Tecnologia: a “Religião” Moderna e o Alerta Bíblico Profético
Introdução
Vivemos em uma era em que a tecnologia ocupa um pedestal central em nosso dia a dia. Smartphones, redes sociais, inteligência artificial – tudo isso não apenas facilita nossas tarefas, mas muitas vezes domina nossa atenção e afeto. Para alguns, a relação com o mundo digital vai além do uso prático: chega a se assemelhar a uma devoção quase religiosa, com direito a rituais diários e objetos de veneração. Diante desse fascínio moderno pelo digital, é crucial fazermos uma reflexão crítica, bíblico-cêntrica, especialmente como cristãos. A Bíblia nos adverte: “Não terás outros deuses diante de mim” (Êxodo 20:3) – um alerta que permanece atual quando qualquer coisa (inclusive a tecnologia) ameaça tomar o lugar de Deus em nosso coração. Como escreveu o apóstolo João: “Filhinhos, guardai-vos dos ídolos” (1 João 5:21). Ou, conforme uma versão explica, devemos nos guardar de **“qualquer coisa que possa tomar o lugar de Deus em nossos corações”*apologetica.pt. Este artigo examina como a tecnologia tem sido tratada como uma nova forma de religião e quais são os perigos espirituais disso, à luz das Escrituras e das profecias para o tempo do fim.
Tecnologia como Idolatria Moderna
A busca incessante pelas últimas novidades tecnológicas – o dispositivo mais recente, o aplicativo do momento, a próxima atualização – revela um culto à inovação. Lançamentos de produtos são aguardados com ansiedade quase messiânica. Por exemplo, não é raro vermos pessoas fazendo fila durante a noite para comprar o novo smartphone no dia do lançamento, com entusiasmo digno de quem busca uma relíquia sagrada. Novos avanços em inteligência artificial, como o ChatGPT, geram manchetes eufóricas e expectativa de “salvação” tecnológica, prometendo revolucionar a forma como vivemos e trabalhamos. Esses comportamentos espelham a devoção religiosa: assim como fiéis veneram ícones ou relíquias, multidões hoje veneram gadgets e inovações que prometem “mudar a vida”.
Essa devoção desmedida é, na prática, uma forma de idolatria moderna. A Bíblia define ídolo como tudo aquilo que toma o lugar de Deus em nossa adoração e confiança. Pode não ser uma imagem de escultura, mas se nosso coração se apega excessivamente a algo, isso se torna um deus falso. Jesus alertou: “Porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração” (Mateus 6:21). Se nosso “tesouro” é um telefone, um computador, ou a próxima novidade digital, corremos o risco de deslocar nosso coração da comunhão com Deus. A Palavra de Deus nos exorta a não amar o mundo nem as coisas do mundo (incluindo seus brilhos tecnológicos), pois “se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele” (1 João 2:15).
Exemplos de “adoração” digital
Podemos identificar vários paralelos entre a prática religiosa tradicional e os hábitos em torno da tecnologia hoje:
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Objetos de devoção: Muitos tratam seus dispositivos digitais como companheiros indispensáveis, quase amuletos. O smartphone está sempre ao alcance das mãos, e ficar sem bateria ou sem conexão provoca ansiedade – semelhante à aflição de quem se sente longe de sua fonte de segurança.
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Rituais cotidianos: Ao despertar, a primeira ação de muitos não é orar ou agradecer a Deus pela vida, mas sim checar notificações e redes sociais. Esse ato repetido diariamente torna-se um ritual secular que pode substituir as disciplinas espirituais. Da mesma forma, antes de dormir, em vez de meditar na Palavra, muitos fazem scroll infinito no feed – um “culto noturno” à tela.
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Templos do consumo tecnológico: As lojas de marca (Apple Store, por exemplo) e as conferências de lançamento assumem um ar quase cerimonial. Há quem compare eventos como as keynotes da Apple ou os grandes feiras de eletrônicos (CES, etc.) a cultos de adoração, onde revelações (novos produtos) são feitas a uma congregação de entusiastas extasiados.
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Linguagem religiosa: Curiosamente, até o vocabulário reflete essa analogia – fãs ardorosos de tecnologia são chamados de “evangelistas” da marca/tendência; fala-se em “culto à Apple” ou “seguidores fiéis” de tal plataforma, e gurus tecnológicos prometem quase salvação terrena através da ciência e da inovação.
