Pedras
Clamam: "Seu Nome Era YESHUA!"
Uma câmara mortuária de calcário, de
quase 2.000 anos, pode ser o mais antigo registro arqueológico de Jesus de
Nazaré. O ossuário data de 63 d.C. e tem uma inscrição em aramaico que diz: "Ya'akov
bar Yosef akhui diYeshua" (Tiago, filho de José, irmão de Jesus). Este pode ser
o artefato mais antigo já encontrado relacionado à existência de Jesus, segundo
uma análise da inscrição publicada nesta semana pela revista Biblical
Archaeology Review.
Pesquisadores afirmam ter encontrado ossário do irmão de
Jesus
John Noble Wilford
The New York Times
Uma inscrição em pedra, encontrada perto de Jerusalém em uma língua e escrita de
2 mil anos atrás, traz a frase "Tiago, filho de José, irmão de Jesus".
Este pode ser o artefato mais antigo já encontrado relacionado à existência de
Jesus, concluiu um estudioso francês em uma análise da inscrição que será
publicada nesta semana na revista Biblical Archaeology Review.
Se a inscrição for autêntica e se referir à Jesus de Nazaré, ela será a
documentação mais antiga conhecida de Jesus fora da Bíblia. A revista, que
anunciou a descoberta na segunda-feira, a está promovendo como a "descoberta
arqueológica mais antiga para corroborar as referências bíblicas a Jesus".
Outros estudiosos estão reagindo com cautela, considerando o achado importante e
instigante, mas dizendo que provavelmente será impossível confirmar um elo
definitivo entre a inscrição e qualquer uma das figuras centrais da fundação do
cristianismo.
Fraude não pode
ser descartada, eles disseram, apesar do estilo cursivo da escrita e um exame
microscópico da superfície gravada parecer diminuir as suspeitas. Uma
investigação da Pesquisa Geológica de Israel não encontrou nenhuma evidência de
pigmentos modernos, marcas de instrumentos de corte modernos ou outros sinais de
falsificação.
Estudiosos bíblicos disseram em entrevistas que a evidência circunstancial
apoiando uma ligação com Jesus é possivelmente forte, mas ainda assim
circunstancial.
Apesar de Tiago (Jacó ou Ya'akov), José (Yosef) e Jesus (Yeshua) serem nomes
comuns daquela época e local, notaram vários estudiosos, seria altamente
improvável eles aparecerem na combinação e ordem de parentesco encontrada na
inscrição.
As palavras, em
aramaico, "Ya'akov bar Yosef akhui diYeshua", foram gravadas em uma caixa
fúnebre de calcário de 51 centímetros de comprimento, conhecida como ossário,
que presumivelmente já conteve os ossos de um homem chamado Jacó, que morreu no
primeiro século d.C.
Várias vezes o Novo Testamento menciona que Jesus tinha um irmão chamado Tiago,
que se tornou líder da nascente comunidade cristã em Jerusalém após a
crucificação. Esse Tiago foi o primeiro dos apóstolos ao qual Jesus ressuscitado
supostamente apareceu. O historiador judeu do primeiro século, Josephus,
registrou que Tiago foi executado por apedrejamento por volta de 63 d.C.
Este Tiago poderia ser um dos muitos Tiagos. Mas o restante da inscrição
estreita significativamente as possibilidades. Primeiro, de acordo com a prática
comum, seu pai foi identificado, neste caso um José.
Mas raramente o irmão do morto seria acrescentado na inscrição, a menos que o
irmão fosse proeminente. Tiago, o apóstolo, poderia querer proclamar uma última
vez sua ligação com Jesus.
André Lemaire, um pesquisador da Sorbonne em Paris e um respeitado especialista
em inscrições do período bíblico, calculou a probabilidade estatística dos três
nomes ocorrerem em tal combinação como extremamente pequena. Provavelmente ao
longo de duas gerações na Jerusalém do primeiro século, não mais do que 20
pessoas poderiam se chamar "Tiago, filho de José, irmão de Jesus", e poucas
delas poderiam ter sido enterradas em ossários com inscrição. Outros cálculos
reduzem ainda mais a probabilidade.
"Parece muito provável que este seja o ossário de Tiago do Novo Testamento",
escreveu Lemaire no artigo da revista. "Se for, isto também significaria que
temos aqui a primeira menção epigráfica --de cerca de 63 d.C.-- de Jesus de
Nazaré".
