Clipping: Bush Diz que
o Mundo é um Lugar Melhor, Graças a João Paulo II!

WASHINGTON DC, 17 Out 03 (ACI).– Os Estados Unidos e o mundo são lugares melhores graças à presença do Papa João Paulo II, assegurou o Presidente George W. Bush na saudação que enviou ao "Santo Padre" pelo 25º aniversário de seu Pontificado.

“Os Estados Unidos e o mundo são lugares melhores graças à sua dedicação em compartilhar sua sabedoria, orientação e fé”, escreveu Bush na carta.

O mandatário escreveu que “nos últimos 25 anos, Sua Santidade liderou os esforços mundiais para desenvolver uma nova cultura da vida que valorize e proteja as vidas das crianças inocents que esperam nascer”.

Bush assegurou que o Papa "também levou o amor do Todo-poderoso a pessoas de todas as idades, particularmente àqueles que sofrem ou vivem na pobreza, os que são fracos e vulneráveis”.

Finalmente, indicou que o Santo  Padre “tem mostrado ao mundo não somente o esplendor da verdade, mas o poder da verdade para superar o mal e redirigir o curso da história”.

Fonte: http://www.acidigital.com/america2.htm


Cardeais evitam questões sobre o próximo Papa

Sexta, 17 de outubro de 2003, 14h32

A pergunta que inquieta a todos dentro e fora do Vaticano - quem será o próximo papa? - é aquela que os príncipes da Igreja Católica menos querem discutir em público. Os cardeais que vão eleger o sucessor do frágil João Paulo 2o., que na quinta-feira completou 25 anos de pontificado, garantem que nem reservadamente tocam no tema. No entanto, alguns sugerem, cautelosamente, que isso não é exatamente verdade.

O cardeal belga Godfried Danneels, cotado para ser o próximo papa e conhecido por falar francamente, admitiu que foi consultado várias vezes nos últimos dias sobre sua vontade de ser o próximo líder da Igreja. "Eu não digo nada", afirmou o arcebispo de Bruxelas à Reuters, dando de ombros. "Se eu disser que sim, todos dirão que não sei o que estou falando. Se eu disser que não, eles vão dizer que estou mentindo."

Outro candidato, o nigeriano Francis Arinze, tem um talento especial para encerrar qualquer conversa amigável com jornalistas assim que percebe que a pergunta virá à tona. Eles têm boas razões para manter o silêncio. Desde o século 6º, os cardeais são proibidos de discutir a sucessão antes da morte do papa. Atualmente existem no mundo 164 cardeais, dos quais 109 com menos de 80 anos e, portanto, qualificados como eleitores do conclave. Na próxima terça-feira, João Paulo 2o. dará posse a mais 31 cardeais.

Mesmo os candidatos mais ambiciosos à sucessão sabem que existe uma tabu contra os cardeais que abertamente disputam o cargo ou aparecem ostensivamente como papáveis. "Quem entra no conclave como papa sai como cardeal", diz um velho ditado do Vaticano.

Evasivos
Até os que não são cotados evitam especular. "Há 109 pessoas no mundo que não podem responder a essa questão, e você está falando com uma delas", despistou Theodore McCarrick, arcebispo de Washington. Roger Mahoney, de Los Angeles, admite que "um cardeal ou outro, durante o digestivo da noite", pode ter tratado do assunto com seus colegas. "Mas isso não é o que acontece em nossas discussões", afirmou.

Os vaticanistas - jornalistas especializados na cobertura da Igreja - já desenvolveram técnicas indiretas para sondar os cardeais. "O senhor acha que chegou a hora de um papa do Terceiro Mundo?", é a pergunta que serve de senha para especulações envolvendo algum latino-americano ou Arinze - que, caso eleito, seria o primeiro africano no trono de São Pedro em mais de 1,5 mil anos.