Como cristãos, precisamos reconhecer esses sinais de idolatria. Não significa demonizar a tecnologia em si – assim como nenhum objeto material é mau por natureza. O problema está em como nos relacionamos com esses recursos. A Bíblia ensina que devemos usar as coisas deste mundo sem que nosso coração se prenda a elas (1 Coríntios 7:31). Uma pensadora cristã adventista do século XIX (Ellen White) já observava em seu tempo que mesmo invenções úteis podem se tornar uma obsessão perigosa. Quando as bicicletas viraram moda em 1890, ela alertou que muitos jovens gastavam dinheiro e paixão nelas de forma exagerada, e escreveu: “Satanás trabalha… para induzir nosso povo a investir tempo e recursos em satisfazer vontades supérfluas. Isso é uma forma de idolatria”atoday.org. Em outras palavras, o problema não é a tecnologia em si, mas sua idolização – quando ela absorve nosso tempo, dinheiro e pensamento de modo a competir com Deus em nosso viver.
A advertência bíblica é clara: “Não ameis o mundo, nem o que no mundo há” (1 João 2:15). Qualquer idolatria – seja de pedra, ouro ou silício – nos afasta do Deus vivo. Precisamos avaliar honestamente: estou servindo à tecnologia ou usando-a para servir a Deus e às pessoas? Jesus afirmou que não podemos servir a dois senhores (Mateus 6:24). Se a tecnologia tem sido um senhor dominando nossas vontades, é hora de recolocá-la em seu devido lugar – como instrumento, não como ídolo.
“Profetas” Modernos e Falsas Esperanças
Outra faceta desse fenômeno é a elevação de fundadores e visionários da tecnologia ao status de “profetas” modernos. Nomes como Steve Jobs, Bill Gates, Elon Musk, Mark Zuckerberg ou outros empreendedores do Vale do Silício são seguidos e citados quase reverentemente. Suas visões e discursos moldam comportamentos globais. Muitos jovens os veem como modelos infalíveis, guias para o futuro. De fato, suas inovações mudaram o mundo, mas precisamos ter cuidado em não atribuir a eles uma autoridade quase messianica sobre nosso destino.
A Bíblia nos alerta sobre confiar excessivamente em líderes humanos: “Não confieis em príncipes, nem nos filhos dos homens, em quem não há salvação” (Salmo 146:3). Esses “profetas” da era digital podem ser brilhantes, porém continuam sendo falhos e mortais. Steve Jobs morreu; outros acumulam controvérsias. Nenhum deles tem as chaves para a salvação eterna. Apenas Cristo é o Profeta e Salvador infalível (Atos 4:12). É perigoso quando as palavras de CEOs e gurus tech influenciam mais nossas convicções do que as palavras dos profetas bíblicos.
Notemos também que esses visionários frequentemente promovem uma utopia tecnológica: colonizar Marte, “resolver a morte” via ciência, criar inteligências artificiais benevolentes que eliminariam todo mal, etc. Essa narrativa é sedutora – quem não quer um mundo melhor? –, porém carrega uma falsa esperança se exclui Deus da equação. O conceito de que a tecnologia trará salvação à humanidade é em si um ato de fé secular. Muitos depositam fé cega de que “a ciência vai dar um jeito” em problemas como doenças, aquecimento global, violência, solidão. Mas a Bíblia revela que, nos últimos dias, os homens seriam “presunçosos” e confiariam mais em si mesmos do que em Deus (2 Timóteo 3:1-5). De fato, “amantes dos prazeres mais que amigos de Deus, tendo forma de piedade, mas negando o poder dela” (2 Timóteo 3:4-5). Poderíamos dizer que há uma “forma de piedade” secular nessa crença de que o progresso tecnológico (obra das mãos humanas) pode redimir o mundo – mas eles negam o poder real, que vem de Deus.
Os cristãos adventistas creem, com base em Daniel 2, que a história humana foi predita em uma estátua com sucessivas partes (ouro, prata, bronze, ferro) representando impérios mundiais, culminando nos pés compostos de ferro e barro (Daniel 2:32-33). Essa mistura simboliza a fase final da história, dividida e instável, em que poderes fortes (ferro) tentam se unir a elementos frágeis (barro) mas sem coesãonoticias.adventistas.orgnoticias.adventistas.org. Uma interpretação aceita é que o ferro representa a força político-militar (herança do império romano), enquanto o barro representa um elemento religioso/humano introduzido – historicamente, a influência do papado inserida no poder romanonoticias.adventistas.orgnoticias.adventistas.org. Ou seja, uma união entre Estado e Igreja, entre o secular e o religioso, que seria forte em alguns momentos e fraca em outros (ferro rígido misturado com barro quebradiço). Essa imagem profética descreve bem a realidade dos últimos dias: vemos tentativas de unificação global (seja política, econômica ou até religiosa), mas também divisões profundas.