Em outro trecho de seu artigo ele reconheceu que "nada nesta inscrição de
ossário confirma claramente a identidade" deste Tiago como o conhecido na
tradição cristã.
Antes disso, informou a Biblical Archaeology Review, a menção mais antiga
de Jesus se encontrava em um pedaço de papiro contendo um fragmento do Evangelho
de João, escrito em grego por volta de 125 d.C. A maioria dos textos mais
antigos existentes do Novo Testamento datam de 300 anos ou mais depois da época
de Jesus. Acredita-se que o primeiro Evangelho, de Marcos, foi escrito por volta
do ano 70.
Apenas poucos outros artefatos antigos mencionam figuras do Novo Testamento. Em
1990, o ossário de Caifás, o sumo sacerdote que entregou Jesus aos romanos, foi
encontrado. Antes, os arqueólogos descobriram uma inscrição em um monumento que
apresentava o nome de Pôncio Pilatos.
Como outros estudiosos bíblicos, o dr. James C. VanderKam da Universidade de
Notre Dame elogiou Lemaire como um renomado epigrafista, ou especialista em
inscrições antigas, cuja pesquisa é meticulosa e as avaliações criteriosas.
"Como a pesquisa vem de André Lemaire, eu a levo muito a sério" disse VanderKam.
"Se for autêntica, e parece que é, esta é uma confirmação não-bíblica de muita
ajuda da existência de Tiago".
Eric M. Meyers, um arqueólogo e diretor do programa de doutorado em religião da
Universidade Duke, disse que a raridade da ocorrência desta configuração de
nomes, especialmente a inclusão do nome do irmão, "leva a um senso de
credibilidade da alegação".
Mas Meyers questionou se a descoberta, caso se refira a Jesus, "nos dirá algo
que já não sabíamos". Ele e outros estudiosos concordam que Jesus, como figura
histórica, já foi bem estabelecido há muito tempo.
Joseph Fitzmyer, professor emérito de estudos do Novo Testamento da Universidade
Católica em Washington, a saudou como uma descoberta significativa caso se
refira a Jesus de Nazaré. "Esta seria uma nova atestação extrabíblica de sua
existência, e há muito poucas coisas extrabíblicas que o fazem", disse ele.
Ainda assim, Fitzmyer disse que tem sérias dúvidas de que o terceiro nome na
inscrição realmente se refira a Jesus de Nazaré.
"É possível, mas eu hesitaria em dizer provável", disse ele. "Eu não sei como
alguém poderia dizer mais que isto".
A forma como o
ossário foi descoberto é parte do problema, disseram os estudiosos. Ele de
alguma forma caiu nas mãos de saqueadores, que então lucraram o vendendo no
mercado de antigüidades. Hershel Shanks, editor da Biblical Archaeology
Review, disse que o ossário atualmente é de propriedade de um colecionador
cujo nome não foi divulgado.
Como o ossário não veio de uma escavação controlada, onde os arqueólogos traçam
cada detalhe e possível pista sobre o contexto da descoberta, os estudiosos
disseram que temem que nunca saberão com certeza o significado da inscrição.
"Isto poderia ser algo genuinamente importante, mas nunca poderemos saber ao
certo", disse o dr. P. Kyle McCarter Jr., professor de estudos bíblicos e do
Oriente Próximo da Universidade Johns Hopkins. "Não saber o contexto de onde o
ossário foi encontrado compromete qualquer coisa que possamos dizer, e assim as
dúvidas persistirão".
Alguns poucos estudiosos criticaram a revista por publicar um artigo baseado em
pesquisa envolvendo peças saqueadas, argumentando que isto encoraja práticas não
éticas no mercado de antigüidades. O Discovery Channel anunciou que planeja
realizar um documentário para televisão no próximo ano sobre os testes
científicos do suposto ossário de Tiago.
Ossários eram usados na prática de enterro em duas etapas que era comum entre os
judeus no primeiro século. Quando uma pessoa morria, o cadáver era primeiro
colocado em um sepulcro por cerca de um ano. Após a decomposição da carne, os
ossos eram recolhidos e então colocados em uma caixa de calcário, um ossário. O
ossário em questão não é adornado, com exceção da inscrição com 20 letras
aramaicas em um de seus lados.
No artigo, Lemaire reconhece que ninguém sabe se os cristãos da época mantiveram
o hábito judaico do enterro em duas etapas.
