, dentre vós mesmos, se levantarão homens falando cousas pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles” (Atos 20:28-30).

Em primeiro lugar, devo dizer que conheço o Ermelino Robson L. Ramos – este é o nome completo daquele que foi um dos mais jovens e, certamente, um dos mais criativos redatores da Casa Publicadora Brasileira – há vários anos. Ocupei, também, esse mesmo posto durante cinco anos e, quando lá estive, ouvi muitas histórias – a maioria boas e interessantes – acerca da presença e do trabalho de Ermelino na referida editora.

Devo dizer, também, que, sem dissimulações ou “malabarismos éticos”, me alinho entre os poucos, daquelas centenas de pastores que freqüentam este site “não oficial”, que assumem publicamente esta prática. E, via de regra, não concordando com tudo o que é publicado aqui, no entanto reconheço a força deste veículo de comunicação – já tendo, inclusive, alcançado benefícios para terceiros através deste espaço (caso da “menina especial” que teria que abandonar uma Escola Adventista por falta de recursos financeiros). Ao mesmo tempo, louvo a isenção jornalística do seu editor, Ermelino Robson L. Ramos, o que me dá a segurança de que, mais esta vez, o que vou enviar será publicado integralmente – sem cortes ou adições – mesmo que contrarie textos e posições defendidas aqui diariamente pelo editor e seus associados.

A questão em pauta é que, como é do conhecimento de muitos, sou um dos chamados pastores “corporativos” (eta nomezinho simpático, hein!?) Embora só tenha me sentido “corporativo”, na acepção do termo, quando trabalhei, de verdade, em grandes corporações, mega-empresas, antes de ir fazer teologia, eu digo com grande satisfação e, admito, uma pitada de orgulho sentir-me feliz com o privilégio que o Sumo Pastor me concede de servi-Lo trabalhando nesta Igreja que “Fraca e defeituosa como possa parecer”, ... “é o único objeto sobre que Deus concede em sentido especial Sua suprema atenção” (Atos dos Apóstolos, pág. 12).

Sou fruto de um lar cristão, adventista do sétimo dia. Naquela época, durante a minha infância, o termo “corporação” nem era conhecido; nós cantávamos a plenos pulmões e com toda a inspiração: “Oh santa fé dos nossos pais, vem inspirar os ideais!” [detalhe: Com emoção e convicção e com uma letra não tão árida e elitizada como a maioria do atual hinário].

É interessante dizer, também, que naquela época os membros fiéis jamais admitiriam que alguém chamasse a sua amada igreja de “Babilônia” e se referissem a ela em outros termos pejorativos; embora, é lógico, soubessem que ela, com a sua rápida expansão e com o alto risco da auto-suficiência (Apocalipse 3:17), necessitaria da forte e contínua repreensão para voltar ao seu estágio de simplicidade, santidade, abnegação e pureza iniciais (Apocalipse 3:18-21).

Sem fugir ao “toque nostálgico”, e na esperança-certeza de que esta condição original da Igreja será readquirida nos momentos finais da História, reporto-me a um outro aspecto bastante implementado naquela época e, por vezes, mencionado e/ou aludido aqui neste site: o questionamento às táticas ou estratégias usadas por reformistas e outros grupos religiosos que dissimulam as suas ações e/ou mascaram as suas intenções (sem eufemismos, são lobos travestidos de ovelhas – o que não significa, por sua vez, que não haja milhares de sinceros nestes grupos).

Ora, nós sempre execramos este tipo de comportamento. Até a simples, e por vezes infeliz, atitude do conferencista que pede aos membros que “não digam que são membros da Igreja Adventista do Sétimo Dia”, que “não levem bíblias ou hinários”, “não se vistam com roupas igrejeiras”, etc e etc, é, com bastante propriedade, condenada (inclusive aqui, neste site).