Como isso se relaciona aos profetas da tecnologia? Muitos deles promovem, ainda que sem intenção religiosa explícita, uma visão de mundo que exalta o poder do ferro (a capacidade técnica, a força da máquina, do algoritmo) para consertar tudo, ignorando que a condição humana (barro) é espiritualmente frágil e não se resolve apenas com conhecimento ou ferramentas. A profecia de Daniel indica que “não se ligarão um ao outro, assim como o ferro não se mistura com o barro” (Daniel 2:43). Em outras palavras, qualquer projeto humano que busque a unidade e a salvação apartado de Deus está fadado à fragilidade e ao fracasso. Nem mesmo a mais alta tecnologia (ferro) conseguirá anular a natureza caída e carente do ser humano (barro). A paz e prosperidade verdadeiras não advirão de um reino humano tecnológico, mas somente do Reino de Deus. Lembremos que, na sequência da visão, uma pedra (símbolo do reino divino) despedaça a estátua nos pés, pondo fim a todos os reinos humanos (Daniel 2:34-35) e estabelecendo um reino eterno que “jamais será destruído” (Daniel 2:44). Essa é a nossa verdadeira esperança – não a utopia tech prometida por homens, mas o reinado de Cristo que em breve substituirá todas as estruturas falhas deste mundo.
Portanto, devemos ser gratos pelo conhecimento e avanços que Deus permite (afinal, “a ciência se multiplicaria” no tempo do fim, conforme Daniel 12:4), porém sem cair no engano de achar que o homem é seu próprio salvador. “Maldito o homem que confia no homem… bendito o homem que confia no Senhor” (Jeremias 17:5,7). Essa é a escolha fundamental. Como líderes cristãos, não podemos pregar um evangelho que idolatra a capacidade humana. Ao contrário, precisamos denunciar os falsos deuses do presente século – inclusive a confiança desmedida na tecnologia – e apontar para o Deus verdadeiro, o único capaz de dar sentido, direção e futuro seguro.
Redes Sociais: Comunidade Virtual vs. Comunhão Real
Na busca por sentido e conexão – necessidades tipicamente atendidas pela religião – muita gente tem encontrado nas redes sociais uma forma de suprir essas carências. Plataformas como Facebook, Instagram, Twitter, Reddit, TikTok e outras se tornaram “templos virtuais” onde pessoas se reúnem (ainda que online), compartilham suas vidas e valores, e até procuram orientação para viver. Não é de se espantar que influenciadores digitais ganhem status de “guias”, ditando tendências de comportamento, moda, saúde e até visão de mundo, para milhões de seguidores. Em grupos e fóruns, pessoas buscam conselho e apoio – funções antes desempenhadas por comunidades de fé ou famílias extensas.
Há, sem dúvida, benefícios nessas comunidades virtuais: podemos compartilhar rapidamente informações úteis, apoiar uns aos outros à distância e difundir mensagens positivas (inclusive o evangelho) a um público amplo. Porém, é preciso reconhecer que nem toda conexão digital é profunda ou saudável. Na verdade, estudos têm mostrado um paradoxo: apesar de estarmos mais conectados que nunca, muitas pessoas se sentem mais solitárias e ansiosas. Uma pesquisa recente de 2025 acompanhou milhares de adultos e concluiu que quanto mais tempo se gasta em redes sociais, mais aumentam os sentimentos de solidão ao longo do temponews.web.baylor.edu. Mesmo o uso ativo (postando, interagindo) esteve associado a maior solidão, indicando que as interações digitais não preenchem totalmente a necessidade de comunhão como as interações face a facenews.web.baylor.edu. Outra análise notou que reduzir o uso de redes para ~30 minutos diários melhora indicadores de bem-estar e diminui sintomas de depressão e FOMO (o “medo de ficar por fora”)health.harvard.edu. Ou seja, a promessa das mídias sociais de aproximar pessoas muitas vezes não se cumpre; pelo contrário, pode gerar comparação constante, inveja e sensação de exclusão. “Likes”, comentários e compartilhamentos se tornam uma espécie de termômetro de valor pessoal – e quando essa validação virtual falha, a pessoa pode sentir-se descartada ou inferior. É como fazer orações num templo e não obter resposta: a alma sai vazia.