Mas os cardeais não seriam cardeais se não fossem bem educados, donos de vários títulos acadêmicos e fluentes em não responder perguntas em muitas línguas. "Não é correto para nós falar sobre isso. Temos um papa", disse o mexicano Juan Sandoval Iniguez. "O Espírito Santo vai nos avisar", completou Mahoney.

Outra resposta muito comum saiu da boca de Christoph Schoenborn, arcebispo de Viena, que elogiou seus colegas africanos antes de concluir que a resposta final virá de Deus. O único eleitor disposto a arriscar uma previsão se limitou a descartar a candidatura de qualquer cardeal dos Estados Unidos. "A sensação de ser de alguma maneira capturada pela única superpotência do mundo não seria útil para a missão da Igreja", disse Francis George, de Chicago.

Fonte: http://noticias.terra.com.br/mundo/interna/0,,OI162228-EI312,00.html


Cardeais querem que Papa prossiga sua missão

Sexta, 17 de outubro de 2003, 16h05 

Os cardeais reunidos no Vaticano para comemorar os 25 anos de Pontificado do Papa João Paulo II desejaram a ele que comemore ainda muitos outros e que prossiga em sua missão de fé à frente da Igreja Católica. Um total de 149 cardeais, sete patriarcas católicos de rito oriental e os presidentes de 109 conferências episcopais discutem, desde o último dia 15, este quarto de século de papado e, embora João Paulo II venha mostrando há meses uma saúde muito debilitada e graves problemas para falar e caminhar, nenhum cardeal se manifestou, pelo menos publicamente, para que ele renuncie.

A única mensagem dos cardeais foi para desejar a João Paulo II, de 83 anos, um longo pontificado e para afirmar com firmeza que os papas não se aposentam. "Os papas não se aposentam, já que são escolhidos para serem servos por toda a vida", afirmou o cardeal africano Bernardin Gantin, decano emérito do colégio dos cardeais.

Gantin disse ainda que São Pedro, a quem Cristo confiou sua Igreja, "jamais abandonou o governo da Igreja que lhe foi confiada". Com essas palavras, pronunciadas no primeiro dia de reunião diante 150 cardeais, observadores do Vaticano consideraram que essa é a "linha" do Colégio de Cardeais, cuja imensa maioria de membros foi nomeada pelo próprio João Paulo II.

Um dos cardeais a expressar seu desejo pela continuidade do Papa foi o colombiano Alfonso López Trujillo, prefeito do Conselho Pontifício para a Família, que disse que João Paulo II "deve continuar comandando" a batalha em defesa da vida humana e da família. O cardeal libanês Nasrallah Pierre Sfeir desejou ao Papa "longos anos" de pontificado e ressaltou o trabalho realizado no campo do ecumenismo para se chegar à unidade dos cristãos.

Estes não foram os únicos que expressaram publicamente o desejo de que João Paulo II continue. O cardeal Pio Laghi excluiu recentemente a hipótese de uma eventual renúncia do Pontífice a seu ministério afirmando que Karol Wojtyla "não se sente incapacitado, já que governa com a mente e o coração".

O cardeal José Saraiva Martins, perfeito da Congregação para a Causa dos Santos, afirmou, por sua vez, que João Paulo II possa continuar exercendo suas funções mesmo que já não possa falar. "A palavra é muito importante para os que governam, mas a Santa Sé governa mais com a cabeça que com as palavras", disse Saraiva, reconhecendo que evidentemente se o Pontífice perder a fala "seria preciso avaliar essa situação, que não seria fundamental na ação do Papa".

Apesar de todas essas afirmações, nas últimas horas o cardeal argentino Jorge Mejia voltou a jogar mais lenha na fogueira ao manifestar que é possível que João Paulo II tenha redigida sua demissão caso o mal de Parkinson, do qual sofre, o deixe completamente inválido.

"Antes era um segredo, mas agora se sabe que Paulo VI tinha escrito uma carta na qual dizia que se chegasse a um estado de completa invalidez, se deveria considerar vaga a Sede Apostólica e se fizesse a escolha de um sucessor", disse o cardeal argentino.