Tudo isso porque acreditamos que a verdade é para toda hora. “Porque nada podemos contra a verdade, senão em favor da própria verdade” (II Coríntios 13:8). “... estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós” (I Pedro 3:15).  [A Bíblia condena veementemente todo tipo de dissimulação: Ver Gálatas 2:11-14]

Face ao que foi exposto, a minha pergunta é: Como explicar que os líderes e “missionários” de um movimento que se pretende reformar a IASD – a cognominada “corporação” – trabalhe em cima dessas infames táticas de dissimulação? Como explicar que, vindo “evangelizar” os “apostatados adventistas”, esses valorosos  “missionários” leigos ajam de forma infame como salteadores, na calada da noite? Como explicar que os referidos “missionários” fujam dos pastores distritais e evitem qualquer contato com estes?

Isso não configuraria entrar por “outra porta”, usando métodos e/ou estratégias que o Senhor Jesus não usou e, mais do que isso, abomina? Se o Espírito de Profecia, que esses “sabichões” dizem conhecer tanto (tem alguns desse grupo aqui no ES alardeando que “os pastores não sabem nada”; logo, quem sabe “tudo” são eles), afirma que as reformas na IASD devem começar pelo ministério, com os pastores “corporativos” (taí ... gostei desse nomezinho!), como é que fica essa discriminação dos vossos “missionários” que estão me passando por alto e, certamente, deixando de lado milhares de outros pastores “corporativos” e, espertamente, indo direto ao aprisco, às indefesas “ovelhas”?  

Outra coisa, se a Palavra de Deus orienta: “Não por força nem por violência, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos” (Zacarias 4:6 u.p.), como explicar que um dos vossos “missionários”, um tal de sr. Jardel, tenha vindo para “evangelizar” na marra os “apostatados adventistas”, membros da “corporação”, com ameaças e intimidações?

Ora, esse sr. está aqui na minha região de trabalho a vários dias. Não sei se ele é alto ou baixo, magro ou gordo, careca ou cabeludo pois, até o presente instante enquanto escrevo, ele jamais me procurou para expor seu “trabalho” e intenções. O que sei (segundo informações da sua sogra, uma mulher cristã e equilibrada que não compactua das suas idéias e métodos nada convencionais) é que ele, antes de chegar a esta cidade, havia feito as seguintes ameaças: “Estou indo aí para pregar nas igrejas do Distrito de Jardim América”, onde eu pastoreio, “e, se não me deixarem pregar, eu vou visitar os membros de casa em casa”.

Tentar cumprir as suas bravatas e ameaças, ele bem que tentou; mas, felizmente, não as cumpriu (ao menos no distrito onde atuo). Não pregou (os anciãos e membros de Jardim América aplicam criteriosamente I Coríntios 14:30, quando ao uso do púlpito e às demais atividades da Igreja). Quanto eu saiba, não visitou ninguém – os membros do distrito rejeitaram esse tipo de visita respaldada em ameaças e intimidações (aplicaram, sabiamente, textos tais como: I Coríntios 11:16, II João 9-11).

Olha, quero finalizar dizendo que sei – esta é a minha forma sincera de pensar – que há neste movimento de leigos muitas pessoas sinceras e bem-intencionadas (quero crer que a maioria). Não compartilho das suas idéias (muitas delas) e dos seus métodos (a maneira de implementar as idéias – mesmo as boas – que é formando uma 8a Igreja: Pós-Laodicéia), no entanto, compartilho do seu ideal que, aliás, é o ideal divino: “Para a apresentar a Si mesmo Igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem cousa semelhante, porém santa e sem defeito” (Efésios 5:27).

Para isso trabalho diuturnamente (quem me conhece, sabe que isso é verdade), visitando as famílias do meu distrito, orientando, aconselhando, advertindo, pregando e treinando membros e líderes. Faço o meu trabalho, com critério, respeitando e sendo respeitado por aqueles com quem entro em contato. Por isso, creio que vale a pena sempre enfatizar a idéia de que devemos nos respeitar e “brigar” apenas no campo das idéias. Perdoem-me o “espírito brincalhão” (às vezes, até com uma pitada de sarcasmo), mas, quem me conhece sabe que nunca me neguei a receber e conversar com quem quer que seja – faz parte do estilo cristão de ser (I Tessalonicenses 5:21). Aceitar e concordar com tudo é outra estória;  como dizem, “outros 500”.