Do ponto de vista espiritual, há dois perigos principais aqui. Primeiro, confundir comunidade virtual com comunhão verdadeira. A Bíblia valoriza muito a comunhão presencial entre os crentes: “Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns” (Hebreus 10:25). Há bênçãos insubstituíveis em olhar nos olhos, apertar a mão, abraçar, ouvir a voz e partilhar momentos reais com irmãos na fé. A igreja não é apenas um fórum de discussão de ideias religiosas; é o Corpo de Cristo, onde membros se servem mutuamente em amor (1 Coríntios 12:25-27). Nas redes sociais, porém, as “amizades” e interações tendem a ser superficiais. Podemos ter centenas de contatos online, mas nenhum ombro amigo para chorar quando precisamos. Podemos seguir conteúdo cristão no Instagram, mas isso não substitui o estar junto, servir na igreja local, participar ativamente do culto e da missão. Líderes universitários cristãos, em especial, devem ter isso em mente: uma live no YouTube é útil, mas não substitui a Escola Sabatina, os Pequenos Grupos, o culto jovem presencial onde podemos realmente exercitar a fé e a fraternidade.
O segundo perigo é usar as redes como termômetro de valor e fonte de aprovação. Para os crentes, nossa identidade e valor devem estar firmados em Cristo, não na opinião volátil das pessoas online. “Agrada-te do Senhor, e ele satisfará aos desejos do teu coração” (Salmo 37:4) – é em Deus que buscamos aprovação e satisfação, não em quantos seguidores ou curtidas temos. A busca voraz por relevância digital pode indicar uma sede espiritual não preenchida. Jesus disse à samaritana junto ao poço que quem bebe da água deste mundo tornará a ter sede, mas quem beber da água que Ele dá, nunca mais terá sede (João 4:13-14). As redes oferecem goles rápidos de aprovação que logo passam, enquanto Cristo oferece aceitação eterna como filhos de Deus.
Portanto, devemos vigiar nosso coração no uso das mídias sociais. Elas podem ser ferramentas para o bem – por exemplo, para testemunhar da fé, compartilhar versículos, manter contato com familiares distantes – mas não podem se tornar nosso santuário principal. Se passar um dia offline nos parece impossível, talvez estejamos demasiadamente dependentes dessas plataformas. Como Paulo orienta, “não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da mente” (Romanos 12:2). Não precisamos seguir a multidão digital em tudo; podemos e devemos ser diferentes, disciplinando nosso tempo online conforme os princípios do céu. Lembre-se: vida eterna não se ganha por trending topics ou status social, mas por conhecer a Deus (João 17:3). Logo, nada de virtual pode substituir a realidade da nossa salvação em Cristo e da comunhão com Ele e com Sua igreja.
Rituais Digitais vs. Devoção Espiritual
Chama a atenção o quanto a tecnologia moldou nossos hábitos cotidianos, quase como uma liturgia secular. Conforme mencionado, há quem não desgrude do celular desde o abrir dos olhos até minutos antes de dormir. Notificações soando periodicamente lembram sinos, chamando-nos à atenção inúmeras vezes ao dia. Consumimos conteúdo incessantemente – rolando telas, tocando em ícones – num ciclo que se repete diariamente. Podemos chamar isso de ritual tecnológico. A pergunta incômoda é: esses rituais têm roubado espaço dos exercícios espirituais?
Para muitos jovens cristãos, a resposta honesta é sim. Horas são gastas no TikTok, no Netflix, nos jogos online, enquanto a oração e o estudo bíblico ficam espremidos ou esquecidos. É comum a queixa de “não tenho tempo para ler a Bíblia”, porém há tempo de sobra para maratonar séries madrugada adentro. Essa discrepância revela onde está o coração. Jesus advertiu que nos últimos dias, assim como nos dias de Noé, muitos estariam entretidos com as coisas comuns da vida – “comendo, bebendo, casando-se” (Lucas 17:26-27) – e não perceberiam a proximidade do juízo de Deus. Poderíamos contextualizar: hoje estão “postando, jogando, maratonando”, sem perceber quão perto estamos da segunda vinda de Cristo. As distrações digitais podem nos embriagar espiritualmente, entorpecendo a sensibilidade à voz de Deus. Por isso o apelo de Jesus: “Vigiai, pois, a todo tempo, orando, para que possais escapar de tudo o que há de acontecer e estar em pé na presença do Filho do Homem” (Lucas 21:36). Vigilância e oração exigem intencionalidade e tempo separados – coisa impossível se nunca desgrudamos da tela.