Mejia advertiu que se o mal de Parkinson afetar totalmente a capacidade de fala de João Paulo II seria "um problema sério, principalmente para ele", já que "mudo não poderia celebrar uma missa e então seria um problema que delinearia o tema da renúncia".

As palavras de Mejía criaram uma forte polêmica no âmbito da Igreja. Assim, o cardeal Mario Pompedda, perfeito da Signatura Apostólica, respondeu que a dificuldade das palavras não conta. "O Papa apresenta atualmente uma dificuldade para falar, que é puramente fonética. Não tem nenhum outro impedimento para expressar seu pensamento e eu diria que ele o expressa muito bem, muitas vezes repetindo a frase que saiu errada", disse Pompedda, acrescentando que caso ele não possa se expressar com a palavra, o faria por escrito.

Pompedda não vê problema algum nisso enquanto o Papa puder se expressar por escrito. O problema surgiria "se a incapacidade de falar viesse acompanhada da incapacidade de pensar". Então a questão seria grave, ressaltou. Com relação ao assunto da missa, o cardeal disse que não é necessário que o Papa a oficie.

João Paulo II, alheio a toda esta polêmica, reiterou ontem, durante a solene missa por seus 25 anos como Papa, seu desejo "de continuar assumindo a responsabilidade que Deus lhe confiou", dando a entender que seguirá à frente da Igreja.

Fonte: http://noticias.terra.com.br/mundo/interna/0,,OI163267-EI312,00.html


Papa celebra 25 anos à frente da Igreja Católica

Quinta, 16 de outubro de 2003, 21h29 

O Papa João Paulo II celebrou na quinta-feira uma missa solene para festejar seus 25 anos de pontificado, um dos mais longos da história da Igreja Católica, e pediu aos fiéis de todo o mundo que rezem para que ele possa seguir com sua missão. "Eu lhes rogo, queridos irmãos e irmãs, que não interrompam esta obra de amor pelo sucessor de São Pedro. Eu lhes peço mais uma vez: ajudem o Papa e a todos os que querem servir ao homem e a humanidade inteira", afirmou o Papa em sua homilia.

Visivelmente cansado, com a voz fraca e problemas de dicção, o Sumo Pontífice de 83 anos pronunciou apenas o início de seu discurso, que depois foi lido pelo monsenhor Leonardo Sandri, substituto da Secretaria de Estado. Mais de 50 mil pessoas acompanharam a cerimônia na Praça de São Pedro, que também contou com as presenças do presidente polonês Aleksander Kwasniewski e do ex-presidente Lech Walesa, líder na década de 80 do sindicato clandestino "Solidarnosc" (Solidariedade), ligado ao Papa, além do presidente da República Italiana, Carlo Azeglio Ciampi, e das delegações de 18 países.

O pedido de João Paulo II, que sofre com o Mal de Parkinson, foi feito num momento em que circulam rumores nos ambientes eclesiásticos sobre a possibilidade do Papa renunciar no caso de sua saúde se agravar ainda mais. "Consciente de minha fragilidade humana, Jesus me dá a força para responder com segurança, como Pedro (...) e a assumir as responsabilidades que me foram confiadas", afirmou.

A frase foi interpretada como uma mensagem direta de que João Paulo II quer continuar a exercer o pontificado, apesar de seus graves problemas de saúde, que o impedem de caminhar e prejudicam sua fala. Como no início de seu pontificado, o Papa repetiu o mesmo pedido que fez aos fiéis há 25 anos: "Abram as portas a Cristo!, Deixem-se guiar por Ele! Confiem em seu amor!".

Com o rosto visivelmente cansado, o Sumo Pontífice iniciou a missa, ao lado de 149 cardeais e quase 200 bispos, com o hino solene "Laudes Regiae". A eucaristia, que começou às 18h locais (13h de Brasília), foi celebrada na mesma hora em que Karol Wojtyla, então cardeal de Cracóvia, foi eleito para ocupar o trono de São Pedro em 1978. "Em sua vida a palavra cruz não foi apenas uma palavra", afirmou o cardeal Joseph Ratzinger, decano do Colégio Cardinalício, em sua homilia de saudação.