Tradução: George El Khouri Andolfato
Fontes:
Especialistas podem ter encontrado mais antiga prova de
Jesus
22 de outubro, 2002
Às11:27 PM hora de Brasília (0227 GMT)
WASHINGTON (CNN) -- Uma câmara mortuária de calcário, de quase
2.000 anos, pode ser o mais antigo registro arqueológico de Jesus de Nazaré,
anunciaram estudiosos na segunda-feira.
O ossuário data de 63 d.C. e tem uma inscrição em aramaico que
diz: "Tiago, filho de José, irmão de Jesus", declarou André Lemaire, um
especialista em escrita antiga que traduziu a frase da caixa, em Jerusalém, no
início deste ano.
Uma língua semítica, o aramaico foi amplamente empregado no
Oriente Médio por muitos séculos.
Na época da vida de Jesus, o aramaico era comumente falado
pelos judeus, enquanto o hebraico era usado pelo governo, as classes mais altas
e na religião.
Em um artigo sobre sua descoberta, publicado na nova edição da
Biblical Archaeology Review, Lemaire, que é professor da Sorbonne, em
Paris, afirmou que é "muito provável" que a câmara tenha pertencido ao irmão de
Jesus, Tiago, que, pela tradição cristã foi líder da Igreja em Jerusalém.
Mas alguns acadêmicos expressaram dúvidas de que a caixa, que
mede 50 centímetros de comprimento por 28 centímetros de largura, possa ser
definitivamente vinculada a Jesus, um carpinteiro judeu reverenciado pelos
cristãos como o filho de Deus.
"Nós
nunca teremos certeza absoluta. Na minha profissão, nós raramente temos certeza
absoluta de alguma coisa", observou Kyle McCarter, um arqueólogo da Johns
Hopkins University, que disse que as conclusões da descoberta eram provavelmente
corretas, mas ele tinha "algumas dúvidas".
Apesar de a maioria dos acadêmicos aceitar a idéia de que
Jesus realmente existiu, nenhuma prova física do primeiro século foi
conclusivamente vinculada à sua vida.
Dois geólogos do governo de Israel examinaram a caixa no mês
passado, e concordaram que o objeto tem mais de 19 séculos, segundo a revista de
arqueologia.
"É difícil não concluir que esses três nomes se referem a
personagens identificados no Novo Testamento", disse Hershel Shanks, editor da
Biblical Archaeology Review.
Muitas das conclusões dos especialistas se baseiam na
inscrição feita no ossuário. Essas câmaras eram comumente usadas por família
judias entre 20 a.C. e 70 d.C. para guardar os ossos de seus entes queridos.
Lemaire disse que das centenas de caixas encontradas com
inscrição em aramaico apenas duas continham menção a irmãos. Por essa razão, os
estudiosos acreditam que o irmão só era citado se fosse alguém importante.
Tiago, José e Jesus eram nomes comuns na antiga Jerusalém, que
possuía cerca de 40 mil habitantes. Lemaire estima que
possam ter existido na cidade em torno de 20 Tiagos com irmãos chamados Jesus e
filhos de um José. Mas era improvável que tenha havido mais de um Tiago com um
irmão importante o bastante para ser mencionado no ossuário, argumentou Lemaire.
Lemaire encontrou a caixa acidentalmente em junho, segundo
Shanks, que pôde examiná-la pessoalmente. A câmara mortuária foi comprada há 15
anos por um colecionador de antigos artefatos judeus. O proprietário, que não
deseja ser identificado, teria pago pelo objeto um valor entre 200 e 700
dólares, relatou Shanks.
Essas caixas "não são populares no mercado porque as pessoas
não querem um ossuário na sua sala de estar", explicou Shanks.
O colecionador, que é judeu, não sabia que Jesus tinha um
irmão. Durante um jantar, no início do ano, ele pediu a Lemaire que decifrasse
inscrições em aramaico em algumas de suas peças, contou Shanks.
O colecionador reagiu com surpresa ao tomar conhecimento do
que tinha em mãos. "Como o filho de Deus pôde ter tido um irmão?", perguntou
ele, segundo Shanks.
A câmara deve ser colocada em exposição no Royal Ontario
Museum, em Toronto, no Canadá, durante a convenção anual de estudiosos da
Bíblia, em novembro, informou Shanks.
Fonte:
http://www.cnn.com.br/2002/tec/10/22/ossuario/index.html
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