Precisamos reordenar nossas prioridades com urgência. Assim como Daniel orava três vezes ao dia com janela aberta para Jerusalém (Daniel 6:10), que tal estabelecer momentos fixos de desconexão para conexão com Deus? É valioso, por exemplo, decidir que a primeira hora do dia pertence ao Senhor: Bíblia, oração, meditação – antes de qualquer olhada no celular. “Buscar-me-eis e me achareis quando me buscardes de todo o vosso coração” (Jeremias 29:13). É difícil buscar a Deus de todo coração se a mente já começa o dia afogada em notificações, notícias e mensagens.
Outra prática sábia é adotar períodos regulares de “jejum digital”. O próprio princípio do sábado semanal, tão caro para nós adventistas, é uma oportunidade divina de desconectar do ritmo frenético secular e lembrar das coisas eternas. Por 24 horas, Deus nos convida a deixar de lado as ocupações comuns – e isso pode muito bem incluir desligar os aparelhos, sair das redes sociais – para nos concentrarmos na família, na natureza, na adoração comunitária e no serviço ao próximo. “Se desviares o teu pé de profanar o sábado e de cuidar dos teus próprios interesses no meu santo dia… então te deleitarás no Senhor” (Isaías 58:13-14). Aplicado a hoje: se pararmos de rolar o feed e de tratar o sábado como um dia para maratonar séries ou trabalhar online, e o tornarmos um dia de verdadeiro deleite espiritual, encontraremos renovação para a alma. Que antídoto poderoso contra a dependência tecnológica!
Lembremos que tudo o que fazemos repetidamente forma hábitos, e nossos hábitos formam nosso caráter. Se nossos hábitos diários incluem ajoelhar-se diante de Deus (literal ou metaforicamente) e buscar Sua direção, seremos transformados à semelhança de Cristo. Mas se dia após dia nos ajoelhamos apenas diante do altar eletrônico, não é de admirar que nosso caráter se molde mais pelos valores da mídia do que pelos valores do Reino. Jesus perguntou: “Quando o Filho do Homem voltar, achará fé na terra?” (Lucas 18:8). A fé vem pelo ouvir a Palavra de Deus (Romanos 10:17); se ninguém está ouvindo porque todos estão distraídos, a fé esfria. De fato, “por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos esfriará” (Mateus 24:12) – e poderíamos acrescentar: por se multiplicarem também as distrações e entretenimentos vãos, a fé de muitos tem esfriado.
Que possamos, então, resgatar os rituais espirituais em nossa rotina: a oração sincera, o estudo diligente da Bíblia, o culto familiar, o canto de louvores, a contemplação silenciosa. Esses hábitos santos não podem ficar em segundo plano. “Buscai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e as demais coisas vos serão acrescentadas” (Mateus 6:33). Se buscarmos a Deus em primeiro lugar cada dia, teremos sabedoria para lidar com as demais coisas – inclusive para usar a tecnologia com equilíbrio, sem nos tornarmos escravos dela.
A Sedução da “Religião” Tecnológica no Tempo do Fim
A Bíblia nos alerta que, nos últimos dias da história, haveria um cenário de engano religioso generalizado. Apocalipse 13 descreve um poder que estabeleceria uma falsa adoração mundial, simbolizada pela “imagem da besta”. Diz o texto que foi dado a esse poder “infundir fôlego à imagem da besta, para que também a imagem da besta falasse e fizesse que fossem mortos todos os que não a adorassem”bible.com. Essa profecia aponta para um sistema que unirá influência política e religiosa de tal forma que imporá adoração contrária à vontade de Deus, perseguindo os fiéis que resistirem. Como adventistas do sétimo dia, entendemos que isso se cumprirá numa coalizão global envolvendo poderes religiosos apóstatas e governamentais, culminando na imposição de um falso dia de adoração (o sinal da besta).
O que a tecnologia tem a ver com isso? Muito provavelmente, será um instrumento-chave para viabilizar o controle e a vigilância necessários a essa imposição. Se por um lado a “religião tecnológica” de que temos falado (o culto às inovações) é de natureza secular, por outro não é difícil enxergar que os mecanismos tecnológicos atuais podem ser cooptados para fins de perseguição religiosa no futuro. Hoje, por exemplo, já existem meios de monitorar transações (moedas digitais, sistemas de crédito social), reconhecimento facial e vigilância em massa por câmeras inteligentes, inteligência artificial analisando dados pessoais etc. Apocalipse 13:17 diz que ninguém poderá “comprar ou vender” senão quem tiver a marca da besta – um cenário de controle econômico total. Há poucos anos isso pareceria impossível; hoje, com a progressão do comércio eletrônico, bancos digitais e possibilidades de moeda global controlada, o quadro não está longe de ser tecnicamente viável.