O religioso lembrou o compromisso do Papa com os pobres e oprimidos de todo o planeta. "Anunciou a vontade de Deus sem temor, mesmo em lugares onde entrou em conflito com o que pensam e querem os homens", afirmou Ratzinger.

O cardeal, guardião da ortodoxia, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, lembrou "as críticas e injúrias, que terminaram por despertar em troca a gratidão e o amor, fazendo cair os muros do ódio". O prelado alemão citou o dia da eleição de João Paulo II e as primeiras palavras que dirigiu na ocasião aos fiéis presentes na Praça de São Pedro para saudá-lo: Vim de um país longínquo. "Imediatamente percebemos que a fé em Cristo que surgiam de suas palavras superavam qualquer distância. Com a fé todos somos próximos", acrescentou Ratzinger.

No altar, decorado com centenas de tulipas, João Paulo II presidiu a missa, que também foi assistida pelos 31 cardeais que na próxima semana receberão o título cardinalício. A missa foi transmitida ao vivo por diversas emissoras de televisão do mundo.

João Paulo II iniciou o dia com uma cerimônia do Salão Paulo VI no Vaticano, durante a qual assinou a exortação apostólica com as conclusões do Sínodo dos Bispos de outubro de 2001 intitulada "Pastores gregis", que versa sobre o papel do bispo "como esperança do mundo". Mais de 300 prelados, entre cardeais e todos os presidentes das conferências episcopais, assistiram a cerimônia.

O documento, uma espécie de testamento para os bispos, traça um perfil do bispo do terceiro milênio e aborda a questão da globalização. O estado de saúde do Papa prejudicou as celebrações e deixou alguns religiosos preocupados.

"Minha impressão está dividida", afirmou o cardeal Francis George, de 66 anos. "Por um lado sinto gratidão e felicidade e por outro lado menos, porque se notam as dificuldades para respirar", declarou.

O arcebispo de Havana, Jaime Ortega y Alamino, 67 anos, tampouco estava entusiasmado. "Está mais ou menos", comentou o cardeal cubano. Para o monsenhor John Patrick Foley, 68 anos, presidente do Conselho para as comunicações sociais, "é evidente a diferença entre o Papa eleito há 25 anos e o de hoje. Para nós é de qualquer maneira um exemplo, uma testemunha do sofrimento", assinalou.

"Estamos felizes por estar com ele, esperamos que possa governar a igreja por mais tempo", disse o cardeal brasileiro Claudio Hummes, de 69 anos. "Ninguém acha que o fim do Papa seja iminente. O importante é estar aqui para as comemorações", acrescentou o cardeal sul-africano Wilfred Napier, de 62 anos.

Fonte: http://noticias.terra.com.br/mundo/interna/0,,OI161723-EI312,00.html


16/10/2003
Papa João Paulo 2º desafia as previsões e completa 25 anos à frente da Igreja Católica

Lola Galán, DE MADRI

João Paulo 2º é um extraordinário sobrevivente. Isso é demonstrado pelo fato de celebrar, com extraordinária ostentação, o 25º aniversário de sua eleição como pontífice romano, apesar de um histórico clínico impressionante: o misterioso atentado que quase lhe custou a vida em 1981, a doença de Parkinson que sofre desde o início dos anos 90, várias intervenções cirúrgicas, quedas e luxações e uma terrível artrose que o confinou a uma cadeira de rodas.

Há cinco anos, quando os meios de comunicação do mundo todo celebraram com ampla cobertura a comemoração de seu 20º aniversário no trono de Pedro, muitos artigos foram escritos quase como notas necrológicas, rascunhos de um epitáfio ao papa polonês, dono e senhor do cenário internacional durante tanto tempo.