Agora, é bom sempre lembrar o que dizia o gênio conhecido como Wiliam Shakespeare: “É mais fácil obter o que se deseja com um sorriso do que à ponta da espada”. Creio que os “missionários” que vocês estão enviando para trabalhar junto aos “apostatados” e corporativos adventistas deveriam levar isso em conta. Chega de intimidações!!! Chega de ameaças e de maneiras ilegítimas de se chegar ao “rebanho” que não passem pela “Porta”, que é Cristo, e não respeitem o caminho correto para o “aprisco”!!!

Permitam-me, finalizando esta minha carta-desabafo, reproduzir um pequeno trecho de um de meus sermões, intitulado O Desafio de Continuar no Barco: “Queridos irmãos, a Igreja tem problemas – que são os nossos problemas! A Igreja tem defeitos – que são os nossos defeitos! A Igreja tem fraquezas – que são as nossas fraquezas! A Igreja tem incompreensões – que são as nossas incompreensões!

A Igreja, também, tem injustiças – que são as nossas injustiças! [Tanto aquelas que cometemos, atos, como as que carregamos conosco: o nosso estado pecaminoso]. Jamais percamos isso de vista; senão vamos, em algum momento, cair em desânimo e fracasso.

Olha, nós não cremos na infalibilidade da Igreja! Nós não cremos na infalibilidade dos membros desta Igreja! Nós não cremos na infalibilidade dos líderes desta Igreja, em quaisquer um dos seus níveis (mesmo a Associação Geral)! Mas, graças a Deus, nós cremos na infalibilidade divina! Cremos que Deus dirige esta Igreja! E, como lemos no livro Caminho Para Cristo: “Deus é muito sábio para errar, e bom demais para reter qualquer benefício dos que andam sinceramente” (pág. 96). Deus não erra! Portanto, confiemos na Sua sábia direção e aceitemos, pela fé, a certeza que Ele nos dá de que, em breve, estaremos chegando ao nosso destino final, ao Porto Seguro”.

Um abraço, do vosso irmão em Cristo.

Pr. Elizeu C. Lira

Ps.: Por coincidência, eu já havia preparado este texto quando a secretária da Ig. Central de Jardim América me telefonou ontem (13 de agosto) por volta das 11h e me disse que o sr. Jardel, devido a uma antiga amizade, a vinha atazanando com a idéia de dar um estudo para ela sobre as “coisas novas que ele aprendeu” (ela sempre recusando e ele dizendo que ela “estava com medo”). Após este “assédio doutrinário” (ligando para a casa dela, trabalho, celular, etc.) e ela ter lhe falado inúmeras vezes para procurar-me e, então, pelas vias normais ter acesso à igreja e respectivos membros, o sr. Jardel aquiesceu à idéia e, por meio da irmã Renata, solicitou então um encontro comigo.

Informo ainda, a bem da verdade, que caso o sr. Jardel tivesse manifesto esse interesse (ao invés das ameaças e intimidações iniciais) desde o princípio, nós já teríamos conversado a vários dias e todo esse mal-estar e constrangimentos jamais teriam ocorrido. Por ser esta uma semana de agenda lotada – inúmeros compromissos, visitas, comissões de igreja, preparativos para uma série de conferências que vai iniciar neste domingo próximo – expliquei para a irmã secretária que não será possível por estes quatro dias, mas, eu lhe disse que, com certeza, vamos agendar esta conversa amigável para meados/fim da próxima semana.

Tivemos, como fruto de dois outros trabalhos evangelísticos realizados em nosso distrito a cerca de dois meses, várias conversões maravilhosas. Peço aos amigos e irmãos que orem, agora, por mais esta série que vamos dirigir, desta vez, no bairro Bela Aurora. Desde já, obrigado pelas vossas orações. -- Pr. Elizeu C. Lira


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