Não queremos aqui alimentar teorias especulativas (e.g., não, a marca da besta não é simplesmente um microchip ou um código de barras – ela diz respeito à obediência e adoração, não a um dispositivo tecnológico em si). No entanto, é sensato supor que a tecnologia será usada pelo poder perseguidor para reforçar seu decreto. O próprio espírito da época – de confiança cega na ciência e desprezo pela lei de Deus – prepara as pessoas para aceitarem soluções aparentes sem avaliar à luz da Bíblia. Quando vierem “grandes sinais e prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos” (Mateus 24:24), muitos já terão sido condicionados a acreditar apenas no que é visível e científico, tornando-os presas fáceis para falsos milagres ou explicações enganosas que contrariem a fé. Pense: se hoje multidões creem em qualquer coisa “viral” na internet sem verificar fontes, como reagirão quando surgirem manifestações sobrenaturais e decretos religiosos apoiados por autoridades e celebridades, talvez transmitidos ao vivo em todos os aparelhos? A menos que estejamos firmados em Cristo e na profecia bíblica, seremos varridos pelo engano. Por isso, Apocalipse 14:12 destaca que, em contraste com o mundo, os santos dos últimos dias são os que “guardam os mandamentos de Deus e a fé de Jesus”, perseverando apesar das pressões.
Além disso, a própria ideologia secular tecnológica pode se tornar uma espécie de “religião do tempo do fim” para muita gente, levando-os a rejeitar completamente as verdades bíblicas. Hoje há quem proponha abertamente a criação de igrejas dedicadas à inteligência artificial, acreditando que um “deus” baseado em AI poderia orientar a humanidade melhor que os velhos credos. Em 2017, por exemplo, um engenheiro do Vale do Silício fundou uma igreja chamada “Way of the Future” para preparar as pessoas para a supremacia da inteligência artificialtherevealer.org. Embora pareça algo de nicho, revela o anseio quase espiritual que muitos colocam na tecnologia. O transhumanismo – movimento que defende a utilização extrema da tecnologia para “evoluir” o ser humano a um estágio pós-humano – também carrega um tom messiânico: fala-se em alcançar a imortalidade digital, em transferir a mente para máquinas, em criar um paraíso terreno livre de doenças via engenharia genética. Tudo isso nada mais é do que a velha tentação do Éden repaginada: “sereis como Deus” (Gênesis 3:5). É a crença de que a criatura pode, sozinha, transcender suas limitações e viver para sempre – descartando a promessa bíblica de ressurreição e vida eterna concedida por Deus. Essa autossuficiência ilusória é exatamente o espírito do anticristo, aquele que se opõe a Deus e se coloca no Seu lugar (2 Tessalonicenses 2:3-4).
Diante desse panorama, nosso dever como cristãos (especialmente líderes jovens conscientes das profecias) é soar o alerta: não se deixem seduzir pelos cantos de sereia da tecnologia ou de qualquer sistema terreno que prometa salvação à parte de Cristo. Todo império humano – seja Babilônia, Roma ou a moderna civilização tecnológica – acabará caindo. “Caiu, caiu a grande Babilônia” (Apocalipse 18:2) será em breve bradado, e todos os ídolos modernos serão aniquilados pela glória da vinda de Jesus. Ao mesmo tempo, não pregamos uma rejeição irracional da tecnologia em si; pelo contrário, podemos utilizá-la para difundir a mensagem do evangelho enquanto há liberdade. Mas fazemos isso com discernimento, sabendo que nossa fé e esperança estão ancoradas em algo muito maior e mais duradouro do que qualquer inovação: estão ancoradas no Deus eterno e em Sua Palavra infalível.
Orientações Práticas para um Uso Consciente da Tecnologia
Diante de tudo o que analisamos, cabe perguntar: “Como, então, o cristão – especialmente o jovem adventista – deve se relacionar com a tecnologia de forma saudável e sem comprometer sua fé?” Abaixo apresentamos alguns princípios práticos à luz das Escrituras:
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Coloque Deus em primeiro lugar diariamente: Decida começar cada dia na presença de Deus antes de encarar o mundo digital. Separe momentos para oração e leitura bíblica logo ao acordar. “De manhã ouves a minha voz, ó Senhor; de manhã te apresento a minha oração” (Salmo 5:3). Algo tão simples quanto resistir à tentação de checar o celular ao levantar, optando por falar com Deus em primeiro lugar, já estabelece a prioridade correta. Busque forças nEle para viver o dia de forma equilibrada.