Mas João Paulo 2º seguiu adiante. Praticamente todos os mandatários que lhe enviaram telegramas de felicitações em 16 de outubro de 1978, dia de sua eleição, desapareceram da cena pública - muitos deles também da privada -, e o mundo mudou substancialmente, com a última escalada terrorista e a instauração do novo conceito jurídico-militar da guerra preventiva. Mas na Santa Sé continua reinando o mesmo monarca absoluto, embora seu poder real hoje seja uma incógnita em uma corte entregue há vários anos à busca de um sucessor.

Os que acompanharam a trajetória de Karol Wojtyla, o primeiro pontífice estrangeiro nos últimos 450 anos de história vaticana, compreenderão o porquê de sua insistência em continuar na ativa, firme diante das câmeras de televisão, inclusive nesta hora terrível do ocaso. O papa polonês viveu seu pontificado de frente para os meios de comunicação, no centro do palco, e tudo indica que quer terminar assim. Seu domínio da mídia é absoluto, talvez por seu passado de ator, o que não significa que Wojtyla não acredite profundamente em sua missão.

Desde o primeiro momento soube que era necessário estabelecer uma boa comunicação com a imprensa para fazer chegar sua mensagem ao mundo. Seu objetivo era devolver a Igreja Católica a uma posição de destaque no cenário internacional. Para isso não hesitou em viajar até o último rincão do planeta, como um missionário moderno.

No plano interno, Wojtyla, como membro de uma Igreja perseguida - embora a hierarquia polonesa tenha se mostrado mais sólida que o regime comunista -, veio celebrar a tradição, cortar as asas dos teólogos de movimentos internos ansiosos pela modernização da Igreja. O novo papa se apresentou ao mundo com um perfil surpreendente e contraditório. Diante da opinião pública, Wojtyla era a própria imagem da modernidade, um papa dinâmico que praticava natação em sua piscina da residência de Castelgandolfo e montanhismo nos Alpes italianos.

Diante de seus antecessores, que haviam se apresentado ao mundo como estranhas múmias montadas na cadeira portátil, João Paulo 2º desprendida calor humano. No plano interno, porém, o papa polonês deu várias provas da concepção "restauradora" que haveria de caracterizar seu papado. Sua missão era restabelecer os princípios do catolicismo ortodoxo nos cinco continentes, e a ela dedicou-se de imediato.

Em janeiro de 1979 João Paulo 2º viajou para a América Latina, onde condenou com firmeza a teologia da libertação que havia conquistado boa parte da hierarquia local. Em seguida lançou-se abertamente à condenação da "religião" comunista. Sua contribuição para a queda dos regimes comunistas na Europa do Leste faz parte da história moderna, embora o papa e seus colaboradores mais próximos tenham feito esforços para nivelar esse anticomunismo feroz com uma condenação igualmente severa dos excessos do capitalismo, como ficou demonstrado em sua histórica viagem a Cuba em janeiro de 1998.

Foi uma viagem cuidadosamente preparada, em que o sumo pontífice tomou cuidado para não condenar o regime castrista. Mas o papa já havia deixado muito claro, antes de pisar em terra cubana, o que pensava dessa experiência revolucionária em uma breve conversa com jornalistas a bordo do avião papal. "A revolução marxista é a revolução da morte, enquanto a de Jesus Cristo é revolução do amor", disse.

Acusou-se insistentemente Karol Wojtyla de ser um papa autoritário, de não ter escutado os insistentes apelos de uma parte da hierarquia e do clero em prol de uma maior democratização da Igreja. Foi censurado por seu imobilismo absoluto em outros assuntos que exigem mudanças urgentes: desde o acesso das mulheres ao sacerdócio até a aceitação do casamento dos padres.

É fato que o papa deixou de lado os aspectos mais espinhosos dessa reforma interna da Igreja que muitos reivindicam. Em sua defesa deve-se dizer que dirige uma das instituições mais complexas que existem, e que entre suas prioridades nunca esteve a de dar satisfação aos setores mais evoluídos e progressistas da mesma. O papa quis, sobretudo, aproximar-se das massas, encher auditórios, estádios, campos de futebol, esplanadas. E nesse capítulo seu êxito foi total. Os públicos monumentais que se viram em Roma na celebração da Jornada Mundial da Juventude, em agosto de 2000, constituem um recorde.