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Estabeleça limites e períodos “offline”: Assim como fazemos jejum de alimento para refinar os sentidos espirituais, pratique “jejum de mídia” regularmente. Desligue notificações durante o culto, estudo ou momentos devocionais, para “não vos distrairdes do dever” (ver Lucas 10:39-42, onde Marta se perturbava com “muitas coisas” enquanto Maria escolheu a “boa parte”). Defina um horário à noite para desconectar – isso também ajuda seu cérebro a descansar melhor. Lembre-se do princípio do sábado: descanso e desconexão das lidas seculares para reconexão com Deus. Tome o sábado como um dia para atividades reais – converse com a família, caminhe na natureza, vá à igreja com o celular no silencioso ou desligado – e experimente a libertação do FOMO; nada online é mais importante do que o que Deus tem para lhe falar neste santo dia.
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Use a tecnologia para a glória de Deus: “Portanto, quer comais, quer bebais ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo para glória de Deus” (1 Coríntios 10:31). Esse princípio se aplica ao uso da tecnologia. Faça uma autoavaliação: meu uso do smartphone, do computador e da internet tem glorificado a Deus? Estou consumindo conteúdo que edifica ou que me puxa para baixo espiritualmente? Estou interagindo de forma cristã nas redes (com amor, verdade, pureza) ou me deixando levar por conversas tóxicas e futilidades? Existem inúmeros recursos tecnológicos que fortalecem a fé – aplicativos da Bíblia, planos de leitura, palestras e sermões online, grupos de oração via mensagens etc. –, aproveite-os! Por outro lado, tenha coragem de cortar fora aplicativos, jogos, perfis e sites que sejam pedra de tropeço. “Se o teu olho te faz tropeçar, arranca-o” (Marcos 9:47) – em sentido moderno, se determinado app te afasta de Deus, desinstale-o.
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Priorize relacionamentos e serviço ao próximo: Combata a tendência de isolamento que a vida digital pode trazer buscando envolvimento na vida real. Participe de projetos missionários, trabalhos voluntários, pequenos grupos de estudo presencial. Dedique tempo de qualidade à família e aos amigos sem o intermédio de uma tela. Tenha conversas olho no olho, pratique empatia ouvindo ativamente o outro. Isso não só protege você da solidão como também reflete o amor cristão autêntico. “Levai as cargas uns dos outros” (Gálatas 6:2) – algo difícil de cumprir apenas curtindo posts; exige presença e compromisso real.
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Mantenha acesa a chama profética: Estude e relembre as profecias bíblicas regularmente, para ter uma visão clara do tempo em que vivemos. Compartilhe essas verdades proféticas nos círculos de jovens; muitos pouco sabem sobre Daniel 2, 7, Apocalipse 13 e 14. Quando entendemos nosso lugar na história – nos dias dos pés de ferro e barro, à beira do estabelecimento do Reino de Deus – ganhamos perspectiva para não nos deixarmos hipnotizar pelas novidades transitórias. “Vós, irmãos, não estais em trevas, para que esse Dia (da volta de Cristo) vos surpreenda como ladrão” (1 Tessalonicenses 5:4). Ou seja, viva sóbrio e alerta. A tecnologia, se mal usada, torna-nos dispersos e sonolentos, mas a profecia nos desperta. Cultive o hábito de perguntar: Isto que estou vendo/comprando/seguindo tem valor à luz da eternidade ou é apenas mais um sopro passageiro?
Ao praticar esses princípios, você estará se vacinando contra a idolatria digital e colocando a tecnologia em seu devido lugar: serva e não senhora. A promessa de Tiago 4:7 permanece: “Sujeitai-vos a Deus, resisti ao diabo, e ele fugirá de vós”. Submeta seu estilo de vida à vontade de Deus, resista às tentações do consumismo e da distração digital, e Satanás perderá terreno na sua vida.
Conclusão: Equilíbrio e Fidelidade Acima de Tudo
A tecnologia em si é uma bênção dada por Deus ao ser humano – é fruto da inteligência e criatividade que o Criador nos concedeu. Com ela, podemos aliviar sofrimentos, espalhar conhecimento e até propagar o evangelho a lugares distantes. Entretanto, quando colocada no trono do coração, ela se torna uma maldição. O apelo final das Escrituras é que façamos uma escolha clara de adoração: “Temei a Deus e dai-Lhe glória… e adorai aquele que fez o céu, a terra, o mar e as fontes das águas” (Apocalipse 14:7). Note que a mensagem angélica contrasta com a adoração à besta e à sua imagem (Apocalipse 14:9). Ou adoramos ao Criador, ou acabaremos por adorar alguma criatura – seja uma ideologia, um líder carismático, ou mesmo as obras de nossas mãos como a tecnologia. Não há meio-termo.