Seduzir as massas não foi o único objetivo do longo pontificado de João Paulo 2º. Os esforços do papa para estabelecer boas relações com as demais religiões foram constantes em todos esses anos. Em sua primeira encíclica, "Redemptor Hominis", Wojtyla se apresentou como defensor de todas as religiões, o que representava uma mudança qualitativa na tradição vaticana. Essa abertura não o impediu, na última fase de seu pontificado, de defender o espírito da carta "Dominus Iesu", em que o cardeal Joseph Ratzinger, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé e um de seus mais estreitos colaboradores, afirmou a supremacia absoluta da fé católica sobre as demais.

Seus 25 anos de pontificado foram cheios de atividade. O que mais chamou a atenção foram seus deslocamentos. Realizou 102 viagens a 129 países. Mas não menos surpreendente foi sua produção escrita. A revista católica italiana "Famiglia Cristiana" calculou que nesse período Wojtyla "produziu" 15 mil textos, entre discursos e documentos, o que equivale a ter redigido 22 vezes a Bíblia. Recordes pessoais também são o número de beatos (1.315 contra os 1.310 criados por todos os seus antecessores juntos) e novos santos (476 contra os 300 herdados do passado).

Wojtyla foi o primeiro papa a pisar em uma sinagoga, em Roma, e numa mesquita, em Damasco, a visitar o anglicano Reino Unido e o que mais se esforçou para restabelecer os laços com a Igreja Ortodoxa, um objetivo que o levou a visitar a Grécia em 2001. Como se fosse pouco, João Paulo 2º foi o primeiro a pedir perdão pelos danos causados pelos filhos da Igreja em 2000 anos de cristianismo, o primeiro a reconhecer que a própria instituição que dirige pôde gerar o anti-semitismo ainda tão difundido entre os católicos.

Os intelectuais e políticos judeus não ficaram plenamente satisfeitos com esse documento expiatório, mas quando o papa em pessoa introduziu uma cópia do mesmo entre as pedras do chamado Muro das Lamentações, na cidade velha de Jerusalém, durante sua visita oficial em março de 2000, só houve elogios e reconhecimentos ao pontífice.

João Paulo 2º foi claro e definitivo nas questões de dogma, embora, seguindo seus dois predecessores imediatos, tenha se preocupado em despersonalizar um pouco a imagem antropomórfica de Deus, do qual afirmou em uma de suas últimas catequeses que "não é o ancião de barbas" que vemos em algumas ilustrações de livros religiosos.

Wojtyla, tão sensível aos problemas sociais, manteve-se inflexível, porém, na condenação aos métodos anticoncepcionais, inclusive diante da praga da Aids, que dizimou a população africana. Na mais pura tradição católica, condenou o aborto com palavras ainda mais apocalípticas que seus antecessores, o divórcio, os casais de fato, as relações homossexuais, a eutanásia, e defendeu a família tradicional como única fonte de estabilidade social.

O balanço de seus 25 anos de "governo" da Igreja, assim como de seu pontificado, é sumamente contraditório. Seus passeios internacionais, seguido por uma escolta jornalística sem precedentes, não impediram a perda de seguidores verificada pelo catolicismo na América Latina nos últimos tempos. Suas posições intransigentes em termos de doutrina e moral continuaram afastando a sociedade européia da Igreja. As vocações sacerdotais européias só se mantêm em alta em sua Polônia natal, embora a população seja cada vez menos praticante em seu próprio país.

Seu sucessor encontrará uma Igreja em estado crítico, como a que Wojtyla recebeu de seu antecessor. Os males dessa velha instituição não se curam em um pontificado, nem mesmo no de um papa tão extraordinário como João Paulo 2º. Um sobrevivente extraordinário.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

Fonte: http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/elpais/ult581u659.jhtm

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