Como jovens líderes cristãos adventistas, somos chamados a estar na vanguarda dessa decisão, vivendo de modo que outros vejam que nosso Deus é real e supremamente valioso, e que este mundo (com toda a sua ciência e arte) é incapaz de suprir a maior necessidade da alma. Precisamos dizer, como Josué: “Escolhei hoje a quem sirvais… eu e a minha casa serviremos ao Senhor” (Josué 24:15). Essa escolha refletirá em hábitos cotidianos (inclusive tecnológicos) que apontam para a supremacia de Cristo em nossas vidas.
Os “deuses digitais” deste século prometem conhecimento ilimitado, prazer instantâneo, vida conectada – mas não podem entregar perdão dos pecados, paz de espírito, caráter transformado, muito menos vida eterna. Somente Jesus oferece tudo isso, ao custo infinito de Seu sangue derramado por nós. Portanto, fixemos nossos olhos nEle. Não nos deixemos distrair na reta final da corrida. Como diz Hebreus 12:1-2: “Desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos com perseverança a carreira que nos está proposta, olhando firmemente para Jesus, autor e consumador da fé”. Desembaraçar-se de “todo peso” hoje pode significar largar alguns vícios digitais; e olhar para Jesus certamente significa gastar mais tempo com as coisas de Deus do que com entretenimentos efêmeros.
Encerremos com uma perspectiva de esperança: apesar de toda a complexidade destes últimos dias – com alta tecnologia, conflitos culturais, crises diversas – sabemos como a história termina. Em Daniel 2, vimos que a última cena é a pedra (o Reino de Deus) enchendo toda a terra, pondo fim aos reinos humanos. O reino de “ferro e barro” não prevalecerá. Em Apocalipse, vemos Jesus voltando em glória, vencendo o mal e instaurando “um novo céu e nova terra” (Apocalipse 21:1). “Os reinos do mundo vieram a ser de nosso Senhor e do Seu Cristo, e Ele reinará para todo o sempre” (Apocalipse 11:15). Essa é a verdadeira Nova Era que aguardamos – não a era da singularidade tecnológica, mas o Reino eterno de Cristo.
Que essa certeza nos leve a viver com equilíbrio e fidelidade. Usando as coisas terrestres sem idolatrá-las; sendo bons mordomos da tecnologia, mas nunca adoradores dela. E que possamos orientar outros, especialmente os “desavisados”, a enxergarem além do brilho das telas, contemplando a luz da profecia e do evangelho. Assim estaremos preparados, e ajudaremos outros a se prepararem, para permanecer firmes ao lado de Deus quando vier a prova final. “Bem-aventurados os que guardam os mandamentos de Deus, para que tenham direito à árvore da vida” (Apocalipse 22:14). Nada vale a pena se nos fizer perder esse direito. Portanto, sejamos vigilantes: a tecnologia é um meio, não um fim; uma ferramenta, não um deus. Nosso coração pertence somente ao Rei dos reis – Aquele que em breve virá e “fará novas todas as coisas” (Apocalipse 21:5). Maranata! Amém.
Referências:
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Bíblia Sagrada (versões Almeida Revista e Corrigida, Almeida Revista e Atualizada, Nova Versão Internacional).
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Costa, Isael. “Daniel 2: O ferro e o barro.” Notícias Adventistas, 16 de julho de 2019noticias.adventistas.orgnoticias.adventistas.org.
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Daboni, Dorcas. “Is Technology Anti-God?” Adventist Today, 11 de julho de 2017atoday.orgatoday.org.
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Craine, Kelly. “Social Media’s Double-Edged Sword: Study Links Both Active and Passive Use to Rising Loneliness.” Baylor University News, 6 de fevereiro de 2025news.web.baylor.edu.
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Nobel, Jeremy. “Does social media make you lonely?” Harvard Health Blog, 21 de dezembro de 2018health.harvard.edu.
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Apocalipse 13:15 – Bíblia (ARC)bible.com.
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“Way of the Future – AI Church.” MIT Press Reader, 2021thereader.mitpress.mit.edu.
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